segunda-feira, 20 de janeiro de 2020

A pequena tela em 2019


Seria bizarro começar essa lista com a palavra ''televisão'', cada vez menos consumo o que se passa naquela caixinha e começo a ver quase que só os serviços de streaming. Fui especialmente fisgado pelas produções da HBO esse ano, não as decepcionantes temporadas de Game of Thrones ou Big Little Lies, mas basicamente todos os demais projetos saíram melhores que encomenda.

A televisão aberta teve excelentes programas que acabei conferindo pouca coisa, mas acredito que se tivesse completado suas respectivas temporadas, tanto Segunda Chamada quanto Sob Pressão poderiam estar figurando nessa lista. As novelas nem comento, um horror completo.

Entre as séries que quase entraram, mas acabei tendo que deixar de fora quero destacar a temporada final de Unbreakable Kimmy Schmidt, uma delícia tão singular que ainda fico chocado que durou tanto.

Sem mais demora, meus projetos ''televisivos'' favoritos do ano que passou:


10. Watchmen (1ª temporada?, HBO)

O novo projeto de Damon Lindelof (The Leftovers) chegou com muita hype e promessa, seja pelo nome do criador ou por ousar adaptar um da das HQ's mais aclamadas de todos os tempos. Porém, como aprendemos com o showrunner em seu projeto passado, melhor não duvidar mais do que o mesmo é capaz de fazer com o material certo.

Dialogando sobre raça com uma linguagem bem pessoal, a série atingiu picos extraordinários como apresentado em seu sexto episódio. Um trabalho com identidade e defendido fortemente por um elenco estupendo, que é liderado pela maravilhosa Regina King, mas que o destaque fica mesmo para a excelente Jean Smart


9. Veep (7ª e última temporada, HBO)

A série poderia ter acabado sem ter feito uma repetitiva sexta temporada, mas com o final em mente a última temporada da série de comédia que mais me fez rir na década terminou em nota alta. Se o elenco nunca decepciona, nessa temporada o roteiro também caminhou lado a lado, entregando tramas quase sempre funcionais (exceto a da Amy, que nunca decolou tanto) e que mostravam que o fim estava, realmente, próximo.

E não tem como falar de Veep sem citar a esmerada atuação de Julia Louis-Dreyfus, uma titã da televisão e rainha da comédia, ela soube terminar seu arco como a inacreditável Selina Mayer com a maestria de alguém muito ciente do seu talento. Brava!


8. Euphoria (1ª temporada, HBO)


Chegar aos 26 anos de idade significa que, provavelmente, você não vai ter paciência pra séries teen, mas mesmo que essa série não seja um exemplar de todo diferencial do que você espera de produções do gênero, acaba ganhando por dialogar sobre diversos assuntos, especialmente vício, sexualidade e gênero, com uma alta honestidade e naturalidade.

Sem surpresas, o elenco jovem e suas personas/personagens são viciantes e a cada novo pedaço que vemos da vida deles, mais queremos daquilo. De Maddy a Nate passando pela dupla central Rue e Jules, todos eles criam um tipo de conexão sobre coisas que vivemos, não quisemos encarar que vivemos ou que ainda lutamos diariamente e nesse aspecto, falar com e sobre jovens ainda é muito interessante.


7. Stranger Things (3ª temporada, Netflix)

Fazia muito tempo que eu realmente não maratonava uma série, mas veio essa temporada deliciosa da série mais popular da Netflix e não teve como, vi tudo de uma vez.

Uma temporada muito mais divertida e com identidade do que as, já ótimas, anteriores, esse cerco que as vezes se repete pode até começar a gritar ''esgotamento'', mas dado que os criadores estão querendo finalizar a série em breve, acredito que não será um problema. E o elenco dessa série? Não o que falar, como eles encontraram jovens tão bons? E ainda entregaram personagens muito legais para cada um poder saborear bem. Um real prazer assistir essa temporada, do começo ao fim.



6. When They See Us (Minissérie, Netflix)

Uma denúncia latente que o sistema carcerário americano pensa ainda de forma escravagista, algo que a diretora Ava Duvernay gosta sempre de falar sobre, essa história real tem uma pungência dramática que não dá para mensurar em palavras.

Injustiçada, erros, escolhas, tudo isso passa pela tela durante os quatro episódios da série. Episódios esses belamente dirigidos, fotógrafos e montados, sem falar no elenco irretocável que defende não só as vítimas em questão, mas todos que estão ao seu redor e muito sofreram. Minha única crítica, especialmente a terceira parte, é que teria sido legal expandir mais como cada um lidou com seus problemas e, dessa forma, dinamizar ainda mais a identidade deles. Porém, tirando esse aspecto, é uma minissérie para ninguém dizer um ''A'' sobre que não fartos elogios.


5. The Crown (3ª temporada, Netflix)

Para os céticos que acreditavam que a mudança, necessária, de elenco afetaria a qualidade da série, essa temporada veio mostrando, episódio por episódio, que a história não seria, digamos, bem assim. Com um elenco de altíssimo nível, o que sempre foi o ponto alto da série, a temporada adentrou a maturidade com muita inteligência e perspicácia. 

