terça-feira, 6 de janeiro de 2015

Top 10 de Filmes de 2014



          Adoro fazer listas e com cinema não é diferente, mas esse ano decidir divulgar minha lista de filmes que mais me marcaram no ano, acredito que todos são bons em sua maneira e deixaram algo na experiência que tive ao vê-los. Decidi deixar como critério que só entrariam filmes lançados nos cinemas brasileiros de 1 de Janeiro até dia 31 de Dezembro, por isso a lista contém filmes lançados nos Estados Unidos tanto em 2013 quanto em 2014.
     
          10 filmes é pouco até para mim que ando vendo poucos filmes no ano, por isso gostaria de deixar uma menção honrosa para alguns que falharam em entrar na lista, são eles: Vidas ao Vento (The Wind Rises, Hayao Miyazaki), Inside Llewyn Davis - Balada de um Homem Comum (Inside Llewyn Davis, Coens Brothers), O Congresso Futurista (The Congress, Ari Folman), e o melhor filme pipoca do ano passado, X-Men: Dias de um Futuro Esquecido (X-Men: Days of Future Past, Bryan Singer).

           Sem mais delongas, aqui estão os dez selecionados como os melhores longas de 2014 para mim:


10º - A Imagem que Falta (L'image manquante, Rithy Panh)

        
               O filme de Rithy Panh é o único documentário que vi no ano e, provavelmente, é o que mais me tocou enquanto ser humano. O longa conta como um regime comunista dizimou milhões de pessoas no Camboja, uma experiência arduamente vivida pelo próprio diretor. O nó na garganta que um pequeno boneco de argila consegue deixar no espectador vendo o filme beira o inacreditável, nunca com tão pouco se conseguiu passar tanto sofrimento.

9º - O Abutre (Nightcrawler, Dan Gilroy)

       
           A responsabilidade de ambientar o filme é algo que pertence ao diretor do mesmo, mas em O Abutre isso fica a cargo da performance excepcional de Jake Gyllenhaal. O ator imerge no personagem criando que é preciso para que a atmosfera do filme aconteça, do ar soturno até o mais puro cinismo. O elenco coadjuvante conta com Rene Russo e Riz Ahmed em personagem completamente distintos, mas altamente necessários para dar vida aquela trama tão bizarra, mas crível do quanto a mídia pode ser horripilante quando quer.

8º - Relatos Selvagens (Relatos Salvajes, Damián Szifrón)


                     Irei admitir que esse filme argentino trata violência e vingança de uma forma bem ''chapa branca'' por assim dizer, mas isso não impede que cada situação abordada pelos contos individuais sejam sensacionais em sua própria maneira. Claro que nem todas estão no mesmo nível, mas nenhuma é menos que ótima e criam uma sequência de absurdos que são uma delícia de se assistir. Porém, o destaque é mesmo do último conto que é intitulado ''Até que a morte nos separe'', onde vemos Érica Rivas (que está brilhante, diga-se) ensandecida ao descobrir uma traição no dia do seu casamento, ''Vou colocar isso pros meus filhos verem no lugar de Dora, a Aventureira''.

7º - 12 Anos de Escravidão (12 Years a Slave, Steve McQueen)


                   Eu poderia morrer de elogios a direção, elenco, roteiro e toda a parte técnica absurda do filme de McQueen, mas palavras não são suficiente para o tamanho dessa obra. O filme é o testamento mais cru, verdadeiro, cruel e triste em forma de ficção desse que é o episódio mais nojento feito pelo homem. Cada cena é mais e mais forte, sempre querendo deixar claro não somente o que acontecia, mas também o quão consciente ambos os lados estavam daquela situação. A cena que envolve Patsy (Lupita Nyong'o, em uma atuação para a vida toda) e um sabonete já é épica por todos os motivos mais tristes do mundo.

6º - Nebraska (Nebraska, Alexander Payne)


                     Nebraska é o filme que mais me surpreendeu no cinema esse ano, já que mesmo tendo ouvido coisas boas do filme e até curtindo os trabalhos anteriores do diretor (Os Descendentes e Eleição são ótimos), nada me preparou para a melancolia tão inerente que esse filme deixa na gente. Tirando umas e outras cenas que a excelente June Squibb está soltando suas farpas, o resto do filme todo te deixa um pouco para baixo, seja pela fotografia em preto & branco ou pela simplicidade dos personagens e seus atores em cena, que inclui um Bruce Dern tão cativante que é difícil de quantificar a força de sua atuação. Mais uma vez Payne traz as estrelas de Hollywood para seu momento ''pé no chão'', mas dessa vez com algo diferente, que pouco sei explicar, mas que tocou ali bem no fundo, talvez seja algo tão simples que eu nem precise mesurar em palavras, e devo só sentir, como fiz por toda a projeção desse belo ''pequeno-grande'' filme.

