quarta-feira, 15 de dezembro de 2021

Melhor Atriz 1944 - CasaBergman



O fato mais importante a se dizer aqui é que Ingrid Bergman estava tendo uma carreira meteórica em seu país de origem, Suécia, quando David O. Selznick decidiu produzir um remake de Intermezzo com ela nos EUA. O filme introduziu a atriz para o público americano, e embora o sucesso ou não do filme e de mais outras duas ou três produções com Bergman seja questionável, o fato é que ela deixou uma boa impressão. Em 1943, quatro anos após o seu debut, Bergman viria a lançar dois filmes: ''Casablanca'' e ''Por Quem os Sinos Dobram''. Essa obras firmariam o talento e o star power da atriz em Hollywood. Sendo grande sucesso de bilheteria e na crítica, a indicação de Bergman por ''Casablanca'' era uma certeza, e a vitória era quase.

O que ninguém esperava é que não somente a atriz acabasse indicada por ''Sinos'' (mesmo que também muito aclamada pelo filme), como que ela perdesse a estatueta para as mãos de Jennifer Jones, mesmo com ''Casablanca'' levando ''Melhor Filme''. A sensação de que uma estrela em ascensão tinha sido roubada surgiu ali. Dois meses depois, Bergman lança ''Gaslight'' e sua atuação não só chama atenção do público, mas a crítica a considera totalmente diferente do que a atriz vinha oferecendo até ai. Outras candidatas surgiram, mas nenhuma delas conseguiu bater de frente com Bergman no quesito poder de performance, e até mesmo de superar a sensação de que a atriz já devia ter uma vitória.

Nem mesmo Barbara Stanwyck, em Pacto de Sangue, um filme noir tão popular na época que conseguiu quebrar todas as barreiras de gênero existentes e ser indicado nas principais categorias da noite. Porém, como vimos antes e depois, a Academia possuía um grande preconceito com filmes desse tipo e a indicação acabou sendo a vitória para Stanwyck. Esse mesmo problema evitou a indicação de Gene Tierney por ''Laura'', indicado a Melhor Direção. Outro filme indicado a Melhor Direção foi ''Lifeboat'', mas o aspecto ''mosaico'' do filme impediu que Tallulah Bankhead, que não atuava por mais de uma década, fosse privada de uma indicação que para muitos era certa.

No entanto, foi a esnobada de Judy Garland em Meet Me in St. Louis, e do filme como um todo, que causou o maior furor na categoria. Não só Garland era uma das maiores estrelas de Hollywood, mas o filme foi um arrasa quarteirão de bilheteria, e a atuação de Judy foi considerada um momento de virada da fase infantil para a adulta. A Academia acabou preferindo indicar Bette Davis (''Mr. Skeffington'') e Greer Garson (''Mrs. Parkington'') em veículos cansados, além de Claudette Colbert em ''Since You Went Away'', mas ao menos esse se revelou um forte candidato na corrida como um todo.

No fim, a vitória de Bergman não só foi previsível, como altamente comemorada. O consenso é que nos dias atuais, Stanwyck tem a grande performance da categoria, e uma das maiores do cinema, mas a gente sabe que o Oscar sempre foi meio caranguejo nesse aspecto, sempre andando para trás.

Abaixo, meu ranking dentre as indicadas:


5º Lugar: Bette Davis, Mr. Skeffington (''Vaidosa'')

Davis sempre foi boa atriz, mas esse filme aqui é pra quem diz que um ator se sobrepõe a tudo: a resposta é não. Presa em um fiado de roteiro e sem muito a fazer com uma personagem tão rasa, a atriz sucumbe a escolhas óbvias e que sabemos que ela faz dormindo.

Não é por si só uma performance ruim, mas possuí momentos ruins e, no geral, acaba sendo imemorável. Para não falar que é só coisa negativa, a reta final do filme, mesmo com Davis cheia de maquiagem, acaba trazendo os poucos bons momentos da performance como um todo.


4º Lugar: Claudette Colbert, Since You Went Away (''Desde Que Partiste'')

Embora tenha crescido em mim de forma considerável desde que assisti, essa atuação da sempre ótima Colbert acaba morrendo nesse aspecto de estar sempre bem, mas nunca ir além. Aliás, a cena da foto em questão eleva a atriz para além da mediocridade, mas nada digno de nota o suficiente para estar indicada entre as 5 grandes atuações do ano.

