quarta-feira, 15 de dezembro de 2021

Melhor Atriz 1944 - CasaBergman



O fato mais importante a se dizer aqui é que Ingrid Bergman estava tendo uma carreira meteórica em seu país de origem, Suécia, quando David O. Selznick decidiu produzir um remake de Intermezzo com ela nos EUA. O filme introduziu a atriz para o público americano, e embora o sucesso ou não do filme e de mais outras duas ou três produções com Bergman seja questionável, o fato é que ela deixou uma boa impressão. Em 1943, quatro anos após o seu debut, Bergman viria a lançar dois filmes: ''Casablanca'' e ''Por Quem os Sinos Dobram''. Essa obras firmariam o talento e o star power da atriz em Hollywood. Sendo grande sucesso de bilheteria e na crítica, a indicação de Bergman por ''Casablanca'' era uma certeza, e a vitória era quase.

O que ninguém esperava é que não somente a atriz acabasse indicada por ''Sinos'' (mesmo que também muito aclamada pelo filme), como que ela perdesse a estatueta para as mãos de Jennifer Jones, mesmo com ''Casablanca'' levando ''Melhor Filme''. A sensação de que uma estrela em ascensão tinha sido roubada surgiu ali. Dois meses depois, Bergman lança ''Gaslight'' e sua atuação não só chama atenção do público, mas a crítica a considera totalmente diferente do que a atriz vinha oferecendo até ai. Outras candidatas surgiram, mas nenhuma delas conseguiu bater de frente com Bergman no quesito poder de performance, e até mesmo de superar a sensação de que a atriz já devia ter uma vitória.

Nem mesmo Barbara Stanwyck, em Pacto de Sangue, um filme noir tão popular na época que conseguiu quebrar todas as barreiras de gênero existentes e ser indicado nas principais categorias da noite. Porém, como vimos antes e depois, a Academia possuía um grande preconceito com filmes desse tipo e a indicação acabou sendo a vitória para Stanwyck. Esse mesmo problema evitou a indicação de Gene Tierney por ''Laura'', indicado a Melhor Direção. Outro filme indicado a Melhor Direção foi ''Lifeboat'', mas o aspecto ''mosaico'' do filme impediu que Tallulah Bankhead, que não atuava por mais de uma década, fosse privada de uma indicação que para muitos era certa.

No entanto, foi a esnobada de Judy Garland em Meet Me in St. Louis, e do filme como um todo, que causou o maior furor na categoria. Não só Garland era uma das maiores estrelas de Hollywood, mas o filme foi um arrasa quarteirão de bilheteria, e a atuação de Judy foi considerada um momento de virada da fase infantil para a adulta. A Academia acabou preferindo indicar Bette Davis (''Mr. Skeffington'') e Greer Garson (''Mrs. Parkington'') em veículos cansados, além de Claudette Colbert em ''Since You Went Away'', mas ao menos esse se revelou um forte candidato na corrida como um todo.

No fim, a vitória de Bergman não só foi previsível, como altamente comemorada. O consenso é que nos dias atuais, Stanwyck tem a grande performance da categoria, e uma das maiores do cinema, mas a gente sabe que o Oscar sempre foi meio caranguejo nesse aspecto, sempre andando para trás.

Abaixo, meu ranking dentre as indicadas:


5º Lugar: Bette Davis, Mr. Skeffington (''Vaidosa'')

Davis sempre foi boa atriz, mas esse filme aqui é pra quem diz que um ator se sobrepõe a tudo: a resposta é não. Presa em um fiado de roteiro e sem muito a fazer com uma personagem tão rasa, a atriz sucumbe a escolhas óbvias e que sabemos que ela faz dormindo.

Não é por si só uma performance ruim, mas possuí momentos ruins e, no geral, acaba sendo imemorável. Para não falar que é só coisa negativa, a reta final do filme, mesmo com Davis cheia de maquiagem, acaba trazendo os poucos bons momentos da performance como um todo.


4º Lugar: Claudette Colbert, Since You Went Away (''Desde Que Partiste'')

Embora tenha crescido em mim de forma considerável desde que assisti, essa atuação da sempre ótima Colbert acaba morrendo nesse aspecto de estar sempre bem, mas nunca ir além. Aliás, a cena da foto em questão eleva a atriz para além da mediocridade, mas nada digno de nota o suficiente para estar indicada entre as 5 grandes atuações do ano.

E para completar, a atriz precisa dividir a cena com Jennifer Jones, com um papel melhor, e que resulta em uma atuação também superior a de Colbert.


3º Lugar: Greer Garson, Mrs. Parkington (''Mrs. Parkington, A Mulher Inspiração)

Talvez a minha maior surpresa da categoria, visto que acho Garson uma atriz pouco inspirada e essa mania de só fazer mulher guerreira é de tirar a paciência de qualquer um.

Porém, o melhor do filme e a atuação acaba sendo essa espécie de montanha-russa de emoções que Susie passa durante toda a película. Ela vive diversos estágios da vida, e sabe explorar uma verdade e, até, pureza em cada um desses sentimentos. Não é uma atuação superlativa, mas é muito bonita, competente e com lampejos acima da média, o que é mais do que posso falar de Davis e Colbert.


2º Lugar: Ingrid Bergman, Gaslight (''À Meia Luz'')

Falem o que quiser de Bergman não ter merecido essa estatueta pela concorrência estabelecida por Stanwyck, mas não é possível negar que a ambientação do diretor George Cukor agregado a uma personagem muito bem delineada acaba abrindo espaço para que a atriz deite e role num papel, genuinamente, poderoso.

Nada paga ver a total espiral que começa a se criar no rosto de Bergman a medida que ela vai enlouquecendo. É um tipo de atuação que caracteriza muito o cinema daquela época, evocativo dos palcos e com muita grandeza sem nunca ter medo de ser grande. É totalmente calcada no melodrama, e acaba sendo um sucesso por fazer isso com maestria. As cenas finais do filme são um vislumbre fortíssimo do que acabamos de viver, o rosto de Ingrid está quase cansado de tanto sofrer, mas é sempre cativante o suficiente para nos manter com ela até o final.


1º Lugar: Barbara Stanwyck, Double Indemnity (''Pacto de Sangue'')

Como poderia ser outra? Testemunhar Stanwyck como Phyllis Dietrichson é como estar sentindo a magia do cinema pela primeira vez. Porque é isso que ela é, Barbara aqui é uma parte do cinema, é muita coisa dentro de uma só. É uma performance seminal, que viria para criar um arquétipo utilizado até hoje.

Percebam, mesmo sem estar no filme por todo o frame, é como se Stanwyck nunca saísse de tela, não só pela personagem se perpetuar em todas as ações, mas é como se ela entendesse tudo que Wilder estava propondo em cena. É hipnotizante e muito inteligente, especialmente se você levar em consideração que o filme tem quase 80 anos. A forma dissimulada com que Stanwyck já brincava em ''Baby Face'', mas aqui faz um estrago é um dos motivos pelo qual atuar é, acima de tudo, saber brincar. E nessa brincadeira, poucas pessoas se divertem tanto quanto Stanwyck.

MAS,
E se eu pudesse indicar alguém?


Judy Garland, Meet Me in St. Louis (''Agora Seremos Felizes'')

Sem dúvidas, é a grande atuação de 44 esnobada pelo Oscar. Não só é atemporal em sua construção do coming of age da personagem estabelecida ali, mas porque existe algo de muito palpável na forma como Garland vai percebendo seu mundo mudar, de forma exteriorizada ou não, e que ela precisa agir sobre isso.

