domingo, 27 de junho de 2021

Melhor Atriz 1994 - Uma Vitória de 3 Anos Atrás


Nem todos que associam Jessica Lange as séries de Ryan Murphy nos dias atuais sabem do seu passado como uma das maiores atrizes da década de 80. Em uma década que sedimentou nomes como Meryl Streep, Sigourney Weaver e Glenn Close, Lange foi responsável por explicitar algo que nem todas ousaram em sua carreira, seu sexo. A sexualidade de suas personagens sempre foi algo marcante em Lange, foi assim quando (re)surgiu com ''Frances'' e ela sempre trabalhou essa persona sem medos. Com uma vitória em coadjuvante de pouco mais de uma década antes, a atriz acumulava quatro indicações na categoria principal e um status irretocável perto dos seus 45 anos de idade.

Essa, aparente, inadimplência do Oscar com ela não poderia ter sido resolvida em um ano melhor. A atriz gravou ''Blue Sky'' em 1990, o filme foi completado e seria lançado no ano seguinte (o mesmo de ''O Silêncio dos Inocentes''), mas com a falência da distribuidora do longa (que também distribuiu ''Inocentes'' meses antes de declarar falência), acabou engavetado. Três longos anos depois, nem tudo estava perdido e o filme foi lançado. Foi um estouro na crítica, foi notado como ela estava totalmente entregue a personagem, falaram ser a grande performance da carreira e que evocava os grandes sex symbols de Hollywood. Até ali, não havia concorrência para Lange. Aliás, a performance de Jennifer Jason Leigh como Dorothy Parker em ''Mrs. Parker and the Vicious Circle'' tinha agitado a crítica, mas a recepção do público tinha sido fria.

A competição de Jessica Lange ''chegaria'' no fim da corrida, mas elas nunca aconteceram de verdade. Jodie Foster foi completamente aclamada por ''Nell'', e uma Winona Ryder iluminada em ''Little Women'' entrava forte na conversa pela possibilidade de seu filme entrar nas principais categorias da noite. As três foram indicadas, e além delas, também entraram Miranda Richardson (''Tom & Viv'') por um filme tão pequeno que nem os familiares da atriz devem ter visto (mas que a fez vencer o cobiçado ''National Board of Review'') e Susan Sarandon (''The Client'') por um thriller de verão que foi mais longe do que qualquer pessoa jamais imaginou.

Entre as esnobadas do ano se destacam a própria Jason Leigh, vencedora de vários prêmios da crítica e indicada ao Globo de Ouro, assim como Meryl Streep (sim, ela!) por ''The River Wild'', que chegou a indicar a atriz no SAG Awards e nos Globos. Porém, a grande história daquele ano foi a ''esnobada'' de Linda Fiorentino por ''The Last Seduction''. O filme foi lançado nos cinemas em outubro de 94, mas a HBO tinha exibido o mesmo alguns meses antes da televisão, e pelas regras da academia, isso tornaria o filme inelegível em qualquer categoria do Oscar. A crítica, e até a indústria, caiu de amores por Fiorentino, a produtora e a distribuidora do filme tentaram processar a Academia, mas nada foi feito.

Na noite do Oscar, não tinha para onde correr. Foster jamais venceria um terceiro Oscar - protagonista! - em um espaço de sete anos. E o filme de Ryder nunca aconteceu em Filme/Diretor. Quando você junta as críticas de uma carreira, o fator sentimental pelo engavetamento do filme e a quinta indicação em Melhor Atriz sem vitória, não é difícil entender porque foi Jessica Lange a subir naquele pódio.

Abaixo, meu ranking:


5º Lugar: Susan Sarandon, The Client (''O Cliente'')

Esse filme deve ter arrasado muito nas locadoras dos anos 90, é um ‘’drama judicial/policial’’ muito comum e característico dessa época. É de bom tom em 2021? Não tanto. Pouca coisa engaja de verdade e, querendo ou não, o foco do filme é muito mais no menino, o jovem Brad Renfro. Susan Sarandon faz sua advogada, tem um considerável tempo de tela e tenta entregar o máximo nesse espaço concedido a ela.

Não sou o maior fã do sotaque que ela faz no filme, mas entendo a caracterização e não acho, como um todo, ruim. Porém, não dá para colocá-la em nenhuma posição acima quando sua personagem não a deixa brilhar como veríamos em corridas anteriores e posteriores a essa. É um trabalho maduro, bem feito e respeitoso de uma atriz já muito versada na indústria, mas que tirando uma cena aqui ou ali, não tem o brilho que a mesma merece e mostrou em outros momentos da carreira.


4º Lugar: Winona Ryder, Little Women (''Adoráveis Mulheres'')

Quantas vezes ainda veremos adaptações de ‘’Little Women’’? Acredito que inúmeras mais. Aqui, em uma das boas versões, eu sinto que Ryder é a estrutura que segura o todo. O elenco coadjuvante trabalha perifericamente para que possamos entender aquele meio e o trabalho técnico do filme nos adentra ainda mais para aquele mundo.

Porém, os questionamentos de Jo só são palpáveis porque mesmo quando ela recusa uma proposta irrecusável, a gente entende que aquilo é feito com verdade e, também, com pesar. E poucas atrizes na década de 90 conseguiriam criar essa ligação e dinamismo com o público como Ryder. Ela é exuberante em cena, trazendo uma essência ‘’tomboy’’ ao personagem que é muito necessária, além de um carisma/’’star quality’’ que encaixa perfeitamente com Jo. É bem latente o motivo da popularidade de Winona e poucos filmes mostram isso tão bem quanto ‘’Little Women’’.


3º Lugar: Jessica Lange, Blue Sky (''Céu Azul'')

Como citei, poucas atrizes ousaram trabalhar a sexualidade em cena como Jessica Lange em sua carreira. Logo, uma das poucas alegrias desse Oscar é poder ver essa mulher entregar tudo em uma personagem que vive o sexo a flor da pele. A personagem pode ser, às vezes, pouco dimensionada e o filme em si nunca está acima da mediocridade, mas Lange se agarra a Carly com unhas e dentes, desde a primeira cena, e nunca olha para trás. 

E se isso pode ser caso de demérito em outros longas, aqui é o que faz o filme funcionar em algum nível. É como se a Jessica Lange de ‘’Frances’’ estivesse vivendo uma outra fantasia. E por esse aspecto fantasioso, a atuação nunca me soa como exagerada, por que tudo me leva a crer naquela ilusão. Com um filme decente, Lange poderia ter voado altíssimo, aqui ela só faz um voo raso, mas ainda o suficiente para lembrarmos a atriz que ela é.


