sábado, 17 de fevereiro de 2018

''Melhor Atriz'' #4 - 1996


A corrida de 1996 foi marcada pela briga entre duas atrizes: Frances McDormand e Brenda Blethyn. Os dois filmes das respectivas atrizes aconteceram fortes no Oscar, figurando nas principais categorias da noite. McDormand e Blethyn dividiram poderosos prêmios da crítica, Frances venceu o SAG, mas Brenda ganhou o Globo de Ouro (que preferiu premiar Madonna à McDormand, sim!), e viria a ganhar um BAFTA que pré-2000 não era tão importante.

Quem iria sair vencedora na grande noite? A musa do Coen ou a de Leigh? Até a abertura do envelope muitos se dividiram, mas acabou dando mesmo Frances McDormand. Interessante notar que esse deve ter sido o único ano que os vencedores de Melhor Ator e Atriz não aparecem em seus filmes desde o começo, visto que demora quase meia hora para Marge aparecer em ''Fargo''. As demais indicadas incluem uma fraudulenta Kristin Scott Thomas, uma decente Diane Keaton e a soberba e queridinha da crítica Emily Watson.

Dentre as esnobadas destacam-se uma surpreendente Courtney Love em ''O Povo Contra Larry Flynt'', que foi deixada de lado por fazer campanha como protagonista sendo que como coadjuvante poderia até ter vencido o Oscar, uma das pouquíssima esnobadas de Meryl Streep em ''As Filhas de Marvin'' e também Debbie Reynolds, que eu não assisti, como uma mãe bem louca em ''Mãe é Mãe''. As más línguas falariam que Madonna foi esnobada em ''Evita'', mas Patti LuPone e os fãs da Broadway chamariam de ''justiça divina''. Abaixo, meu ranking pessoal do ano:


5º Lugar: Kristin Scott Thomas, The English Patient (O Paciente Inglês)

Um dos casos mais abertos de ''category fraud'', Scott Thomas já falou o quão inconformada ela ficou de ser obrigada por Harvey Weinstein a ir de protagonista nas premiações televisivas porque ''Juliette Binoche, que é o coração do filme, só vencerá se você não dividir votos com ela''. Ela não é protagonista, o filme é um sonífero bem enfeitado e mesmo que sua atuação não ofenda, a mesma também não marca. É uma vaga desperdiçada que explicita bem o jogo de cadeiras que você precisa participar para entrar numa premiação como o Oscar.



4º Lugar: Diane Keaton, Marvin's Room (As Filhas de Marvin)

Eu posso contar na palma da mão quantas vezes a Academia disse ''não'' para Meryl Streep, em duas delas eles não só esnobaram a mesma, mas indicaram uma colega de elenco, como é o caso de Diane Keaton em ''Marvin's Room''. O filme é baseado numa peça, e é o tipo de longa que não irrita, mas também não anima muito. Gosto muito da química das irmãs feitas por Streep e Keaton, e realmente a última está melhor. É uma atuação decente, bem empenhada e que foge ''um pouco'' do que normalmente associamos a Keaton, mas é merecida? Acho que não. Eu reclamo? Tão pouco.



3º Lugar: Brenda Blethyn, Secrets and Lies (Segredos e Mentiras)

É muito raro um filme de Mike Leigh ser menos que ótimo, menos ainda são seus protagonistas estarem menos que excelentes, em ''Segredos e Mentiras'' a coisa não é diferente. Blethyn está estupenda em cena, é uma personagem extremamente humana que encontra em Brenda uma atriz capaz de extrair cada sentimento necessário para que possamos entender tudo que Cynthia precisa lidar com a chegada de uma filha que ela não esperava. Em uma das cenas mais incríveis do longa, a da cafeteria, não sobra pedra sobre pedra, Blethyn dá tudo de si e o espectador recebe uma senhora aula de atuação.


2º Lugar: Frances McDormand, Fargo (idem)


Em uma das performances mais diferentes do usual, não só da década, mas da categoria em si, é maravilhoso poder assistir toda  tragicomicidade que Frances McDormand traz e consegue fazer acontecer com seu papel em ''Fargo''. O longa tem 90 minutos, demora 30 deles para Marge aparecer, mas mesmo assim ela consegue absorver completamente a atmosfera do mesmo e acaba sendo o ponto focal do espectador na trama. E nisso, McDormand se mostra uma exímia atriz ao compreender cada estranheza da personagem e do mundo ao qual a mesma está inserida, instigando sempre uma nova faceta de uma mulher tão, aparentemente, ''ordinária''. E todas as cenas entre ela e William H. Macy, eu disse todas, são excepcionais.

   

1º Lugar: Emily Watson, Breaking the Waves (Ondas do Destino)

Para aqueles que não sabem, o papel de Bess pertencia a Helena Bonham Carter, que recusou o mesmo após ler o roteiro e achar tudo muito ''ousado'', e ela está certíssima na ousadia de Trier, mas erradíssima ao não querer se arriscar enquanto atriz. Porém, para o bem do cinema, a primeira das protagonistas que ''comeram o pão que o diabo amassou'' do dinamarquês acabou sendo a estupenda Emily Watson.

De todas as protagonistas do diretor, Bess é a mais pura, e por isso, a que mais sofremos acompanhando toda a trajetória. É um tipo de atuação que surge de vez em quando, talvez seja a melhor dos anos 90 para mim, mas é algo surreal. Não só pela extrema naturalidade em cena, mas porque Watson nos faz acreditar fielmente na bondade, ingenuidade e pureza da personagem mesmo em seus momentos mais deploráveis. É angustiante saber que Bess é incapaz de ver o mal que ela faz pra si mesma, mas você torce (por causa da presença de Watson em cena) até o último momento para que ela consiga acordar de seus sonhos, de suas preces, de sua própria mente. Isso porque eu nem citei que esse é o debut de Watson no cinema, simplesmente sublime. 

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