quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

Melhor Atriz #6 - 2008


A corrida de 2008 foi uma das mais bizarras que acompanhei. Tudo porque era certo que Kate Winslet iria vencer um Oscar por ''O Leitor''... só que em coadjuvante! Porém, a força do filme no BAFTA e Oscar acabou fazendo com que a britânica levasse o prêmio principal, mesmo tendo ganho o Critics Choice, Globo de Ouro e o SAG na categoria de coadjuvante. Houve uma campanha fortíssima dos Weinsteins para o filme de Daldry, quem acompanhou aquela corrida deve lembrar da fatídica capa da TIME com Winslet na capa escrito ''Best Actress'', ali a gente sabia o quanto todos os envolvidos queriam aquele prêmio, que no final foi obtido.

Sem Winslet na corrida, o Oscar daquele ano teria ido ou para Meryl Streep em ''Dúvida'', já vivendo seu momento ''overdue pelo terceiro Oscar'' e vitoriosa no SAG ou Anne Hathaway na performance que eleveu seu status de ''queridinha'' para ''atriz séria'' em ''O Casamento de Rachel''. Creio que a vitória de Streep seria mais provável, e seria um erro. Angelina Jolie foi a ''filler nominee'' do ano pelo drama novelístico de Clint Eastwood, ''A Troca'', após a esnobada um ano antes, sua indicação era certa. A última vaga acabou indo para a então, basicamente desconhecida, Melissa Leo no pequeno grande filme que é ''Rio Congelado''. Leo é aquele tipo de performance em filmes que ninguém assiste, mas é tão bom que a Academia surpreendentemente abraça. 

Entre as esnobadas do ano, as duas mais sentidas foram Sally Hawkins em ''Simplesmente Feliz'' e Kristin Scott Thomas em ''Há Tanto Tempo que te Amo''. A primeira foi a grande queridinha da crítica do ano, vencendo a trifecta da mesma (Los Angeles, New York e o National Society) e o Globo de Ouro de Atriz em Comédia/Musical, já a segunda ensaiou uma segunda indicação após indicações ao Globo de Ouro e BAFTA. Para a nossa tristeza, ambas foram deixadas de lado. Abaixo, meu ranking pessoal:


5º Lugar: Angelina Jolie, Changeling (A Troca)

Não vou mentir que adoro os trabalhos iniciais de Angelina Jolie, mas aqui não dá. Ela sempre foi meio expert em fazer personagens exagerados, problemáticos, quase ''borderline'', para não chamar de loucos. Depois de uns anos, as escolhas da atriz por projetos mais ''comuns'' levaram a mesma a se tornar uma refém de seu próprio passado, e no drama de Eastwood a situação é grave. Num filme claramente melodramático, poucas são as cenas que Jolie sabe dosar o ''over the top'' requerido e acaba descambando para o puro histrionismo. Para isso, basta ver a sua primeira cena brigando com o novo filho, é ''overacting'' gratuito sem muito sentido. Ela até acerta em alguns pontos, mas em outros é um completo desastre. Uma pena, poderia ter sido bem melhor.



4º Lugar: Meryl Streep, Doubt (Dúvida)

Eu não gosto de Streep em ''Dúvida'', mas já gostei. É uma performance que foi divisiva desde o primeiro screening do filme, e continua até hoje, uns amam, outros odeiam, difícil é ser indiferente a ela. Eu tenho uma paixão enorme pelo texto/peça de John Patrick Shanley, e acho que Streep erra em uma simples situação: ela jamais encontra o lado ''carismático'' de sua personagem, ela sempre está com ares e trejeitos de uma grande vilã, mas daquelas que irrita, mas não anima. E esse é o grande trunfo da Irmã Aloysius em sua raiz, você precisa gostar dela, quase torcer pela personagem para que tudo seja revertido naquela cena final. Que na construção de Streep não tem poder algum, é quase irrisório, um real tiro no escuro que voltou contra ela.



