quinta-feira, 19 de abril de 2018

Melhor Atriz 1940 - Adivinha quem dançou conforme a música?


Após terminar a corrida dos 4 Oscars de Katharine Hepburn, decidi que meu próximo passo nessa maratona seria avaliar as ganhadoras que não receberam mais nenhuma indicação ao Oscar além de suas vitórias na categoria principal. Três delas eu já fiz anteriormente, foram elas: Judy Holliday (50), Halle Berry (01') e Brie Larson (14). Faltam algumas, não revelarei quantas, mas saibam que são poucas, mas quase todas em corridas bem marcantes. Começo então com a vitória da rainha dos musicais: Ginger Rogers.

A corrida de 1940 é uma das mais badaladas com relação a ''injustiça''. Acho que todas as pessoas que escavarem um pouco a história do Oscar sempre vão se pegar na corrida que ''Rebecca'' venceu Melhor Filme, mas seu diretor (Alfred Hitchcock) e sua protagonista (Joan Fontaine) saíram sem nada. E porquê a derrota de Fontaine foi surpresa? E porque ela ocorreu? Bem, veremos...

Joan Fontaine é tudo que a categoria mais ama e preza: ela era uma atriz jovem, na época foi uma das se não a mais jovem a concorrer em Melhor Atriz, em um filme sensação com um estrelado totalmente esperando por ela. ''Rebecca'' foi o grande sucesso do ano, tanto de bilheteria quanto de crítica. Fontaine era a irmã mais nova de uma atriz já com um nome estabelecido em Hollywood, Olivia de Havilland, mas ainda tinha poucos créditos em atuação em seu favor. Então, imagine só o frisson que sua atuação causou em um filme tão emblemático para a época.

A vitória de Ginger Rogers soa um pouco como uma incógnita. Porém, não é tão assim, né verdade? Rogers já tinha mais de uma década em Hollywood, responsável por revolucionar o gênero musical ao lado de Fred Astaire e era muito popular. Ela entraria em uma década de maior sucesso ainda nos anos 40 e em ''Kitty Foyle'' ela faz algo que rende muitos louros a qualquer ator: ''play against the type''. Ou seja, uma atriz tão comumente associada com musicais fazendo um drama babado? Oscar nela! O filme por si fez um sucesso bom na bilheteria, estava indicado em outras categorias fortes como Melhor Filme e Diretor e até o vestido da protagonista virou uma sensação na ''cultura pop'' americana. Juntando todos esses aspectos, não é tão difícil de entender porque Miss Rogers venceu aquela estatueta.

As demais indicadas eram ninguém menos que Bette Davis e Katharine Hepburn em duas de suas performances mais aclamadas em ''The Letter'' e ''The Philadelphia Story'', respectivamente, mas ambas eram vencedoras ''recentes'' e pouquíssimas chances tiveram. E também Martha Scott por ''Our Town''.

Abaixo, meu ranking:



5º Lugar: Martha Scott, Our Town (''Nossa Cidade'')

Martha Scott é uma clara última colocada na corrida. Seu, curto, filme é um exemplo de filme sem grandes rompantes dramáticos e, para minha surpresa, decide falar da vida. Isso mesmo, em 1940 essa adaptação de uma peça da Broadway conta a história de pessoas em uma pacata cidade sem grandes reviravoltas. É quase tão bonito quanto datado.

Infelizmente, ''Our Town'' não envelheceu muito bem e é quase impossível de se assistir, mas quando Scott toma a dianteira do elenco, tudo melhora. Durante muito tempo a nossa 'protagonista' é deixada de lado, mas ao mostrar o desenrolar de seu romance, a atriz consegue expor muito bem a ideia base do próprio filme. Sua última cena, muito estranha para a década de 40, é quando ela justifica sua indicação. É um show tão bom que você, quase, não lembra o sofrimento que foi chegar até ali.


