quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

REVIEW: A Garota Dinamarquesa





Se feito há uns quatro ou cinco anos, ‘A Garota Dinamarquesa' (The Danish Girl, 2015) não teria metade da repercussão que está tendo, porém, como foi lançado em um momento onde a comunidade transexual começa a ganhar cada vez mais voz e brigar por seus direitos na sociedade moderna, o novo filme do diretor Tom Hooper (O Discurso do Rei, Os Miseráveis) ganhou visibilidade, fãs, odiadores e algumas indicações ao Oscar. Entretanto, se enquanto história o filme pode emocionar alguns, como obra de cinema é tão falho que chega até a ofender.

O longa retrata o relacionamento do casal Gerda (Alicia Vikander) e Einar Wegener (Eddie Redmayne), assim como a autodescoberta de Einar em uma mulher transexual, Lili - que viria a ser uma das primeiras pessoas a realizar uma cirurgia de redesignação sexual. A ideia é nobre e a visibilidade da causa transexual até pode se favorecer com a existência do filme, mas tudo é tão raso, plástico e banal, que fica difícil se envolver completamente na mensagem do filme.

O roteiro, talvez por falta de uma ótica melhor, jamais vai além da superfície e estereótipo sobre quem é Lili e nunca deixa Gerda sair do papel de esposa sofredora, mesmo que dê ares de descolada para a época em que vive. Em associação a isso, temos uma montagem que sofre, lá pelo meio do filme, com uma sucessão de cenas feitas para fazer o espectador chorar, sem qualquer sentido de ordem do trabalho que está sendo feito.



Todos esses problemas, lógico, são incrementados com a direção de Tom Hooper, que é altamente cheia de tiques inúteis com a câmera, incluindo enquadramentos que não fazem sentido ou uma inclinação ao sentimentalismo da pior espécie.  Existem momentos que até a belíssima direção de arte e as locações das cidades mais encantadores da Europa sofrem na mão do diretor, que sufoca a tela com close-ups que vão do desnecessário ao constrangedor, demonstrando um apuro visual limitado e quase brega.

A atuação de Eddie Redmayne, atual vencedor do Oscar por A Teoria de Tudo e novamente indicado pelo trabalho feito aqui, acaba sendo a cereja ruim do bolo solado, sendo uma mistura entre correto, ruim e horroroso. Redmayne, mais uma vez, trabalha com um personagem que precisa de muletas cênicas para se concretizar, mas, sendo um ator tão vaidoso, ele escolhe as piores opções para retratar sua ‘’feminilidade’’. Se enquanto Einar o ator até se sustenta, quando Lili precisa vir à tona, a atuação se torna afetadíssima, caricata e toda calcada em tiques como: uma mão quebrada pro lado, um pescoço torto e uma voz sussurrante até quando o personagem fala com alguém a distância.

Porém, nessa imensidão de erros, existe uma luz sueca que atende pelo nome de Alicia Vikander, aqui vale ressaltar também os lindos figurinos de Paco Delgado. A atriz, que é tão protagonista quando Eddie, e está sendo revelada agora para o mundo, toma o filme para si toda vez que aparece em tela, apresentando uma vivacidade e brilho que deixa qualquer ator ofuscado.  Além disso, quando ela precisa dividir a cena com Redmayne chega a ser latente a diferença de naturalidade entre as duas atuações. Mesmo com um papel que em determinado momento se reduz a sofrer pelas mudanças drásticas de sua vida e casamento, Vikander sempre se agarra ao fiapo de roteiro e dá toda a dignidade que pode à Gerda. E se ela realmente é a garota dinamarquesa a que o filme se refere, é de se agradecer, porque todo e qualquer sentimento de conexão com o filme se deve a ela, e somente ela.



O filme pode até ser bem intencionado, mas o produto final não chega nem perto da excitação que poderia ter sido caso bons profissionais estivessem por trás - e em frente - às câmeras.  Como de filme ruim bem intencionado o mundo de Hollywood está cheio, só desejo que no futuro existam produções que realmente dignifiquem a causa transexual, que tanto precisa de visibilidade, porque, infelizmente, ‘A Garota Dinamarquesa’ foi apenas mais um erro no cis-tema.

Uma sequência: O primeiro contato de Einar com o vestido, enquanto pousa para Gerda, onde ainda havia um vislumbre de que o filme poderia ter mais que a dimensão de um pires para com seus personagens.

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