quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

Melhor Atriz #5 - 1988



O ano de 88 foi marcado pela primeira das duas vitórias de Jodie Foster, a primeira mulher indicada enquanto criança e também adulta (recorde que a mesma divide hoje com Saoirse Ronan) em um filme que envolvia uma temática (estupro) tão polêmica que para muitos foi o fator primordial para a vitória da mesma, visto que esse foi um dos primeiros filmes a mostrar o assunto de forma tão gráfica.

Esse também foi o ano que indicaram Glenn Close por ''Ligações Perigosas'', uma das performances mais elogiadas e influentes do cinema americano, muitos se perguntam o porque da derrota de Close e alguns afirmam que ela foi o segundo lugar daquela corrida, mas o que a maioria não sabe é que a co-favorita do ano era Melanie Griffith no sucesso de bilheteria ''Uma Secretária do Futuro''. Embora tenha participado do histórico/único empate triplo do Globo de Ouro, Sigourney Weaver figurou naquele ano por todos acharem que ela venceria em coadj. pela sua performance em ''Secretária do Futuro''. Fechando a categoria estava Meryl Streep que desde aquela época já provava o quão amada era ao entrar por um filme que ninguém viu, e que até hoje é sua menor bilheteria dentre suas indicações.

Shirley MacLaine em ''Madame Sousatzka'' foi a esnobada do ano, vitoriosa em Veneza e também ganhadora do empate triplo no Globo de Ouro, essa foi a primeira atuação louvada de MacLaine após a sua tão esperada vitória, mas ao que parece os votantes já tinham seguido em frente e preferiram não indicá-la. Abaixo, meu ranking pessoal do ano:


5º Lugar: Jodie Foster, The Accused (Os Acusados)

A prova viva de que um bom ator não salva um filme está presente em ''Os Acusados''. Jodie Foster dá tudo de si por um filme que é datado, didático e segue todos os clichês de um drama de tribunal. Reconheço que as cenas explícitas são fortes e corajosas para a época, mas tudo que se segue nos aspectos de montagem e roteiro ligados ao tribunal é uma roda-gigante do mais do mesmo, quase que sem vida.

Um dos principais problemas é que Kelly McGillis é quase inócua em cena e seus vários monólogos em nada afetam o espectador. E por mais que Foster possua momentos de brilhantismo quando colocada para depor, nada do que ela faça consegue salvar o filme, e deixar de afetar sua performance, do marasmo que ele é.



4º Lugar: Sigourney Weaver, Gorillas in the Mist (Nas Montanhas dos Gorilas)

O filme de Weaver não é lá uma grande obra, mas assim como outras indicadas nos demais anos por projetos de pessoas reais, a vida e quem foi Dian Fossey é tão incrível que fica fácil esquecer trivialidades de roteiro ou escolhas de direção básicas.

Fossey foi uma mulher que se dedicou ao estudo dos gorilas, e assim se tornou referência mundial no assunto. Weaver consegue transpor toda essa jornada no apreço pelo qual ela gradativamente desenvolve pelos primatas, e também pela forma tão materna que a mesma transparece em cena a medida que a trama avança. Em um momento final, a atuação de Weaver sofre um grande arroubo dramático que é de partir o coração.

Pelos olhos de Weaver e pela história de Fossey, nós conseguimos ver todo aquele mundo de forma diferente. E existe coisa mais linda do que isso no poder de atuação? Claro que não.



3º Lugar: Melanie Griffith, Working Girl (Uma Secretária do Futuro)

''Secretária do Futuro'' é uma das grandes comédias românticas do cinema, e um dos motivos para que o filme funcione tão bem é a presença de Melanie Griffith no mesmo. Griffith é filha de Tippi Hedren (Os Passáros) e já tinha chamado atenção da crítica em ''Dublê de Corpo'' do De Palma, mas somente no filme de Mike Nichols ela foi capaz de atrair todos os olhares com sua performance cativante como Tess McGill.

Muito se fala em talento em tela, mas ''star quality'' é essencial quando você trabalha com câmeras, aquela famosa presença de cena que Marilyn Monroe instituiu em Hollywood décadas antes, sabe? E isso é muito o reflexo de Griffith aqui. Que ela é uma boa atriz capaz de condensar muito bem momentos de comédia e drama é fácil de perceber assistindo ao filme, mas existe algo em sua aura que chama muito atenção e fixa o olhar do público nela. É o tipo de performance que transforma uma qualquer em estrela, uma pena que a carreira de Melanie nunca tenha conseguido chegar aos céus, pois aqui ela brilha muito.



2º Lugar: Meryl Streep, A Cry in the Dark

Como tornar uma personagem claramente antipática em alguém que o público possa ter compaixão? Com certeza essa não foi a preocupação de Streep ao incorporar Lindy Chamberlain nesse drama australiano sobre um dos casos mais famosos de criança desaparecida da modernidade.

As poucas pessoas que viram o filme lembram da famosa frase ''a dingo's got my baby'', e é basicamente ai que cessa qualquer tipo de exposição exagerada de emoção por parte da personagem, e é ai que também reside a genialidade da atuação da atriz. Como eu disse anteriormente, a personagem tem zero carisma e transparece ser uma ''rainha do gelo'', mas qual o problema em ser assim? Será que porque você é uma mãe que perdeu o filho, é preciso estar sempre chorando em público e ter a mesma visão das pessoas? Streep entende muito bem a faceta de Lindy e sempre vai pelo econômico, pelo sútil na forma como ela representa essa perda tão trágica na vida dela. Interessante notar que quando não está na frente das câmeras, é possível ver a dor da mãe naquela situação.

Ah, a cena do tribunal onde Streep batalha sobre expor ou esconder suas emoções é de ficar sem palavras. É uma atuação pouco vista, mas absurdamente poderosa e inteligente, como são todas as grandes atuações da grande atriz americana viva.



1º Lugar: Glenn Close, Dangerous Liaisons (Ligações Perigosas)

Vamos aos fatos: Glenn Close em ''Ligações Perigosas'' é uma das grandes atuações da história do cinema mundial, quem concorda, respira. O papel da Marquesa Isabelle de Merteuil é um sonho para qualquer atriz, mas ele precisa ser cuidadosamente estudado porque uma pessoa menos inteligente pode acabar descambando para uma vilã de nota só digna de novela das oito do Walcyr Carrasco, para nossa sorte Glenn Close não é esse tipo de atriz.

Ela incorpora a personagem com tamanha perfeição que o caminho que a mesma percorre entre o cômico ao horripilante em um mesmo take é tão tênue, mas maravilhosamente assustador. Close usa dos melhores maneirismos e expressões faciais para ajudar em seus joguinhos de sedução e conspiração de tal forma que você, enquanto espectador, consegue torcer e odiar a personagem em um nível quase igual. E quando todas as cartas da performance parecem estar na mesma, Glenn Close entrega aquele take final que deixa qualquer um ensandecido. É uma atuação que, acima de tudo, inspira, é algo irretocável.

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