domingo, 28 de janeiro de 2018

Grammy 2018: Apostas, torcidas e opiniões.


O Grammy desse ano causou um considerável furor ao esnobar o cantor Ed Sheeran das categorias principais, muitos afirmaram que essa foi uma tentativa da premiação de mais uma vez colocar um artista branco/pop versus um artista negro/r&b ou rap e ver, novamente, o branco vencendo. Com isso, a principal categoria da noite tem 3 artistas negros, 1 latino e 1 mulher (branca). Será que teremos uma vitória histórica de um álbum de rap? Apenas 2 cd's do gênero em toda a história da premiação ganharam a categoria máxima. Aliás, falando em questões políticas, as demais principais categorias também devem carregar essa bandeira, veja a seguir nas minhas apostas:


ÁLBUM DO ANO

A categoria estava predestinada para uma briga entre Ed Sheeran e Kendrick Lamar, mas com a esnobada do britânico e a inclusão do último, excelente, cd de Jay-Z, fica difícil saber se os votantes do gênero vão se dividir entre Lamar e o marido de Beyoncé, visto que ele é o mais indicado da noite, ou se Kendrick vai ter força para ganhar mesmo assim. A indicação de Childish Gambino é sua vitória, e, embora algumas pessoas acreditem que Lorde, que tem o melhor cd dos indicados, possa vir a vencer por ter todos os votos pop, é bom lembrar que ela não recebeu nenhuma outra indicação, e que esses votos pop podem muito bem ir para o último indicado da categoria: Bruno Mars. O cantor tem um cd bem aquém de uma discografia não muito memorável, mas a crítica gostou, a indústria claramente gosta dele e ele é um artista ''hippie e cool'' o suficiente para a Academia premiar e sair como ''moderna'', o fato de que ele não é um homem branco só ajuda a sua situação. O que eu espero mesmo é que Lamar consiga sair dessa divisão de votos com Jay-Z vitorioso, porque mesmo amando Lorde, uma vitória dela contra 4 ''pessoas de cor'', como é chamado nos EUA, geraria um backlash que uma mulher de 20 anos de idade não merece.
QUEM GANHA: Bruno Mars - 24k Magic. 
QUEM TÁ QUASE LÁ: Kendrick Lamar - DAMN.


GRAVAÇÃO DO ANO

É meio bizarro acreditar que Justin Bieber vai vencer um dos dois prêmios mais importantes do Grammy por causa de uma canção em espanhol, mas é isso que acredito que acontecerá. Despacito é o maior hit de 2017, o que a categoria normalmente premia (a não ser que você seja uma música de R&B/Rap, ai eles escolhem uma qualquer de rock rs), e num ano de Donald Trump presidente, a vitória de uma canção em espanhol é, basicamente, uma escolha política, Luis Fonsi e Daddy Yankee agradecem. Redbone e The Story of O.J. são duas incríveis, mas nada conhecidas, canções que por uma vitória da vida estão indicadas, e 24k Magic é basicamente uma versão menos interessante e memorável de ''Uptown Funk'', que venceu a categoria uns anos atrás. Se alguém pode bater a dupla de Despacito, e eu achava que seria ''Shape of You'', é HUMBLE, é loucura achar que uma canção de rap teria chance, mas a junção da aclamação e sucesso de Lamar poderia gerar um grande upset e seria lindo demais.
QUEM GANHA: Luis Fonsi (feat. Daddy Yankee & Justin Bieber) - Despacito
QUEM TÁ QUASE LÁ: Kendrick Lamar - HUMBLE