E uma performance que tem não um, nem dois, mas três números musicais do impacto de Garland aqui, já fala por si só o nível que carregar. ''Have Yourself a Merry Little Christmas'' é absurda, e um testemunho cabal da força de Garland através do seu dom musical. Ah, o filme é um clássico.


Tallulah Bankhead, Lifeboat (''Um Barco e Nove Destinos'')

Na linha de filmes melhores e com atuações mais inspiradas do que as indicadas, ''Lifeboat'' e Bankhead entram com folga. De cara, você acha que o filme irá focar somente na personagem de Tallulah, mas ele claramente se torna um mosaico cinematográfico, onde cada personagem tem seu destaque.

Isso seria um demérito para qualquer outra atriz desinteressante, mas não é o caso de Bankhead. Eu até admito que sua Connie Porter é algo que eu, pessoalmente, gosto muito em cena, mas as tiradas, a língua de chicote e a presença cênica da atriz é algo que não se pode atacar. Mesmo quando ela não é o centro das atenções, você acaba buscando ver como ela reage ao todo. E até pela diferença com que Tallulah aborda o papel, sem qualquer julgamento, essa performance já é acima da média por si só.

sexta-feira, 16 de julho de 2021

Emmy - Melhor Atriz Coadj. Comédia 2003: O Retorno de Doris

 


Durante três anos (2002, 2003 e 2004), essa categoria viu quatro mulheres nunca serem esnobadas. São elas a vencedora dos dois anos anteriores Doris Roberts por ''Everybody Loves Raymond'', a sempre perfeita Megan Mullally por ''Will and Grace'', e as duas atrizes de ''Sex and the City'', Cynthia Nixon e Kim Cattrall. Se em 2002 a indicação de ''Curb Your Enthusiasm'' foi uma grande surpresa, em 2003 era esperado que a série expandisse em indicações. Um dos grandes destaques da temporada, Cheryl Hines, acabou abocanhando a última vaga. Ela viria a ser indicada novamente alguns anos depois.


Com a série já no seu fim, o medo de que Kristin Davis pudesse ser a Courteney Cox de ''Sex and the City'' e nunca ser indicada era grande. Além dela, muitos falavam que se Bitty Schram tivesse se submetido como coadjuvante, ao invés de protagonista, por ''Monk'', talvez ela tivesse entrado nesse ano. A vitória estava bem aberta, Kim Cattral tinha vencido o Globo de Ouro e foi indicada ao SAG (sem SJParker) e estava com um status de overdue, mas até a cerimônia existia uma sensação de que tanto Roberts no ano mais forte de ''Raymond'' e a trama de maternidade de Nixon em ''Sex'' podiam levar elas ao pódio. Aliás, até Hines tinha enormes apoiadores por ser considerada um dos destaques de ''Curb''. Teoricamente, só Mullally não teria muitas chances naquele ano. Em uma terceira vitória consecutiva, deu Doris Roberts, e acho que até ela ficou espantada.

Abaixo, meu ranking:


5º Lugar: Cheryl Hines - Curb Your Enthusiasm ("The Terrorist Attack" + "Krazee-Eyez Killa")

O que eu senti após ver as duas submissões de Hines é que ela deve funcionar muito melhor ao ver toda uma temporada do que somente um ou dois episódios da série. O humor de ''Curb'' é diferente, os diálogos são ''improvisados'' e tudo isso acaba causando uma certa estranheza para o espectador.

Óbvio que eu achei que tudo isso acaba a prejudicando, mas talvez seja porque o melhor do material fica com os atores ao seu redor, especialmente Larry David, e não tanto com ela. Você entende o motivo de sua presença ali, é bem legal, mas não dá para colocar mais acima numa seleção como essa.


4º Lugar: Cynthia Nixon - Sex and the City ("Anchors Away" + "Cover Girl")

Acho que Nixon acabou não submetendo tão bem quanto deveria. Todo o seu foco na quinta temporada é sobre como é difícil lidar com a novidade em ser mãe. E, de alguma forma, isso funciona e tá bem explicitado no primeiro episódio. Ela tem uma cena com a Carrie que consegue ser engraçada e tocante ao mesmo tempo, é um tipo de percepção sobre o que é ser mãe. Acaba mostrando o trabalho de Nixon como bem maduro, tem um viés emotivo, mas não é tão forte. 

Porém, sua segunda submissão não tem o mesmo peso, e mesmo ainda contendo bons momentos de Miranda, afinal Nixon é sempre boa, acaba prejudicando a atriz quando avaliamos o todo.


3º Lugar: Megan Mullally - Will & Grace ("The Honeymoon's Over" + "23")

Nada é mais prejudicial a um ator do que um roteiro que não o prestigie, e eu senti exatamente isso com uma das submissões de Mullally. Ela ainda é top 3 da seleção porque no seu primeiro episódio, ela precisa ficar na casa de Will e simplesmente arrasa. São as pequenas coisas que Karen faz, e que exaltam a inteligência de Megan no papel. Por exemplo, a cena dela tentando convencer Will a deixá-la ficar na casa ou quando ela resolver ouvir música, são essas cenas que fazem a gente entender porque amamos Karen.

Porém, sua segunda submissão, que envolve a morte de seu marido, é bem menos interessante. São poucos os momentos que o texto saindo de sua boa é realmente boa, e tudo parece meio cansado. É a mistura de dois lados de uma personagem muito completa, mas que perde um pouco a força quando não tem muito o que fazer.


2º Lugar: Doris Roberts - Everybody Loves Raymond ("Marie's Vision" + "Robert's Wedding")

Depois de tantas temporadas, você pensa que não pode se surpreender mais em como um ator em uma sitcom constrói uma cena, mas tem algo na Marie da Roberts que sempre tem um ''algo a mais''. Seja pelo roteiro sempre muito inteligente quanto foca na personagem, ou na forma como Doris tenta dar camadas aos sentimentos de Marie, é sempre delicioso vê-la em cena.

No primeiro episódio é quase como se o lado mais engraçado fosse como as pessoas reagem a personagem, mas não só ela está livre, leve e solta com seu novo óculos, como em um momento mais dramático você acaba comprando tudo que a personagem está sentindo. E isso meio que reverbera na sua grande cena da igreja no segundo episódio, é uma Marie sarcástica e egocêntrica, mas não tão ciente de que ela é tudo isso. E a Doris faz esse jeito em alguns momentos serem a coisa mais incrível do mundo. E por alguns minutos, acaba sendo.


1º Lugar: Kim Cattrall - Sex and the City ("Cover Girl" + "Critical Condition")

Cattrall nunca foi tão certeira quando nesse ano, ao menos até então. Samantha está excelente em ambos os episódios, e pela primeira, sinto que um episódio da série é mais sobre ela do que qualquer outra daquelas mulheres. Em ''Cover Girl'', Carrie pega ela no ato de um boquete e Samantha começa a se sentir julgada por ter uma vida sexual tão liberta. Isso permite que ela entregue um momento incrível falando sobre a arte boquete, lide com um pequeno confronto com Carrie e, ao mesmo tempo, saiba mostrar um lado mais humano da personagem ao se abrir sobre as inseguranças de ser uma mulher livre. 

E depois, ela tem um episódio sobre um vibrador onde Cattrall se encontra em ''full Samantha mode'', com destaque dela tendo que lidar com o filho de Miranda, mas não sem antes ter uma cena com palestra sobre massageadores de corpo, que são na verdade vibradores.