Olivia Colman, uma titã em cena, é uma Rainha Elizabeth mais calejada e, totalmente, mais ciente de sua posição como monarca. Em alguns momentos ela ainda vacila quando se trata de sua irmã, a impecável Helena Bonham Carter, ainda precisa ceder a alguns caprichos do marido, o daddy Tobiaz Menzies, mas sabe muito bem ensinar o que aprendeu com punho firme, seja para um Primeiro Ministro perdido ou para seu filho primogênito, interpretado com maestria por Josh O'Connor. Se o roteiro pode vir a vacilar ou se repetir aqui e ali, a direção e os valores de produção redimem tudo. Que venha a próxima temporada, com muita Lady Di e Thatcher.



4. Chernobyl (Minissérie, HBO)

O mito de ''Chernobyl'' é, minuciosamente, desvendado para as grandes massas em uma produção grandiosa que explica não só como tudo aconteceu, mas mostra o lado de cada um dos grupos envolvidos ou afetados pela maior tragédia nuclear da história.

Em um elenco comandado por um sutil Jared Harris, o roteiro esmiúça a situação a ponto do espectador ir do desespero a tristeza e também para o completo ódio em uma curva que expressa bem o desprezo que as vezes podemos sentir pela raça humana. De uma certa forma dialoga bastante com When They See Us, seja por um ser mais ''macro'' e o outro ''micro'', mas ambos falam sobre como pessoas do dia a dia sofrem por causa de um sistema que elas não, necessariamente, podem mudar. Poderoso demais pra se assistir sozinho, mas você pode tentar.


3. Fosse/Verdon (Minissérie, FX)

Esse projeto seria válido apenas por mostrar não somente os bastidores do show business como ele verdadeiramente é ou por adentrar na mente de dois dos artistas mais brilhantes do século passado. E sim, ele o faz de maneira sublime e criando um mundo que traga o espectador de uma jeito que o mesmo não quer mais sair de lá.

Porém, esse projeto vale ainda mais por dar ao mundo a chance de mostrar mais uma vez, em talvez sua maior performance, a força da natureza que é Michelle Williams. A atriz, que vem se firmando como uma das maiores vivas, traz uma Gwen Verdon tão viva e pulsante que você tem certeza que ninguém mais poderia fazer aquela mulher. Choramos e sorrimos com Verdon e tudo isso é mérito da construção meticulosamente genuína que Williams impregna a cada segundo que está em tela, em um tipo de atuação de uma atriz em total domínio de sua arte.



2. Barry (2ª temporada, HBO)


A segunda temporada da série criada pelo Bill Hader se mostrou ainda mais preciosa que a primeira, começou a criar um mundo realmente único para todas aquelas situações e aprofundou todos os seus personagens de uma forma muito interessante.

Inclusive, essa abertura para todos os coadjuvantes além do próprio Barry foi uma das importantes sacadas que o projeto teve, cada um deles acabou encantando por sua personalidade e só adicionaram a série como um todo, especialmente Sally e Hank. E no quinto episódio a série meio que deixou de ser apenas uma ótima série pra entregar algo singular e que torna ela a parte do resto da televisão mundial.



1. Fleabag (2ª temporada, BBC/Amazon)

Nenhum texto meu seria suficiente pra qualificar essa obra-prima sobre ser adulto ou ser humano ou ser capaz de viver, então só deixo aqui as palavras da mítica Phoebe Waller-Bridge na cena que destroçou a minha vida esse ano:

"I just think I want someone to tell me how to live my life, Father, because so far I think I’ve been getting it wrong, and I know that’s why people want people like you in their lives, because you just tell them how to do it. You just tell them what to do and what they’ll get out at the end of it, and even though I don’t believe your bullshit, and I know that scientifically nothing I do makes any difference in the end anyway, I’m still scared.

Why am I still scared?''

Minha série do ano e, talvez, da minha vida. Forte, pulsante e cheia de muita vida - porque a vida as vezes é realmente uma merda. Não teve outro projeto como ''Fleabag'' esse ano.


3 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Moço, pensei que tivesse desistido. Acompanho o blog desde 2018. Amo como você passeia pelas diferentes esferas do entretenimento com a mesma prosa particular, e uma paixão quase palpável. Dá até para te visualizar ao meu lado, conversando. Até hoje aguardo a continuação das postagens sobre a corrida de Melhor Atriz; ansioso pelos anos de 1954, 1985, 1998 e 2002.

    Quanto aos programas, acho que estou de acordo com boa parte da lista. Substituiria The Crown e Stranger Things por produções nossas, como Segunda Chamada e Filhos da Pátria. E como não vi Watchmen, encaixaria Sob Pressão. Ver a Michelle Williams vencendo o Emmy me deu um calor no coração, porque, mesmo que na época ainda não tivesse visto Fosse/Verdon, amo demais essa loirinha. Quando vi, fiquei estupefato. Grandiosa demais, a minissérie e ela.

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    1. Estou devendo as séries brasileiras, mas tenho uma vontade muito forte de ver por completo todas as citadas. Michelle Williams é tudo na minha vida. E obrigado por acompanhar o blog, escrevo pouco pela falta de tempo, mas talvez nessas épocas de quarentena isso venha a mudar. Interessante os anos que você citou, eu tava me organizando pra postar 1990 (Kathy Bates) e 2002 (Nicole Kidman), vou ver se consigo.

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