quinta-feira, 28 de abril de 2016

REVIEW: Beyoncé - Lemonade



Coesão é a alma de qualquer trabalho e na música isso não é diferente. Todos os grandes álbuns da indústria são coerentes em conceito e execução, sempre abordando temas e trabalho de produção que permeiem o disco do inicio ao fim, qualquer que seja a conexão entre suas faixas. O novo álbum da cantora Beyoncé, ‘’Lemonade’’, não foge da regra e, para quem tinha dúvida, sedimenta a americana como a melhor artista de grande apelo popular do momento.

                O trabalho temático de Beyoncé em um álbum não é novidade. A texana já abordou o amor em diversas formas, como em seu álbum 4 (2011) e explorou ao máximo sua sexualidade em forma de música, em seu primeiro álbum visual, intitulado Beyoncé (2013). Já em Lemonade,  seu sexto trabalho de estúdio,  vemos uma artista que se permitiu ser “espiada” e comentada num dos relacionamentos mais famosos da indústria, o casamento com o rapper Jay-Z. O que se percebe nas doze faixas que compõe o trabalho da cantora é a jornada sobre os estágios do que, aparentemente, foi um momento bastante difícil de seu relacionamento: uma possível traição.

Na primeira faixa do álbum, ‘’Pray You Catch Me’’, vemos o que deve ser o inicio da suspeita do romance extraconjugal de seu marido, onde a cantora começa a expor seus sentimentos.  Em seguida a cantora ‘sobe o tom’, com ‘’Hold Up’’, numa pegada entre o funk e reggae, onde a traição está escancarada e Beyoncé se vê numa situação que aflige a todos, onde a canção diz: ‘’O que é pior, parecer louco ou ciumento?’’. O engraçado é o fato que a faixa segue uma vibe “midtempo”, mesmo falando sobre alguém que está com raiva. 

  

Quando uma canção começa com ‘’Quem p***a você pensa que é? Você não está casado com uma vadia qualquer’’, termina com ‘’Se você tentar essa me**a de novo, você irá perder sua esposa’’ , utilizando o rock de Led Zeppelin como base, a guitarra do sempre ótimo Jack White e vocais, claramente agressivos, você sabe que algo muito forte aconteceu, e isso fica explicito em ‘’Don’t Hurt Yourself’’, um dos destaques do cd.

Qual a primeira fase que você passa após terminar com alguém? Tentar esquecê-la, certo? Em “Sorry”, que não poupa palavrões, atitude no vocal e, as já icônicas frases: ‘’Dedo do meio pra cima, acene pra ele e diga, garoto, tchau’’ e ‘’É melhor ele ligar pra Becky de cabelo bom’’, rola um dos maiores acertos musicais da obra, onde Beyoncé utiliza o trap pra fazer uma canção sobre término e superação do ca***ho. 

Beyoncé tem um grande ego e canta sobre empoderamento feminino desde que surgiu, sendo assim a presença de ‘’6 Inch’’ é esperada e muito bem vinda. A canção é mistura de R&B/Soul/Funk e ainda utiliza dos vocais do cantor The Weeknd para dar a pitada sexy que a música pede. Porém, a utilização de salto alto como forma de empoderar a mulher é algo contestável e controverso, já que pode ser considerado como algo opressor para as mulheres em geral.


 ‘’Daddy Lessons’’ é a meu ver uma das três melhores do álbum simplesmente porque é algo quase inacreditável vindo da rainha do R&B contemporâneo: trata-se de uma música puramente country/americana, em um nível que você chega a imaginar como foi a infância da cantora num Texas, hoje tão distante da imagem que ela transparece. Nesta faixa a cantora expõe o relacionamento com o pai, que organizou toda a sua carreira desde sempre, inclusive até uns anos atrás. Além disso, é perceptível a afinidade da texana com o principal gênero de sua terra natal. Já ‘’Love Drought’’, que talvez tenha a melhor produção de todo o cd, com uma batida que pede pela casa da luz vermelha mais próxima, acaba soando um pouco menos maravilhosa que as demais, mas só um pouco.