Emmy - Melhor Atriz Comédia 2003: Finalmente, Grace!

 


Apesar de todos os esforços de prêmios como o Globo de Ouro e o TCA, Bonnie Hunt não conseguiu adentrar a line-up de 2003 daquele Emmy pela sua aclamada série ''Life with Bonnie''. Mas não foi algo diretamente contra ela, a categoria desse ano foi exatamente igual a de 2002, a única vez que todas as indicadas de um ano foram exatamente as mesmas do anterior nos anos 2000. Logo, retornaram a vencedora prévia Jennifer Aniston pela nona de ''Friends'', Jane Kaczmareck pela quarta de ''Malcolm in the Middle'', Debra Messing pela quinta de ''Will & Grace'', Sarah Jessica Parker também em uma quinta temporada (''Sex and the City''), e Patricia Heaton pela sétima de ''Everybody Loves Raymond''.

A favorita na noite era Patricia Heaton, com duas estatuetas pela personagem, em um ano que o buzz de ''Raymond'' estava estratosférico, algumas pessoas também acreditavam que Jane Kaczmareck podia vencer. Porém, a cena final do episódio de submissão de Messing deve ter feito os votos pensarem diferente e premiá-la, até então a única do quarteto sem vitória. Messing revelou anos depois que ela já tinha desistido de ganhar. Com essa vitória, ''Will & Grace'' se igualou a ''All in the Family'' e ''The Golden Girls'' como únicas séries que todos os atores do elenco venceram o Emmy.

Abaixo, meu ranking:


5º Lugar: Sarah Jessica Parker - Sex and the City ("Anchors Away")

Parker é um poço de carisma como Carrie, e mesmo que eu entenda que nesse episódio ela escolha por pequenas partes engraçadas ou fofas, ao invés de um arco em si, não é das suas melhores submissões. É mais um ode a cidade de Nova York, com Carrie passando por algumas situações bem legais, mas sem nunca ter uma grande cena, ou até mesmo algo marcante. O momento final com o marinheiro é uma cena doce e bem feita, mas não consigo colocá-la muito acima da competição.


4º Lugar: Jennifer Aniston - Friends ("The One Where Monica Sings")

Aparentemente estava na moda de 2003 submeter episódios cômicos com os últimos minutos dramáticos. Igual a Messing, mas com menos profundidade, Aniston passa a maior parte de seu episódio, digamos, ''ofuscada''. Ela tem um momento legal fingindo estar gripada, mas passa rápido. O grande destaque é mesmo a discussão final com Ross que leva ao rompimento da decisão de morar juntos.

Aniston nunca chega a ir 100% no drama, mas existe uma série muito boa na forma como ela constrói o momento com Schwimmer. É quase como se víssemos um pouco do que seria Rachel Green em uma série dramática. E nos lembra que Aniston não é atriz de um truque só.


3º Lugar: Jane Kaczmarek - Malcolm in the Middle ("Baby")

Fiquei um pouco na dúvida sobre o que achar dessa submissão de Kaczmarek, meio que no meio termo e por isso ela ficou nessa posição. Nem sempre um episódio de nascimento é algo bom (Sofia Vergara em ''Modern Family'' me vem a mente), mas não é como se esse episódio tivesse sido ruim. É dividido em duas partes, na primeira o destaque é totalmente para Cloris Leachman, maravilhosa como a pior avó do mundo.

Na segunda, quando realmente vai acontecer o nascimento, é a hora de Kaczmarek brilhar. As vezes eu sinto que a situação toda do episódio resumo em ter apenas cenas dela gritando, mas dado que ela se aperfeiçoou na forma de trabalhar a expressão facial com maestria e você realmente acaba torcendo para que tudo dê certo, e muito graças a Kaczmarek, existem elogios a serem feitos aqui. Óbvio, que ela também se beneficia de submissões não tão boas de Aniston e Parker.


2º Lugar: Patricia Heaton - Everybody Loves Raymond ("Baggage")

Nada como um bom e velho episódio de sitcom da forma mais clássica possível. Todos os 20 e poucos minutos do episódios são sobre uma bagagem que nem Raymond ou Debra levaram pro quarto, deixando ela na escada. Logo no começo a Heaton lida isso de forma normal, mas quando ela explode, revelando que não aguenta mais aquela mala enorme parada na escada, você já começa a rir e não para mais.

Sua cena com Marie é fofa, mas nada te prepara pra o embate final com Raymond. Não só a língua ferina de Heaton está ''on fire'', mas tem uma cena final (foto) com a mala envolvendo comédia física que é genial e me fez gargalhar como nenhuma outra submissão desse ano.


1º Lugar: Debra Messing - Will & Grace ("The Kid Stays Out of the Picture")

Grace e Will decidiram que vão ter um filho, mas Grace começa a se encontrar com um cara as escondidas, quando o dia da inseminação se aproxima, Grace decide que quer um tempo para ver como as coisas vão seguir com esse potencial namorado. A forma como o episódio desenrola isso é surreal porque você não imagina que o tom vai mudar do nada, mas ele muda.

E com isso, a cena da briga entre Will e Grace se torna algo próximo de um drama dos anos 2000 que mostra a força desses dois atores em algo completamente diferente do que você está acostumado. Logo no começo do episódio tem um momento muito engraçado do beijo entre Grace e o cara, ai a Messing também um beijão maravilhoso na Karen e tudo isso mostra essa faceta cômica da atriz. Quando lidamos com ela jogando as verdades na cara do Will, e recebemos outras de volta, é como se fosse outra atriz. Eu vi essa cena anos atrás e nunca esqueci, revendo agora entendi o porque. Sensacional.

Melhor Atriz 1934 - Uma Escândalo Aconteceu Naquela Noite


Algumas coisas precisam ser colocadas em perspectivas ao falar de 1934. Primeiro, esse foi o ano que o Sindicato de Atores (assim como outros sindicatos) tiveram um enorme crescimento na indústria, isso acabou colidindo com as visões do então presidente da Academia, Theodore Reed, e criou uma tensão forte, levando a perda de muitos membros. Na verdade, na votação desse ano a Academia tinha pouco mais de 100 membros, todos ligados a grandes estúdio, e por conta disso, totalmente influenciáveis. 

Esse também foi o ano que o ''Código Hayes'' entrou em vigor, criando censura em diversos tópicos que Hollywood começava a tocar em seus filmes. Esses dois tópicos acabaram afetando filmes da corrida, como, por exemplo, ''Queen Christina'' de Greta Garbo. Louis B. Mayer, chefe da MGM na época, estava as turras com Garbo, especialmente por ela não ter permitido a demissão de John Gilbert do filme, um ator que Mayer odiava. Isso fez com que ele lançasse o filme muito cedo e não desse qualquer apoio a uma das atuações mais elogiadas dessa lenda da telona. 

A Life escreveu que o trabalho de Bette Davis em ''Of Human Bondage'' era ''a melhor atuação registrada em vídeo de uma atriz americana até então''. Para muitos, Davis iria vencer o Oscar. Porém, Jack Warner (chefe da Warner Bros.) não queria fazer campanha para Davis por ela ser contratada da Warner, mas o filme ser da RKO, e a RKO não quis fazer o mesmo justamente pelo efeito diverso. Isso levou a um choque no dia das indicações quando Davis foi esnobada. O buzz negativo foi tão forte, que apoiadores como a indicada Norma Shearer pediram para a situação não ser deixada de lado. A Academia permitiu então que os votantes pudessem incluir quaisquer nomes que fossem em seus ballots finais.