5º - Ela (Her, Spike Jonze)


                     Não existe tema que mais amo no cinema que relações pessoais, e o filme de Jonze é uma bela leitura do assunto nos tempos modernos. E não se engane com o futuro que está sendo retratado no filme, ele está dialogando diretamente com toda a tecnologia atual que nos permite amar, viver, nos encontrar e encontrar a tantos outros de forma tão distante como nunca antes no mundo foi capaz. É criando um sentimento tão puro e simples que o diretor nos conecta a um homem (Joaquin Phoenix em mais uma atuação excelente) e seu amor por um robô, e por mais estranho que isso possa soar falando agora, na tela é criado uma aura que impede que você pense que aquele amor não possa existir, como tantos outros que existem pelo mundo afora.

4º - Era uma vez em Nova York (The Immigrant, James Gray)


                     Esse filme é uma coisa linda demais, é basicamente uma pintura de tamanha que é a excelência de James Gray por trás da câmera. Onde o roteiro jamais surpreende, mas nem por isso é básico, vemos que o diretor sabe exatamente como contar a história usando as cenas certas para explicitar o necessário, esse resultado também se deve aos dois atores da foto que estão excelentes (Cotillard, aliás, hipnotiza fácil com o olhar), e toda a parte técnica que nunca é menos que excepcional. A fotografia é um deleite a parte, e a cena final é um take para nunca esquecer.

O Lobo de Wall Street (The Wolf of Wall Street, Martin Scorsese)


                     É de se duvidar que esse filme tenha, basicamente, três horas de duração, já que Scorsese mantém o nível de loucura e insanidade lá em cima durante todo o tempo do longa. 'Lobo' é o filme mais cômico do diretor em décadas, e é de se abismar que com seus 70 e poucos anos, Scorsese ainda consiga ter um vigor e visão para os temas que ele aborda em cena. O elenco está todo afiado, mas um dos maiores trunfos do filme é a atuação totalmente entregue de Leonardo DiCaprio a um personagem que vive no limite de tudo que faz. Afinal, alguém consegue esquecer a hilária cena de Jordan tentando entrar no seu carro depois de tomar algo um pouco pesado? Épico.

O Grande Hotel Budapeste (The Grand Budapest Hotel, Wes Anderson)


                        O último filme de Wes Anderson é apenas mais uma prova da destreza que esse homem tem em impregnar qualquer tipo de história sob seu olhar único, e consideravelmente pitoresco. É quase impossível não identificar uma obra de Anderson, seja pela montagem, pelo roteiro, pelos personagens ou pelas cores, tudo grita o nome do diretor e isso é fantástico. Em ''Budapeste'' o diretor cria um quase thriller que gera um ânimo no espectador em boa parte do filme, ele conta com a ajuda de um elenco extremamente pontual e um protagonista iluminado, fazia anos que Ralph Fiennes não entregava algo no nível do trabalho dele aqui. Como uma pedra rara e única, esse filme talvez não salte aos olhos de todos, mas quem conseguir enxergar suas qualidades, com certeza ficará encantado para sempre.

1º - Garota Exemplar (Gone Girl, David Fincher)


                      Me inclua no time que acha que Fincher não só é um dos melhores diretores atuais, mas como também nunca fez um filme inteiramente ruim. A diferença entre Garota Exemplar e qualquer um de seus outros filmes está na forma como ele demonstra estar em seu auge, num completo domínio não só do oficio que tem, mas do que ele busca falar para o espectador. Se o livro que o filme se baseia é muito mais sobre os enlaces do casamento, o filme trata de transformar isso num thriller eletrizante que, basicamente, não tem erros. Aliás, o filme tem um acerto, e que acerto: Rosamund Pike, a atriz que era quase desconhecida e vivia de papéis secundários criou a personagem mais icônica do ano numa atuação de deixar a boca aberta, sua Amy Dunne é perfeita em tudo que tange construção e nuances, e em momento algum Pike está menos que (me perdoe o trocadilho) exemplar em cena, um verdadeiro ''tour-de-force'', como diram os franceses. Ah, e ''A'' cena do ano está nesse filme, envolve sangue, muito sangue


                        Espero que tenham gostado da lista e vejam os que ainda não viram, e até 2016 com o melhor que esse ano tem a oferecer na telona.