 CANÇÃO DO ANO

Nem eu estou crendo que estou apostando em Despacito para uma categoria que premia a letra da canção, mas esse ano as escolhas do Grammy foram terríveis piadas. Issues é uma canção pop genérica feita umas 10 vezes por ano que não tem a menor chance de vencer, 4:44 é a melhor escolha da categoria (e por incrível que pareça é com menos compositores mesmo sendo uma canção de rap), mas não tem qualquer impacto ou buzz para vencer a mesma. As duas músicas com chances de derrotar a primeira música em espanhol a vencer o prêmio em sei lá quantas décadas são, no máximo, ''boazinhas''. That's What I Like conseguiu a proeza de precisar de oito compositores para fazer uma música sobre ostentação americana e 1-800-273-8255 é uma canção basicamente clichê e verborrágica que tem uma ''mensagem social'' por trás que também não é nenhuma novidade, ela, aliás, possui o verso mais insuportável de todas as indicadas, a frase ''who can relate'' é tão apelativa que chega a ser vergonhoso. A canção de Bruno Mars pode vencer caso ele venha a perder álbum do ano e eles queiram dar um prêmio ''grande'' de consolação para ele, e a música do Logic seria uma alternativa por ter sido um hit, não tão grande, que tem essa questão social por trás. Eu realmente não saberia escolher entre essas 3 favoritas, então que vença mesmo Despacito, mesmo sendo criminoso ter Bieber como ganhador de uma categoria de composição.

QUEM GANHA: Luis Fonsi (feat. Daddy Yankee & Justin Bieber) - Despacito
QUEM TÁ QUASE LÁ: Bruno Mars - That's What I Like

REVELAÇÃO

A melhor das categorias principais, o Grammy soube selecionar muito bem os melhores destaques do ano que passou. Lil Uzi Vert é um excelente novo rapper, mas é um claro último lugar na categoria. Julia Michaels tem uma indicação em uma categoria ''grande'' e o Grammy adora essa vibe cantora/compositora, mas assim como Tori Kelly uns anos atrás, ela é apenas filler que ficou marcada como ''one hit wonder''. Khalid é uma ótima revelação do R&B e com apenas 19 anos mereceu muito a indicação, seu debut é bem bom, mas acho que ele não tem força para vencer aqui. A briga deve ficar mesmo entre Alessia Cara e SZA, a primeira é a que teve mais destaque com diversos hits em 2017 e se a categoria quiser seguir uma linha ''Meghan Trainor'' ela seria uma escolha decente, já a segunda é dona de um dos álbuns mais incríveis de 2018 e conseguiu indicações em quase todas as categorias de gênero com músicas diferentes e todas próprias (coisa que Khalid e Alessia não foram capazes). Mesmo sabendo que Cara é mais a cara (rs) do Grammy nesse momento, vou apostar em SZA por acreditar que ela precisa vencer algo e aqui seria o local perfeito para sua consagração.
QUEM GANHA: SZA
QUEM TÁ QUASE LÁ: Alessia Cara

-PREVISÕES NAS CATEGORIAS DE GÊNERO-

-POP

- Best Pop Solo Performance: Ed Sheeran, Shape of You. Talvez GaGa ameace, mas duvido. Eu queria mesmo era Kesha vencendo.
- Best Pop Duo/Group Performance: Luis Fonsi (feat. Daddy Yankee & Justin Bieber) - Despacito. Sim, são 3 Grammys pro menino Bieber na noite.
- Best Pop Vocal Album: Ed Sheeran, divide. GaGa seria também um spoiler, mas de novo, não acredito.
- Best Traditional Pop Vocal Album: Michael Bublé - Nobody But Me.

- DANCE/ELETRÔNICA
- Best Dance Recording: LCD Soundsystem - Tonite, mas Gorillaz pode vencer.
- Best Eletronic/Dance Album: 3-D The Catalogue – Kraftwerk. Porém, Mura Masa é um upset válido.
- ROCK/ALTERNATIVE
- Best Rock Performance: Leonard Cohen - You Want it Darker, mas o outro indicado póstumo, Chris Cornell, também pode vencer.
- Best Metal Performance: Mastodon, Sultan's Curse.
- Best Rock Song: É uma guerra de lendas entre Foo Fighters e Metallica, mas vou de Atlas, Rise!
- Best Rock Album: Hardwired... to Self-Destruct porque vai ser muito ícone Metallica vencendo a categoria com um cd de heavy metal.
- Best Alternative Album: A melhor categoria do Grammy, sem surpresas, deve ficar mesmo com LCD Soundsystem - American Dream, mas gritaria muito com uma vitória surpresa do Arcade Fire.