2º Lugar: Miranda Richardson, Tom & Viv (idem)

Miranda Richardson surgiu igual a Jessica Chastain, celebrada em inúmeros filmes no mesmo ano e culminando em uma indicação ao Oscar em atriz coadjuvante, no caso dela por ‘’Perdas e Danos’’. Dois anos depois, ela retorna ao Oscar, agora na categoria principal, nessa adaptação de uma peça sobre Vivienne Haigh-Wood, a primeira esposa do laureado poeta T.S. Eliot. Richardson é uma atriz de considerável charme, sua presença em cena é sempre notável, e muito cativante. Aqui isso não é diferente, nós não sabemos de cara o que torna Viv uma pessoa única, mas à medida que vamos descobrindo mais, começamos a nos compadecer de uma mulher culpada pelo seu próprio tempo. 

Nesse espectro, a forma ‘’lúdica’’ que Richardson vai levando Viv acaba se tornando uma arma muito inteligente. Você até pensa, por alguns segundos, que ela está acima do tom, mas logo em seguida você entende o rompante que aconteceu ali e tudo se justifica. E por traçar a vida dessa mulher por tantas décadas, Miranda fica com esse segundo lugar por nunca permitir que Viv perca sua ''alma'', dando todas as camadas possíveis a essa mulher, mesmo quando o roteiro ameaça ser tão raso quanto um pires.


1º Lugar: Jodie Foster, Nell (idem)

A melhor coisa sobre Jodie Foster em ‘’Nell’ é poder constatar que, mais duas décadas depois, você assiste o filme e compreende todo o amor e respeito que a atriz tem pela personagem. Uma atriz menos experiente teria transformado Nell em um show de horrores, criando uma atuação caricata e vaidosa, mas nunca é o caso de Foster. Desde o nosso primeiro encontro com Nell, até sua última cena, o que vemos é uma jornada de descobrimento. 

Para Nell, são pessoas e um mundo que ela nunca viu, para nós é normalizar o diferente retratado em um ser. E essa humanização da personagem, em uma atuação muito bem fundada em um belíssimo trabalho corporal, que me chama atenção. É difícil um ator no cinema se preocupar tanto com o corpo em uma mídia que adora filmar do pescoço para cima, mas é irrepreensível compreender e executar o todo, aqui brilhantemente, para dar vida a Nell. Nesse ponto, mesmo que o filme seja chatinho, a atuação de Foster é sempre um primor.

M A S...

Como eu acho esse ano fraquíssimo, fiz um top 5 pessoal dentre as possíveis indicadas aquele ano. São elas:


Kathleen Turner, Serial Mom (''Mamãe é de Morte'')

A primeira informação que um estudante de atuação recebe é que atuar é brincar, só ou com outros. E não tem ninguém esse ano que se divertiu mais que Turner nessa comédia satírica de John Walters. A atriz vive uma mãe que vai surtando e matando a torto e a direito. É uma atuação mega ''over the top'', mas que super combina com o filme e diverte como poucas.

A inclusão numa lista pessoal é, especialmente, por não ser algo normalmente reconhecido, mas que existe um claro trabalho da atriz em questão. É, acima de tudo, uma atuação precisa e inteligente, porque para se tornar algo sem graça e repetitivo seria um triz, mas ela nunca deixa isso acontecer.


Isabelle Adjani, La Reine Margot (''A Rainha Margot'')

Em um filme turbulento, a qualidade maior de Adjani é se manter magnética em cena. É difícil, por si só, não se fixar num dos rostos mais irretocáveis a dar a graça ao cinema, mas existe uma característica muito viciante na forma como Adjani vai dando corpo a Margot. Ela começa de forma submissa, mas vai crescendo até se apoderar de tudo que está ali. É uma atuação bem consciente do filme que a rodeia, e funciona em vários níveis. As suas cenas finais são um estouro, totalmente entregue e sem medo algum de ser feliz. Maravilhosa.


Melanie Lynskey e Kate Winslet, Heavenly Creatures (''Almas Gêmeas'')

Olha, eu até gostaria de dividir ambas pelo bem da individualidade artística, mas acho até injusto com elas. Suas atuações são concomitantes, seja entre si ou com o próprio filme. O diretor, Peter Jackson, exige que você voe um pouco para contar aquela história, permear aquele mundo. E isso não seria possível se cada uma das duas fenomenais jovens atrizes não se comprometessem a acreditar nisso mais do que qualquer outra pessoa. É um jogo de se alimentar, Lynskey e Winslet vão sugando a sanidade, a alegria, tristeza ou o quer que seja e criam algo imprescindível de se assistir.

Eu posso dizer que, em um pequeno nível, acho Lynskey superior a Winslet, mas acredito que isso está mais ligado a minha pouca exposição ao trabalho de Melanie durante sua carreira. No fim, são atuações que não são concebíveis como as primeiras em filmes de suas atrizes, tamanha é a maturidade com que elas chegam em suas personagens. Trabalho de mestre, de verdade.


Jennifer Jason Leigh, Mrs. Parker and the Vicious Circle (''O Círculo do Vício'')

Eu consigo traçar um paralelo bem legal entre Leigh e Richardson nesse ano. Não só por fazerem mulheres de época com cabelos curtos, mas porque elas se aproximam de suas personagens pelo sútil. Existe algo de muito bonito em ver Jason Leigh encontrar uma melancolia necessária para Parker. Não é só tristeza pura e simples, é algo que paira no ar. A câmera corta para Parker e você sente, através dela, essa sensação de se perder na vida.

E, digo isso sem dúvidas, poucas atrizes tem esse tipo de conexão com esse sentimento como Leigh. Uma atriz que sempre tratou de lidar com mulheres em seu fracasso, ela compreende a derrota e essa linha tênue como ninguém. É uma atuação bem contida, mas muito pesada e poderosa.


Julianne Moore, Vanya on 42nd Street (''Tio Vanya em Nova York'')

Julianne Moore tem que ser uma das maiores atrizes do cinema, só na década de 90 essa mulher tem umas cinco atuações inatacáveis, mas essa eu não conhecia e foi uma surpresa linda demais. Moore faz aqui um tipo de atuação híbrida, ela precisa atuar para câmera, mas está fazendo uma personagem atuando no teatro. Difícil só de conceber, imagina de concretizar.

Porém, uma atriz boa mesmo consegue fazer esse trabalho de linguagem com muita maestria. Ela tenta unificar o pequeno com o estouro. Sem nunca ter medo ou vergonha, os closes ajudam a trazer a nota aquelas micro expressões tão fortes na telona, mas ela se deixa inundar pelo texto de Chekhov para expressar o grande que ele oferece. Proprietária de alguns incríveis monólogos em cena, essa atuação é para se ver e rever sempre, uma aula.

sábado, 26 de junho de 2021

Emmy - Melhor Atriz Coadj. Comédia 2000: Karen & Jack



O aspecto mais interessante da corrida de 2000 é que as três coadjuvantes mais populares de comédias dos anos 2000 foram indicadas juntas pela primeira vez. Lisa Kudrow retornou para sua quinta indicação por ''Friends'', Kim Cattrall foi indicada pela segunda temporada de ''Sex and the City'', e a segunda de ''Will & Grace'' foi tão elogiada que propagou Megan Mullally para a premiação. Phoebe, Samantha e Karen dividiram a categoria em 2000 e 2001.

