segunda-feira, 9 de abril de 2018

''A Noviça Rebelde'' (2018) - O Show de Malu Rodrigues


''A Noviça Rebelde'' é o musical de maior bilheteria (quando ajustado o valor da inflação) da história do cinema e a adaptação seguiu fielmente o trabalho original do teatro. Logo, é de se imaginar que uma obra tão presente da mente de tantas gerações seja adaptada de forma fiel e muito bem feita quando decidem fazer uma nova versão, certo? Pois é, isso não é o que acontece na nova produção que está, atualmente, no Teatro Renault.

A essência do musical mais famoso do duo Rodgers and Hammerstein é uma mistura de classe e ingenuidade que permeiam por completo sua protagonista e sua proposta sonora. No entanto, na montagem atual, feita pela famosa dupla brasileira Moeller e Botelho, o texto utiliza muito fortemente de um humor crasso que, simplesmente, não cabe ou condiz com a peça em questão. Cenas que envolvem piadas de cunho duvidoso ou ''gags'' cênicas nada interessantes são repetidamente utilizadas em ambos os atos da peça gerando risadas fáceis sem se lembrar do nível do material que envolve ''Noviça Rebelde''.

O design de set é um erro em sua maior parte. Não existe qualquer tipo de pompa na composição cênica. A casa tão imponente dos Von Trapp é reduzida a uma escada, um pequeno sofá e projeções. As projeções, aliás, são muito bem utilizadas nas cenas do convento. Infelizmente, não temos tantas cenas lá e o palco do Teatro Renault se vê, mais do que merecia, completamente vazio pela maior parte da peça.


Como nem tudo são erros, preciso exaltar que as traduções das canções. Todas estão bem adequadas ao estilo original, assim como bem direcionadas ao público brasileiro. E isso me leva ao ponto pelo qual essa montagem vale a visita: Malu Rodrigues. A atriz, tão nova ainda, pega um personagem tão difícil, mas o faz com muita destreza. Maria precisa ser ingênua, mas nunca boba, ela é vivida, alegre e muito perspicaz. Além disso, para viver Maria a atriz precisa ter um carisma suficiente para ter a plateia sempre com ela, além de uma belíssima voz. Tudo isso é encontrado no trabalho de Malu, ela canta e encanta, basicamente, desde o começo. E toda vez que ela precisa contracenar com as crianças, seu talento fica ainda mais evidente, o que acaba rendendo os melhores e mais genuínos momentos da produção.

Do resto do elenco adulto, existe um mix de sentimentos. Alessandra Verney e Gottsha estão excelentes em seus papéis de Baronesa e Madre Superiora, respectivamente. Gottsha, aliás, tem o grande número musical da produção ao deixar todos boquiabertos quando canta a versão de ''Climb Ev'ry Mountain'' durante a finalização do primeiro ato. Gabriel Braga Nunes, no entanto, não canta nada e ainda tem uma atuação nada interessante. É uma composição sem qualquer inspiração, quase que um resumo de tudo que vi do ator, que me leva a perguntar o que Maria viu no Capitão para fazê-la se apaixonar.


O elenco infantil é mais equivalente. Todas as crianças Von Trapp são bem carismáticas, cantam bem em coro e acabam ganhando pela presença e carisma, incluindo a tão falada Larissa Manoela. A jovem estrela adolescente canta bem e consegue captar, mesmo que não completamente, a essência de Liesl. Tanto que em seu dueto com Diego Montez, o Rolf, ela o ofusca por completo. E dele só consigo lembrar da desafinada clara no meio da canção.

Deixei para falar de Marcelo Serrado como Tio Max separadamente porque ele é, ao meu ver, a essência do erro básico dessa montagem. E não, não estou criticando a atuação do mesmo que é bem em sintonia com o que está no palco. Porém, por mais que consiga risadas fáceis do público, Serrado e seu personagem mais parecem ter saído de uma esquete de Zorra Total do que de um musical clássico dos anos 50. Isso nunca soa como um erro do ator, mas totalmente da concepção dos diretores da peça.  Uma pena, ele e todos nós que pagamos tão caro por essas revisitações de obras tão canônicas, merecíamos muito mais.

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