Com tudo isso acontecendo, a americana Claudette Colbert, a grande estrela daquele ano, não tinha um, nem dois, mas três filme entre os indicados. Colbert tinha odiado ser atriz do cinema mudo por ''não ter falas para memorizar'', então preferiu ficar na Broadway por anos, até a grande Depressão atacar os palcos nova iorquinos. Dando uma nova chance a telona, ela teve inúmeros hits, foi uma das atrizes mais badaladas e bem pagas do mundo, e sempre desafiou os códigos sociais de sua época. Naquele ano, ela achou que não tinha chances de Bette perder após tanta falação pela atuação e esnobada, então ela preferiu ir para Nova York. Na estação ela foi parada, ela tinha vencido. A atriz correu para receber o prêmio das mãos de uma jovem Shirley Temple e falou que ''eu adoraria chorar agora, mas não posso porque tem um táxi me esperando e eu preciso ir para Nova York''. ''Aconteceu Naquela Noite'' foi o primeiro filme a vencer Melhor Filme, Diretor, Ator, Atriz e Roteiro, apenas outros 2 (''Um Estranho no Ninho'' e ''O Silêncio dos Inocentes) conseguiriam tal feito.

As outras indicadas, Grace Moore (''One Night of Love'') e Norma Shearer (''The Barretts of Wimpole Street'') eram esperadas, especialmente Moore em um dos grandes hits do ano, mas nunca tiveram chance de vencer.

Abaixo, meu ranking e alternativas para o ano: 


3º Lugar: Grace Moore, One Night of Love (''Uma Noite de Amor'')

Moore não era, exatamente, uma atriz. Ela foi uma das mais importantes sopranos que a ópera moderna possuiu, com isso acabou se aventurando no teatro musical e no cinema. Ao ver ''Noite'', isso fica bem claro. É óbvio que Moore não passa nenhuma vergonha, mas seu trunfo está em sua voz, e o diretor criar inúmeros momentos musicais para ficarmos encantado com o talento de Grace.

No entanto, são as cenas não musicadas que mostram uma pessoa tentando se encontrar, mas dado a leveza do assunto, isso nunca se torna um grande problema para Moore. Especialmente, por ser muito carismática com a câmera. É uma atuação bem baseada no ''star quality'' e na voz, o que não é um problema, mas impossibilita dela estar mais acima no ranking.


2º Lugar: Norma Shearer, The Barretts of Wimpole Street (''A Família Barrett'')

Shearer é uma das principais atrizes do começo do século XX no cinema, aqui ela se vê em uma personagem até interessante, mas com falhas de roteiro e um filme que não a ajuda em nada. A forma como ela encara a Elizabeth Barrett é muito digna, sempre tentando evitar se depreciar graças a uma deficiência da personagem. Ela acaba por conferir estofo aos infinitos diálogos do roteiro e cria uma aura bem valente de uma mulher quase a deriva.

Infelizmente, a falta de imaginação de seu filme é crucial para você não conseguir ir além com Norma, mesmo que ela tente fortemente, incluindo uma belíssima cena com seu amado. O saldo final é positivo para Norma, mas negativo para o todo.


1º Lugar: Claudette Colbert, It Happened One Night ("Aconteceu Naquela Noite'')

O que Colbert concebe aqui é a definição de seminal. Se ''Noite'' é o esqueleto do que viriam a ser todas as demais comédias românticas, o que Colbert entrega é o que todas as atrizes que fazem o gênero performam até hoje. Existe uma graça e carisma muito intrínseca a forma que ela constrói sua Ellie, e é uma escolha muito pontual numa escala de progressão para entender o filme como um todo.

O mais legal de sua atuação é como Colbert consegue se manter bastante sútil em momentos bem cruciais, mas não tem medo do ''grande'' quando lhe é necessário. Esses momentos podem ser notados em cenas como a da carona ou, a minha favorita, quando ela e Gable fingem ser um casal. É uma mistura de comédia física e graça, mas sem se datar e com muita força no que a própria personagem representa. Uma aula, de fato.

M A S,
Se eu pudesse trocar Moore e Shearer por outras, quem deveria ter entrado?


Bette Davis, Of Human Bondage (''Escravos do Desejo'')

É imprescindível dizer que o ultraje da esnobada de Davis foi necessário. O que mais chama atenção nessa atuação é a completa entrega, sem qualquer resquício de glamour, que Bette dá a sua personagem. Um ser humano dúbio, muito diferente do que se esperava da época, mas que é capaz de ser crível através do trabalho de Bette.

Sua grande cena, a do gif acima, é um maravilhoso exemplo da naturalidade que o cinema americano tão deseja hoje. Óbvio, é exagerado, mas você sempre o ódio transpassando cada osso de Davis, e essa sensação de desprezo tornam tudo muito palpável e chocante. Uma atuação para uma vida toda.


Marlene Dietrich, The Scarlet Empress (''A Imperatriz Vermelha'')

Dietrich nunca foi tão apreciada como devia pelo Oscar, e essa atuação mostra bem isso. Uma atriz que sempre escolheu papéis ousados, o seu trabalho aqui é uma jornada bem delineada, você consegue ver a jovem Sophie se tornar a majestosa Catherine II com um trabalho muito bem feito de Marlene. Ela vai desde a impostação de seu corpo até a forma como suas feições ganham força.

Quando você alia isso a um filme, claramente o melhor daquele ano que eu vi, que sabe como tratar sua personagem, o que resulta é uma performance poderosa, com muitas nuances e calcada em uma composição certeira. A transição para Catherine é, mesmo sem querer, responsável por um impacto muito forte no espectador.


Greta Garbo, Queen Christina (''Rainha Christina'')

Garbo não foi uma das mais poderosas atrizes do cinema por acaso. Seus traços são impossíveis de esquecer, e em uma performance que demanda presença cênica, ela entrega tudo isso e muito mais. É um caso de magnetismo mesmo, quando a essência da atriz completa a personagem e torna tudo muito poderoso. De alguma forma, Garbo é maior que seu filme.

Porém, ela ajuda a completá-lo com muito primor. E quando existem cenas mais dramáticas, que realmente demandam da atriz, a gente percebe que ela não foi somente uma das maiores estrelas, mas também uma estupenda atriz.

quinta-feira, 8 de julho de 2021

Emmy - Melhor Atriz Coadj. Comédia 2002: As Duas Doris


O grande diferencial dessa corrida em comparação a 2001 é que o elenco de ''Friends'', como um todo, decidiu se submeter como protagonista, ao invés de coadjuvante. Logo, com a saída de Aniston e Kudrow da categoria, as duas vagas acabaram por se completar com uma indicada prévia e uma que precisava ser indicada. Wendie Malick (''Just Shoot Me!'') voltou a categoria depois de dois anos esnobada, e a sempre elogiada Cynthia Nixon (''Sex and the City'') finalmente aconteceu na categoria, muito pelas tramas dramáticas que Miranda recebeu na quarta temporada da série.

