segunda-feira, 26 de março de 2018

Melhor Atriz 1932/33 - Katharine Hepburn strike #1


Katharine. Hepburn. Um dos nomes mais poderosos de toda a história de Hollywood. Para muitos, a maior de todas. Fato é: ela era muito respeitada e amada pela indústria. o ''American Film Institute'' elegeu ela a grande estrela de Hollywood (a frente de Bette Davis, Audrey Hepburn e Greta Garbo, por exemplo) e, até hoje, ela é a única pessoa a ter um momento separado no ''In Memoriam'' do Oscar.

Outro fato que associam rapidamente a Hepburn, e é o que me leva a fazer esse post, é que ela é a única pessoa a ter quatro, eu disse q u a t r o, Oscars na categoria de atuação. Segundo a língua ferina de Bette Davis, ela tem três e meio (pois seu terceiro veio no único empate da categoria), já os fãs mais ferrenhos dizem que ela tem cinco (citando a primeira vitória de Blanchett unicamente por ela fazer Hepburn em '' O Aviador''). Meryl Streep pode até vencer um quarto um dia, mas ela sempre terá um em coadjuvante, Hepburn venceu todos como protagonista.

A atriz, que não acreditava em prêmios e/ou, especialmente, em competição de atores nunca compareceu ao Oscar, mesmo que muitos relatos afirmem que ela ficava com o ouvidinho ligado pelo rádio/tv durante a cerimônia. E o mais irônico: ela nunca foi favorita, todas as suas quatro conquistas foram consideradas ''upsets'' de um certo modo. Sua primeira vitória veio logo nos primórdios da premiação e foi a última vez que o Oscar teve sua elegibilidade fora do esquema rotineiro de 01/01 até 31/12. Como vocês podem imaginar, na época não tinham prêmios prévios. Houveram duas indicadas além de Hepburn, May Robson (''Lady for a Day'') e Diana Wynyard (''Cavalcade'').

Wynyard estava no ganhador de Melhor Filme, mas ela entrou justamente por isso, pela força do mesmo, mas jamais teve chance. A grande favorita era May Robson, já uma veterana, obtendo o grande papel de sua vida em ''Lady for a Day'', mas a primeira ''character actress'' de Hollywood acabou na derrota. E ai você me pergunta, e como Hepburn ganhou?

Embora, ''Morning Glory'' não tenha sido indicado em Filme ou Direção, como os projetos de suas concorrentes, e Katharine estava apenas seu terceiro filme, ela tinha alguns pontos a seu favor:

- Hepburn estrelou também ''Little Women'' (e muitos acham que ela deveria ter sido indicada por esse trabalho, inclusive a própria) naquele ano, um filme de muito sucesso de crítica e bilheteria;

- ela interpretava uma atriz em ''Morning Glory'', e a gente sabe que a indústria ama esse tipo de ''metalinguagem'';

- e o ponto mais importante: a presença/atuação de Hepburn era algo ''novo'' na indústria. A forma como ela estava em crescente pela perspectiva que ela trazia aos personagens transformaram ela, muito rapidamente, em uma estrela. E tudo isso junto deve ter resultado numa vitória nada esperada para uma atriz tão jovem.

Abaixo, meu ranking e duas atuações de atrizes também icônicas que foram esquecidas no churrasco:


3º Lugar: Diana Wynyard, Cavalcade (Cavalgada)

O filme de Wynyard é um dos primeiros épicos da época. O filme, que reconta vários fatos importantes até chegar em 33, não foca em personagens em si, dificultando com que Diana brilhe. Porém, como família central da trama e tendo momentos realmente dramáticos, Wynyard acaba tendo cenas que demonstram sua capacidade enquanto atriz. Ela é sufocada pela estrutura do filme? Sim. Tem cenas dela que remetem ao mais datado das atuações da época? Também. Mas também tem um discurso final muito bonito, honesto e poderoso que justifica sua indicação aqui. Só a indicação.