Para fechar a categoria Doris Roberts voltou para sua segunda indicação. A última vaga acabou ficando com Jennifer Aniston, também por ''Friends'', em uma rasteira tanto em Lucy Liu (indicada anteriormente) quanto em Cynthia Nixon, que muitos acharam que iria entrar por ''Sex and the City''. Como vocês podem ver, a vencedora (Kristen Johnston) foi esnobada, mas no Emmy dos anos 2000 isso se tornaria fato recorrente.

As favoritas da noite eram Mullally e Roberts, duas ''scene-stealers'' em série em auges criativos com personagens marcantes para o grande público e crítica. Até pelo amor que a Academia mostrou a ''Will & Grace'' naquele ano, em uma temporada badaladíssima pelo beijo gay entre Will e Jack, a comédia acabou vencendo Série e Ator Coadjuvante. Logo, a vitória nessa categoria não era tanta surpresa assim.

Abaixo, meu ranking:


5º Lugar: Kim Cattrall - Sex and the City ("The Awful Truth" + "The Freak Show")

Foi muito bom constatar a sagacidade e agilidade com que Cattrall se apropriou de Samantha, mas essas duas submissões não ajudam em nenhum aspecto para demonstrar isso. O grito de súplica ao revelar não aguentar mais o pau pequeno do namorado ou o surto quando percebe que precisa de muitas plásticas são legais, mas nada digno de nota. Com certeza, não digno do que a atriz apresentou no todo pela temporada.


4º Lugar: Lisa Kudrow - Friends ("The One That Could Have Been")

Esse episódio duplo da série é sobre os personagens imaginando como seriam suas vidas se eles tivessem tomado outras decisões. A escolha de Phoebe era se tornar uma mulher de Wall Street, peculiar, né?

Lisa Kudrow fazendo uma Phoebe do mercado de finanças é legal, visto que na sexta temporada ela já conhece a personagem indo e voltando, mas tirando a cena do ataque do coração, não tem muito mais para Kudrow fazer no papel. Não se enganem, é um bom episódio para ela, só não é algo marcante.


3º Lugar: Doris Roberts - Everybody Loves Raymond ("Sex Talk" + "Robert's Divorce")

Escolhas sábias essas de Roberts, em uma delas Marie precisa falar sobre sexo, na segunda confrontar a mulher de seu outro filho. No primeiro episódio, Doris não tem muito o que fazer, mas existe algo bem novo na forma como ela se espanta com falar sobre sua vida íntima, é como se ela chegasse a se ofender, e isso é bem sincero.

No segundo episódio, é impossível não torcer para que ela arrase com a cara da esposa de Robert, e Doris não decepciona. Sua lingua ferina entra em ação, e num rompante, a atriz faz a gente ficar muito feliz dela falar que ''é hora de tirar o lixo de casa''. Submissões inteligente, que mostram versatilidade e demonstram bem que é Marie Barone.


2º Lugar: Jennifer Aniston - Friends ("The One with Rachel's Sister" + "The One Where Chandler Can't Cry")

Fico muito feliz que o Emmy reconheceu Aniston na metade da série, acredito que ela já tinha maturado a personagem muito bem. Rachel Green já era um ícone quando Aniston foi indicada, e esses episódios demonstram muito bem isso. Óbvio que sendo a sexta temporada, nenhuma outra submissão seria possível que não a que Jill Green (Reese Witherspoon) aparece.

Uma das melhores coisas de Rachel é sua neurose, sua capacidade de surtar, porque ela faz isso de uma forma que o espectador a entende e quer confortar. Aqui, na iminência de um relacionamento entre Ross e Jill, Aniston surta daquele jeito que conhecemos, mas sempre trazendo muita graça junto disso. A forma como Aniston consegue imprimir carisma a personagem e, na cena final, perceber o baque do que tá ouvindo, mostra bem que ela merece esse #2 aqui.


1º Lugar: Megan Mullally - Will & Grace ("To Serve and Disinfect" + "Polk Defeats Truman")

Existe uma preferência bem pessoal sobre o que Mullally faz com Karen em jogo, só o trabalho de voz tão marcante da atriz já vale uns 2 Emmys. O fato é que não dá para reclamar dessas duas submissões, são duas escolhas excepcionais que destacam tudo que amamos em Karen. 

A do vídeo pornô por si só já é excelente, mas Karen ''on a budget'' é expressar tudo que a personagem mais odeia, e a Megan pega cada detalhe da composição da atriz para nos fazer rir. A forma como ela lida com extremo desdém e nojo da loja que Grace a convida para fazer compras é incrível. Um dos melhores combos que já vi na categoria, vitória mais que merecida.

Emmy - Melhor Atriz Comédia 2000: Todo Mundo Ama as Mães

 


O fim do reinado de Helen Hunt criava um vácuo fortíssimo no Emmy de 2000, não só pela vitória certa de uma nova pessoa após quatro anos seguidos de Hunt, mas porque isso incluiria uma cara nova nas indicadas em si. O que ninguém esperava, talvez só alguns, é que a tão criticada terceira de ''Ally McBeall'' receberia apenas 3 indicações, caindo de categorias centrais como Atriz e Série, que tinha vencido no ano anterior.

Com isso, voltavam a categoria Jenna Elfman (''Dharma & Greg''), Sarah Jessica Parker (''Sex and the City'') e Patricia Heaton (''Everybody Loves Raymond''). Se demorou três temporadas para ''Raymond'' engatar no Emmy, só precisou de duas para ''Will & Grace'' virar um fenômeno, e com isso a indicação de Debra Messing.  A última vaga da categoria não era surpresa para ninguém, ''Malcolm in the Middle'' foi uma sensação da noite para o dia e a performance de Jane Kaczmarek era um dos centros de elogio da série, ela até venceu o TCA naquele ano, ela viria a ser indicada por todas as temporadas da série no Emmy, sem nunca ganhar. 

A inclusão de Heather Locklear, recém saída de ''Melrose Place'', em ''Spin City'' foi muito falada na época, mas a série nunca foi muito abraçada no Emmy para além de Michael J. Fox. Outra candidata com chances naquela corrida era uma não tão conhecida Felicity Huffman. A atriz estrelava ''Sports Night'', série de Aaron Sorkin, mas o projeto foi cancelado e, embora tenha conseguido entrar em outras categorias (inclusive em ''Guest'' com seu marido H. Macy), a loira só conseguiria a indicação no meio dos anos 2000, com outra série.

