sexta-feira, 5 de setembro de 2014

REVIEW: Noé - O conto biblíco pela visão extravagante de Aronofsky.





O novo filme de Darren Aronofsky é sobre a passagem bíblica de Noé, simples assim. Só que ir ao cinema esperando que o diretor tenha perdido seu tempo contando a história escrita na Bíblia sem mudar nada é um erro que qualquer espectador poderá cometer. Aronofsky nasceu como um ‘auteur’ e não seria por conta de uma produção milionária de um grande estúdio que o mesmo iria deixar de trabalhar seus temas no longa que está dirigindo, o que é de se agradecer, visto que contar a história de Noé passo a passo seria chato, didático e até errôneo para um diretor do nível dele.

A missão de criar uma arca para abrigar apenas um casal de cada espécie e assim deixar o resto à mercê da justiça divina no dilúvio mais famoso de todos os tempos é a sinopse base tanto da passagem bíblica quanto do filme em si. Só que o interesse maior aqui não é só contar uma história de forma bem feita, mas fazer um trabalho considerável de estudo de quem poderia ter sido Noé enquanto pessoa e seus pensamentos perante as tantas tarefas que lhe são asseguradas pelo ‘’criador’’. Isso bate muito de frente com os protagonistas do diretor, todos estão quase que à beira de uma crise completa e se veem perdidos em seus próprios receios, medos e afins. Em Noé a situação não difere muito do normal, mesmo que não trate as dúvidas desde o começo do longa, não demora muito para que os questionamentos comecem a atormentar Noé e façam com que ele se veja em dúvida da palavra do seu mestre maior.



Os monstros de pedra no melhor estilo Transformers até podem desviar um pouco a atenção, mas a narrativa do filme não se perde nem quando o vilão meio cartunesco de Ray Winstone aparece ou quando temos Anthony Hopkins em devaneios nas suas cenas como Matusalém, duas escalações bem acertadas, apesar dos problemas. Aliás, a escolha de Russell Crowe como o protagonista foi um tiro certeiro, sua presença de cena, acompanhada de bravura, sutileza e explosões pontuais, deve ser elogiada, há muito tempo ele não está tão bem.

O resto do elenco varia bastante, Jennifer Connelly não fica nem um pouco atrás de Crowe, dando uma performance sóbria durante todo o filme e explodindo no que vem a ser o melhor momento de sua carreira em pelo menos uma década. Douglas Booth não tem muito o que fazer.  E Emma Watson nem sempre dá conta do dever de casa. Mais opaca que ela, só mesmo Logan Lerman,  sua atuação só não é totalmente apagada porque ele tem muito tempo de cena, mas é feita quase que sem brilho e parece estar bem desconfortável com o papel que lhe foi dado.



Os efeitos são sublimes, as cenas do clímax são muito bem orquestradas e finalizadas, e nem precisa chover no molhado em elogios a trilha, que é quase um personagem, belíssima de Clint Mansell. É com um conjunto de acertos que passam por todos os departamentos determinantes para fazer um bom filme, que Darren Aronofsky entrega o que pode até ser seu filme menos pessoal, mas ainda assim consegue ser tanto um entretenimento cinematográfico para o grande público quanto uma visão singular de uma história pra lá de conhecida.

Cotação: e 1/2.