- R&B
- Best R&B Performance: Bruno Mars - That's What I Like, mas a melhor da categoria é The Weekend da SZA.
- Best Traditional R&B Performance: Childish Gambino - Redbone, duh.
- Best R&B Song: Mesmo com Bruno Mars estando com ''That's'' na categoria máxima de compositor e podendo muito vencer aqui, vou de Redbone porque o ''branch'' adora ser menos popular aqui, a canção tá em Gravação do Ano e é ANOS LUZ melhor que o hit de Bruno.
- Best R&B Album: Ledisi vai perder sua 12ª indicação e entrar no hall das maiores perdedoras do Grammy, triste e embora eu adoraria uma vitória surpresa dela aqui, com certeza dará Bruno Mars.
- Best Urban Contemporany Album: Tudo aponta para uma vitória de Childish Gambino aqui, mas uma vitória de Ctrl não seria tão surpresa e eu daria pulos de alegria.

- RAP
- Best Rap Performance: Kendrick Lamar - Humble e se o Jay-Z vencer, vai ter muita reclamação SIM.
- Best Rap Song: Story of O.J. é uma canção incrivelmente f*da, mas acho que não tem quem tire de HUMBLE aqui também.
- Best Rap/Sung Performance: Quem o Grammy gosta mais: Kendrick e Rihanna ou Jay-Z e Beyoncé? Pois é, eu também vou de Family Feud.
- Best Rap Album: Kendrick Lamar - DAMN. Jay-Z é o mais indicado na história da categoria, mas só venceu 1 vez e em 1999, não quero ele quebrando esse jejum não.

- COUNTRY
- Best Country Performance: Chris Stapleton - Either Way, mas Miranda Lamber pode vencer.
- Best Country Song: A canção de Miranda é muito melhor, mas acho que Better Man vence, dando mais um Grammy para Taylor Swift.
- Best Country Duo/Group Performance: Little Big Town - Better Man.
- Best Country Album: Chris Stapleton - From a Room: Vol. 1 e merece porque é um dos poucos artistas masculinos do gênero a ser realmente interessante.

- OUTROS
- Best Music Video: Kendrick Lamar - HUMBLE. Porém, o clipe de Story of O.J. é um arraso.
- Best Song Written for Visual Media: City of Stars - La La Land, tem muita gente acreditando em Swift, mas se tiver upset será de Lin-Manuel Miranda.
- Best Musical Theater Album: Nem Bette Midler vai parar Dear Evan Hansen.



segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

As melhores produções da telinha em 2017


De primeiro eu pensei em fazer um top só com séries americanas, mas a televisão está em uma era tão boa e tão abrangente que eu decidi incluir tudo que foi bom na tv em 2017 e nisso tivemos um reality show dando um grande twist em sua finale e até uma novela das nove caindo, depois de ano, nas graças do público. Tivemos minisséries incríveis, séries que entregaram grandes estreias, novas temporadas ainda melhores que as outras e a também um dos melhores finais que eu já vi. Sem muitas delongas, essas são as produções feitas para a televisão que eu vi e realmente ficaram guardadas no meu coração.


10. A Força do Querer (Rede Globo) - Sim, é novela das nove no top da tv porque novela é uma delicia quando bem feita e, depois de eras, Glória Perez e o horário das nove finalmente entregaram algo que, acima de tudo, excitava o espectador em esperar o dia todo para acompanhar a jornada de Bibi. Depois de algumas novelas mequetrefes no currículo, Glória Perez escreveu sua melhor trama em toda a carreira, fazendo de Juliana Paes uma atriz com A maiúsculo e trazendo tramas como vício e transexualidade para a sala da família brasileira. Apostando em uma protagonista dúbia ao invés de uma mocinha clássica, Bibi acabou caindo no gosto popular por ser um ser humano por completo, capaz de acertar, errar e, sobretudo, se reerguer. O elenco quase todo brilhou pela capacidade de Perez em fazer um feijão com arroz delicioso, de Carol Duarte como o trans Ivan, Paolla Oliveira como a determinada Jeiza, a psicopata meio perdida de Débora Falabella ou a viciada em jogatina de Lilia Cabral. E sim, foi uma novela de uma mulher totalmente dominada por atrizes em seus auges, um presente incrível de Glória para a teledramaturgia brasileira. Brava!


