quarta-feira, 8 de janeiro de 2020

2010's na Música


A década acabou (por favor, não tente discutir sobre isso) e com isso vem as famosas listas tentando compilar tudo de bom que a arte produziu nos últimos 10 anos. É difícil, vou falhar, mas como bom virginiano que sou, não deixarei de fazer as mesmas. O meu viés vocês já conhecem: mulheres. Seja cantando Pop, Rap, R&B, Country o que seja, elas dominaram minha lista, 20 dos 30 lugares ficaram com elas.

Falhei enquanto brasileiro e apenas um dos 30 álbuns listados é nacional, mas prometo prestar mais atenção a música brasileira, algo que só comecei a consumir avidamente nos últimos três ou quatro anos dessa década. Nos anos 10 do novo século vimos o consumo de música mudar completamente para o streaming, artistas lançando álbuns do NADA (obrigado, Beyoncé!), o Pop e o R&B perderem sua força e o rap e a música latina dominarem tudo. O Brasil, no âmbito mainstream, se infiltrou de funk, sertanejo, mas vimos uma cena pop como nunca antes.

Não foi fácil selecionar apenas 30 álbuns, alguns caíram quase que de última hora (Grimes, tô falando contigo) e alguns não resistiram a uma nova ouvida (Miguel, essa é pra você, mas ainda te adoro), também decidi não colocar mais de um álbum do mesmo artista (Beyoncé, Frank Ocean e James Blake com certeza entrariam mais de uma vez), mas acho que consegui compilar uma seleção que representa meu lado pop e meu lado mais, digamos... intimista. Então, sem mais delongas, a seleção:


30D'Angelo and the Vanguard - Black Messiah (2014): D'Angelo demorou quase 15 anos para voltar, mas seu comeback foi um estouro, uma verdadeira carta de amor ao soul. É um álbum bem difícil, demorei umas três ouvidas pra conseguir absorver tudo, mas faz sentido que tenha demorado tanto pra ser lançado, é um tipo de trabalho que requer um investimento, mas uma vez que você adentra aquela sonoridade, vale demais a experiência. Melhor Faixa: Really Love.

29. Solange - A Seat at the Table (2016): O segundo álbum da cantora tem uma das minhas canções favoritas da década passada (T.O.N.Y.), mas nada que me preparasse para a exposição que Solange viria a fazer. Um poderoso relato sobre o que é ser negra, mulher e até irmã de Beyoncé, tudo isso em uma roupagem Soul/R&B de primeira linha, uma verdadeira revelação. Melhor Faixa: Don't Touch My Hair.

28. Rosalía - El Mal Querer (2018): O trabalho de fim de curso de Rosalía é uma fortíssima infusão do flamenco tão natural de seu país com pitadas de música ''pop''. É um álbum conceitual como poucos artistas ousaram fazer na década, ainda mais tão jovem, mas explicita que mesmo estando cada vez mais ''mainstream'', A cantora tem um talento sem igual, e espero que a mesma retorne ao nível apresentado aqui em futuro próximo. Melhor Faixa: De Aquí No Sales.

27. Björk - Utopia (2017): Entra e sai década e poucos artistas ainda se arriscam tanto quanto a maior islandesa do mundo, mas se ela é boa falando de amor, quando precisou falar de separação, saudade e o lado bom de estar sozinha, Björk foi estupenda. É um trabalho difícil, como se é de esperar, mas tão intimista e recompensador que é impossível não gostar. Melhor Faixa: Body Memory.

26. Scissor Sisters - Night Work (2010): Em hiatus indefinido desde 2012, a banda ainda é uma das melhores que já agraciou a música. Esse projeto explicita muito bem isso, mergulhando totalmente em um glam disco, o Scissor Sisters entregou uma obra transloucada que é a cara do pop/rock europeu de décadas atrás, voltem logo suas tesouras amadas! Melhor Faixa: Invisible Light.


25. Vampire Weekend - Modern Vampires of the City (2013): A banda através de 3 álbuns lançados na década se tornou um dos grandes artistas da mesma, amo demais seu último álbum, mas até por ser o mais recente, vou ficar com o mais maduro. ''Modern'' é um álbum que buscou se distanciar de trabalhos anteriores, se afundou no indie e entregou um produto final que acabou marcando quem a banda é como essência. Melhor Faixa: Everlasting Arms.