                Impossível de julgar separadas, as faixas ‘’Sandcastles’’ e ‘’Forward’’ se complementam ao ponto em que a primeira, uma balada romântica pura e simples, ancorada por vocais que exprimem uma dor absurda, trata da percepção que a relação foi algo importante demais para ambos e que talvez, a separação definitiva fosse uma opção exagerada. Já a segunda, uma curta parceira com James Blake, ouve-se a cantora falando ‘’É hora de ouvir, é hora de lutar’’, o que pode se associar com um momento de conciliação. A situação se vê finalizada em ‘’All Night’’, uma canção que deixa claro que o amor, mesmo que não como antes, ainda persiste e durará por muito tempo, quase como a fase final da história que Beyoncé começou a contar lá na primeira faixa de seu álbum.


                As duas canções mais dissonantes complementam o álbum. ‘’Freedom’’ e ‘’Formation’’, se vê algo que Beyoncé nem sempre cantou: o orgulho de sua negritude e a atenção que a justiça racial até hoje pede. A primeira faixa é quase um hino gospel - claramente a melhor música do cd - onde a cantora clama ‘’Deus me perdoe, eu estive fugindo.... mas me liberte, deixe eu quebrar minhas correntes’’, numa alusão ao que pode ser um total posicionamento a tantas coisas horríveis que ainda acontecem aos afro-americanos no país da ‘’liberdade’’. A faixa conta ainda conta com a participação do rapper Kendrick Lamar, o maior nome da atualidade quando se fala em ativismo racial na música. A última faixa, já famosa, é um hino de empoderamento racial que encerra o álbum de forma efusiva, imperativa e demonstra a que nível Beyoncé chegou enquanto criadora de cultura e arte.

                ‘’Lemonade’’ explora temas, aborda problemas, tem um conceito que reflete a perfeição que já conhecida da artista e uma execução que beira ao brilhantismo. Tanto é que, falar que é o melhor álbum de sua carreira ou do ano, é questão apenas de bom senso. O que a história pode provar é que o álbum será um dos melhores da música contemporânea.  





sábado, 27 de fevereiro de 2016

Oscar 2016: Quem leva, quem merece e quem deveria estar ai


O prêmio mais velho do mundo, e também o mais cobiçado, terá a sua 88ª edição no dia 28 de Fevereiro e nesse post vou opinar sobre quem vence, quem deveria vencer e quem nem chegou a ser indicado, mas merecia muito. Enquanto a corrida de Melhor Filme nunca esteve tão aberta, todas as de atuações estão fechadas, deixando as maiores dúvidas para as categorias técnicas que irão decidir se Mad Max ou O Regresso que se consagrarão como o maior vencedor da noite.

- MELHOR FILME:

A Grande Aposta
Ponte de Espiões
Brooklyn
Mad Max: Estrada da Fúria
Perdido em Marte
O Regresso
O Quarto de Jack
Spotlight - Segredos Revelados



Quem vence: A briga está entre O Regresso x Spotlight x A Grande Aposta. Queria muito que o filme do mexicano Iñárritu não vencesse, mas com o apoio do sindicato dos diretores, do BAFTA (Oscar britânico), muito burburinho e campanha, acho inevitável a vitória na categoria principal. Tanto Spotlight quanto A Grande Aposta não tem cara de vencedores do Oscar, mas Spotlight liderou o sindicato de atores (o maior número de votantes do Oscar) e é sobre um assunto muito importante, então está na corrida e diria que é o provável segundo lugar. Não muito atrás vem A Grande Aposta, a surpresa da temporada de prêmios retrata uma época problemática do USA de uma forma sagaz, divertida e um tanto original, venceu o sindicato dos produtores e pode surpreender amanhã.

Quem deveria vencer: Não vi O Quarto de Jack, mas é incomparável o produto final de Mad Max: Estrada da Fúria com qualquer outro concorrente, quase como definidor de gênero esse filme de George Miller seria uma das melhores vitórias da história da Academia. Spotlight e Brooklyn são outros dois filmes que gosto muito, por isso queria que o drama sobre os padres pedófilos virasse o jogo contra a história de vingança de DiCaprio.
Quem deveria estar ai: Carol com toda certeza, o filme de Todd Haynes é o melhor filme dessa safra de premiações e sua exclusão da categoria principal quando indicaram Ponte de Espiões, Perdido em Marte e ameaçam premiar O Regresso é um absurdo. Creed e o novo Star Wars também seriam ótimas opções para a seleção.