9. Mindhunter (Season 1) (Netflix) - A temporada de estreia desse thriller americano teve uma das mais interessantes crescentes do ano, a forma como a cada episódio o jogo psicológico totalmente encrustado na mente dos assassinos entrevistados pelos policiais, liderados pelo excelente Jonathan Groff, ia afetando aqueles personagens culminando numa última cena incrível dessa temporada foi o que me cativou desde o piloto. David Fincher é, talvez, o grande nome do gênero nas últimas décadas e assim como em seus filmes do mesmo, a série prefere focar no porque aquilo aconteceu do que necessariamente como aconteceu, isso é ainda mais perturbador do que você pode esperar, gerando cenas incrivelmente tensas como a conversa com o assassino Ed Kemper nos primeiros episódios da série.


8. RuPaul's Drag Race (Season 9) (Logo/VH1) - No apogeu de seu sucesso com a ressurreição da arte drag, a última temporada de RuPaul teve um de seus melhores elencos, repleto de drag queens com estilo diferentes e que tiveram seus talentos explorados das mais diversas maneiras. Porém, como um dos grandes atrativos do programa era o momento de eliminação em que duas Drags faziam um ''lipsync'' para ver quem sobreviveria foi se transformando em um marasmo de performances sem vida, a produção do programa resolveu criar O twist de todas as temporadas de RuPaul. A final não seria só uma conversinha qualquer com três finais gravados como anteriormente era feita, mas sim foi transformada em uma verdadeira batalha de dublagem que decidiu, por fim, a próxima super estrela drag. Eu acho que foi justo? Não #SheaCouléetruewinner. Mas foi incrivelmente inventivo? Sem dúvidas. Ah, e nada de máscaras, viu mores? Valentina aprendeu da pior forma essa regra rs.


7. Stranger Things (Season 2) (Netflix) - A primeira temporada de Stranger Things foi um absoluto fenômeno, em um fim de semana parece que o mundo todo tinha assistido e se apaixonado pelas crianças mais incríveis da televisão e o mundo do ''upside down'' já nascia como um clássico da tv americana. E ai, como fazer uma temporada tão incrível quanto e conseguir justificar esse hype todo? Por incrível que pareça, Stranger Things conseguiu. Antes de tudo, a primeira temporada era muito mais uma forma de homenagear a época/gênero ali retratado do que necessariamente um poço de originalidade, mas de qualquer forma, era realmente muito boa. Nessa nova jornada vemos a série criando raízes próprias e uma mitologia ainda mais definida no que se trata desse mal maior que assola a pequena cidade de Hawkins. A série decidiu ir além de Millie Bobby Brown e conseguiu fazer mais personagens brilharem com tramas muito bem delineadas, caso de David Harbour como o detetive Jim Hooper sendo o grande destaque da temporada, mas Noah Schnapp não ficou muito atrás como o perturbado Will. Os criadores prometem que a série não durará mais que 4 ou 5 temporadas, mas até lá acho que eles tem muito a contar ainda sobre esse incrível pequeno grande mundo.


6. Big Little Lies (Season 1) (HBO) - A minissérie que agora virou, desnecessariamente, uma série sobre várias mulheres de classe A em uma pequena cidade suburbana dos EUA foi a grande sensação da HBO no ano, público e crítica se viu totalmente envolvido com essas rainhas e a resposta é bem simples: a temporada foi realmente uma delícia. O projeto foi vendido como uma forma de thriller, mas chega no quarto episódio e você não sabe nem quem morreu ou quem matou, isso é uma forma do roteiro deixar claro que isso é secundário, que o foco aqui é nessas personagens, quem elas são, o que querem serem, quem elas escondem o que realmente são ou passam e esse ''estudo de personagem'' é viciante. Reese Witherspoon, meu destaque do elenco, subverte totalmente o papel de perua burra com uma Madeline que brilha desde a primeira cena, Nicole Kidman tem um desenvolvimento muito bem feito de uma mulher que precisa aguentar muita coisa na vida para salvar seu casamento, e é responsável pela cena com a melhor atuação da tv em 2017, e Shailene Woodley surpreende positivamente como uma mãe bem jovem que precisa lidar com algo de seu passado que a perturba até hoje. O elenco ainda tem uma histericamente maravilhosa Laura Dern, um interessante Alexander Skaarsgard e várias pequenas pontas muito apetitosas. Um dos problemas da série era justamente a direção de Jean Marc-Vallée, mas como a maravilhosa Andrea Arnold irá dirigir a segunda temporada, fico até menos cético do que ainda precisamos saber sobre todos esses personagens. Bem, agora é esperar, não é mesmo?