As outras indicadas foram as mesmas: a recém vitoriosa Doris Roberts por ''Everybody Loves Raymond'', Megan Mullally por ''Will & Grace'' e a eterna madrinha de casamento Kim Cattrall por ''Sex and the City''. Nessa etapa da categoria, a presença de Kristin Davis, também por ''Sex'', começa a ser questionada, visto que todas as suas colegas de elenco entraram na premiação, mas ainda não foi dessa vez. A vitória não era surpresa para ninguém, com um dos episódios mais elogiados da temporada como submissão, a segunda vitória de Doris Roberts foi certa desde meses antes da cerimônia. Aliás, não fosse Jennifer Aniston triunfando por ''Friends'', era capaz de ''Raymond'' ter levado as quatro categorias de atuação.

Abaixo, meu ranking:


5º Lugar: Wendie Malick - Just Shoot Me! ("Nina Van Grandma" + "The Boys in the Band")

Em 1999 eu deixei Malick em último pelas submissões fracas que ela escolheu, esse ano ela fica em último mais pela concorrência do que qualquer outra coisa. Porém, preciso admitir, não achei ''Just Shoot Me!'' lá muito engraçada. É uma série que o humor é bem datado e que muito dificilmente um outro ator faria diferente. Cogitei colocá-la acima de Cattrall, especialmente pelo episódio dela lidando com a neta, mas mesmo com um tempo de tela bom, as piadas não estão lá.

O outro episódio ela tem pouco a oferecer e tudo acaba sendo bem batido e tirando, no máximo, uma risadinha de canto. Malick, dentro do papel, parece muito confortável e a cara de que seria um arraso com um texto melhor. Aqui, com o que ela tem, é apenas boa dentre mulheres realmente fantásticas.


4º Lugar: Kim Cattrall - Sex and the City ("Belles of the Balls" + "I Heart NY")

Cattrall submeteu dois bons momentos de Samantha em uma temporada que a personagem foi vastamente explorada. Entre relacionamento lésbico e, finalmente, se entregar ao amor, a personagem fez de um tudo na quarta temporada da série. Nesse primeiro episódio o destaque maior é que Samantha percebe que, infelizmente, o mundo não a trata com o respeito que homens tem. Aliás, uma das cenas mais bonitas da atriz/personagem está nessa submissão, que é quando ela está entrando no elevador para não chorar, a câmera filma o reflexo da atriz e ainda assim sentimos tudo que ela está vivendo ali.

A segunda submissão é mais focada na comédia, mas falta tempo de tela (um problema recorrente com Cattrall nessas corridas), mas admito que vê-la usar uma peruca e sair como espiã é algo engraçado de ver, mesmo que dure pouco e signifique tê-la abaixo no ranking.


3º Lugar: Doris Roberts - Everybody Loves Raymond ("Lucky Suit" + "Marie's Sculpture")

Eu entendo a comoção de ver Marie toda sem avulsa ao significado real de sua escultura, especialmente porque esse lado ingênuo da personagem é muito cativante, mas é em ''Lucky Suit'' que Doris realmente brilha para mim. O episódio quase todo é focado nela, em como ela tenta sabotar um filho por motivos que não compreendemos.

Essas ações geram situações muito engraçadas, que também focam nesse aspecto ''avoado'' como se Marie não tivesse noção do que está fazendo ou acontecendo. Porém, quando realmente é revelado a intenção por trás de tudo que ela está sentindo, é muito difícil não se compadecer a Marie e, por consequência, também a Roberts, que entende esse papel bem arquétipo e sempre tenta torná-lo vivo e muito humano. E, claro, muito engraçado.


2º Lugar: Cynthia Nixon - Sex and the City ("My Motherboard, My Self" + "Change of a Dress")

Com certeza deve dar um curto no votante que precisa assistir Doris Roberts e Cynthia Nixon no mesmo ano. A sua personagem, Miranda, tem um episódio todo focado na perda da mãe e nesses pouco mais de vinte minutos percebemos que Nixon é, no fim das contas, a grande atriz do elenco. É um choque tão grande compreender a perda em uma série que nem sempre lidou com isso que é impossível não se sentir mesmerizado pela força de Cynthia em cena.

E se sua trama no outro episódio é mais boba, é delicioso rir das forçadas que Nixon faz quando precisa lidar com a reação dos outros ao vê-la falar do sexo de seu bebê. É uma junção de comédia e drama muito bem feita, que vale ouro.


1º Lugar: Megan Mullally - Will & Grace ("Grace in the Hole" + "A.I.: Artificial Insemination")

Olha, o que eu tenho para dizer é que deve ser muito triste a vida de quem não tem Karen Walker em algum momento de sua existência, que personagem/atuação sensacional. Não tem uma cena sequer dessas submissões que não tenha Mullaly absorvendo TUDO que pode da personagem. Cada novo trejeito, expressão fácil, tudo a serviço de um texto que entende e apoia a personagem, isso resulta em gritos involuntários tamanha é a qualidade da performance.

Hoje eu vi no twitter a thread ''personagens que você não conseguiria ver outro ator fazendo'' e um deles, com certeza, é a Karen. E se o episódio dela trancada no quarto é incrível, porque Karen em privação de algo é a melhor Karen, a cena dela recebendo as flores no outro episódio é simples e genial ao mesmo tempo. 

quarta-feira, 7 de julho de 2021

Emmy - Melhor Atriz Comédia 2001: De Volta para o Passado

 


As indicações de 2001 são bem tranquilas, sem nenhum grande choque. Interessante pontuar que 4 das 5 indicadas também tiveram suas séries nomeadas na categoria máxima. A vencedora prévia Patricia Heaton por ''Everybody Loves Raymond'', Sarah Jessica Parker pelo fenômeno que foi a terceira temporada de ''Sex and the City'', a queridinha da crítica Jane Kaczmareck por ''Malcolm in the Middle'' e Debra Messing por um episódio que a aclamou em ''Will & Grace''. 

Sem grandes esnobadas, cai Jenna Elfman por ''Dharma & Greg'' e volta uma revigorada e elogiada Calista Flockhart pela quarta temporada de ''Ally McBeal''. A vitória da noite era dita, especialmente, para Jane Kaczmarek, que possuía uma submissão de flashback muito boa e estava em uma temporada muito aclamada de ''Malcolm''. A runner-up da categoria era Debra Messing, que também enviou um episódio de flashback, que recebeu a ela elogios fartos, além de ser um episódio duplo. Erick McCormack viria a vencer pela mesma submissão, mas Messing (e Kaczmareck) perderam pra um repeteco de Patricia Heaton. Ninguém entendeu muito bem, e a categoria não veria uma nova vitória repetida em mais de uma década, até Julia Louis-Dreyfus vencer seis vezes seguidas por ''Veep''.

Abaixo, meu ranking:


5º Lugar: Patricia Heaton - Everybody Loves Raymond ("The Canister")

Heaton nesse papel é algo que eu acho naturalmente engraçada. Debra tá sempre no mais alto nível de stress, gritando, com raiva, e ela faz isso se tornar a coisa mais risível do mundo. Aqui ela precisa lidar com o fato de que algo que ela falou pra sogra, na verdade era mentira. E como resolver isso sem ser pega no erro?

A submissão acaba sendo bem divertida, mas ao contrário de ''Bad Moon Rising'' do ano anterior, Debra não é o grande destaque do elenco. As cenas com comédia física de Raymond e Robert, junto do final com Frank, acabam ofuscando o trabalho de Heaton. Que está bem, mas não acima das demais.