- MELHOR DIRETOR:

Adam McKay,  A Grande Aposta
George Miller, Mad Mad: Estrada da Fúria
Alejando G. Iñárritu, O Regresso
Tom McCarthy, Spotlight
Lenny Abrahamson, O Quarto de Jack


Quem vence: Existe uma forte campanha para George Miller, mas com a vitória no Globo de Ouro, BAFTA e sindicato de diretores fica dificil para Alejandro G. Iñárritu perder esse prêmio por O Regresso, será uma vitória histórica já que ele será apenas o terceiro diretor a conseguir uma vitória consecutiva nessa categoria do Oscar.

Quem deveria vencer: George Miller, de muito longe, é a melhor direção dentre os indicados e também do ano, o trabalho de Miller beira a perfeição, com um apuro visual que deverá será lembrado até o fim dos tempos no âmbito cinematográfico.

Quem deveria estar ai: Todd Haynes e seu trabalho minimalista em Carol eram obrigação da Academia.

- MELHOR ATOR:

Leonardo DiCaprio, O Regresso
Bryan Cranston, Trumbo
Michael Fassbender, Steve Jobs
Eddie Redmayne, A Garota Dinamarquesa
Matt Damon, Perdido em Marte


Quem vence: A vitória de Leonardo DiCaprio é a maior certeza da noite, será a tão aguardada vitória do atual maior astro de Hollywood e podem se preparar porque a salva de palmas será enorme.

Quem deveria vencer: Não existe ninguém mais fã de DiCaprio do que eu, mas mesmo sendo o segundo melhor de uma categoria bem aquém, ainda acho que a melhor performance indicada é de Michael Fassbender por Steve Jobs, mas óbvio que a vitória de Leo será ótima de qualquer forma.

Quem deveria estar ai: Eu fiquei encantado com o trabalho de Michael B. Jordan em Creed e num ano que tanto se pedia diversidade foi uma bola fora a sua esnobada.

- MELHOR ATRIZ:

Brie Larson, O Quarto de Jack
Cate Blanchett, Carol
Charlotte Rampling, 45 Anos
Saoirse Ronan, Brooklyn
Jennifer Lawrence, Joy


Quem vence: Em mais uma barbada da noite não espere ninguém vencendo que não seja Brie Larson, a atriz é basicamente uma novata, mas arrebatou totalmente a crítica, público e os prêmios pelo papel da mãe que faz de tudo para libertar seu filho em O Quarto de Jack.

Quem deveria vencer: Ainda não puder conferir o desempenho de Larson, mas nem duvido que ela realmente seja a que mais mereça. A categoria está linda, a melhor dentre as de atuação, e até Jennifer Lawrence que está no péssimo Joy ainda brilha muito, dentre as quatro indicadas vistas eu ficaria com Charlotte Rampling pela performance sútil, mas eficiente e também pela maravilhosa carreira da atriz.

Quem deveria estar ai: A melhor atuação feminina do ano pertence a Elisabeth Moss em Rainha do Mundo, uma performance visceral, marcante e daquelas que definem uma atriz, mas se até a crítica e os prêmios menores esqueceram dela, nunca que a Academia que iria reparar esse erro, não é mesmo?

MELHOR ATOR COADJUVANTE:

Christian Bale, A Grande Aposta
Tom Hardy, O Regresso
Mark Ruffalo, Spotlight
Mark Rylance, Ponte de Espiões
Sylvester Stallone, Creed


Quem vence: Depois de passar quatro décadas fazendo o lendário Rocky Balboa, finalmente o astro Sylvester Stallone será reconhecido e deve vencer, sem muitos problemas, a categoria de ator coadjuvante. A vitória traz um pouco de nostalgia para os votantes e esse com certeza é um sentimento que eles amam.

Quem deveria vencer: Gosto muito do trabalho de Mark Ruffalo, até entendo os louros a Rylance, Bale e Hardy, mas mesmo sem nunca ter sido um grande ator fica difícil negar toda a entrega de Stallone em cena, que conhece e incorpora tão bem o personagem que mais parece um outro lado do próprio ator, e talvez até seja.

Quem deveria estar ai: Falo sem pensar duas vezes que a exclusão de Benicio Del Toro por Sicario é uma palhaçada, especialmente quando indicam Tom Hardy por vilão sem alma e Mark Rylance por fazer tão pouco. E isso porque nem conferi a tão aclamada performance de Idris Elba em Beasts of No Nation.

