sexta-feira, 10 de janeiro de 2020

Musicais na Década 10's


Poucas coisas me animam mais que um bom musical e essa década teve excelentes exemplares do gênero. Para fazer a seleção decidir escolher musicais que foram montados pela primeira vez em algum país, focando na Broadway - já que quase todos os musicais de língua inglesa acaba indo parar lá.

Porém, o Brasil teve um aumento na produção cultural nessa década e o gênero se beneficiou fortemente disso, logo também tem adições nacionais na lista. Dentre os musicais que acabaram não entrando no top 20, mas eu adoro estão Once, Priscilla, Queen of Desert e Groundhog Day, mas tem outros também excelentes que em uma lista maior, com certeza entrariam.

BÔNUS:


Como seria injusto selecionar uma das três obras do excelente Vitor Rocha, decidi colocar como um bônus a lista como um todo. Em meio a tanto ataque a nossa cultura e, especialmente, ao teatro musical, é revigorante ver um talento tão nato produzindo tanto e com tanta qualidade. A foto é de O Magico di Ó, mas embora Se Essa Lua Fosse Minha seja um amorzinho, acredito que a sensibilidade de Cargas D'Água ainda continua imbatível para mim.

#20. THE CHER SHOW (2018)


Um jukebox diferente em diversos aspectos, e até por isso meio perdido, mas ainda cheio de coisas lindas. A vida de Cher é um prato cheio e o seu catálogo de músicas não fica muito atrás. Com 3 excelentes atrizes como a própria cantora, especialmente Stephanie J. Block em uma atuação definitiva, o musical encanta também pela rigorosa coreografia e os deslumbrantes figurinos - o desfile de roupas da Cher é uma coisa estupenda. Melhor Faixa: You Haven't Seen the Last of Me.

19. BONNIE & CLYDE 



Um dos injustiçados que compõe a minha lista, essa história tão conhecida mundialmente pelo filme marcante dos anos 60 conta como duas pessoas que tinham tudo para nunca se envolverem acabaram se tornando dois dos criminosos mais famosos dos Estados Unidos. Esse era o novo musical de Frank Wildhorn (Jekyll & Hyde) e não sobreviveu às críticas pesadas e a falta de público, mas a mistura de uma trilha que vai do pop ao jazz-y junto de dois protagonistas excelentes (Jeremy Jordan e Laura Osnes) foi suficiente para me arrebatar até hoje. Melhor Faixa: Dyin' Ain't too Bad.

18. THE BAND'S VISIT (2017)


A experiência de assistir The Band's Visit é diferente de tudo que você espera de um musical da Broadway. Possui apenas um ato, nenhum grande número de dança, a trilha não soa ''clássica'' e até as atuações são contidas. Talvez por isso o musical tenha causado tanto furor em sua passagem pelos palcos nova iorquinos. Com uma trilha poderosa e um elenco completamente in sync, o musical de David Yazbek (compositor do também excelente Women on the Verge of a Nervous Breakdown) é um claro exemplar de que a Broadway pode e deve surpreender quem acha que já viu tudo em cima de um palco. Ah, Katrina Lenk cantando Omar Shariff é daquelas coisas hipnotizantes da vida. Melhor Faixa: Answer Me.


17. BLOODY BLOODY ANDREW JACKSON (2010)


Um pouco antes de Mr. Miranda tomar a Broadway com seu Hamilton, o compositor Michael Friedman (que viria a falecer no fim dessa década) trouxe um dos primeiros presidentes americanos (Andrew Jackson) e a criação do partido democrático pros palcos como se ele fosse um emo rock star e fez isso com uma inventividade absurda. O excelente Benjamin Walker (injustiçado também em outro musical, American Psycho) liderava um excelente elenco que durante 90 minutos tocava o terror no palco com muita animação e alegria. Melhor Faixa: Rock Star.

16. COME FROM AWAY (2017)


É interessante que hoje eu goste tanto desse musical, visto que quando saiu eu tive uma certa preguiça do mesmo, mas logo viciei em algumas músicas e quando tive a oportunidade de assistir ao vivo fiquei completamente apaixonado. O musical, de Irene Sankoff e David Hein, encanta pela aparente simplicidade de contar uma história que todos conhecem, mas que nesse caso transborda a essência do musical em si: que todos somos iguais no fim das contas. Melhor Faixa: Me and the Sky.


15. KINKY BOOTS (2013)


Cyndi Lauper se tornou a primeira mulher a vencer, sozinha, o Tony de Melhor Trilha. Não era por menos, a trilha de Kinky Boots é o que move essa linda história de aceitação e diferença. Se o filme que deu origem a tudo já é uma graça, a força no teatro da peça como um todo é ainda maior. Cada novo número musical acaba sendo ainda melhor que o outro e quando você menos espera já está acabando, deixando um gostinho de quero mais daquele mundo e daqueles personagens (Lola <3). Melhor Faixa: Land of Lola.