4º Lugar: Sarah Jessica Parker - Sex and the City ("Don't Ask, Don't Tell")

Parker estava em seu melhor momento na terceira temporada de ''Sex'', a personagem não só está muito mais centralizada, mas ela começa a criar arcos belíssimos com os romances que circundam sua vida. Nesse episódio, que é o casamento de uma das amigas, Parker precisa lidar com a culpa de uma traição ocorrida durante seu namoro atual. É uma submissão muito madura e que difere bastante das demais concorrentes, mais do que em qualquer outro ano.

Focada na dramaticidade, vemos uma Parker muito talhada para os momentos mais pesados de Carrie, com direito a um cenão na frente da igreja. Porém, não é só ai onde ela brilha, a dúvida que a corrói o episódio todo é muito bem externalizada por Parker e causa uma quase comoção com o espectador. Além, da cena muito terna entre Carrie e Charlotte, mostrando essa sabedoria que a personagem passa tão bem e que Parker faz parecer tão fácil. Porém, é de se pontuar que em uma categoria de comédia, realmente não há risadas.


3º Lugar: Calista Flockhart - Ally McBeal ("Falling Up")

Dúvidas, incertezas, alucinações e muita saudades. É assim que Ally precisa passar os mais de 40 minutos de seu episódio, sem saber com o que está lidando, e logo como deveria lidar. De alguma forma, é como se Parker e Flockhart estivessem ligadas, não só suas séries não são sitcoms clássicas, mas elas estão tendo que dialogar com a mesma prática. Até cena dando conselho amoroso para um coadjuvante proeminente elas tem.

E eu sinto que Calista faz essa internalização um pouco superior a Parker, não como demérito de ninguém (a categoria está forte no geral), mas é porque toda a neurose de Ally é muito sinérgica com a esquisitice que aquele ambiente representa, e são as feições sempre mais ''fortes'' de Calista que traduzem isso para mim. Talvez com outra atriz eu nunca compraria Ally McBeal, mas esse calor tão forte de Flockhart é o que torna a personagem não só muito crível, mas absolutamente humana.


2º Lugar: Jane Kaczmarek - Malcolm in the Middle ("Flashback")

Que episódio, meus amigos. Super over, lindo e com o coração tão no lugar certo que eu nem tenho o que falar. É sobre como Lois e Hal, no fim das contas, se amam. No presente eles discutem sobre um possível quinto filho, nos flashbacks vemos o nascimento das quatro crianças anteriores. É uma loucura.

E essa loucura só é possível de soar crível graças ao comprometimento de Kaczmarek com sua personagem e todo aquele mundo. Em cada um dos nascimentos, é como se Lois fosse surtando um pouco mais, e as caras e bocas de Jane são maravilhosas demais de se assistir, o momento que ela força o segundo filho a nascer por si só já merecia a vitória. E, no fim, ainda somos recompensados com uma cena bem tocante entre o casal. Incrível, de fato.


1º Lugar: Debra Messing - Will & Grace ("Lows in the Mid-Eighties")

Me parte o coração não colocar Kaczmareck em #1, mas não tem como não amar Messing nesse episódio da série. É um flashback para quando Will se assumiu gay, é o melhor episódio que eu já vi da série e eu amo cada minuto dele. Imagina você conhecer uma personagem por mais de 50 episódios, ai vem um flashback e mostra como ele era 15 anos antes? É uma delícia, e a Debra Messing brinca com todos os maneirismos que a gente conhece da Grace para compor o episódio (duplo!).

Ela exacerba em todas as áreas, desde as expressões até o tom de voz altíssimo, tudo é elevado a potência que fica a cara dos anos 80, junta isso a uma caracterização impecável e um bate-bola sensacional entre ela e o McCormack, e não tem para onde ir, é comédia pura e perfeita. E a cereja no bolo é uma rápida, mas tocante, cena dramática nos dias atuais onde vemos uma versatilidade palpável de Messing, incrível.

Emmy - Melhor Atriz Coadj. Comédia 2001: A Rainha Doris

 


Em uma das poucas vezes que o Emmy foi mais Emmy possível, a categoria de 2001 é, exatamente, igual a de 2000. Lisa Kudrow e Jennifer Aniston retornaram por ''Friends'', Doris Roberts por ''Everybody Loves Raymond'', Kim Cattrall por ''Sex and the City'' e a vencedora Megan Mullally por ''Will & Grace''. Dá para se dizer que nessa etapa da série, as esnobadas de Cynthia Nixon por ''Sex and the City'' começaram a ser sentidas. E dada a storyline do casamento, talvez essa fosse a melhor chance para indicar Courteney Cox por ''Friends''.

A vitória da noite era prevista para ser um repeteco de Mullally, que vinha sido considerada ainda mais a maior razão para se assistir ''Will & Grace'', mas pode-se dizer que uma sensação de ''overdue'' era criada para Doris Roberts, que estava indicada pela quinta temporada da série. Não deu outra, a cerimônia ocorreu no dia do seu aniversário (após ser adiada tantas vezes após o 11/09) e a matriarca dos Barone se sagrou vencedora.

Abaixo, meu ranking:


5º Lugar: Lisa Kudrow - Friends ("The One with Phoebe's Cookies" + "The One with Joey's New Brain")

Kudrow escolheu episódios bons, mas nenhum excelente. No primeiro episódio ela passa quase batida até o momento final gritando com a avó falecida, mas isso dura segundos. Já o segundo episódio tem uma dinâmica bem legal com Aniston sobre quem vai sair com o cara gato que esqueceu o telefone na cafeteria. O lado ''quirky'' de Phoebe é sempre essencial para a comédia de Kudrow, e aqui funciona bem.

Porém, são os segundos que ela ''canta'' a música que Ross tá tocando na gaita de fole que são os melhores das duas submissões. É suficiente para estar mais acima no ranking? Não, mas isso fala mais das submissões alheias do que dela em si.


4º Lugar: Kim Cattrall - Sex and the City ("Where's There's Smoke..." + "Running with Scissors")

Quanto mais eu vejo ''Sex and the City'', mais eu percebo que Cattrall tinha dois grandes problemas: 1 - ela funciona muito mais vista pelo todo que ela entrega do que em episódio separados; e 2 - ela era bem ruim em submeter episódios.

Na primeira submissão, ela aparece muito pouco, embora sua cena final, nua no meio do corpo de bombeiros seja muito boa. Na segunda submissão, ela já entrega mais, com uma trama sobre ter medo do resultado de HIV. A paranoia da personagem se torna uma comédia muito palatável e a consulta pré-exame assim como ela caindo dura com medo do resultado são pequenos exemplos da inteligência cômica de Samantha Jones.

3º Lugar: Jennifer Aniston - Friends ("The One with Rachel's Assistant" + "The One Where They All Turn Thirty")

A melhor coisa das submissões de Aniston é que elas funcionam como um ''ciclo''. No primeiro episódio vemos Rachel conhecendo Tag, essa mania louca dela acaba caindo como uma luva pelo carisma gratuito que Aniston emana e nós compramos. E isso acaba sendo essencial para quando ela surta e percebe, no segundo episódio, que no momento que ela está, o Tag não combina.

Toda a graça de Rachel é muito calcada em Aniston ser uma grande estrela, é um tipo de conexão com o público muito difícil de conseguir, mas que ela faz parecer muito fácil. Nesses episódios, isso fica muito evidente, e é um crédito que precisamos dar a ela.


