sábado, 3 de março de 2018

Melhor Atriz #7 - 2017


Vocês lembram quando a corrida de atriz desse ano consistia em Jennifer Lawrence na nova versão de ''Quem tem Medo de Virginia Woolf?'' que acabou sendo ''Mãe!'', em Annette Bening quase certa fazendo uma vencedora do Oscar em ''Film Stars Don't Die in Liverpool'' e Kate Winslet podendo vencer um novo Oscar no drama de Woody Allen, ''Roda Gigante''? Sim, eu também lembro e consigo rir disso. No fim das contas, as indicadas foram uma jovem fazendo um ''coming of age'', uma muda em um filme de fantasia, uma patinadora no gelo em uma comédia, uma mãe buscando justiça pela filha morta, e Meryl Streep.

Frances McDormand ganhou todos os prêmios prévios e deve se sagrar campeã nesse domingo, será seu segundo Oscar e poucos previam que a atriz fosse entrar nesse clube de atores, mas é o que deve acontecer. Caso, por um pane na matriz, ela venha a ser derrotada, seria de Sally Hawkins a vitória. A britânica está em sua segunda indicação, no maior filme da noite e foi a queridinha da crítica. Saoirse Ronan será, provavelmente, o terceiro lugar da corrida. A jovem tem apenas 23 anos, mas essa já é sua terceira indicação. Margot Robbie se viu, injustamente, ofuscada por Allison Janney nos prêmios televisados e mesmo sendo a que tem mais o perfil atual da categoria, deve ser o quarto lugar desse ano. Meryl Streep vem selando a categoria em último lugar, mas dessa vez a indicação foi merecida.

Entre as que ficaram pelo caminho estão a já citada Bening, Judi Dench em ''Victoria e Abdul'', e Jessica Chastain em ''Molly's Game''. E, independente disso, é bom deixar claro o quão incrível essa seleção acabou sendo, a melhor da década, sem dúvidas. Abaixo, meu ranking:


5º Lugar: Meryl Streep, The Post (idem)

Essa é a vigésima primeira indicação da lenda Meryl Streep. Porém, o que Streep faz em ''The Post'' acabou se tornando uma unanimidade. Quando Meryl é boa, ela realmente é excelente e isso fica bem explícito no último filme de Steven Spielberg. A atriz precisa construir uma mulher forte, mas dividida, e que se vê em um ambiente que, claramente, a repele. Streep foge de qualquer histrionismo fácil, calcando sua atuação em algo bastante sútil mesmo quando ela poderia cair pra algo exagerado. É uma atuação que tem a cadência adequada e demonstra, mais do que qualquer coisa, a inteligência de alguém tão experiente no que fez. Em uma das cenas, que talvez seja a minha favorita dentre as indicadas em atriz, todo o trabalho de expressão facial de Streep dialoga e transparece todos os dilemas que aquela personagem carrega até ali. Sim, estou falando da estupenda cena da decisão pelo telefone, um literal arraso.


4º Lugar: Margot Robbie, I, Tonya (Eu, Tonya)

A performance de Margot Robbie em ''Eu, Tonya'' é a grande revelação da temporada para mim. A atriz está nos olhos do público desde que estourou em ''O Lobo de Wall Street'', mas até então eu via mais carisma do que qualquer coisa. O que Robbie apresenta nessa dramédia, no entanto, foi algo que eu jamais poderia prever.

Mesmo que o filme nos force goela baixo aqueles momentos de Robbie adolescente, a atriz nunca perde o pique e parece entender, e defender, a personagem muito bem desde o começo. Margot captura a atmosfera do longa e cria uma Tonya Harding suficiente gostável, mas ainda perceptivelmente danificada. Ela abraça as inúmeras tragédias pessoais da personagem o suficiente para que nós, meros espectadores, possamos criar um laço com alguém tão destruído pela vida. E aquele carisma que ela sempre exalou é a cereja no bolo para que Harding transpareça ser tão a atleta tão fora do comum que o filme, de forma tão latente, faz parecer.