- MELHOR ATRIZ COADJUVANTE:

Jennifer Jason Leigh, Os Oito Odiados
Rooney Mara, Carol
Rachel McAdams, Spotlight
Alicia Vikander, A Garota Dinamarquesa
Kate Winslet, Steve Jobs


Quem vence: Winslet até ganhou o Globo de Ouro e o BAFTA, mas isso só ocorreu porque Alicia Vikander concorria em protagonista nessas premiações por seu papel no sofrível Garota Dinamarquesa. Vikander não é coadjuvante em seu filme, mas sua fraude não é a primeira e nem será a última, a sueca que estourou em milhares de filmes em 2015 deve começar sua incursão em Hollywood já com o careca dourado em mãos, um feito impressionante.

Quem deveria vencer: Vikander está ótima, McAdams me surpreende e Winslet até tenta, mas seu personagem é mera escada. Acho que as duas melhores atuações da categoria são de Mara e Leigh, mas como Mara é clara protagonista de seu filme, o Oscar deveria ir pras mãos de Jennifer Jason Leigh que criou nesse último Tarantino uma personagem tão odiosamente deliciosa que é impossível não torcer por Daisy quando ela está em cena.

Quem deveria estar ai: Tirassem as fraudes Vikander e Mara e trocassem por reais coadjuvantes como a própria Alicia Vikander em Ex Machina, uma ficção científica onde Vikander incorpora uma robo de forma suntuosa e sem uma nota falsa sequer em sua performance. Rachel Weisz em Youth também seria uma boa opção.



- Melhor Roteiro Original: A vitória mais certa de Spotlight é nessa categoria, e merecido.

- Melhor Roteiro Adaptado: Duvido que A Grande Aposta perca aqui, mas Carol é o melhor da categoria.

- Melhor Animação: Outra certeza da noite é a vitória de DivertidaMente aqui, mas tem quem ache Anomalisa melhor.

- Melhor Filme Estrangeiro: O Filho de Saul vencerá sem muita concorrência, afinal para bater o holocausto não é nada fácil quando se trata de Oscar.

- Melhor Documentário: Amy, mas não duvide de Look of Silence.

- Melhor Curta de Documentário: Vou de Claude Lanzmann: Spectres of the Shoah, que fala de como o diretor Lanzmann demorou 12 anos para fazer um documentário de quase 10 horas sobre o holocausto, mas Body Team 12 fala do ébola e tópicos recentes as vezes se dão bem.

- Melhor Curta: Shok deve vencer, mas uma surpresa de Stutterer é provável.

- Melhor Curta de Animação: Sanjay's Super Team, mas só por ser Pixar e ter tido visibilidade, porém uma vitória de World of Tomorrow do aclamado Don Hertzfeldt não tá fora de visão, assim como Bear Story que apela para o sentimental.

- Melhor Trilha Sonora: Os Oito Odiados porque Ennio Morricone não ter Oscar é palhaçada, mas a trilha de Carol é a mais linda das 5.

- Melhor Canção Original: É muito dificil que a dupla Diane Warren, oito vezes perdedora do Oscar, e Lady GaGa percam por Til' It Happens to You, e embora muitos falem que se perder será para o Sam Smith (Deus não permitirá!), acho que a verdadeira concorrência é Simple Song.

- Melhor Edição de Som: Mad Max, mas O Regresso pode surpreender.

- Melhor Mixagem de Som: O Regresso, mas Mad Max não está fora de questão.

- Melhor Design de Produção: Mad Max, mas a categoria pode surpreender bastante e tirando O Regresso qualquer um pode vencer, especialmente Garota Dinamarquesa e Ponte de Espiões!

- Melhor Fotografia: O Regresso, criando um record de mais vezes seguidas que uma pessoa venceu sozinha uma categoria do Oscar para Chivo.

- Melhor Maquiagem e Cabelo: Mad Max, mas fizeram tanto marketing para a maquiagem de DiCaprio que descartar O Regresso é burrice.

- Melhor Figurino: Mad Max, mas Cinderella tá bem ali atrás.

- Melhor Montagem: Mad Max, e se der A Grande Aposta não se surpreendam.