A vitória era esperada entre Kaczmarek ou Heaton, as duas com os papéis bem arquetípicos de ''mãe'' em performances amadas de séries bem badalas. No fim, a força de ''Raymond'', que viria a vencer 10 Emmys para seu elenco principal, deu a vitória a Heaton.

Abaixo, meu ranking (de uma ótima seleção):


5º Lugar: Jane Kaczmarek - Malcolm in the Middle ("Red Dress")

Kaczmarek já tem aquela cara de excêntrica mesmo sem fazer nada, nesse papel cai como uma luva. Não só para Lois em si, mas para a ambientação que a série quer causar. Nesse episódio, ela acredita que um dos filhos queimou o vestido que ela tanto ama e resolve aterrorizar as crianças para descobrir quem foi.

É uma submissão respeitável, um bom tempo de tela, tem momentos bem engraçados e uma percepção final bem fofinha. Infelizmente, a outra trama do episódio, com o Bryan Cranston, chama muita atenção e meio que ofusca, mas só um pouco, a Kaczmarek.


4º Lugar: Jenna Elfman - Dharma & Greg ("Lawyers, Beer, and Money")

É engraçado ver as tramas de sitcoms antigas, nesse episódio o Greg não aceita que a mulher lhe compre um presente ou pague uma conta de restaurante. Tudo isso envelheceria mal, mas o texto tenta contornar essa masculinidade frágil, e conta com a graça de Elfman para isso.

A Dharma de Elfman sempre fica no limiar do insano e do real, é um tipo de atuação que dialoga bem com o formato da série, mas que pode afastar que nem gosta dessa forma de comédia. Aqui ela até dança com uma cobra, então uma coisa que você não pode negar é o comprometimento da atriz com a personagem. Além disso, Elfman tem uma cena semi dramática que é bem boa, seja pela surpresa dela surgir no meio de tudo aquilo, como pelo fato da mesma executá-la bem.


3º Lugar: Sarah Jessica Parker - Sex and the City (''Ex and the City'')

Eu comecei o episódio acreditando que Parker seria, mais uma vez, prejudicada pelo formato de sua série. Não por ser uma comédia diferente, mas por Carrie viver arcos maiores do que atrizes da época, que faziam tudo em um episódio só de sitcom. Ledo enganado, na finale da segunda temporada, Carrie descobre que seu amor, Mr. Big, não só está com outra, mas também noivou.

Essa situação leva a dois momentos incríveis de Parker, não necessariamente engraçados, mas muito reais e fortes. A cena do restaurante é um surto de veia dramática com alguns detalhes de humor físico e uma pitada final que te faz soltar uma gargalhada. Tudo isso é finalizado com a cena que fecha a temporada, honesta e poderosa, quando percebemos o quanto Carrie evoluiu, assim como Sarah Jessica no papel. 


2º Debra Messing - Will & Grace (''Das Boob'')

Em algum momento da série, alguma crítica disse que Messing precisava parar de tentar ser Lucille Ball. Bom, nesse episódio em que Grace usa um sutiã com preenchimento (feito com água!), ela está Lucille até o talo.

Messing passa a primeira parte do episódio sem muita graça, mas uma vez que ela coloca o ''prop'', é comédia física da mais alta qualidade. Utilizar o corpo para extrair comicidade é ''clown 101'' e Messing faz isso com a destreza de quem conhece seu ofício. Se como um todo eu prefiro Heaton, a cena do champanha é a que mais me fez rir na seleção toda.


1º Lugar: Patricia Heaton - Everybody Loves Raymond (''Bad Moon Rising'')

Essa submissão de Heaton é o paraíso das tapes de comédia. Dentro da perspectiva de assistir esse episódio em 2021 ainda se mantém muito engraçada, isso sendo exibido duas décadas atrás, não dá nem para imaginar. É um episódio sobre ''aqueles dias'' das mulheres, só disso você já entende de onde vem a comédia.

Na verdade, ao invés de focar só no texto, as ''alterações de humor'' de Debra são o auge do episódio. Não só Heaton consegue falar com comicidade e rapidez todo seu texto, mas ela precisa mudar suas emoções, jeitos e expressões com muita rapidez. É sitcom em seu momento mais clássico, e não tem uma só cena (e Heaton está em 95% do episódio) que a atriz não aproveite. Além disso, a química dela com Ray Romano é tão perfeita que o meu desejo era premiar os dois, ele também mandou esse episódio, mas perdeu.


terça-feira, 22 de junho de 2021

Emmy - Melhor Atriz Coadj. Comédia 1999 - Aquele em que Lisa Kudrow Perdeu!

 


Com o fim de ''Cybill'' e ''Seinfeld'', Christine Baranski e Julia Louis-Dreyfus eram inelegíveis para voltar a competição. As vencedoras prévias, Kristen Johnston e Lisa Kudrow, por ''3rd Rock from the Sun'' e ''Friends'', não tiveram problema em retornar. Jane Leeves, indicada em '98 por ''Frasier'', não conseguiu voltar, mas o sucesso altíssimo das temporadas de ''Just Shoot Me!'' e ''Everybody Loves Raymond'' propagaram Wendie Malick e Doris Roberts ao prêmio. Malick voltaria a concorrer anos depois, Roberts só pararia de concorrer com o fim de sua série.

A última vaga foi uma surpresa, mas o sucesso de Ling Woo com o público de ''Ally McBeal'' acabou levando Lucy Liu ao Emmy, uma indicação que poucas pessoas sabem que a atriz possui. Inclusive, Liu acabou entrando no lugar de uma bem amada Jane Krakowski, também de ''McBeal''. Na noite da premiação as favoritas eram Roberts e Kudrow. Doris por ser veterana da indústria em um papel que chamava muita atenção, e Lisa em um uma temporada (a 5ª) de ''Friends'' que diziam ter sido a melhor até então. Sua grande submissão, ''The One Where Everybody Finds Out'', foi o único episódio indicado a direção e roteiro naquele ano. 

No fim, a vitória de Johnston foi um upset surpreendente, especialmente porque ''3rd Rock'' parecia não estar mais nas graças da premiação.

Abaixo, meu ranking:


5º Lugar: Wendie Malick - Just Shoot Me! ("Two Girls for Every Boy" + "Slow Donnie")

Eu quero acreditar que Wendie Malick, vencedora moral dessa categoria em 2011 por ''Hot in Cleveland'', não submeteu esses dois episódios onde ela não faz NADA em cena. Mas dado que alguns indicados costumam fazer isso, também não me surpreendo.

Os 2 episódios são excelentes submissões para David Spade (que foi indicado, submeteu ambos e perdeu), mas tirando uma coisinha aqui e acolá, não fazem em nada para mostrar os talentos de Malick.