24. James Blake - Overgrown (2013): Nenhum artista masculino solo me chamou mais atenção na década do que Blake, acredito que ele até deveria ficar mais acima na minha lista, mas dado o estado que ele me deixa após ouvir seus trabalhos, acabei por não ouvi-lo com tanta frequência. James fala de solidão e transforma isso em música da forma mais melancólica possível, a utilização de synths e elementos de outros gêneros como hip-hop só tornam a experiência ainda mais maluca e, até, dolorosa. Melhor Faixa: I Am Sold .

23. Jazmine Sullivan - Love Me Back (2010): Eu sou apaixonado pelo debut (self-titled2009) de Jazmine e embora a década tenha nos dados um ANTI, vários álbuns excelentes da Fantasia e Ledisi e outros exemplares maravilhosos, nenhum deles tem a pura essência do R&B que esse segundo trabalho de Sullivan. É um álbum que entrega o que Mary J. Blige fazia nos anos 90/00, mas injetando uma juventude e paixão, uma preciosidade de uma artista ainda muito subestimada. Melhor Faixa: U Get on My Nerves (feat. Ne-Yo).

22Rebecca Ferguson - Heaven (2011): Ferguson é da mesma temporada do X-Factor do One Direction, o que ninguém esperava era que a competidora de um mero reality show seria capaz de conceber um álbum tão esmerado e poderoso como é o caso de Heaven. É como se Rebecca tivesse se embebedado do melhor que o Pop e o Soul tem pra oferecer e nos entregue de presente um álbum que não tem uma música descartável sequer. E que intérprete é essa mulher, meus amigos! Melhor Faixa: Glitter & Gold.

21. PJ Harvey - Let England Shake (2011): A cantora é um dos maiores nomes da cena alternativa britânica desde os anos 90, é até de se abismar que a mesma conseguiu fazer um dos álbuns mais perfeitos da década com mais de 20 anos de carreira. Prevendo uma cisão em seu próprio país, PJ fala sobre as mazelas do Reino Unido com um puta trabalho de produção e de lírica, excelente de cabo a rabo. Melhor Faixa: All and Everyone.


20. Elza Soares - A Mulher do Fim do Mundo (2015): O renascimento de Elza perante o grande público é um colosso de álbum que tem a cara do Brasil, fala de sexualidade a violência doméstica, faz isso com sons de samba a rap e com isso fez uma nova geração, eu inclusive, conhecer a potência dessa mulher, uma das maiores que nosso país já gerou. Melhor Faixa: Maria da Vila Matilde.

19. David Bowie - Blackstar (2016): A ''canção de despedida'' de Bowie é um álbum que reflete bem sua carreira: diferente e, absurdamente, intrigante. O britânico esquematizou do álbum, que tem apenas sete faixas, ser lançado quase que igual a seu falecimento. Tamanha é a precisão cirúrgica do fato quanto é o nível de excelência que um dos maiores artistas da música impregnou nesse projeto, uma explosão experimental de rock e jazz. Obrigado por tudo, Bowie! Melhor Faixa: Lazarus.

18. Adele - 21 (2011): Esse álbum está mais aqui pelo que ele representa pra o meu ano de 2011 e pra música em geral do que por sua qualidade per si. Não me entendam mal, o álbum é excelente, mas a nível qualitativo muitos estariam a sua frente. Porém, me marcou fortemente e no que Adele peca em ''falta de produção'', ela mais que compensa em interpretação. A maior vocalista da nossa geração fala cada palavra como se tivesse pegando em nossa mão e isso reflete direto nas pancadas que recebemos em nosso coração. Melhor Faixa: Set Fire to the Rain.

17. The Black Keys - El Camino (2011): Se o debut do Strokes (Is This It) é o álbum de ''rock de garagem'' definitivo da década passada, esse que saiu exatamente 10 anos depois é o da nova década. Dan Auerbach é um dos artistas que mais gosto, e ele junto do Patrick e do produtor Danger Mouse fizeram um som, digamos... porreta pra esse álbum. É muita bateria, muita coisa up e você realmente sente a energia colocada no projeto, se eu pudesse realizar um sonho musical com certeza seria ouvir esse álbum todo ao vivo. Melhor Faixa: Lonely Boy.