14. MEAN GIRLS (2018)


Acredito que nenhum outro musical tem um primeiro ato que flui tão bem quanto esse, lembro de ficar atônito de já estar chegando na música final (Fearless, um erro, aliás). ''Mean Girls'' é uma joia de filme e a sua transição pro teatro conseguiu manter seus principais elementos: a graça e a esperteza. Recriar aquele mundo no palco não era fácil, mas não só o fator nostalgia funciona, mas todos os updates dado a história pela maravilhosa Tina Fey fazem muito bem ao todo. O elenco, uniformemente incrível, é um destaque a parte. Melhor Faixa: Sexy.

13. SIX (2018)


O conceito de pegar as seis esposas de Henry VIII e colocá-las contando suas histórias de vida como se fossem um grupo pop é uma das coisas mais maravilhosas que eu já vi fazerem no teatro. Não consegui assistir tudo com a qualidade devida, mas a trilha, de Toby Marlow e Lucy Moss, é tão viciante que justifica sua altíssima posição no meu top por si. Cada número consegue sintetizar quem foi aquela mulher de maneira tão inteligente e moderna que você mal lembra que estamos falando de pessoas que existiram séculos atrás. Melhor Faixa: Ex-Wives.


12. CATCH ME IF YOU CAN (2011)


Um dos meus atores favoritos da Broadway desde que conheço esse mundo é o Aaron Tveit e aqui ele faz uma composição bem linda como o protagonista da peça, elevando o seu já ótimo material. A trama, sobre um dos maiores trapaceiros da história americana, continua com o mesmo vigor do filme de 2002 e a presença de Norbert Leo Butz só reforçou a dinâmica entre os atores. A trilha nem sempre está no seu melhor, mas quando é boa - e junto do excelente elenco - atinge lugares realmente lindos. Melhor Faixa: Goodbye.

11. HADESTOWN (2019)


A mais recente produção da lista, Hadestown teve uma pequena montagem em 2006, virou álbum ''conceitual'' e teve vários workshops e try-outs até chegar como um furacão na Broadway esse ano. O conto, famosíssimo, de Eurídice e Orfeu sofre algumas mudanças e ganha uma linguagem em uma época mais moderna. Se o libreto do musical nem sempre dignifica seus personagens, a trilha estupenda de Anäis Mitchell arrebatada do começo ao fim, buscando do folk ao pop e trabalhando a essência da peça como um todo. Melhor Faixa: Wait for Me.

10. ELZA (2018)


Um dos musicais mais poderosos que eu pude ver em um palco, a produção aposta no minimalismo com apenas alguns baldes e dois ‘’carrinhos’’ no palco. E precisaria de mais? Quando temos atrizes tão excelentes interpretando a própria Elza, uma vida tão batalhadora quanto a dela e um catálogo desse nível, o espetáculo está feito. Existem algumas escolhas que são mais diretas e que costumam permear jukebox biográficos? Fato! E isso em nada diminui a pungência da, literal, experiência que é presenciar essa montagem. Melhor Faixa: A Carne.
9. NATASHA, PIERRE AND THE GREAT COMET OF 1812 (2016)

''Cometa'' é uma, literal, experiência teatral como há muito a Broadway (e o teatro musical em si) não via. Dave Malloy criou, a partir de 70 páginas de ''Guerra e Paz'', uma sinfonia que está mais preocupada em criar uma ambientação e fazer você experimentar coisas tão distintas do que um musical linear em texto e sonoridade, que é o que você espera receber quando entra em um teatro. A direção de Rachel Chavkin foi necessária para amarrar a ação, tão louca, da peça e criar ainda mais identidade para a mesma. A questão é que ''Cometa'' é amado por uns, odiado por outros, mas, sem dúvidas, se tornou um marco. Melhor Faixa: The Abduction.

8. A GENTLEMAN'S GUIDE TO LOVE AND MURDER (2013)


Um musical clássico em essência, essa história de um ambicioso homem que precisa assassinar várias pessoas da própria família para se tornar o herdeiro da fortuna acaba ganhando pela ingenuidade e graça que impregna as músicas, os personagens e a forma como a comédia está sempre no ponto correto. A cena em que Phoebe admite que quer se casar com Monthy, mas Sibella está escondida ouvindo tudo é, literalmente, das coisas mais cômicas que a Broadway viu nessa década. Ah, Jefferson Mays fazendo 9 personagens na mesma peça é tudo para mim. Melhor Faixa: I’ve Decided to Marry You.

7. FUN HOME (2015)


 O musical mais intimista, de uma leva de muitos nessa década na Broadway, sensível e honesto dos últimos 10 anos. A história, que coloca uma mulher lésbica como protagonista, dialoga sobre família, relacionamentos, sexualidade e expectativas sobre o que se deve ser de forma, basicamente, sublime. É um trabalho lindo que só mesmo Jeanine Tesori seria capaz de conceber. Com um elenco estupendo em cena, com destaque para o sempre ótimo Michael Cerveris e a grande revelação que foi a jovem Sydney Lucas, esse musical é pra guardar bem no fundo do coração. Melhor Faixa: Ring of Keys.

