Não fosse o fato de que Gloria Stuart teve que largar uma produção de Sonhos de uma Noite de Verão poucos dias antes da mesma estrear, talvez Olivia de Havilland nunca tivesse sido vista pelos executivos da Warner Bros. e levada para as telonas. Felizmente, isso aconteceu e a jovem atriz assinou um contrato de longos sete anos e estreou, justamente, com uma adaptação de Sonhos. Olivia poderia jurar que sua vida seria baseada em Shakespeare (afinal, a mesma estudou muito isso), mas ela acabou se vendo em papéis unidimensionais de jovens doceis, sem muita atitude e muitas vezes na companhia de sua dupla mais famosa, o ator Errol Flynn.
Ao ser emprestada para o produtor Selznick, a atriz viu seu sonho se realizar ao fazer um papel que lhe trouxe realização profissional e prestígio ao mesmo tempo: Melanie em ... E O Vento Levou. De Havilland foi indicada ao Oscar como atriz coadjuvante pelo papel e após perder o prêmio para sua colega de elenco, Hattie McDaniel, precisou ser arrastada para a cozinha do hotel de tanto que chorava. Ao chegar em casa a mesma afirma ter dito para si mesma: ''Que bom que você perdeu. Não é justo que você ganhe um prêmio de atriz coadjuvante, você não é uma. E é justo que uma atriz coadjuvante ganhe contra uma atriz principal em um papel quase protagonista''. O que a atriz não esperava era que ao retornar a Warner Bros., seus papéis ruins estariam esperando por ela de braços abertos. Irritada, Olivia se negou a fazer diversos papéis e recebeu de retaliação de Jack Warner (lembrem de Stanley Tucci em Feud) uma suspensão de seis meses, quando seu contrato de sete anos com a casa terminou em 1943, lhe foi informado que ela teria que trabalhar os seis a mais que foi suspensa.
Com uma dica do ator-que-viraria-presidente Ronald Reagan, Olivia descobriu que existia uma lei no estado que impedia que qualquer contrato fosse maior que sete anos, pois caracterizaria escravidão. A justiça apoiou Olivia e até hoje a decisão favorável é conhecida como ''A Lei De Havilland''. Mesmo que Jack Warner tenha feito uma campanha que deixou a atriz sem emprego por quase dois anos, essa ação mudou totalmente Hollywood pela perda na força que os estúdios tinham com os atores. Olivia ganhou liberdade artística e respeito de seus colegas, inclusive de sua distante irmã Joan Fontaine, que declarou: ''Hollywood deve muito a Olivia''. Livre, leve e solta, Olivia começou a escolher projetos que realmente lhe desafiavam e em 1946 ela se viu dividida entre dois projetos para fazer campanha: o noir The Dark Mirror, onde ela interpreta gêmeas, e To Each His Own, que a atriz faz uma mãe que precisa abandonar o filho e vê-lo crescer de longe para evitar escândalo. Com a ajuda do publicista (Henry C. Rogers) que venceu a categoria um ano antes de forma genial para Joan Crawford, Olivia escolheu o papel mais dramático.
Em To Each His Own, a atriz começou a empregar uma atuação mais metódica e isso resultou em fartos elogios. E ainda com a boa vontade de seus colegas pela grande batalha que travou, nem mesmo Rosalind Russell (ganhadora do Globo de Ouro e segundo lugar fácil daquela noite) quase falando que ela mesmo salvou crianças da poliomielite em Sister Kenny ou a aclamação de Celia Johnson (ganhadora do prêmio da crítica de New York) no pequeno, mas notável Brief Encounter foram capazes de derrotar Olivia naquela noite. Uma noite marcada também pela atriz se negar a abraçar a irmã nos bastidores, porque a mesma disse dias antes a toda a imprensa que o marido de Olivia já tinha tido ''umas três ou quatro esposas antes dela''. Porém, nem isso tiraria a alegria de Olivia em finalmente vencer seu estimado Oscar em um belíssimo vestido azul com flores bordadas.
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