5. The Crown (Season 2) (Netflix) - Uma série sobre os primeiros anos de reinado da Rainha Elizabeth II? Anos 50? Gente, quais as chances de isso ser realmente interessante? Acredito, eu também fui cético e acabei recebendo a melhor temporada de uma série do ano passado. Nesse ano, não foi diferente, e esses mais dez episódios sobre Elizabeth II foram tão ou mais maravilhosos que os primeiros. Agora nós já estamos acostumados com esses personagens, suas visões, anseios, e, principalmente, suas limitações. O elenco, liderado por uma brilhante Claire Foy, também está ainda mais perfeito com seus personagens reais do que antes, e mesmo que a presença de John Lightow como Churchill seja sentida, momentos como o famoso retrato da Princesa Margaret, a revelação nazista de um membro da família real e a visita de Jackie Kennedy são mais que suficientes para prender o espectador desde o começo da temporada. É esperado que a série dure seis temporadas e eu mal posso esperar pra acompanhar de pertinho essa família que é muito unida, mas também muito ouriçada.


4. Master of None (Season 2) (Netflix) - O humor de Aziz Ansari não é, necessariamente, para todos, mas se você assiste a primeira temporada, já ótima, de Master of None, com certeza deve ter ficado enlouquecido com a irretocável segunda temporada. A série já volta com um episódio homenageando Vittorio De Sica, dai em diante temos episódios que discutem religião, relacionamentos líquidos, sexualidade e, o melhor de todos, a interligação entre vários seres humanos na movimentada New York. É uma visão bem moderna de encarar os grandes dilemas da atualidade com muito bom humor e sagacidade, e Ansari junto de seu time de roteiristas faz isso com uma qualidade de dar inveja. Um dos meus episódios favoritos da temporada, o de Ação de Graças, é um dos melhores roteiros sobre o lidar com sexualidade na família que eu já vi, realmente incrível.


3. Feud: Bette vs. Joan (Season 1) (FX) - Se eu te contasse que Ryan Murphy ia fazer uma série sobre a rivalidade de Bette Davis com Joan Crawford, com certeza você pensaria que seria uma série sobre rivalidade feminina recheada de ''fatos engraçados'' da época, certo? Certo. Porém, além dessa análise bem superficial de ''Feud'', a série mostra não só a rivalidade, mas como e porque ela é criada, e ela vai muito além, ela examina como o sistema tratava as mulheres antigamente e constata que muita coisa ainda nem mudou. As duas protagonistas estão em estado de graça, Jessica Lange é uma excelente Joan Crawford e tem momentos de corta o coração, mas Susan Sarandon É Bette Davis em cena e consegue chamar a atenção para si, como Davis com certeza o faria, em todas as cenas que aparece. O elenco de apoio está um arraso e a direção da série é outro destaque, o episódio fatídico do Oscar perdido por Bette Davis é magistralmente dirigido pelo próprio Murphy e possuí um plano sequência de deixar qualquer um babando pelos bastidores da premiação mais badalada do mundo.


2. The Handmaid's Tale (Season 1) (Hulu) - A melhor estreia de 2017, ''The Handmaid's Tale'' é uma série aterrorizante sobre uma ditadura teocrática dominando os Estados Unidos e tomando do e o poder toda e qualquer minoria. Nisso, o foco da série são nas ''Aias'', as únicas mulheres ainda capazes de darem luz no país que são obrigadas a uma escravização sexual perturbadora. Essa também é a palavra para descrever todo o ambiente que está inserida Offred, uma mulher que teve tudo tomada e agora precisa tomar coragem para tentar reverter o seu quadro, e por que não, o de todxs ali. Offred é defendida ferozmente pela melhor atuação da televisão em 2017, uma Elisabeth Moss que deixa qualquer pessoa de queixo aberto em qualquer episódio da série, mas o elenco todo está ótimo em cena, com destaque para Alexis Bledel que arrasa sem falar um ''a'' sequer e uma Yvonne Strahovski subestimada como uma mulher traída duplamente pelo seu marido. ''The Handmaid's Tale'' é a série que precisamos hoje, e além de qualquer discurso, é uma série incrivelmente bem feita em todos os aspectos imagináveis. É, realmente, uma puta estreia e espero que o futuro da série consiga manter a qualidade. Under His Eye. May the Lord Open.