2º Lugar: Megan Mullally - Will & Grace ("Husbands and Trophy Wives" + "Crazy in Love")

Eu sou muito convencido que a Karen é uma personagem ''larger than life'' graças ao estupendo trabalho de entrega da Mullally. É muito surreal a forma como ela constrói essa mulher, e esse exagero é o que traz a série pra seu melhor e me faz ser tão apaixonado pela personagem. Se no primeiro episódio ela está só boa ao sentir ciúmes de Grace, no segundo que ela se junta ao Jack (os melhores momentos da série!) para Grace decorar o apartamento, apenas para eles ''descobrirem'' que Mrs. Adler é uma psicopata é genial.

Ela não só é uma coadjuvante clássica, mas nesse episódio ela utiliza uma comédia física e reações altamente irretocáveis. As cenas finais, quando ela está com medo de Grace, me fizeram gritar de tanto rir. Ela só não está em #1 no ranking porque a de cima me fez chorar.

1º Lugar: Doris Roberts - Everybody Loves Raymond (Episodes: "The Sneeze" + "Ray's Journal")

Assim como Aniston, Roberts tem duas submissões que se completam. Na primeira, ela cuida com todo carinho de um ''suposto'' Raymond doente. Já na segunda, Doris é descoberta por ter lido o diário de Raymond quando ele era adolescente.

São dois momentos que demonstram, acima de tudo, o quão amável é Marie Barone. A personagem, normalmente, é meio sarcástica, mas o lado carinhoso de Doris ultrapassa os limites e é muito difícil desgostar do que ela faz, especialmente porque sempre tem alguma comicidade junto desse amor. E no episódio do diário, ela tem uma cena falando da relação mãe e filho que me tirou lágrimas, isso é versatilidade, amores. Não tinha nem como não colocá-la tão alta no ranking.

domingo, 27 de junho de 2021

Melhor Atriz 1994 - Uma Vitória de 3 Anos Atrás


Nem todos que associam Jessica Lange as séries de Ryan Murphy nos dias atuais sabem do seu passado como uma das maiores atrizes da década de 80. Em uma década que sedimentou nomes como Meryl Streep, Sigourney Weaver e Glenn Close, Lange foi responsável por explicitar algo que nem todas ousaram em sua carreira, seu sexo. A sexualidade de suas personagens sempre foi algo marcante em Lange, foi assim quando (re)surgiu com ''Frances'' e ela sempre trabalhou essa persona sem medos. Com uma vitória em coadjuvante de pouco mais de uma década antes, a atriz acumulava quatro indicações na categoria principal e um status irretocável perto dos seus 45 anos de idade.

Essa, aparente, inadimplência do Oscar com ela não poderia ter sido resolvida em um ano melhor. A atriz gravou ''Blue Sky'' em 1990, o filme foi completado e seria lançado no ano seguinte (o mesmo de ''O Silêncio dos Inocentes''), mas com a falência da distribuidora do longa (que também distribuiu ''Inocentes'' meses antes de declarar falência), acabou engavetado. Três longos anos depois, nem tudo estava perdido e o filme foi lançado. Foi um estouro na crítica, foi notado como ela estava totalmente entregue a personagem, falaram ser a grande performance da carreira e que evocava os grandes sex symbols de Hollywood. Até ali, não havia concorrência para Lange. Aliás, a performance de Jennifer Jason Leigh como Dorothy Parker em ''Mrs. Parker and the Vicious Circle'' tinha agitado a crítica, mas a recepção do público tinha sido fria.

A competição de Jessica Lange ''chegaria'' no fim da corrida, mas elas nunca aconteceram de verdade. Jodie Foster foi completamente aclamada por ''Nell'', e uma Winona Ryder iluminada em ''Little Women'' entrava forte na conversa pela possibilidade de seu filme entrar nas principais categorias da noite. As três foram indicadas, e além delas, também entraram Miranda Richardson (''Tom & Viv'') por um filme tão pequeno que nem os familiares da atriz devem ter visto (mas que a fez vencer o cobiçado ''National Board of Review'') e Susan Sarandon (''The Client'') por um thriller de verão que foi mais longe do que qualquer pessoa jamais imaginou.

Entre as esnobadas do ano se destacam a própria Jason Leigh, vencedora de vários prêmios da crítica e indicada ao Globo de Ouro, assim como Meryl Streep (sim, ela!) por ''The River Wild'', que chegou a indicar a atriz no SAG Awards e nos Globos. Porém, a grande história daquele ano foi a ''esnobada'' de Linda Fiorentino por ''The Last Seduction''. O filme foi lançado nos cinemas em outubro de 94, mas a HBO tinha exibido o mesmo alguns meses antes da televisão, e pelas regras da academia, isso tornaria o filme inelegível em qualquer categoria do Oscar. A crítica, e até a indústria, caiu de amores por Fiorentino, a produtora e a distribuidora do filme tentaram processar a Academia, mas nada foi feito.

Na noite do Oscar, não tinha para onde correr. Foster jamais venceria um terceiro Oscar - protagonista! - em um espaço de sete anos. E o filme de Ryder nunca aconteceu em Filme/Diretor. Quando você junta as críticas de uma carreira, o fator sentimental pelo engavetamento do filme e a quinta indicação em Melhor Atriz sem vitória, não é difícil entender porque foi Jessica Lange a subir naquele pódio.

Abaixo, meu ranking:


5º Lugar: Susan Sarandon, The Client (''O Cliente'')

Esse filme deve ter arrasado muito nas locadoras dos anos 90, é um ‘’drama judicial/policial’’ muito comum e característico dessa época. É de bom tom em 2021? Não tanto. Pouca coisa engaja de verdade e, querendo ou não, o foco do filme é muito mais no menino, o jovem Brad Renfro. Susan Sarandon faz sua advogada, tem um considerável tempo de tela e tenta entregar o máximo nesse espaço concedido a ela.

Não sou o maior fã do sotaque que ela faz no filme, mas entendo a caracterização e não acho, como um todo, ruim. Porém, não dá para colocá-la em nenhuma posição acima quando sua personagem não a deixa brilhar como veríamos em corridas anteriores e posteriores a essa. É um trabalho maduro, bem feito e respeitoso de uma atriz já muito versada na indústria, mas que tirando uma cena aqui ou ali, não tem o brilho que a mesma merece e mostrou em outros momentos da carreira.


4º Lugar: Winona Ryder, Little Women (''Adoráveis Mulheres'')

Quantas vezes ainda veremos adaptações de ‘’Little Women’’? Acredito que inúmeras mais. Aqui, em uma das boas versões, eu sinto que Ryder é a estrutura que segura o todo. O elenco coadjuvante trabalha perifericamente para que possamos entender aquele meio e o trabalho técnico do filme nos adentra ainda mais para aquele mundo.

Porém, os questionamentos de Jo só são palpáveis porque mesmo quando ela recusa uma proposta irrecusável, a gente entende que aquilo é feito com verdade e, também, com pesar. E poucas atrizes na década de 90 conseguiriam criar essa ligação e dinamismo com o público como Ryder. Ela é exuberante em cena, trazendo uma essência ‘’tomboy’’ ao personagem que é muito necessária, além de um carisma/’’star quality’’ que encaixa perfeitamente com Jo. É bem latente o motivo da popularidade de Winona e poucos filmes mostram isso tão bem quanto ‘’Little Women’’.


3º Lugar: Jessica Lange, Blue Sky (''Céu Azul'')

Como citei, poucas atrizes ousaram trabalhar a sexualidade em cena como Jessica Lange em sua carreira. Logo, uma das poucas alegrias desse Oscar é poder ver essa mulher entregar tudo em uma personagem que vive o sexo a flor da pele. A personagem pode ser, às vezes, pouco dimensionada e o filme em si nunca está acima da mediocridade, mas Lange se agarra a Carly com unhas e dentes, desde a primeira cena, e nunca olha para trás. 

