quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018

''Melhor Atriz'' #2 - 2001


A corrida de 2001 foi histórica pelo motivo da foto acima: até hoje, infelizmente, Halle Berry é a única vencedora negra da categoria principal do Oscar. Porém, engana-se quem pensa que essa vitória foi uma barbada, visto que, no começo da corrida, o segundo Oscar de Sissy Spacek era tido como certo.

Spacek abalou nas primeiras reações de ''Entre Quatro Paredes'': o filme vinha em uma forte crescente, era o comeback da atriz (sua última indicação havia sido 15 anos antes) e ela se tornou a queridinha da crítica, chegando a vencer o Critics Choice e o Globo de Ouro na categoria de drama. Todavia, a escolha de Sidney Poitier como honorário do Oscar mudou a visão da grande noite do cinema e em Berlim, quando Berry venceu Melhor Atriz, vimos uma potencial virada de jogo. Tudo se fechou belamente, quando no sindicato de atores, tivemos mais uma vitória de nossa Tempestade. Na noite do Oscar, ainda, havia mais gente prevendo uma possível vitória de Nicole Kidman por Moulin Rouge! (devido à subida abismal do filme e da atriz), do que da própria Spacek. E pensar que a loira australiana foi quase esnobada graças a uma divisão de votos entre seus trabalhos em ''Os Outros'' e o musical de Luhrmann. Renée Zellweger e Judi Dench acabaram, merecidamente, figurando na categoria. Dench ainda venceu o BAFTA (batendo Spacek e matando suas chances), que não fez diferença alguma na corridaa.

Das esnobadas do ano, a mais sentida com certeza foi Tilda Swinton no tenso e dramático ''The Deep End'', mas meu coração aperta quando lembro que a performance cômica lembrada do ano poderia ser de Reese Witherspoon em ''Legalmente Loira''. Abaixo, meu ranking pessoal dessa corrida tão épica:



5º Lugar: Judi Dench, Iris (idem)

Em mais uma das muitas indicações desnecessárias, e apadrinhadas por Weinstein, que a Academia deu à britânica, Judi Dench tem um filme tão rápido quanto esquecível e, assim como sua versão mais nova (interpretada por Kate Winslet), é ofuscada pela dupla masculina da obra. A personagem é uma das grandes escritoras modernas do Reino Unido, mas - em uma vibe ''Teoria de Tudo'' - seu trabalho é deixado de lado para focar em uma doença, nesse caso o Alzheimer, que acaba limitando a própria Dench em cena e faz com que Jim Broadbent (vencedor do Oscar pelo papel) acabe tomando conta de todo o filme. Para Dench, assim, pouco sobrou para se trabalhar além de umas caras de perdida e uma ou duas cenas perambulando solta na rua.


4º Lugar: Renée Zellweger, Bridget Jones's Diary (O Diário de Bridget Jones)

Essa foi a primeira das três indicações seguidas (todas também apadrinhadas por Harvey Weinstein) de Zellweger e, talvez, sua mais merecida. Renée é uma texana de mão cheia e deve ter sido lindo acompanhar uma performance tão fora dos moldes das premiações ser abraçada em todos os prêmios prévios e ter chegado até a noite do Oscar. Porém, não foi para menos: a atriz faz um sotaque britânico perfeito e cria uma personagem que é, no mínimo, cativante e que já nasceu icônica. Seu ''timing'' para os momentos cômicos é extremamente preciso e, quando precisa ser dramática, Zellweger o faz muito bem. Palmas para ela!


3º Lugar: Sissy Spacek, In the Bedroom (Entre Quatro Paredes)

Eu me lembro até hoje da cena do gif acima e, por isso, escolhi utilizá-lo. Isso, meus amores, era muito a síntese de atuação para mim à época. Hoje, consigo absorver os inúmeros momentos mais sutis e menos exagerados de Spacek em cena, assim como entender o porquê desses extremos empregados em um único papel: o que a mãe feita por ela passa no filme é intangível para qualquer pessoa e isso se reflete muito bem em cena. No entanto, hoje também  vejo que seu parceiro de cena, Tom Wilkinson, toma muito do filme para si na reta final e, por esse motivo, deixo a eterna Carrie em um honroso terceiro lugar.