- Melhores Efeitos Visuais: Star Wars: O Despertar da Força, mas Mad Max também tem chances aqui
.



 






quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

REVIEW: A Garota Dinamarquesa





Se feito há uns quatro ou cinco anos, ‘A Garota Dinamarquesa' (The Danish Girl, 2015) não teria metade da repercussão que está tendo, porém, como foi lançado em um momento onde a comunidade transexual começa a ganhar cada vez mais voz e brigar por seus direitos na sociedade moderna, o novo filme do diretor Tom Hooper (O Discurso do Rei, Os Miseráveis) ganhou visibilidade, fãs, odiadores e algumas indicações ao Oscar. Entretanto, se enquanto história o filme pode emocionar alguns, como obra de cinema é tão falho que chega até a ofender.

O longa retrata o relacionamento do casal Gerda (Alicia Vikander) e Einar Wegener (Eddie Redmayne), assim como a autodescoberta de Einar em uma mulher transexual, Lili - que viria a ser uma das primeiras pessoas a realizar uma cirurgia de redesignação sexual. A ideia é nobre e a visibilidade da causa transexual até pode se favorecer com a existência do filme, mas tudo é tão raso, plástico e banal, que fica difícil se envolver completamente na mensagem do filme.

O roteiro, talvez por falta de uma ótica melhor, jamais vai além da superfície e estereótipo sobre quem é Lili e nunca deixa Gerda sair do papel de esposa sofredora, mesmo que dê ares de descolada para a época em que vive. Em associação a isso, temos uma montagem que sofre, lá pelo meio do filme, com uma sucessão de cenas feitas para fazer o espectador chorar, sem qualquer sentido de ordem do trabalho que está sendo feito.



Todos esses problemas, lógico, são incrementados com a direção de Tom Hooper, que é altamente cheia de tiques inúteis com a câmera, incluindo enquadramentos que não fazem sentido ou uma inclinação ao sentimentalismo da pior espécie.  Existem momentos que até a belíssima direção de arte e as locações das cidades mais encantadores da Europa sofrem na mão do diretor, que sufoca a tela com close-ups que vão do desnecessário ao constrangedor, demonstrando um apuro visual limitado e quase brega.

A atuação de Eddie Redmayne, atual vencedor do Oscar por A Teoria de Tudo e novamente indicado pelo trabalho feito aqui, acaba sendo a cereja ruim do bolo solado, sendo uma mistura entre correto, ruim e horroroso. Redmayne, mais uma vez, trabalha com um personagem que precisa de muletas cênicas para se concretizar, mas, sendo um ator tão vaidoso, ele escolhe as piores opções para retratar sua ‘’feminilidade’’. Se enquanto Einar o ator até se sustenta, quando Lili precisa vir à tona, a atuação se torna afetadíssima, caricata e toda calcada em tiques como: uma mão quebrada pro lado, um pescoço torto e uma voz sussurrante até quando o personagem fala com alguém a distância.

Porém, nessa imensidão de erros, existe uma luz sueca que atende pelo nome de Alicia Vikander, aqui vale ressaltar também os lindos figurinos de Paco Delgado. A atriz, que é tão protagonista quando Eddie, e está sendo revelada agora para o mundo, toma o filme para si toda vez que aparece em tela, apresentando uma vivacidade e brilho que deixa qualquer ator ofuscado.  Além disso, quando ela precisa dividir a cena com Redmayne chega a ser latente a diferença de naturalidade entre as duas atuações. Mesmo com um papel que em determinado momento se reduz a sofrer pelas mudanças drásticas de sua vida e casamento, Vikander sempre se agarra ao fiapo de roteiro e dá toda a dignidade que pode à Gerda. E se ela realmente é a garota dinamarquesa a que o filme se refere, é de se agradecer, porque todo e qualquer sentimento de conexão com o filme se deve a ela, e somente ela.



O filme pode até ser bem intencionado, mas o produto final não chega nem perto da excitação que poderia ter sido caso bons profissionais estivessem por trás - e em frente - às câmeras.  Como de filme ruim bem intencionado o mundo de Hollywood está cheio, só desejo que no futuro existam produções que realmente dignifiquem a causa transexual, que tanto precisa de visibilidade, porque, infelizmente, ‘A Garota Dinamarquesa’ foi apenas mais um erro no cis-tema.