4º Lugar: Ginger Rogers, Kitty Foyle (idem)

Se engana que acha que o que Rogers faz aqui é fraco ou não passível de ser louvado, muito pelo contrário. A performance da atriz consegue unir os pontos dramáticos tão requeridos por uma personagem que aparenta sempre levar pancadas da vida, como também vários momentos onde o ''timing cômico'' é requerido. Rogers faz ambos com louvor e entrega uma performance incrivelmente bem feita.

O maior problema de Rogers acaba sendo o suporte dado a ela. O roteiro do filme e a direção do mesmo não são, digamos, os melhores exemplos de um longa que envelheceu bem. Então, em alguns momentos a montagem do filme, em especial o uso de flashback, acaba atrapalhando com que a performance seja ainda melhor do que ela já é. Um destaque de Ginger no filme é quase no final do mesmo, em uma cena na loja que trabalha, sem muito a dizer ela consegue transmitir tudo que a vida da personagem passou até ali. Realmente linda.


3º Lugar: Joan Fontaine, Rebecca (Rebecca, A Mulher Inesquecível)

É muito fácil entender o frenesi ao redor do que Fontaine faz em ''Rebecca''. É uma atuação que sabe modular todos os momentos da personagem que conseguir variar do sutil ao mais ''over'' em toda a duração do filme. Logo, é fácil perceber o quão difícil e complexa a personagem é para se transpor do roteiro para a tela, e Fontaine faz isso parecer até natural.

Fontaine tem as feições de uma jovem inocente que nada mais quer na vida do que ter o direito de experimentar o amor em um matrimônio, mas ao mesmo tempo ela consegue identificar quando mostrar a maturidade  necessária para tudo que ela está aprendendo a lidar em uma situação nada agradável.

Aliás, ''maturidade'' é a palavra para a performance tão bem realizada de Fontaine aqui. Requer muito talento para conseguir conceber tão bem, sendo tão nova, uma atuação do nível do que ela entre aqui.


2º Lugar: Bette Davis, The Letter (A Carta)

Somente pelos dez minutos iniciais desse filme de Billy Wilder, já dava para entregar um belíssimo Oscar nas mãos de Miss Davis. Sério, a forma como ela, dissimuladamente, conta os fatos que levaram ao assassinato que move a trama é tão deliciosa quanto maravilhosamente articulada. É Bette Davis em seu campo de conforto, mas mostrando o porque ela é a melhor no que faz.

Minha maior questão com Davis aqui é que, em dado momento da trama, sua personagem some, mas ao voltar os tiros recomeçam. Davis jamais perde sua pose até quando precisa implorar, é um exemplo bem óbvio de imponência e presença de cena. Um completo e absurdo trabalho calcado totalmente em expressões faciais e tom de voz. Coisa de mestre, sabe?


1º Lugar: Katharine Hepburn, The Philadelphia Story (Núpcias de um Escândalo)

Meu #1 lugar aqui acaba sendo, também, uma forma de mostrar o quão performances de diversos gêneros conseguem trazer tanto ou mais impacto que o drama. Hepburn em ''Philadelphia'' tem como seu mote de trama quase tudo focado na comédia. É um diferente tipo de comédia do que estamos acostumado? Sim! É a ''screwball comedy'', tão vigente na época. E Hepburn faz como ninguém mais dever ter sido capaz de fazer.

Sua personagem não é, necessariamente, o que Hepburn habitualmente faz em tela, mas essa ''reinvenção'' se deu muito pelo excesso de ''flops'' que sua carreira estava levando. Até ser chamada de ''box office poison'', algo como ''desiste de fazer filme, miga'', ela foi. Porém, é claro há muito de Hepburn em Tracy Lorde, mas ela vai além. Hepburn consegue incorporar todo o aspecto cômico da personagem, mas é capaz de destilar todas as problemáticas, em drama, que a mesma também requer.

É uma atuação muito esperta, cativante e que dignifica com muita firmeza não só as latentes características que permearam a carreira de Hepburn, tais como ''star quality'', carisma e muito charme, mas também evidenciam o quão talentosa ela era de dar profundidade mesmo em personagens mais ''leves''. É simplesmente genial.

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