1. The Leftovers (Season 3) (HBO) - Eu queria já começar falando que ''Leftovers'' deve ser a melhor série dessa década, e quem discordar, favor assistir de novo. Simples assim, a obra-prima de Damon Lindelof e Tom Perrota conseguiu em pouco menos de 30 episódios contar uma das histórias mais originalmente incríveis e bem feitas que a televisão já viu. Partindo do pressuposto de fé, a série conduziu lindamente cada de um de seus personagens em caminhos impensáveis de forma brilhante. Foram três temporadas onde Kevin, Nora, Laurie, Matt e demais se viam em diversas provações nessa coisa tão difícil que chamamos de vida. ''Leftovers'' conseguia ser inventiva até quando podia ser lugar comum, jamais esquecerei da conversa de Patti e Kevin no poço em como ela usava um programa de teve para fazer uma analogia sobre seu medo de mudança ao invés de um monólogo verborrágico como várias outras séries o fariam. A última temporada conseguiu a proeza de fazer episódios de total excelência e entregou um final que deixou até os mais fervorosos fãs com o coração na mão e as lágrimas nos olhos. É surreal, é sublime, é o que de melhor a tv pode oferece. E aliás, falando nisso, queria deixar meu obrigado a Carrie Coon, obrigado por existir Nora, você é de outro mundo.



















segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

Os (melhores) álbuns de 2017


Não se deixe enganar pela foto acima, não vai ter Arcade Fire na lista de melhores do ano. E não, nem achei o cd ruim como a maioria, ''Everything Now'' é mais uma reinvenção da melhor banda da atualidade que, aparentemente, não foi bem aceita pelos fãs, mas que eu realmente gostei não só da sonoridade, mas da abordagem do consumismo elevado no mundo contemporâneo. Outras voltas após longos hiatos também sofreram com aceitação de crítica e público, entre eles está o novo trabalho de Miley Cyrus, ''Younger Now'', um álbum com uma alma pop, mas uma modelagem do country contemporâneo que no final acaba sendo um bom trabalho por parte de uma das artistas mais interessantes do gênero atualmente, destaco a faixa ''Bad Mood'', uma verdadeira preciosidade. Laura Marling continua com suas histórias contadas em folk com o belíssimo ''Semper Femina'' e o novo cd de Father John Misty, ''Pure Comedy'', conquistou a todos com as letras mais incríveis do ano sobre tantos e diversos temas. Houveram alguns cd's realmente intragáveis no ano como o novo da Katy Perry, ''Witness'', e alguns bem abaixo da média como o último trabalho de Ed Sheeran, ''divide'', mas isso a gente esquece. Nesse post venho publicar meus cd's favoritos do ano, nem sempre os melhores, mas que de alguma forma me fisgaram. E, claramente, o meu gosto pelo vocal feminino continua, como verão na lista abaixo:


10. Margo Price - All American Made: Mais impressionante do que entregar um novo álbum tão rápido após um dos melhores debuts do ano passado, é o fato que Margo Price fez um segundo cd tão ou mais incrível que seu antecessor. Minha queda pela música mais enraizada é sempre maior quando os vocais femininos entram em jogo (Maren Morris, Miranda Lambert, Gretchen Wilson) e com Price não é diferente, o álbum também trata do dia-a-dia de uma mulher no meio country, assim como na sociedade e tem como um dos destaque ''Pay Gap'', o trabalho dentro do álbum com a crítica mais aberta, mas igualmente poderosa sobre a diferença econômica entre homens e mulheres na atualidade.


9. Kelly Clarkson - Meaning of Life: Eu sempre gostei muito da Kelly e mesmo não sendo muito fã de seus últimos cd's de inéditas, o de natal é muito legal, fui de peito aberto para esse novo trabalho e a surpresa foi assim... total! Clarkson sempre gostou de flertar com outros gêneros além do pop (vide suas parceiras country e sua essência pop-rock), mas eu jamais iria imaginar que um álbum dela teria tanta influência soul/r&b como ''Meaning of Life'', um trabalho que reúne os vocais incríveis da cantora com letras profundas e com real sentido da vida adulta. Uma das faixas mais lindas, ''I Don't Think About You'' é a essência do trabalho, desde os acordes da canção até a forma como Kelly canta seus versos. É lindo, é singelo e muito poderoso.