3º Lugar: Anne Hathaway, Rachel Getting Married (O Casamento de Rachel)

Ainda acho ''O Casamento de Rachel'' um dos filmes mais subestimados daquela corrida, é o último grande filme do Demme, e para isso ele conta com uma performance de Anne Hathaway que é, basicamente, uma grande revelação. A atriz faz uma mulher que retorna a sua casa depois de um período terrível em sua vida, e precisamos enxergar em Kym uma pessoa, acima de tudo, problemática. Hathaway consegue passar esse ar perturbador de uma forma muito crível, não se permitindo utilizar de muletas óbvias, criando uma personagem frágil, mas não tão fraca assim. Em um elenco estupendo, acho Anne capaz de segurar a onda com todos, inclusive com a incrível Debra Winger. É uma atuação marcante por ser capaz de descontruir uma persona ao longo do filme, culminando em um final bastante forte.


2º Lugar: Melissa Leo, Frozen River (Rio Congelado)


Melissa Leo em ''Rio Congelado'' é um dos motivos pelo qual eu amo esse cinema indie/independente. É como se Leo fosse capaz de criar sua personagem ''do nada'', é original porque soa comum, é muito fácil de relacionar a Ray dela com tantas pessoas do nosso cotidiano. Ela é uma americana média muito prejudicada por tudo e que tenta da forma mais absurda conseguir dar uma ''casa'' pros filhos. Nisso, temos uma atriz tão empenhada em transparecer essa naturalidade que por alguns momentos nem sentimos que Melissa está atuando, ela está somente sendo. E a capacidade que um ator precisa ter para nos fazer esquecer a ficção e acreditar totalmente no que vemos em tela é absurda, e Melissa Leo aqui tem de sobra.



1º Lugar: Kate Winslet, The Reader (O Leitor)

Kate Winslet é uma das grandes atrizes de sua geração, seu Oscar foi um dos mais demorados (só chegou na sexta! indicação), mas é uma vitória quase inatacável. Sabe porque ''quase''? Porque seu filme, de Stephen Daldry, é completamente esquecível e superficial em quase tudo que tenta abordar. Porém, a personagem Hanna Schmitz é ferozmente defendida pela atriz e não existe uma cena que ela não esteja menos que excelente. Hanna é, acima de tudo, uma personagem orgulhosa e retraída, e nisso Winslet consegue construir uma pompa de ''poder'', mas que é visível perceber onde está a fraqueza dessa mulher. Com ou sem uma maquiagem duvidosa, Winslet consegue criar uma Hanna palpável e elevar a superficialidade da mesma acima de qualquer dúvida. Nós torcemos por Hanna, para que ela consiga sair de sua ''zona de conforto'' e enfrentar o mundo até o último minuto. E isso, é responsabilidade total da empatia e honestidade com que a britânica construiu para a personagem. Ah, aquela cena no tribunal ao tentar se explicar é tão incrível que não consigo mensurar em palavras. Brava.

M
A
S
e se eu pudesse indicar alguém nesse ano, quem seria?


Sally Hawkins, Happy-Go-Lucky (Simplesmente Feliz)

Sally Hawkins está em um filme de Mike Leigh, e como disse anteriormente, ela não estaria menos que excelente em cena, mas aqui ela entrega a performance do ano. Porém, Poppy é uma criação fora da casinha do diretor britânico, e ele encontra em Hawkins um dos poucos ''matchs'' para criar alguém tão absurdamente otimista sem ser, necessariamente, chata ou intangível. Na primeira cena do filme, o comportamento de Poppy com o cara da livraria poderia, facilmente, ser insuportável nas mãos de uma atriz menos inteligente, mas Hawkins consegue estar sempre no último nível de positividade, mas ainda soar realista. Ela nunca é uma caricatura, mas sempre uma excêntrica. Para isso temos toda a dinamicidade da mesma cuidando de seus alunos na escola, por exemplo. E como se isso não fosse suficiente, é preciso só uma palavra de seu instrutor de direção no fim do filme para que ela consiga entender tudo que ele passou e mudar seu comportamento dali em diante, é coisa de micro expressão facial. É incrível, é atuação de mestre.




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