4º Lugar: Kristen Johnston - 3rd Rock from the Sun ("Two-Faced Dick" + "Dick the Mouth Solomon")

Johnston, sem dúvidas, deve ser a candidata mais ''over'' dentre todas as indicadas. Óbvio que existe uma explicação para isso, que é o fato de sua personagem ser uma alienígena vivendo num corpo de humanos. Em um episódio ela troca de corpo com o personagem de John Lithgow, no outro ela acreditar estar namorando um cara da máfia.

O primeiro episódio é um show de comédia física, você consegue entender ela absorvendo todos os maneirismos exagerados de Dick (Lithgow) para sua personagem, e utiliza  não só o mimetismo para o corpo, mas um excelente trabalho de voz em enunciação das sílabas como o personagem costuma fazer. O segundo, no entanto, envelheceu um pouco e os gritos da personagem não funcionam sempre, embora gargalhei quando ela tirou um lenço do meio dos seios em uma cena extremamente constrangedora. Ela fica mais abaixo pela seleção ser excelente do que qualquer outro motivo.


3º Lugar: Doris Roberts - Everybody Loves Raymond ("The Toaster" + "Frank's Tribute")

Até 2006, todos os coadjuvantes podiam submeter dois episódios para consideração. Para a sorte de Roberts, suas duas submissões são maravilhosas. Em uma ela precisa lidar com uma torradeira que seu filho comprou especial para os pais, e no segundo o marido vai receber um tributo de ''Homem do Ano''.

Roberts viria a vencer essa categoria quatro vezes, e poderia ter começado nesse ano. Sendo uma senhora de idade, a mobilidade de Doris a impede de focar sua comédia em algo físico. Para compensar isso, essa mulher (que tem as melhores ''one-liners'' dentre as senhoras de sitcoms) era a rainha da expressão facial. E ainda, no seu segundo episódio, ela tem belíssimas cenas de drama sobre a importância do amor em seu casamento, um prato cheio para a atriz mostrar versatilidade.


2º Lugar: Lucy Liu - Ally McBeal ("Angels and Blimps" + "Sex, Lies, and Politics")

Liu tem um combo parecido com o de Roberts, mas em uma linguagem ainda mais apurada. Em um episódio ela precisa representar uma criança com leucemia (Haley Joel Osment) e no outro ganhar de um deputado estadual que acabou com uma loja de livros/álbuns por considerar o conteúdo indigno da família tradicional americana.

Em ''Angels'', Liu faz com que a personagem mantenha sua pose durante todo o episódio, sempre com a língua afiada, ela parece ser apenas ''bitch'', sem qualquer humanidade. Em um argumento contra o advogado da Igreja, ela engole ele sem querer, mas quando a criança em questão morre, Liu precisa se desmontar daquilo tudo e cria uma cena muito linda e verdadeira. Já em ''Politics'', ela está no tribunal e dá um discurso em chinês, que não quer dizer NADA COM NADA, apenas para enrolar o júri. E cada nova frase é melhor que a anterior. É um humor mais ''ice queen'', mas funciona em todos os níveis.


1º Lugar: Lisa Kudrow - Friends ("The One Hundredth" + "The One Where Everybody Finds Out")

As duas submissões de Kudrow são o mais perto de perfeição que essa categoria poderia ter. Entre dar a luz aos trigêmeos e descobrir que Chandler e Monica estão namorando, não existe um momento de Lisa que não seja comédia mais pura e inteligente possível. Toda a carga dramática da cena final de ''Hundreth'' já é um contraponto lindo em relação as ações da atriz nas cenas anteriores. E eu poderia falar de como Kudrow domina o jogo de farsa de ''Finds Out'' como poucas vezes na televisão alguém já fez, mas eu quero deixar apenas:


winner!

segunda-feira, 21 de junho de 2021

Emmy - Melhor Atriz Comédia 1999: Mad About HER!

 


Os anos 90 nessa categoria se divide entre o momento ''Murphy Brown'' e o momento ''Mad About You''. Das 10 corridas da década, apenas 2 não foram vencidas por Candice Bergen ou Helen Hunt, que foram as vitórias de Kirstie Alley e Roseanne Bar, engraçado o fato de ambas serem republicanas ferrenhas. Porém, colocado isso de lado, as indicadas daquele ano não foram surpreendentes.

Helen Hunt (''Mad About You''), Jenna Elfman (''Dharma & Greg'') e Calista Flockhart (''Ally McBeal'') retornaram como previsto. ''Ellen'' foi cancelada, impedindo a volta de DeGeneres. Tanto Kirstie Alley (por ''Veronica's Closet'', não ''Cheers'') quanto Patricia Richardson por ''Home Improvement'' foram esnobadas. A sensação que foi ''Sex and the City'' faz impossível Sarah Jessica Parker ser esnobada, ela se torna a primeira indicada da HBO na categoria e apenas a segunda de um canal a cabo. A última vaga acabou ficando para Patricia Heaton, na terceira temporada de ''Everybody Loves Raymond'', que teve uma certa explosão com o Emmy nesse ano e continuaria até o fim da série.

Com certeza a esnobada mais comentada daquela corrida foi Laura San Giacomo, protagonista de ''Just Shoot Me!''. A série indicou dois atores coadjuvantes, roteiro e ela tinha sido indicada no começo do ano ao Globo de Ouro, mas não deu. Christina Applegate em ''Jesse'' também foi muito comentada, especialmente por ser a primeira série pós ''Married with... Children'' da atriz, uma série que o Emmy nunca abraçou.

Na noite do Emmy, existiam pessoas que acreditavam na vitória de Flockhart mais pela derrota vexatória do ano anterior do que por qualquer outro motivo. Mas a grande maioria sabia que a ''series finale'' de uma hora de ''Mad About You'' iria selar a quarta vitória seguida de Hunt como Jamie Buchman. No fim, as coisas saíram como o esperado.

Abaixo, meu ranking:


5º Lugar: Patricia Heaton - Everybody Loves Raymond ("Be Nice")

Heaton dialoga muito com Elfman, que está mais acima no ranking. Ambas fazem o papel de ''esposa'' de uma sitcom clássica em uma trama bem definida. Aqui, Debra e Ray decidem serem mais ''gentis'' uns com os outros, visto que o casal lida diariamente com farpas trocadas.

Heaton entende bem sua personagem, mesmo que ela não seja o indivíduo mais especial do mundo, ela é ótima com expressões faciais e, genuinamente, é uma atriz engraçada. Porém, como aconteceu em outra submissão anos após, sinto que Ray Raymond, nessa vibe ''Pateta'' de seu personagem, acaba ofuscando todas as cenas com ela. Por isso, e só por isso, ela é meu último lugar aqui.


4º Lugar: Sarah Jessica Parker - Sex and the City (''The Drought'')

Vai ser sempre difícil para Parker superar concorrentes quando ela não está no mesmo estilo de série das competidoras, nem sempre ''Sex'' tira milhares de piadas da cartola, e a maioria não acaba na boca de Carrie. Nesse episódio, que fala da falta de sexo, Mrs. Bradshaw precisa lidar com o fato de que ela e Mr. Big não transam tem alguns dias.