6. SUASSUNA - O AUTO DO REINO DO SOL (2017)


Uma produção que grita Brasil em tudo, esse musical foi uma grande surpresa para mim. Tendo chegado em São Paulo poucos meses antes de assisti-lo, nunca imaginei que iria encontrar uma obra tão autoral em uma mídia não tão explorada como o teatro musical original aqui no país. O elenco, estupenda essa galera da Barca dos Corações Partidos, absorve tudo que a trama está dizendo e regurgita com a verdade de quem sabe e acredita no que está fazendo. As opções estéticas, a trilha, tudo dialoga para criar esse mundo de forma tão brilhante. Melhor Faixa: A Sina do Sertão.

5. THE BRIDGES OF MADISON COUNTY (2014)


As vozes de Steven Pasquale e Kelli O'Hara juntas por si só seriam suficiente pra qualquer musical ser excelente, mas que elas venham acompanhadas de uma trilha deslumbrante de Jason Robert Brown e envolta de uma belíssima história de amor torna Bridges a coisa mais linda e triste que eu pude ouvir vindo do teatro nessa década. É tocante, envolvente e, absurdamente, verdadeira em uma escala que não dá para dizer muito bem, apenas sentir. Melhor Faixa: One Second and a Million Miles.

4. DEAR EVAN HANSEN (2016)


O musical de Pasek & Paul pegou a Broadway muito desprevenida, nunca se esperava que uma parcela que normalmente não a visita, adolescentes, iria se enfiar dentro de um teatro e quase que competir para ver quem iria chorar mais durante a história de um jovem com depressão que precisa lidar com algo que ele não sabia como. É absurdamente pop em composição lírica e a composição de melodia não, necessariamente, é algo fora da caixinha, mas é boa o suficiente pra junto dos atores te envolver totalmente naquela história toda. E eles tiveram Ben Platt que, facilmente, é a performance mais marcante da Broadway na década passada. De Beyoncé a Hillary Clinton, todos foram naquele teatro se emocionar com Platt e seu Evan, mas o musical é tão grande que mesmo sem Ben, ainda continua enchendo a casa, mostrando que a força está mesmo no próprio musical. Melhor Faixa: Waving Through A Window.

3. THE BOOK OF MORMON (2011)


Crasso, grosseiro, ofensivo... essas são as palavras que melhor definem todos os trabalhos de Trey Parker e Matt Stone, um musical deles não seria diferente. ''Mormon'' satiriza a religião e o faz com o humor tão único e inerente a dupla em questão, é um marco na forma de fazer comédia na Broadway e até hoje se mantém fresco em seu texto mesmo com quase dez anos de existência. Os dois personagens protagonistas são hilários, mas parece que cada um dos coadjuvantes são igualmente engraçados. É ousado onde precisa ser, mas consegue ser ''clássico'' em outras estruturas. Como um todo é o tipo de musical que se destaca por ser diferente e não tem coisa melhor pra uma obra de arte. Fora que não existiu abertura melhor de musical na década. Melhor Faixa: Hello!

2. WAITRESS (2016)


O musical mais doce (rs) da década é essa obra tão linda baseada em um filme de 2007. A cantora Sara Bareilles já era bastante conhecida por suas canções pop, mas ninguém espera que ela fosse capaz de compor uma trilha tão deliciosa como a que ela apresentou em seu debut no teatro. As canções, que são sim pop, tem uma identidade muito clara ao teatro musical e dialoga sobre todas as vivências, dos maravilhosos personagens, apresentadas pelo texto. É um número lindo atrás do outro, tudo com a identidade da cozinha e isso acaba virando uma pequena genialidade que a diretora Diane Paulus deixa em cada canto da obra. E nossa, o 11 o'clock number desse musical é de massacrar. Melhor Faixa: She Used to be Mine.

1. HAMILTON (2015)


Se você não conhece Hamilton, você tá muito perdido neste mundo. Não, ninguém é obrigado a, literalmente, conhecer o musical a fundo, mas com certeza você já leu ou ouviu algo sobre o maior fenômeno teatral desde.. O Fantasma da Ópera? E olha, tudo é justificado pelo colosso que é esse espetáculo. A obra de Lin-Manuel Miranda se arrisca em, basicamente, todos os seus aspectos. Da forma como concebe quem deve interpretar seus personagens até a utilização de rap quase que inteiramente, em sua trilha sonora.
A coreografia é deslumbrante, indo do hip-hop ao vogue, e quando ela vai se integrando totalmente a direção quase cirúrgica de Thomas Kail transforma tudo em pura magia e amor ao teatro. E nessa produção tem uma das cenas mais poderosas que eu já vi em qualquer mídia (não só teatro), que é a da ''bala''. Uma carta de amor ao seu país e ao teatro, essa obra máxima do Lin é um grande presente que, felizmente, vivemos na época certa de prestigiar. Melhor Faixa: Satisfied.
Que a nova década traga ainda mais teatro, musical, e se possível, ambos juntos!

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