domingo, 15 de abril de 2018

Melhor Atriz 1981 - É recorde histórico que você quer @?


Até a corrida de 1981, Katharine Hepburn dividia o recorde de mais Oscars por atuação com Ingrid Bergman e Walter Brennan, cada um com três estatuetas. Até hoje somente mais três atores chegaram a esse clube: Jack Nicholson em 97, Meryl Streep em 2011 e Daniel Day-Lewis em 2012. Porém, Hepburn foi lá e quebrou um recorde até hoje jamais igualado: vencer por quatro vezes um Oscar de atuação, todas na categoria de protagonista, um feito ainda mais incrível.

As queridinhas da crítica, por assim dizer, foram deixadas de lado pela total falta de força de seus filmes. Glenda Jackson venceu o circuito de New York e o National Board of Review pela sua atuação em ''Stevie''. O filme teve uma vibe ''Isadora'', de 68, em seu lançamento: Foi passado em Los Angeles em 1978, o que gerou uma indicação ao Globo de Ouro, mas foi uma exibição tão curta que ninguém mais viu. Três anos depois, o filme foi lançado em New York e conseguiu ser abraçado pela crítica, mas sem um empurrãozinho dos Globos, Jackson se viu esnobada da line-up final. Quem também foi abraçada pela crítica americana foi a nossa incrível Marília Pêra em ''Pixote, A Lei do mais Fraco'', um drama de Hector Babenco que arrebatou na época, Pêra venceu Boston e o famoso National Society, mas o filme era muito ''underground'' e não conseguiu qualquer tração para os grandes prêmios.

Entre as atrizes mais famosas, Sissy Spacek em ''Raggedy Man'' também foi esnobada mesmo sendo a atual vencedora e tendo recebido uma indicação ao Globo de Ouro. Outra ganhadora recente, Sally Field, se viu ofuscada pelo seus colegas de cena, Paul Newman e Melinda Dillon, e acabou sendo a única do filme ''Absence of Malice'' a ficar de fora na manhã das indicações ao Oscar. No lugar das duas, o Oscar preferiu ir, pela última vez, com Marsha Mason em ''Only When I Laugh''.

Em uma manhã de indicações históricas, três filmes foram indicados ao famoso ''Big Five'', que são as categorias de Filme, Diretor, Ator, Atriz e Roteiro. As três atrizes eram a veterana Katharine Hepburn (''On Golden Pond''), a também recente vencedora Diane Keaton (''Reds'') e a novata Susan Sarandon (''Atlantic City''). A última indicada, e favoritíssima ao prêmio, era ninguém menos que Meryl Streep na adaptação de ''The French's Lieutenant's Woman''.

Na noite do Oscar, mesmo estando em sua quarta indicação sem vitória, Mason apenas figurava na corrida. O mesmo ocorreu com Sarandon, ainda muito nova e fortemente ofuscada pela performance de seu colega, mais famoso, Burt Lancaster. Hepburn, assim como Sarandon, se viu em meio a uma campanha fortíssima para que seu contraparte masculino, o lendário Henry Fonda, ganhasse o seu tão sonhado Oscar. A própria filha do ator, Jane Fonda, trabalhou muito pela vitória do pai (e também de si mesma rs), mas meio que deixou Hepburn de lado visto que a mesma já tinha três Oscars em casa. Keaton era considerada um ''distante segundo lugar'' na corrida, mesmo tendo ganho menos de cinco anos antes, a performance totalmente dramática da atriz foi vista com bons olhos e a força de seu filme a posicionou bem.

Porém, Meryl Streep fazia um filme um papel muito difícil, já se estabelecia como uma das promessas da atual década e teve muito apoio da indústria, tendo vencido até o Globo de Ouro em Atriz Drama. Só que não adianta precursor porque quando o Oscar não quer seguir a maré. Ao premiar Hepburn (junto de Henry Fonda), a Academia surpreende a todos e cria um momento histórico, até hoje inalcançado.

Engraçado que logo Streep, em sua primeira indicação em Melhor Atriz, tenha perdido para Hepburn, visto que seria ela mesma a quebrar futuramente o recorde de indicações pertencentes a Katharine. O que fica a dúvida: será que um dia ela também quebra, ou ao menos empata, o recorde de vitórias? Só o tempo dirá. Até que isso ocorra, Katharine Hepburn segue soberana sustentando um recorde que já está para completar quatro décadas. Icônica. Rainha. Deusa.

Abaixo, meu ranking:


5º Lugar: Katharine Hepburn, On Golden Pond (Num Lago Dourado)

Similar a dinâmica em ''Jantar'', Hepburn aqui divide e, normalmente, tem menos espaço e desenvolvimento de tela que seu contraparte masculino (Henry Fonda). Porém, o principal motivo pelo qual ela fica em último para mim é o fato de que a seleção é realmente muito boa, incluindo ela, mas em um ano mais fraco essa performance poderia até ser um top 3.