E se isso pode ser caso de demérito em outros longas, aqui é o que faz o filme funcionar em algum nível. É como se a Jessica Lange de ‘’Frances’’ estivesse vivendo uma outra fantasia. E por esse aspecto fantasioso, a atuação nunca me soa como exagerada, por que tudo me leva a crer naquela ilusão. Com um filme decente, Lange poderia ter voado altíssimo, aqui ela só faz um voo raso, mas ainda o suficiente para lembrarmos a atriz que ela é.


2º Lugar: Miranda Richardson, Tom & Viv (idem)

Miranda Richardson surgiu igual a Jessica Chastain, celebrada em inúmeros filmes no mesmo ano e culminando em uma indicação ao Oscar em atriz coadjuvante, no caso dela por ‘’Perdas e Danos’’. Dois anos depois, ela retorna ao Oscar, agora na categoria principal, nessa adaptação de uma peça sobre Vivienne Haigh-Wood, a primeira esposa do laureado poeta T.S. Eliot. Richardson é uma atriz de considerável charme, sua presença em cena é sempre notável, e muito cativante. Aqui isso não é diferente, nós não sabemos de cara o que torna Viv uma pessoa única, mas à medida que vamos descobrindo mais, começamos a nos compadecer de uma mulher culpada pelo seu próprio tempo. 

Nesse espectro, a forma ‘’lúdica’’ que Richardson vai levando Viv acaba se tornando uma arma muito inteligente. Você até pensa, por alguns segundos, que ela está acima do tom, mas logo em seguida você entende o rompante que aconteceu ali e tudo se justifica. E por traçar a vida dessa mulher por tantas décadas, Miranda fica com esse segundo lugar por nunca permitir que Viv perca sua ''alma'', dando todas as camadas possíveis a essa mulher, mesmo quando o roteiro ameaça ser tão raso quanto um pires.


1º Lugar: Jodie Foster, Nell (idem)

A melhor coisa sobre Jodie Foster em ‘’Nell’ é poder constatar que, mais duas décadas depois, você assiste o filme e compreende todo o amor e respeito que a atriz tem pela personagem. Uma atriz menos experiente teria transformado Nell em um show de horrores, criando uma atuação caricata e vaidosa, mas nunca é o caso de Foster. Desde o nosso primeiro encontro com Nell, até sua última cena, o que vemos é uma jornada de descobrimento. 

Para Nell, são pessoas e um mundo que ela nunca viu, para nós é normalizar o diferente retratado em um ser. E essa humanização da personagem, em uma atuação muito bem fundada em um belíssimo trabalho corporal, que me chama atenção. É difícil um ator no cinema se preocupar tanto com o corpo em uma mídia que adora filmar do pescoço para cima, mas é irrepreensível compreender e executar o todo, aqui brilhantemente, para dar vida a Nell. Nesse ponto, mesmo que o filme seja chatinho, a atuação de Foster é sempre um primor.

M A S...

Como eu acho esse ano fraquíssimo, fiz um top 5 pessoal dentre as possíveis indicadas aquele ano. São elas:


Kathleen Turner, Serial Mom (''Mamãe é de Morte'')

A primeira informação que um estudante de atuação recebe é que atuar é brincar, só ou com outros. E não tem ninguém esse ano que se divertiu mais que Turner nessa comédia satírica de John Walters. A atriz vive uma mãe que vai surtando e matando a torto e a direito. É uma atuação mega ''over the top'', mas que super combina com o filme e diverte como poucas.

A inclusão numa lista pessoal é, especialmente, por não ser algo normalmente reconhecido, mas que existe um claro trabalho da atriz em questão. É, acima de tudo, uma atuação precisa e inteligente, porque para se tornar algo sem graça e repetitivo seria um triz, mas ela nunca deixa isso acontecer.


Isabelle Adjani, La Reine Margot (''A Rainha Margot'')

Em um filme turbulento, a qualidade maior de Adjani é se manter magnética em cena. É difícil, por si só, não se fixar num dos rostos mais irretocáveis a dar a graça ao cinema, mas existe uma característica muito viciante na forma como Adjani vai dando corpo a Margot. Ela começa de forma submissa, mas vai crescendo até se apoderar de tudo que está ali. É uma atuação bem consciente do filme que a rodeia, e funciona em vários níveis. As suas cenas finais são um estouro, totalmente entregue e sem medo algum de ser feliz. Maravilhosa.


Melanie Lynskey e Kate Winslet, Heavenly Creatures (''Almas Gêmeas'')

Olha, eu até gostaria de dividir ambas pelo bem da individualidade artística, mas acho até injusto com elas. Suas atuações são concomitantes, seja entre si ou com o próprio filme. O diretor, Peter Jackson, exige que você voe um pouco para contar aquela história, permear aquele mundo. E isso não seria possível se cada uma das duas fenomenais jovens atrizes não se comprometessem a acreditar nisso mais do que qualquer outra pessoa. É um jogo de se alimentar, Lynskey e Winslet vão sugando a sanidade, a alegria, tristeza ou o quer que seja e criam algo imprescindível de se assistir.

Eu posso dizer que, em um pequeno nível, acho Lynskey superior a Winslet, mas acredito que isso está mais ligado a minha pouca exposição ao trabalho de Melanie durante sua carreira. No fim, são atuações que não são concebíveis como as primeiras em filmes de suas atrizes, tamanha é a maturidade com que elas chegam em suas personagens. Trabalho de mestre, de verdade.


Jennifer Jason Leigh, Mrs. Parker and the Vicious Circle (''O Círculo do Vício'')

Eu consigo traçar um paralelo bem legal entre Leigh e Richardson nesse ano. Não só por fazerem mulheres de época com cabelos curtos, mas porque elas se aproximam de suas personagens pelo sútil. Existe algo de muito bonito em ver Jason Leigh encontrar uma melancolia necessária para Parker. Não é só tristeza pura e simples, é algo que paira no ar. A câmera corta para Parker e você sente, através dela, essa sensação de se perder na vida.

E, digo isso sem dúvidas, poucas atrizes tem esse tipo de conexão com esse sentimento como Leigh. Uma atriz que sempre tratou de lidar com mulheres em seu fracasso, ela compreende a derrota e essa linha tênue como ninguém. É uma atuação bem contida, mas muito pesada e poderosa.


Julianne Moore, Vanya on 42nd Street (''Tio Vanya em Nova York'')

Julianne Moore tem que ser uma das maiores atrizes do cinema, só na década de 90 essa mulher tem umas cinco atuações inatacáveis, mas essa eu não conhecia e foi uma surpresa linda demais. Moore faz aqui um tipo de atuação híbrida, ela precisa atuar para câmera, mas está fazendo uma personagem atuando no teatro. Difícil só de conceber, imagina de concretizar.

Porém, uma atriz boa mesmo consegue fazer esse trabalho de linguagem com muita maestria. Ela tenta unificar o pequeno com o estouro. Sem nunca ter medo ou vergonha, os closes ajudam a trazer a nota aquelas micro expressões tão fortes na telona, mas ela se deixa inundar pelo texto de Chekhov para expressar o grande que ele oferece. Proprietária de alguns incríveis monólogos em cena, essa atuação é para se ver e rever sempre, uma aula.