Sarah é uma atriz muito talhada para a Carrie, enquanto as demais estão entendendo seus personagens, ela já o possuí de corpo e alma. Em algumas cenas ela quase tenta invocar uma comédia física aqui ou acolá, como a cena da luta de boxe na casa de Big, mas nada que salte tanto os olhos. Parker ficou conhecida por ser bem ruim em submeter episódios, veremos se é a verdade.


3º Lugar: Jenna Elfman - Dharma & Greg ("Are You Ready for Some Football?")

Uma sitcom clássica em um episódio a cara dos anos 90. Nele, Dharma começa a se apaixonar por futebol e escala rapidamente para uma completa OBSESSÃO. Um marido que estava adorando a situação, rapidamente se vê tendo que aguentar algo que ele não esperava.

A forma como Elfman lida com a comédia não quebra barreiras, mas ela está 100% comprometida com aquela personagem e, especialmente, com aquela situação. Os roteiristas não economizam nas piadas e nas situações mais bizarras, como essa cena dos chapéus que é maravilhosa. Em algum momento perto do fim a piada perde um pouco a graça, mas até lá você já riu o suficiente da situação toda.


2º Lugar: Calista Flockhart - Ally McBeal ("Sideshow")

''Ally McBeal'' é um show... diferente. As estranhezas que as escolhas estéticas provocam, mesmo em 2021, são alguns aspectos que podem afastar um espectador da série. Porém, essa singularidade também é o traço mais chamativo da produção. Flockhart entende que os gêneros de sua série não estão 100% alinhados de um só lado, ela faz comédia, mas também faz drama. E nesse episódio, tem muito drama.

Ally beijou Billy, que é casado com uma colega de escritório, e precisa enfrentar seus sentimentos sobre tudo isso. Para isso, ela vai no consultório de sua terapeuta (uma fabulosa Tracey Ullman) e disseca a si mesma da forma mais engraçada e dolorosa possível. Calista começa o episódio nas piadas e, ao fim, está metralhando tantas palavras por segundo que parece que é uma série de Aaron Sorkin. Sua cena final, um confronto sobre amor e relacionamento com Billy é um belíssimo exemplo de como Flockhart é, acima de tudo, Ally de corpo e alma.


1º Lugar: Helen Hunt - Mad About You ("The Final Frontier")

É impossível não sentir um certo impacto já no começo do episódio quando os créditos te informam que Helen Hunt é uma das responsáveis pelo roteiro, assim como é quem dirige essa ''series finale'' dupla de Mad About You. Dito isso, Hunt interpreta a personagem em diversos anos diferentes já que as cenas se passam em 1999, 2005, 2011, e até 2021.

E se Hunt não é a melhor em fazer comédia, nessa seleção é a melhor atriz, de longe. Ela não nos ganha pelo riso, mas pela sinceridade como ela entende Jamie. E nisso, as lágrimas tem o mesmo poder de uma gargalhada. Com um roteiro irretocável, é muito difícil não torcer, ficar emocionado e querer tudo de mais lindo para Paul e Jamie. Linda. Lindos.

sexta-feira, 18 de junho de 2021

Emmy - Melhor Atriz Coadjuvante em Drama 2007: Ligeiramente Vencedora



Duas das indicadas de 2006 estavam inelegíveis, Jean Smart por ''24'' (indicada em guest esse ano) e a vencedora Blythe Danner, que teve sua série (''Huff'') cancelada. As mulheres de ''Grey's Anatomy'', Chandra Wilson e Sandra Oh, retornaram. Candice Bergen era elegível por ''Boston Legal'', mas (para a felicidade de muitos) foi esnobada.

Katherine Heigl foi indicada junto das colegas de ''Grey's'', mas para muitos (incluindo o autor do post) ela merecia muito ter entrado já (e até mais!) no ano anterior, vide a belíssima trama que houve entre Izzie e Denny (Jeffrey Dean Morgan). A parte final de ''The Sopranos'' trouxe de volta a corrida Aida Turturro e Lorraine Bracco, a última em sua primeira indicação coadjuvante após ter concorrido como protagonista pelas três primeiras temporadas da série. A última vaga ficou com Rachel Griffiths por ''Brothers & Sisters''.

Entre as esnobadas do ano é de se destacar CCH Pounder, indicada dois anos antes, mas sempre prejudicada pela falta de total apreço da academia por ''The Shield''. Outra atuação muito falada foi da vencedora de três Emmys Patricia Wettig por ''Brothers & Sisters''. Houve um bom buzz de Kate Walsh por ''Grey's Anatomy'', especialmente pelo ''triângulo amoroso'' que ela forma na terceira temporada da série, mas até então quatro atrizes de uma mesma série indicada nunca tinha ocorrido, e a força de ''Grey's'' não era tanta.

A favorita, disparada, da noite era Sandra Oh, a atriz estava em sua terceira indicação seguida, a série tinha muito hype e sua personagem era a mais popular da trama. Além disso, existia uma sensação de que ela era, também, a melhor atriz do elenco. Havia quem falasse que Griffiths poderia vencer, inclusive como resquício de um amor não sacramentado por ''Six Feet Under'' ou que Bracco poderia se beneficiar de um ''sweep'' de Sopranos nas categorias de atuação que, no fim das contas, nunca ocorreu. 

A vitória surpreendente de Heigl, nem ela mesmo acreditou, acabou sendo creditada mais ao sucesso de ''Ligeiramente Grávidos'', filme que estourou no verão americano e indicada que Heigl poderia não ser a melhor atriz da série, mas a maior estrela. Isso junto de ter uma personagem bastante amada e um episódio bem decente devem ter segurado uma das vitória mais inesperadas que essa categoria já viu.

Abaixo, meu ranking:


6º Lugar: Chandra Wilson - Grey's Anatomy ("Oh, the Guilt")

Drª Miranda Bailey é uma personagem com muita presença, energia e determinação, além de ser muito carismática. Infelizmente, esse episódio não mostra muito isso. Ou muito de Wilson como um todo, ela até tem um momento bonito com a paciente, mas... não.


5º Lugar: Lorraine Bracco - The Sopranos (''The Blue Comet'')

É engraçado que Bracco se submeteu como coadjuvante pelas últimas temporadas de ''Sopranos'', acho que ela entendeu após algumas esnobadas que esse era mesmo o lugar da Dra. Jennifer Melfi. Interessante que na segunda metade final da série, a presença de Melfi se tornou bem maior que nas últimas, a cada nova ''epifania'' de Tony, Melfi estava lá.