Hepburn encarna bem o papel de avó que nós tanto conhecemos e amamos, mas ela também transmite perfeitamente o sentimento e o entendimento que tem de seu marido. Ela é carinhosa, amorosa, mas sabe muito bem quem é o homem com o qual está casada há tantos anos. A atriz acaba por cativar nossos corações e, quando precisa, os quebra sem pudor. 

É belíssima atuação, sem grandes momentos de pungência dramática, mas muito bem realizada.


4º Lugar: Susan Sarandon, Atlantic City (idem)

Durante uma boa parte da projeção é possível se indagar o que de tão incrível Sarandon faz em cena para ter merecido sua primeira indicação. Não só ela divide muito a tela com diversos personagens, mas de primeira sua Sally é apenas uma mulher ordinária sem grandes pretensões. 

Ledo engano, basta um certo momento no filme acontecer para que possamos entender completamente as decisões da personagem. E é ai que Sarandon nos ganha como um todo. Sua performance sofre uma reviravolta de 360º e ela encarna essa diferente faceta, mesmo que por apenas alguns momentos, e traz a perspicácia que o personagem tanto precisa naquela hora.

A cena do ônibus, por exemplo, é um total deleite para os espectadores. No fim das contas, foi uma ótima primeira indicação para Susan. Ah, e não se esqueçam dos limões. 


3º Lugar: Marsha Mason, Only When I Laugh (O Doce Sabor de um Sorriso)

Mason é um daqueles casos de atrizes que mesmo com várias indicações ao Oscar, quase não existe no imaginário popular. Uma pena, visto que seus trabalhos são sempre energéticos e cativantes. No filme, baseado em uma peça do marido de Marsha, a personagem é o sonho de qualquer atriz: é uma atriz de teatro saindo da reabilitação, mãe de adolescente e que possuí dois melhores amigos com tantos problemas quanto ela.

Se no papel é ótimo, em tela Mason faz ser incrível. Ela não só agarra todas as oportunidades para fazer daquela mulher uma pessoa crível, mas ela consegue encontrar um balanço muito bom entre as atuações teatrais e as feitas para vídeo. Possuindo inúmeras cenas maravilhosas, seja bêbada ou chorando, nada parece gratuito. Mason concebe tudo de uma forma bem racional e marcante, fazendo com que você realmente sinta pela conturbada vida que a personagem tem.


2º Lugar: Meryl Streep, The French Lieutenant's Woman (A Mulher do Tenente Francês)

Em seu primeiro papel como protagonista esse rostinho que vocês tanto conhecem e amam já dava um belo recado para toda a indústria: 
Streep tem o árduo trabalho de interpretar duas personagens, semelhantes em essência, em duas linhas temporais nesse ambicioso filme. E ela o faz da forma mais sublime possível. Vamos focar na performance que realmente impacta: Sarah. 

Streep faz de Sarah uma figura totalmente deslocada de seu mundo, mas sagaz o suficiente para ter criado um mundo para si mesmo que ela acredita piamente. Sarah é introvertida, mas ao mesmo tempo quer que você entenda quem ela é, e Streep consegue captar essa dualidade tão bem que até em seus monólogos a atriz transmite uma aura ''mítica'' sobre o que está saindo de seus lábios.

O que me impede de colocá-la em primeiro lugar, embora eu jamais falaria um ''a'' caso ela tivesse vencido, é que sua performance enquanto Anna é sabotada por um roteiro que parece não saber muito bem o que fazer com essa segunda trama, sempre tão fortemente ofuscada. Dessa forma, a performance de Streep sofre um pouco a perda de impacto mesmo que não por causa dela, mas fica claro que o resultado final poderia ser um pouco melhor, transformando essa excelente atuação em algo ainda mais magnânimo. Independente disso, atuação estupenda de Miss Streep.



1º Lugar: Diane Keaton, Reds (idem)
 
Se eu falar em Diane Keaton para qualquer pessoa que saiba algo sobre a atriz, a primeira associação feita sempre será com algum tipo de comédia, certo? Corretíssimo. E até por isso quando qualquer um assiste a ''Reds'' é impossível não se estarrecer com a poderosamente dramática performance que a atriz entrega no filme de Warren Beatty.

Durante as mais de três horas de longa, Keaton dá vida a Louise Bryant, uma persona tão viva e sagaz quanto a própria atriz, mas acima de tudo, uma personagem em eterno conflito sobre as decisões que vai tomando ao longo da vida. Bryant era uma mulher a frente de seu tempo presa no interior dos EUA, mas ao encontrar Jack Reed viu a oportunidade perfeita para sair de onde estava e buscar um motivo maior para viver. Bryant acaba sendo uma personagem embasbacante por ser capaz de trazer problemas banais, e os reconhecer, mas também mirar nos grandes alvos. Logo, ela é uma sonhadora, e aos olhos de Keaton ela é real.

Keaton possui momentos de puro, e isolado, brilhantismo perante os dramas de Louise, mas muito além disso, ela encontra o ponto perfeito entre o real e o extraordinário para sua personagem. E assim sendo, entrega a grande performance de sua vida. Brava.

Presentinho para vocês:


(Hepburn na única vez em que foi ao Oscar, em 1974, para entregar um prêmio honorário ao amigo Lawrence Weingarten)

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