2º Lugar: Halle Berry, Monster's Ball (A Última Ceia)

Berry é uma atriz que muito aprecio, mas que tem um dedo muito podre para escolher seus projetos. Felizmente, aqui seu talento se conecta com um excelente filme, criando uma atuação marcante e altamente verdadeira. Um dos grandes chamarizes para vencer a categoria de Melhor Atriz, mais do que qualquer outra, sempre foi o de fazer pessoas reais e, embora Leticia Musgrove não tenha existido, a atuação de Berry nos faz enxergar as tantas Leticias nesse mundo afora. A personagem tem o marido preso, namora um homem cujo pai é racista e tem uma situação impensável com o filho. Com tudo isso, vemos Halle Berry estar sempre ali, no limiar de um ''break down'', mas sem jamais se permitir a tanto, já que ela sabe e entende que o mundo não vai mudar por isso. E, se tudo isso não for suficiente para convencê-los da tamanha humanidade com que a atriz forma sua personagem, peço que relembrem a dilacerante cena em que Berry chora no hospital. É um daqueles momentos que vão além de técnica, que vem de dentro, da alma. Sublime, simples assim.


1º Lugar: Nicole Kidman, Moulin Rouge! (Moulin Rouge: Amor em Vermelho)

Como, após o texto acima, eu posso ter a coragem de achar alguém melhor do que Miss Berry? Olha, racionalmente eu nem sei dizer muito bem, mas existe algo de místico em minha paixão pelo trabalho de Nicole Kidman em ''Moulin Rouge!''. O filme, um clássico ame/odeie, me conquistou com menos de dez minutos de projeção e, para que isso ocorresse, seria necessário que alguém tão cativante quanto Kidman estivesse em cena, e ela está simplesmente um arraso. Cada um dos elementos que envolvem a personagem, bem como a maneira com que Kidman absorve todo aquele mundo e o devolve como se tivesse nascido ali é de extrema inteligência. Tudo isso faz com que um trabalho perceptivelmente difícil pareça uma tarefa fácil, dada a total compreensão de Satine que a australiana consegue demonstrar. Kidman chora, ri, canta e, acima de tudo, encanta não só a Christian ou a Harold, mas a todos nós.

M
A
S

E se eu pudesse indicar alguém no lugar de uma das indicadas, quem seria?


Naomi Watts, Cidade dos Sonhos (Mulholland Drive)

Em um dos maiores ''debuts'' aos olhos do cinema mundial, Watts simplesmente destruiu tudo em cena nessa Obra-Prima de David Lynch. Mesmo premiações que amaram o filme, como o Globo de Ouro, não indicaram a atriz em nada (gente tapada é complicado, né verdade?). Porém, pouco importa. É impossível terminar de assistir o filme e não ficar totalmente descompassado com o que a atriz faz em cena. Mesmo para os que não tenham gostado, ou não tenham entendido tanto o filme, o brilhantismo da performance de Watts é um consenso dada toda a jornada - que seria um potencial spoiler caso eu especificasse - pela qual Betty (Betty?) passa no filme. Eu poderia citar pelo menos três ou quatro cenas irretocáveis da atriz, mas só mesmo seu trabalho como um todo é capaz de mensurar o que Naomi faz em tela. Brava, Bravíssima!!


Um comentário:

  1. Emma Stone, maravilhosa, ganhou e Nicole, fabulosa em Moulin Rouge!, não! Épocas diferentes, eu sei, mas, seria um Oscar irretocável. Ainda que ame o da Halle. Elas ficam empatas, na verdade.

    ResponderExcluir