E para completar, a atriz precisa dividir a cena com Jennifer Jones, com um papel melhor, e que resulta em uma atuação também superior a de Colbert.


3º Lugar: Greer Garson, Mrs. Parkington (''Mrs. Parkington, A Mulher Inspiração)

Talvez a minha maior surpresa da categoria, visto que acho Garson uma atriz pouco inspirada e essa mania de só fazer mulher guerreira é de tirar a paciência de qualquer um.

Porém, o melhor do filme e a atuação acaba sendo essa espécie de montanha-russa de emoções que Susie passa durante toda a película. Ela vive diversos estágios da vida, e sabe explorar uma verdade e, até, pureza em cada um desses sentimentos. Não é uma atuação superlativa, mas é muito bonita, competente e com lampejos acima da média, o que é mais do que posso falar de Davis e Colbert.


2º Lugar: Ingrid Bergman, Gaslight (''À Meia Luz'')

Falem o que quiser de Bergman não ter merecido essa estatueta pela concorrência estabelecida por Stanwyck, mas não é possível negar que a ambientação do diretor George Cukor agregado a uma personagem muito bem delineada acaba abrindo espaço para que a atriz deite e role num papel, genuinamente, poderoso.

Nada paga ver a total espiral que começa a se criar no rosto de Bergman a medida que ela vai enlouquecendo. É um tipo de atuação que caracteriza muito o cinema daquela época, evocativo dos palcos e com muita grandeza sem nunca ter medo de ser grande. É totalmente calcada no melodrama, e acaba sendo um sucesso por fazer isso com maestria. As cenas finais do filme são um vislumbre fortíssimo do que acabamos de viver, o rosto de Ingrid está quase cansado de tanto sofrer, mas é sempre cativante o suficiente para nos manter com ela até o final.


1º Lugar: Barbara Stanwyck, Double Indemnity (''Pacto de Sangue'')

Como poderia ser outra? Testemunhar Stanwyck como Phyllis Dietrichson é como estar sentindo a magia do cinema pela primeira vez. Porque é isso que ela é, Barbara aqui é uma parte do cinema, é muita coisa dentro de uma só. É uma performance seminal, que viria para criar um arquétipo utilizado até hoje.

Percebam, mesmo sem estar no filme por todo o frame, é como se Stanwyck nunca saísse de tela, não só pela personagem se perpetuar em todas as ações, mas é como se ela entendesse tudo que Wilder estava propondo em cena. É hipnotizante e muito inteligente, especialmente se você levar em consideração que o filme tem quase 80 anos. A forma dissimulada com que Stanwyck já brincava em ''Baby Face'', mas aqui faz um estrago é um dos motivos pelo qual atuar é, acima de tudo, saber brincar. E nessa brincadeira, poucas pessoas se divertem tanto quanto Stanwyck.

MAS,
E se eu pudesse indicar alguém?


Judy Garland, Meet Me in St. Louis (''Agora Seremos Felizes'')

Sem dúvidas, é a grande atuação de 44 esnobada pelo Oscar. Não só é atemporal em sua construção do coming of age da personagem estabelecida ali, mas porque existe algo de muito palpável na forma como Garland vai percebendo seu mundo mudar, de forma exteriorizada ou não, e que ela precisa agir sobre isso.

E uma performance que tem não um, nem dois, mas três números musicais do impacto de Garland aqui, já fala por si só o nível que carregar. ''Have Yourself a Merry Little Christmas'' é absurda, e um testemunho cabal da força de Garland através do seu dom musical. Ah, o filme é um clássico.


Tallulah Bankhead, Lifeboat (''Um Barco e Nove Destinos'')

Na linha de filmes melhores e com atuações mais inspiradas do que as indicadas, ''Lifeboat'' e Bankhead entram com folga. De cara, você acha que o filme irá focar somente na personagem de Tallulah, mas ele claramente se torna um mosaico cinematográfico, onde cada personagem tem seu destaque.

Isso seria um demérito para qualquer outra atriz desinteressante, mas não é o caso de Bankhead. Eu até admito que sua Connie Porter é algo que eu, pessoalmente, gosto muito em cena, mas as tiradas, a língua de chicote e a presença cênica da atriz é algo que não se pode atacar. Mesmo quando ela não é o centro das atenções, você acaba buscando ver como ela reage ao todo. E até pela diferença com que Tallulah aborda o papel, sem qualquer julgamento, essa performance já é acima da média por si só.