2º Lugar: May Robson, Lady for a Day (Dama por um Dia)

O filme, uma dramédia, é uma completa delícia. A trama parece que nós já vimos em algum lugar, mas o provável é que tenha sido usada primeiro aqui. Porém, Robson está sempre ótima em cena. Só pelo momento bêbada, que deixa nossos corações quebradinhos, no começo do filme ela já poderia vencer todos os prêmios do mundo, mas ela ainda tem uma cena final muito incrível que mostra bem o mix de drama e comédia que o filme pede.

Meu único problema é que, por um bom tempo do filme, ela some. E dessa forma, parece que há uma ''lacuna'' no mesmo e isso afeta sua performance, mesmo que indiretamente.


1º Lugar: Katharine Hepburn, Morning Glory (Manhã de Glória)

Não sou, digamos, fã desse filme. É como um primeiro tratamento de uma trama que a indústria iria refazer várias vezes, aprimorando mais e mais. Mesmo pequeno, o filme não é lá muito ágil. Porém, é inegável a presença de Hepburn em se situar como um ''sopro de ar fresco''. Mesmo sendo uma atriz iniciante, e nós conseguimos ver as ''falhas'' dela em cena, ela também é alguém decidida e que acredita em si mesmo - ao menos por uma certa parte do filme. Existem momentos muito bons, como o inicial e a cena de Shakespeare, mas a cena mais incrível da projeção, e o motivo pelo qual Hepburn deve ter selado esse Oscar, é quando ela fica bêbada em uma festa.

É, simplesmente, sensacional a naturalidade com que Katharine aparenta realmente estar alcoolizada, e ela chega em um auge de vergonha alheia realmente forte, é uma delícia de cena. E se por qualquer outro motivo ''Morning Glory'' não é, digamos, acima da média, ele vale a pena existir só pelo que a grande Katharine Hepburn faz em cena.

''I'm the greatest actress in the world'' diz Eva em certo momento, que irônico que Hepburn iria se tornar exatamente isso.


Tá, mas quem são as atrizes que mereciam estar aqui, Madson?


Barbara Stanwyck, Baby Face (Serpente de Luxo)

Stanwyck é a prova viva de que não ter um Oscar não faz a carreira de ninguém menos aplaudida e lembrada. A atriz sempre esteve um passo a frente da maioria dos atores, era conhecida por pegar papéis fortes e que não dialogavam tão fortemente com a sua época, visto que era algo mais ''transgressor''.

Aqui não foi diferente, eu duvido que você assista ''Baby Face'' e consiga conceber que esse filme foi lançado em 1933. Stanwyck faz uma jovem cansada da vida pavorosa e sem perspectiva que tem, que vê como única alternativa ser uma ''alpinista social''. Com o rosto, os olhos e a presença de uma rainha, Stanwyck não permite que você, assim como os homens do longa, jamais tire os olhos dela. É um excelente exemplar do que essa mulher fazia, e se não tivesse sido tão controverso, uma indicação ao Oscar teria sido muito justa.


Mae West, She Done Him Wrong (Uma Loira para Três)


As vezes não é fácil de acreditar que Mae West tenha feito tão poucos filmes em sua vida, tamanha é sua popularidade e histórico em Hollywood até hoje. A atriz, muito lembrada por ser desbocada (e pelos fãs de RuPaul porque a Alaska pisou fazendo ela no Snatch Game) e uma das maiores inimigas da censura, teve em 1933 seu grande estouro. Ela foi protagonista de dois dos filmes mais populares do ano e sua persona foi se infiltrando entre crítica e público rapidamente.

Em ''She Done Him Wrong'' ela, assim como Stanwyck, entregam uma performance/personagem que viria a definir quem elas eram perante os olhos do público: Lady Lou é uma loira muito gostosa, e bastante atirada, que pensa muito bem antes de agir. West domina, de forma muito clara, todas as câmeras e entende muito bem o poder de sua personagem. A voz, impossível de se esquecer, demonstra muito a sagacidade que Mae traz para o papel e finaliza bem o todo que poderia ter recebido uma indicação ao careca de ouro - mesmo que isso seja pedir demais para os votantes do Oscar.

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