Esse episódio é uma percepção interna da própria personagem. É é um dos poucos que não vemos Melfi, exclusivamente, em um escritório de psiquiatria e ela vai aos poucos entendo que tudo que ela tentou fazer nos últimos anos foi em vão, era algo mais sobre estar lidando com um jogo que não tinha como sair vitoriosa. Óbvio que o empate, sentadinha, com Tony tem seus momentos de prazer e a gente até consiga sentir uma certa empatia dela por tudo que se passou, mas ainda assim não é suficiente para ficar mais acima nessa seleção. Além disso, preciso admitir que eu nunca fui totalmente fã de Bracco no papel, o que não é uma crítica, apenas algo bem subjetivo.


4º Lugar: Katherine Heigl - Grey's Anatomy (''Time After Time'')

Izzie recebe a notícia que sua filha, que ela deu para adoção quando tinha 16 anos, está no Seattle Grace Hospital, tem 11 anos e está com leucemia. Os pais procuram ela para que Izzie se torne doadora de medula. É um choque para ela entender tudo isso, e também para o espectador, é um bombardeio de informações que envolvem tudo que você precisa saber da atuação de Heigl.

Dado o tema, é esperado que Izzie seja bem central no episódio, mas ela acaba não tendo tanto tempo de tela. Nesse caso, acho uma bobagem, Heigl se aproveita de todas as cenas para demonstrar o quão aturdida e decepcionada Izzie está. Sem dúvida alguma ela recorre pra recursos mais comuns, como lágrimas correndo aos olhos, para expressar suas dores, mas não significa que as feridas de Izzie soem menos dolorosas por isso. E o pequeno depoimento da personagem sobre o inesperado ''encontro'' é muito sincero.


3º Lugar: Rachel Griffiths - Brothers & Sisters (''Bad News'')

A força de Griffiths aqui é medida por uma cena, Sarah tem apenas uma cena para lidar com o fato de que seu marido a traiu... novamente, e com sua irmã. E, nossa, que atriz fabulosa é essa mulher. A trama meio que prepara você com momentos leves e divertidos de Sarah durante o episódio, para no final ela te dar uma aula.

E é atuação grande, sabe? Daquelas que o prato se quebra. E nesse novelão gostoso que é ''Brothers & Sisters'', nada funcionaria melhor. Tem tensão, tem levantar de voz, tem choro, tem gritaria. É um prato cheio pra qualquer ator, e Rachel não faz pouco caso disso. Em 5 minutos somos tragados pela frustração e tristeza de Sarah com o fato, o marido e sua própria vida. É pouco tempo, mas é pungente. É uma delícia de assistir e você entende, perfeitamente, quem é aquela mulher naquele exato momento.


2º Lugar: Aida Turturro - The Sopranos (''Soprano Home Movies'')

Janice sempre foi uma personagem, digamos, singular em meio a todas as mulheres da série. E com isso, existe um sentimento de amor e ódio que acabamos criando por ela. Porém, sendo irmã de Tony Soprano, poderíamos realmente culpá-la por ser uma das pessoas mais sem-​vergonhas da teledramaturgia mundial? Aqui, a Aida tem um privilégio que poucas coadjuvantes possuem, que é possuir um episódio com tempo de tela quase a nível protagonista. Janice vai comemorar o aniversário de Tony com Bobby e Carmela em uma casa isolada, a trama toda acaba girando em torno deles. 

O mais chamativo do episódio é como ele consegue sintetizar a identidade de Janice dentro daquele meio, seu lado bom e ruim, isso tudo com muita propriedade. É óbvio que essa análise só funciona por causa do totalmente controle que Aida tem sobre Janice, sempre trabalhando nuances de uma personagem muito complexa. Você consegue sentir raiva, pena e rir com e por causa de Janice, e tudo isso passa pela performance de Turturro. Sua presença na temporada como um todo não é tão forte (Bracco é bem mais utilizada), mas olhando somente esse episódio, fica irresistível não colocá-la tão acima das demais.


1º Lugar: Sandra Oh - Grey's Anatomy (''From a Whisper to a Scream'')

A partir do momento que Oh começa sua narração nesse excelente episódio de ''Grey's Anatomy'', você sabe que ela vai ser crucial para toda a narrativa, e nunca se decepciona sobre isso. A melhor parte da atuação de Oh é a economia com que ela constrói a Yang. Seus olhos, tão expressivos, acabam sendo responsáveis por transmitir tudo que precisamos saber sobre seus sentimentos, e aqui, eles são vitais para contar tudo.

Tendo que lidar com um segredo importantíssimo sobre uma das pessoas que mais ama, a participação de Yang é a definição de uma coadjuvante. Ela não aparece tanto a ponto de você considerá-la protagonista, mas se destaca em meio a um elenco formidável. Cada cena de Cristina é aproveitada ao máximo por Sandra, seja em momentos de dúvida, de raiva ou na calma (e triste) percepção de que precisa cortar o mal pela raiz. É uma performance que, mesmo em um elenco talentoso, acaba pairando pela qualidade expressa pela atriz. Brava.

quinta-feira, 17 de junho de 2021

Emmy - Melhor Atriz Drama 2007: Irmãos & Irmãs & A Noviça Voadora


Das cinco concorrentes do ano anterior, apenas duas estavam elegíveis e ambas voltaram. São elas: Mariska Hargitay (''Law & Order: SVU'') e Kyra Sedgwick (''The Closer''). Duas esnobadas inexplicáveis do ano anterior também voltaram a corrida. A três vezes vencedora Edie Falco (''The Sopranos'') e a vencedora de 2005, Patricia Arquette (''Medium''). Em um empate não visto antes na categoria, as atrizes de séries novas Sally Field (''Brothers & Sisters'') e Minnie Driver (''The Riches'') fechavam o line-up de 2007.

A nível de indicação, Mariska tinha acabado de vencer o Emmy, Kyra tinha levado o Globo de Ouro, e o buzz do final de ''Sopranos'', assim como de ''Brothers & Sisters'' colocavam as quatro atrizes como indicações esperadas. Dessa forma, é confortável dizer que Arquette e Driver foram as ''surpresas'' dentre as indicações. Dentre as esnobadas da noite, existe uma divisão na indústria entre Ellen Pompeo pelo grande hit que era ''Grey's Anatomy'', e Evangeline Lilly por um papel que nem todos consideravam protagonista em ''Lost'', ambas em suas terceiras temporadas. A crítica, no entanto, dizia que Connie Britton, pela primeira temporada de ''Friday Night Lights'', é que merecia a indicação. Pompeo e Lilly chegaram aos Globos, Britton ao TCA, nenhuma ao Emmy.