8. The Killers - Wonderful Wonderful: Durante mais de cinco anos desde ''Battle Born'', o não tão bom e também não tão ruim último cd da banda, Brandon Flowers lançou projetos solos e até se saiu bem neles, mas não demora mais que alguns segundos da faixa título para você ter certeza que a singularidade de The Killers é insubstituível. ''Wonderful Wonderful'' serve como um reflexo do próprio vocalista sobre sua vida, ele vai da auto avaliação pessoal na excelente ''The Man'', passa pelo sofrimento da esposa na melancólica ''Some Kind of Love'' e culmina no bloqueio artístico que ronda a qualquer um da classe em ''Have All the Songs Been Written?'' e, provavelmente, esse conceito é o que torna o trabalho tão conciso, bom e viciante. Eu duvido que você ouça ''Run for Cover'' e não agradeça por esse maravilhoso comeback, mas eu duvido mesmo.


7. Björk - Utopia: A rainha da música alternativa retorna com ''Utopia'', que ele seja estranho, diferente e algo difícil de se ouvir é o mínimo que esperamos da islandesa mais incrível desse planeta, mas como eu costumo falar e ler sempre, poucas pessoas escrevem sobre amor como Björk e nesse cd ela faz muito jus a isso, e aqui ela fala não só sobre amor, mas também sobre falta dele, separação e o lado bom de tudo isso, é um trabalho notável, bastante intrigante e que merece uma ouvida só pela ousadia das sinfonias encontradas no álbum. Em uma das músicas, ''Body Memory'', a cantora fala da forma mais alegre que ela encontrou em seu próprio estilo de mostra que ainda tem muita coisa pra viver em uma canção de basicamente dez minutos. É desafiador, é estranho, é inquietante e recompensador, é 100% Björk!


6. St. Vincent - MASSEDUCTION: Confesso que não conheço todos os trabalhos da cantora anteriores ao álbum de 2014 que a levou a um status mais ''mainstream'', mas somente aquele produto foi suficiente para me cativar pela aspecto quase original na abordagem de gêneros já comumente batidos, nessa volta depois de um bom tempo a jovem Anne Clark mergulha totalmente numa pegada eletrônica que identifica muito o cenário atual nos Estados Unidos, mas com aquele toque ''glam'' que só mesmo ela poderia colocar nos dias de hoje. Em primeiro momento parece que Karen O do Yeah Yeah Yeahs decidiu fazer EDM e esquecer um pouco o rock, mas chegar em ''Pills'' para a imagem de St. Vincent estar 100% impregnada na sua mente. O álbum tem seu auge em ''Young Lover'', uma canção que une o melhor do pop, electro e rock com vocais que chamam muito a atenção, é um arraso do começo ao fim, tal qual o cd todo.


 5. Kelela - Take Me Apart: O R&B mais enraizado vem sumindo dos olhos do grande público já tem alguns anos, ficamos sempre a mercê de uma Beyoncé ou uma Rihanna para termos esse som em grande proporção no meio musical, mas é ao ouvir trabalhos como o de Kelela que fica fácil perder que a qualidade do gênero ainda persiste e certas pedras preciosas como ''Take Me Apart'' surgem todos os anos e quase ninguém realmente ouve com a atenção merecida. Eu mesmo ao ouvir o primeiro single da cantora, ''LMK'', não prestei muita atenção e passei batido, mas com ''Blue Light'' a história foi diferente e rapidamente me vi fisgado por um vocal que lembra muito Ciara e Janet Jackson, mas com uma batida mais macia e assuntos mais íntimos. O cd, aliás, após ouvir com atenção e ler um pouco da entrevista da cantora, conta a história de uma mulher, nesse caso negra, que passa por várias etapas de um relacionamento e os problemas gerados após o mesmo. É original? Não, mas quando bem feito, e aqui é muito, é sempre bem vindo. ''Better'' em especial é uma senhora música.