Uma sequência: O primeiro contato de Einar com o vestido, enquanto pousa para Gerda, onde ainda havia um vislumbre de que o filme poderia ter mais que a dimensão de um pires para com seus personagens.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Grammy 2016: As apostas, opiniões e tudo que você deve esperar da maior noite da música.

 O Grammy ocorre logo mais e com uma das line-ups mais interessantes dos últimos anos a premiação deverá celebrar com muita vontade a banda Alabama Shakes e o rapper Kendrick Lamar, mas outros artistas como The Weeknd, Chris Stapleton, Taylor Swift, Ed Sheeran e o duo Mark Ronson/Bruno Mars também deverão levar alguns troféus para casa.


ÁLBUM DO ANO: A corrida na categoria sempre foi Taylor Swift vs. Kendrick Lamar, mas se o 1989 foi um dos maiores sucessos do mercado fonográfico dos últimos anos, no Grammy ele ficará bem no escanteio, tendo como colega o Beauty Behind the Madness, cd do The Weeknd. O cantor country Chris Stapleton descolou uma indicação surpresa com o seu Traveller, e embora conte com o grande público country da academia, não deve ser páreo para vencer o grande prêmio da noite. Sendo assim, Sound & Color do Alabama Shakes deve brigar com o To Pimp a Butterfly do Kendrick Lamar, mas dado o estilo da banda (bem mais próximo do gosto dos votantes) e o fato de que apenas dois álbuns de rap já venceram Álbum do Ano, a corrida deve ficar mesmo com o Alabama Shakes, que é o segundo melhor álbum da categoria, mas ainda assim muito distante da obra-prima em forma de música que é o cd do jovem Kendrick.

Quem ganha: Alabama Shakes - Sound & Color (Spoiler: Kendrick Lamar - To Pimp a Butterfly)
Ranking Pessoal: 
1º - Kendrick Lamar, To Pimp a Butterfly
2º - Alabama Shakes, Sound & Color
3º - Taylor Swift, 1989
4º - Chris Stapleton, Traveller
5º - The Weeknd, Beauty Behind the Madness


GRAVAÇÃO DO ANO: Dos quatro grandes prêmios da noite, a não vitória de Uptown Funk em Gravação do Ano seria o maior choque de todos, isso é uma certeza. Com uso de instrumentação clara, um dos grandes produtores da atualidade e um dos maiores nomes da música mundial, a canção tem todos os ingredientes dos grandes vencedores da categoria, o fato de ter sido o maior hit de 2015 só sedimenta seu status pelo prêmio. Se alguém pode bater de frente com o combo Ronson/Mars esse alguém é Taylor Swift, sua Blank Space mesmo que sendo pop ainda é um dos grandes hits do ano passado e tem um considerado respaldo da crítica. Really Love do D'Angelo parece até deslocada na categoria feita só de hits, mas sua qualidade a coloca ai com certa vantagem de canções como Thinking Out Loud e Can't Feel My Face, que são até boas no que se propõe, mas soam extremamente esquecíveis para um prêmio tão importante.

Quem ganha: Mark Ronson (feat. Bruno Mars) - Uptown Funk
Ranking pessoal:

1º - Mark Ronson (feat. Bruno Mars), Uptown Funk
2º - D'Angelo, Really Love
3º - Taylor Swift, Blank Space
4º - The Weeknd, Can't Feel My Face
5º - Ed Sheeran, Thinking Out Loud


CANÇÃO DO ANO:  Taylor Swift basicamente introduziu Ed Sheeran aos EUA, e agora o cantor ameaça tirar uma das vitórias mais importantes da cantora no Grammy, o mundo dá voltas, não é mesmo? Sheeran e Swift são dois dos maiores cantores-compositores do cenário pop atual e devem brigar pelo maior prêmio de composição da noite com Blank Space e Thinking Out Loud. Embora a canção de Swift tem dedo de Max Martin e foi bradada como uma ''canção pop perfeita'', todo o trabalho da música de Sheeran se baseia em sua letra, tornando a balada muito mais poderosa do que seria nas mãos de alguém menos experiente. Alright de Kendrick Lamar é a melhor das indicadas, mas nunca que uma canção de rap vencerá aqui, temos ainda como figuração Girl Crush, uma mid-tempo country bem feitinha e com letra quase dúbia, além de See You Again, a mais fraca das indicadas e que deve entrado aqui pelo enorme sucesso que fez devido a morte de Paul Walker.

