domingo, 11 de março de 2018

Melhor Atriz #8 - 1976



A corrida de 1976 foi uma considerável barbada para a vitória de Faye Dunaway. O seu filme (Rede de Intrigas) era um dos grandes e mais badalados da noite, muitos esperavam até a vitória nas duas categorias principais. A atriz já vinha de duas indicações por filmes lendários, e era dada como certa a vitória de Dunaway por uma atuação altamente aclamada. Liv Ullmann começou a temporada como a ''critics darling'', mas mesmo com o nome de Ingmar Bergman atrelado e uma prévia indicação ao Oscar, a atriz não foi capaz de quebrar a barreira linguística e o tamanho de seu filme contra o poder do filme de Dunaway, sucumbindo assim já na premiação televisiva que antigamente previa muito mais o Oscar, o Globo de Ouro.

A novata Sissy Spacek teve um grande ''push'' da crítica, e mesmo fazendo filme de gênero e sendo tão novinha, acabou abocanhando uma indicação por uma das personagens mais icônicas que já estiveram na seleção de ''Melhor Atriz''. Talia Shire é um dos primeiros casos de coadjuvante não se contentando com um Oscar certo e indo de protagonista, apenas para perder o careca dourado e fazer cara de bunda em plena televisão mundial. Embora, muitos afirmem que ela foi a runner-up daquela edição, graças a fortíssima campanha de ''Rocky''. Fechando o top 5 se encontra a francesa Marie-Christine Barrault em uma indicação totalmente surpresa na comédia romântica ''Primo, Prima''.

Dentre as esnobadas do ano, a mais comentada foi mesmo Barbra Streisand em ''A Star is Born''. O filme, já um segundo remake, tinha gerado indicações pra suas estrelas anteriores (Janet Gaynor, Judy Garland), mas mesmo com todo o dinheiro que o filme fez (que não foi pouco), a rapa no Globo de Ouro e a campanha pesadérrima da Warner Bros, não deu pra Miss Streisand e ela foi preterida por uma francesa saída do nada. Claro que a recepção mista do filme ajudou muito a essa não indicação, mas que Streisand ainda é um pouco ressentida dessa esnobada, disso não tenha dúvidas.

Abaixo, meu ranking pessoal:


5º Lugar: Talia Shire, Rocky (idem)

Shire só é protagonista desse filme se levarmos em consideração que ela tem o maior papel feminino dele, mas ela ainda continua sendo uma plena coadjuvante. Todos os prêmios da crítica que a consagraram em coadjuvante estavam certos e ela teria vencido, facilmente, esse Oscar no lugar de Beatrice Straight, mas sua ganância foi maior. Sua atuação, de uma mulher absurdamente introvertida, é bem interessante, mesmo que a construção da personagem chegue a, quase, pecar pelo excesso de timidez. Porém, a medida que vamos conhecendo mais de Adrian e ela começa a se soltar, Talia consegue, também, envolver o público e fazer com que nós possamos entender, mesmo que só um pouco, o que Rocky vê nela.


4º Lugar: Marie-Christine Barrault, Cousin Cousine (Primo, Prima)

O filme de Barrault é uma comédia romântica bastante francesa no que tange ambientação, humor e desenrolar de tramas, mas eu falo isso enquanto elogio. A francesa possui uma visível presença de cena, criando uma personagem belamente delineada. Fazendo com que possamos entender muito bem suas ações e reações a tudo que lhe é apresentado, que digamos não são visões normais do ''cotidiano'' que ela precisa aprender a lidar. Acho que, talvez, o que impeça que eu a coloque mais acima é o simples fato de que as três performances a seguir sejam realmente irretocáveis, a medida que Barrault tem um filme/personagem mais leve para pode desenvolver, mas é uma bela atuação independente disso.


3º Lugar: Sissy Spacek, Carrie (Carrie, A Estranha)

Até hoje fico pasmo com essa primeira indicação de Spacek. Tudo bem, é um filme/personagem/atuação clássica, mas é tão não a cara da Academia, especialmente a de tantas décadas atrás, mas amém que eles indicaram, porque o trabalho de Spacek aqui é genial.

Primeiro de tudo, o diretor de elenco que escolheu Spacek para o papel já merece um Oscar pela escalação perfeita, mas que Spacek seja capaz de entender que seu rosto branco, quase gélido, em total petrificação seja capaz de arrepiar até os fios de cabelo mais escondidos do corpo humano é algo de se abismar dado o quão jovem ela era na época. É com uma precisão quase cirúrgica que a atriz entende a total timidez, e de onde isso vem, da personagem, transparece muito bem a repressão que isso causa e culmina num ato final maravilhosamente assustador. Tudo isso graças a uma performance totalmente inteligente e em total sincronia com seu filme criada por uma das grandes do cinema.


2º Lugar: Faye Dunaway, Network (Rede de Intrigas)

Dunaway foi uma das maiores atrizes dos anos 70, mas aqui ela atinge seu apogeu fazendo a maior ''workaholic'' do cinema mundial. É gratificante ver como Diana vai, gradativamente, ficando cada vez mais viciada em seu trabalho. Não importa as pequenas vitórias que ela consegue, a cada novo sucesso, Diana quer mais, ela só pensa nisso, ela vive por isso. E é no rosto tão vívido de Faye Dunaway que conseguimos absorver todo esse desejo de poder e de vitória.

A atriz possui cenas de pura acidez, assim como vários monólogos, todos brutalmente defendidos por Dunaway. Ela nunca deixa a peteca cair, ela também jamais torna Diana uma caricatura, é um produto do meio, é crível e, infelizmente, mais real que imaginamos. Uma cena que particularmente me marcou é uma que envolve Max e Diana, ali ele entende que ela sempre terá seu trabalho como prioridade e mesmo expondo isso a ela, ela simplesmente não dá a mínima. É uma performance mordaz e muito emblemática, é um outro nível. ''Son of a bitch. We've struck the motherlode!''



1º Lugar: Liv Ullmann, Face to Face (Face a Face)

Liv, para mim, é a melhor atriz que já pisou nesse mundo terreno que chamamos de Terra, vamos deixar isso claro, tá? Aqui, Ullmann é a síntese de quando falamos que alguém consegue transmitir um caminhão de emoções. A presença, força e luminosidade da atriz em cena é algo embasbacante, mas o que mais causa admiração nessa performance é a inteligência com que Liv não só entende a personagem, mas o filme como um todo, criando todo um fluxo que transparece por completo em sua atuação.

Ullmann entrega uma das grandes atuações do cinema, certamente a sua melhor e provável melhor atuação em um filme do lendário Ingmar Bergman. Ela adentra uma espiral de dilemas, problemas e reflexões sobre a vida com tamanha veracidade que a linha entre o ''over'' e o ''sútil'' inexiste. É de uma magnitude sem tamanho, tanto ela quanto o filme, que em certo momento se tornam um só. E se vocês acham meu texto muito exagerado, peço apenas que vejam a cena dela ''contra a parede'', é de uma imensidão irretocável. Brava!

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