4. Kesha - Rainbow: Admito, nunca fui fã de Kesha, achava ela uma cantora qualquer, sem personalidade, produzida por terceiros e quase inócua no palco, mas após ouvir seu novo trabalho e levar uns bons tapas na cara, tenho que admitir: que álbum incrível é esse, hein? Por muito pouco o ''Rainbow'' não é meu cd pop favorito do ano, é um álbum que traz uma sonoridade totalmente diferente do esperado, mas letras capazes de fazerem com que você lembre bem qual artista se estar ouvindo. É muito difícil decidir qual a melhor faixa do álbum, ele é um acerto a cada canção e coeso em toda a forma como a cantora retrata os últimos anos da sua vida. Ela dialoga com a própria persona, fala com seus demônis, se reafirma enquanto mulher e decide que a vida merece ser muito bem vivida. É uma experiência enriquecedora ouvir o trabalho de mente aberta, a melhor surpresa do ano, sem dúvidas.


3. SZA - Ctrl: Essa cantora de nome difícil pegou todos desprevenidos no ano de 2017, afirmo sem muita dúvida que seu trabalho é o melhor debut do ano e SZA consegue em ''Ctrl'' sintetizar o gênero ''R&B Contemporâneo'' como poucos artistas os fizeram nos últimos anos. Ela utiliza de vocais e lugares líricos comuns para adentrar em uma batida tão atual que ofende a certos cantores presos as melodias da década passada. O trabalho também envolve muito da vida da artista e a sonoridade é consideravelmente linear, um feito e tanto já que o cd jamais se torna monótono e a cada nova faixa, o encantamento só cresce. Embora, ''The Weekend'' seja a melhor faixa do cd, não tenho como não deixar meu destaque para ''Love Galore'' aqui, o R&B não fica muito melhor que isso.


2. Kendrick Lamar: DAMN.: O único homem a entrar na minha lista, Kendrick Lamar é hoje, talvez, o grande artista da atualidade em se tratando de público e crítica, e sei que comparações não são sempre boas, mas é como se ele fosse o Kanye West da década atual. Convenhamos que Lamar soube gerir muito bem seus trabalhos, se no debut ele falava sobre sua vida desde a infância e em ''To Pimp a Butterfly'' ele foca na questão racial como um todo, no ''DAMN.'' ele mistura ambos em um trabalho ainda mais próximo de uma sonoridade popular, mas sem perder um pingo sequer da sua marca, é algo tão inacreditável que só ouvindo os 3 álbuns em sequência para conseguir processar tudo isso. ''Humble'', seu maior hit na carreira, é também uma das melhores músicas do ano, e um exemplo da qualidade irretocável que Lamar conseguiu chegar atualmente, foda.


1. Lorde - Melodrama: Sem surpresas, o meu álbum número 1 do ano é também o de muitos ao redor do planeta, e não tem como falar o quão certo essas pessoas estão. Antes de tudo queria deixar registrado que eu nunca fui muito com a cara da Lorde, não gosto de ''Royals'', não era fã do álbum e sempre achei ela muito ''estranha''. Tudo mudou com seu segundo cd, lembro da mesma reclamando dos fãs apressados por um novo álbum e ela dizendo que precisava de tempo para fazer algo que era verdadeiro para ela, ao ouvir o ''Melodrama'' fico feliz que ela tirou o tempo que quis para entregar esse trabalho, pois ele é um senhor álbum. O som que a neozelandesa já entrega em ''Pure Heroin'' está bem presente aqui, ela somente aprofunda ainda mais os elementos pop e eletrônicos em questão. Lorde escreve muito e escreve bem, aqui ela continua escrevendo para e sobre ela, mas ela reflete os problemas e dilemas de muitos, a ''relatabilidade'' com toda uma geração é absurdamente crível e viável e em nenhuma canção isso soa falso ou vazio, é, aliás, tão real e forte que chega a doer. Outro álbum cheio de pequenas jóias, a grande canção do ano também se encontra aqui, ''Supercut'' fala sobre o quanto as vezes nós queríamos apenas ter como lembrança a melhor parte de nossos relacionamentos, mas não dá, certo? E em um certo momento a jovem cantora chega a gritar por causa disso, é incrível, é indescritível. Sem mais, ''Melodrama'' é uma Obra-prima.

É isso, que venham mais músicas em 2018 <3