3º Lugar: Frances McDormand, Three Billboards Outside Ebbing, Missouri (Três Anúncios para um Crime)

Frances McDormand é uma daquelas atrizes que se tornou especialista em um tipo de personagem, e só ela consegue desenvolver as raízes desses ''tipos'' de forma tão convicente e natural. Em Mildred, a atriz encontra mais uma dessas peças tão perfeitamente feitas para ela que é impossível imaginar outra atriz concebendo metade da inventidade que McDormand cria para a personagem.

A tarefa de Frances não é fácil, a personagem demanda raiva, dor, risos e drama, é um poço de emoções em um roteiro que flerta com muita coisa. Acima disso, Mildred não é simpática, ela é bem chata, mas a atriz sabe tão bem que caminho seguir, que muito duvido que alguém tenha coragem de não torcer por Mildred. A cada nova cena, cada camada que o roteiro revela, mais interessante a personagem se mostra, e McDormand está sempre ali, no auge, sentindo quem Mildred é, e nos fazendo entender ela cada vez mais.


2º Lugar: Saoirse Ronan, Lady Bird (idem)

Pensei muito em quem deveria ser o segundo lugar dessa corrida, mas existe um motivo bem forte para deixar essa irlandesa aqui: Ronan consegue dar vida - e singularidade - para uma personagem que poderia ser apenas mais uma dentre as tantas presentes nas histórias de adolescentes lançadas anualmente.

A arte de conseguir ser ''over'' na medida certa é uma dádiva, mas mais incrível ainda é pode ser um poço de naturalidade em cena, e é assim que vejo o trabalho de Saoirse no filme. É claro que o roteiro, um primor, ajuda no desenvolvimento e background da personagem, mas é latente o quão dentro do personagem ela está. E o que é mais incrível: Ronan fez outro ''coming of age'' poucos anos antes e é como se fosse alguém totalmente diferente. Ela habita a personagem com uma tenacidade absurda, entendendo todos aqueles ''locais'' que um adolescente inconformado tem. Ronan faz isso tão bem que é como se Lady Bird fosse muito mais que uma personagem que amamos, mas sim uma amiga que tivemos.


1º Lugar: Sally Hawkins, The Shape of Water (A Forma da Água)

Vou admitir que tenho uma queda por atores fazendo personagens que não falam, visto que é um trabalho muito árduo para ser desenvolto em cena. No filme de Del Toro, Sally Hawkins está brilhante como Elisa, e mesmo amando toda a categoria, fica impossível não colocá-la em primeiro lugar.

É absurdo pedir para um ator exprimir tudo que um personagem é, sente e passa através de linguagem corporal e expressões faciais, mas Hawkins faz isso parecer tão fácil. Não demora mais que cinco minutos de projeção para que a docura e sinceridade da personagem seja totalmente compreendida por Hawkins e impressa em nós. Conseguimos entender seu lugar ali, suas angústias, medos e desejos. Tudo isso a partir de um pé colocado para trás ou uma pequena mudança em seu rosto. É um trabalho difícil que deram pra Hawkins, mas ela o faz com total afinco e transparece ser algo até inerente da própria atriz, é esse o nível de Sally em compreender quem Elisa é.

Ah, por favor, não esqueçam da sua discussão com o vizinho, é de cortar o coração, e lembrando: sem falar uma palavra sequer. Gênia!

M
A
S

e se eu pudesse indicar alguém esse ano?


Vicky Krieps, Phantom Thread (Trama Fantasma)

Paul Thomas Anderson deve ser o grande diretor de atores da atualidade, e achou na novata Vicky Krieps uma verdadeira atriz com A maiúsculo. Na primeira cena do filme vemos uma pessoa de semblante ingênuo, com ares de ter muita vergonha. Isso estabelece uma persona muito introvertida logo de cara, certo?

Porém, a medida que a trama avança, podemos ver o desabrochar completo da personagem e a forma como Krieps acompanha isso de forma divina. Um exemplo disso são os jantares de Alma, veja o primeiro: a forma como ela está inquieta, relutante, ela chega a tremer. Porém, no jantar com o omelete de cogumelo (você sabe qual a cena!) é como se fosse outra pessoa. Aliás, é como se Alma tivesse realmente entendido seu papel ali e quem ela é por completo. Agora, ela fala com Reynolds de forma segura e firme, estabelecendo a mulher que se tornou. Tudo isso, claro, devido a grande e muito bem realizada performance de Krieps.


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