Quem ganha: Ed Sheeran - Thinking Out Loud (Spoiler: Taylor Swift - Blank Space)
Ranking pessoal:

1º - Kendrick Lamar, Alright
2º - Ed Sheeran, Thinking Out Loud
3º - Taylor Swift, Blank Space
4º - Little Big Town, Girl Crush
5º - Wiz Khalifa (feat. Charlie Puth), See You Again

ARTISTA REVELAÇÃO: Num ano sem um grande nome no cenário musical essa categoria virou um Deus nos acuda desde as indicações e o próprio vencedor está nos ares. Tori Kelly só está indicada pelo dedo de Max Martin na vida dela, achava que Meghan Trainor poderia vencer, mas a falta de mais indicações e o estilo dela não ser exatamente o que o Grammy premia me fez tirá-la da linha de frente da vitória. Acho que Sam Hunt não tem aclamação para vencer, mas os votos do bloco country são sempre bem-vindos. Aposto em James Bay porque ele é 1) britânico, 2) recebeu indicação em outras categorias e 3) ele é o tipo de artista que o Grammy adora, porém num ano tão aberto (lembram de 2010 com Bieber/Florence/Drake/Mumford) a vitória de Courtney Barnett pode vir a ser daqueles upsets que só o Grammy faz.

Quem ganha: James Bay
Ranking pessoal:
1º - James Bay
2º - Courtney Barnett
3º - Meghan Trainor
4º - Sam Hunt
5º -Tori Kelly

Nas demais categorias espere por:
POP:

- Best Pop Solo Performance: Ed Sheeran, Thinking Out Loud, mas de olho em Taylor Swift.
- Best Pop Duo/Group Performance: Mark Ronson (feat. Bruno Mars), Uptown Funk, porém uma vitória de Bad Blood não está fora de alcance.
- Best Pop Vocal Album: Taylor Swift, 1989.
- Best Traditional Pop Vocal Album: Josh Groban, Stages, MAS Tony Bennett tá ai né mores.

DANCE/ELECTRONICA:

- Best Dance Recording: Skrillex and Diplo with Justin Bieber, Where Are Ü Now, mas torço pro Chemical Brothers impedir Justin Bieber de ser Grammy Winner.
- Best Electronic/Dance Album: Skrillex and Diplo Present Jack Ü porque né

ROCK:

- Best Rock Performance: Alabama Shakes, Don't Wanna Fight, mas tem Florence brigando pelo prêmio. 
- Best Metal Performance: Slipknot - Custer
- Best Rock Song: Florence and the Machine, What Kind of Man, mas de olho tanto no Alabama Shakes quanto num upset de James Bay
- Best Rock Album: James Bay, Chaos and the Calm
ALTERNATIVE:

- Best Alternative Music Album: Alabama Shakes, Sound & Color, mas eu queria mesmo era uma vitória da Björk.

R&B:

- Best R&B Performance: The Weeknd - Earned It, duh.
- Best Traditional R&B Performance: Jazmine Sullivan, Let It Burn PFVR DELS!
- Best R&B Song: D'Angelo, Really Love, só que Earned It tá bem coladinha pra vencer.
- Best R&B Album: D'Angelo and The Vanguard, Black Messiah
- Best Urban Contemporary Album: The Weeknd, Beauty Behind the Madness, duh 2.

RAP:

- Best Rap Performance: Kendrick Lamar, Alright
- Best Rap/Sung Collaboration: Common & John Legend, Glory.
- Best Rap Song: Kendrick Lamar, Alright
- Best Rap Album: Kendrick Lamar, To Pimp a Butterfly
COUNTRY:

- Best Country Solo Performance: Chris Stapleton, Traveller
- Best Country Duo/Group Performance: Little Big Town, Girl Crush
- Best Country Song: Little Big Town, Girl Crush, com ameaça de Stapleton.
- Best Country Album: Chris Stapleton, Traveller

- Best Song Written for Visual Media: Selma, Glory.
- Best Musical Theater Album: Hamilton
- Best Music Video: Taylor Swift (feat. Kendrick Lamar) - Bad Blood, porque a Katy Perry nasceu pra sofrer lol