Para a vitória era, quase, um consenso que o prêmio iria para Kyra Sedgwick, não só pela sua vitória nos Globos, mas pelo hit que ''The Closer'' tinha se tornado, totalmente graças a ela. Outros achavam que se não fosse de Sedgwick, seria de Edie Falco a vitória, por um provável ''furacão'' de Sopranos na grande noite da televisão. Field era uma runner-up para alguns, mas nunca 1ª opção de ninguém. Na noite do Emmy, Sally Field emerge vitoriosa e faz um discurso sobre a guerra que o US vivia que causou até polêmica depois da premiação. Foi seu terceiro, e até hoje, último Emmy.

Abaixo, meu ranking:


6º Lugar: Patricia Arquette - Medium (''Be Kind, Rewind'')

Em benefício de Arquette, ela está presente em todas as cenas desse episódio. Contra Arquette, infelizmente, ela está em ''Medium''. Não dá para fugir da fórmula e do texto raso dos procedurais. Aliás, até dá, mas são poucos casos e esse não é um deles.

Nesse episódio, Allison precisa reviver uma mesma situação em três momentos diferentes. Em um programa melhor, isso seria uma situação bem baity para um ator, mas em ''Medium'' é apenas um gimmick sem muito valor para a atriz. Durante a maior parte do tempo, Arquette precisa só pular de situação para situação, e nos poucos momentos que demandam um pouco mais de profundidade, é sabotada por um roteiro, no mínimo, inferior aos seus talentos.


5º Lugar: Kyra Sedgwick - The Closer (''Slippin''')

A Brenda Leigh Johnson de Sedgwick é muito humana. Poucas atrizes conseguem incorporar elementos de sua atuação para criar um ser tão próprio e vivo como Kyra faz aqui, mas ela não consegue escapar das armadilhas que sua série lhe impõe, quase no nível de Arquette.

Nesse episódio, ela precisa descobrir quem matou dois jovens negros e o seu foco é impressionante. Existe um aspecto de star quality, de carisma exacerbado que emana de Brenda que é tudo vindo de Sedgwick, é uma energia tão forte que até mesmo seu sotaque, que de cara causa estranheza, se torna intrínseco aquela mulher. O material, infelizmente, nunca a deixa levantar um voo alto, mas ainda é bom o suficiente para ficar acima de Patricia. E, ainda assim, ela tem uma cena de confronto final com um possível suspeito que é uma delícia de assistir.


4º Lugar: Edie Falco - The Sopranos (''The Second Coming'')

Que Edie Falco entregou, provavelmente, a maior atuação feminina da televisão americana é um fato. Sua Carmela Soprano foi mudando aos nossos olhos e em cada novo capítulo da série, é como se uma nova Carm surgisse. Esnobada de forma patética pela parte I da sexta temporada, sua indicação aqui é mais simbólica do que qualquer coisa.

Digo isso, pois Carmela perde quase todo o protagonista que tinha na parte anterior e fica meio periférica nessa fase final de ''The Sopranos''. Tony acaba tomando os holofotes, e Carmela não é protagonista absoluta nem em sua própria submissão. Nesse episódio, ela precisa lidar com um ato quase fatal com um dos membros de sua família. E a beleza de Falco estar em colocar suas emoções a todo vapor, mesmo que sejam poucos os momentos que Carmela realmente precise brilhar. Embora, o confronto com Tony, e a cena com o ente no ''hospital'' são exemplos do tamanho do poder que foi essa mulher durante toda a série.


3º Lugar: Mariska Hargitay - Law & Order: Special Victims Unit (''Florida'')

Nem eu acredito nisso, mas sim, Mariska Hargitay é top 3 em uma seleção pessoal para o Emmy. Nossa, que episódio bem pensado para ela enquanto atriz. Eu fui totalmente tragado para a vida dessa mulher. Olivia precisa aqui lidar com dilemas do passado e problemas do presente, e todos eles são pancadas.

A trama procedural da semana se funde a vida de Olivia, ela precisa lidar com o fato de que foi concebida através de um estupro e que seu irmão, por parte de pai, é acusado de fazer o mesmo. Ela não quer acreditar em nenhum dos casos, é doloroso e parece não ter saída. E com isso, Hargitay não perde uma oportunidade para demonstrar as feridas dessa mulher. É uma atuação dela como poucas vezes vi em um episódio de SVU, e mostra que é uma pena ela só ter feito esse papel em toda sua vida. O diálogo final com seu irmão, em um momento que ele mantém uma mulher refém, é tão verdadeiro e forte que fica difícil até explicar.


2º Lugar: Sally Field - Brothers & Sisters (''Mistakes Were Made", Part 2)

Mais uma mãe em ação, mas aqui com completo domínio da trama. Sally Field é uma atriz que, as vezes, divide opiniões, mas nessa versão americanizada de alguma trama do Manoel Carlos, ela arrasa. Inclusive, é a sua verdade cênica que faz com que essa série não seja só um simples melodrama, mas algo que levemos em consideração em outro patamar. E a parte mais legal do episódio é que vemos Nora em um momento atual e em um flashback, se você ignorar a peruca nada elegante de Field, é um tipo de extra que causa um certo impacto.

Você até sente o quentinho que Sally emana como matriarca da família Walker, é como se ela realmente fosse mãe de todos aqueles personagens. E, nesse caso em especial, ela precisa lidar com o filho mais novo e sua vontade de ir para o exército. Field acaba transparecendo preocupação com muito vigor, é aquele tipo de conexão com o ambiente que ela habita que precisa ser muito experiente para conseguir fazer. Uma cena de choro da personagem, mesmo não focando tanto no rosto de Field, é muito linda e, por incrível que pareça, não precisa subir o tom em momento algum. É uma atuação muito mais sincera do que muitos dão crédito.


1º Lugar: Minnie Driver - The Riches (''Pilot'')

A segunda melhor série dentre as indicadas, o piloto em si de The Riches é quase um curta metragem. Nele conhecemos os Malloy, uma família que faz parte de uma comunidade nômade, e que por causa de eventos trágicos, acaba assumindo a identidade de uma família rica.

Driver é a mãe, ela faz com Dahlia algo que não estamos acostumados até então. No começo do episódio, quando a personagem está saindo da cadeia, você já começa a perceber que é uma atuação introspectiva. A medida que ela vai se sentindo confortável, ela vai se abrindo e ganhando o público, de dentro e fora da tela. Mas a gente sabe que existe algum tipo de incômodo ali, um sofrimento particular sobre escolhas que foram feitas. Assim que Driver nos permite ver a questão, isso nos machuca tanto quanto a própria personagem, o que é surreal já que estamos com ela não tem muito mais que meia hora. 

Entre discussão com o marido (um brilhante Eddie Izzard, que também deveria ter sido indicado), um tipo de união com uma carismática vizinha (''character actress'' Margo Martindale), e a percepção de que o ''sonho americano'' também pode pertencer a ela, a atuação de Minnie é tão rica e cheia de nuances quanto o próprio título da série. Uma pena que o projeto durou tão pouco e teve pouco buzz, só por Driver já merecia muito mais a lembrança.