16. Robyn - Body Talk (2010): Reza a lenda que a Suécia é o país que melhor produziu artistas pop, se é verdade eu não sei, mas que essa sueca aqui é um excelente argumento, não tem o que se duvidar. Robyn passou a década quase toda ausente ou fazendo parcerias, mas não ficamos tão abandonados porque sempre houve esse álbum. Um projeto que sintetiza tudo que o europop, dance e electro-pop trazem de melhor, Robyn transforma tudo isso e entrega algo que ela ficou bem famosa: a capacidade de dançar e chorar ao mesmo tempo com a mesma música. Melhor Faixa: Dancing On My Own.


15. SZA - Ctrl (2017): Em um dos principais exemplares de um R&B contemporâneo da década, a jovem SZA fala daquilo que permeia muito dos álbuns aqui citados: seus problemas e experiências. Nada dialoga mais com alguém do que ver uma situação que você conhece bem transformada em música, e aqui a cantora fala de tudo sobre o amar, especialmente amar em 2017. O resultado é um álbum contido, pessoal, mas não menos poderoso por isso. Melhor Faixa: The Weekend.

14. Ariana Grande - Dangerous Woman (2016): Nunca foi esquecer a primeira vez que ouvi esse cd e pensei ''Ariana is legit'', a cantora até então tinha canções legais, mas nada que separasse ela das milhares que a precederam. No entanto, a coesão lírica e de produção do DW foi um baita tapa na minha cara, parecia que ela tinha realmente se encontrado com um pouco de R&B misturado em uma grande tigela de Pop. Daí em diante tudo que Ariana fez mostrou que a sua tendência é apenas crescer e se firmar como uma das grandes cantoras pops de todos os tempos. Melhor Faixa: Into You

13. Nicola Roberts - Cinderella's Eyes (2011): Ouso dizer que é a escolha mais obscura da minha lista, lançado no começo da década e por uma artista que nunca mais lançou nada. Porém, esse álbum foi uma surpresa nunca esquecida, Nicola chamou até Diplo para a produção do mesmo e o resultado foi esse: uma gem do pop que só fica atrás de duas obras obras-primas do gênero. Melhor Faixa: Porcelain Heart.

12. St. Vincent - MASSEDUCTION (2017): Eu poderia citar qualquer um dos projetos da americana em questão aqui e seria igualmente justo. E eu quase fiz isso colocando o seu álbum self-titled de 2014, mas em uma re-ouvida dos dois percebi que o aumento da potência pop e a adição de uma sonoridade mais glam fazem desse álbum uma escolha que dialoga mais comigo. Melhor Faixa:Young Lover.

11. Frank Ocean - channel ORANGE (2012): Muito dizem que esse álbum é fez para o soul moderno o que Let's Get It On de Marvin Gaye fez para o gênero nos anos 70. Não sei se iria a tanto, mas fico feliz desse esplêndido exemplar do gênero ter captado os olhos do mundo para Ocean, um dos artistas mais interessantes da atualidade. Seu segundo álbum, Blonde, poderia facilmente estar nessa lista, o alto nível musical também está presente nele. Melhor Faixa: Pyramids



10. Kanye West - My Beautiful Dark Twisted Fantasy (2010): Nem a personalidade problemática do rapper me fez tirar o mesmo do meu top 10 graças a essa obra-prima do gênero que ele entregou logo ali no começo da década. West sempre se destacou pela sua produção, que entregava novas facetas a uma cena rap não tão renovada. Aqui ele vai um passo além e entrega letras, samples, produção e tudo mais em uma escala altíssima. É um álbum onde cada canção ganha vida de forma latente, e isso é impagável. Melhor Faixa: Monster (feat. Jay-Z, Rick Ross, Nicki Minaj e Bon Iver).

9. Kendrick Lamar - To Pimp a Butterfly (2015): West foi o maior rapper da década passada, mas nessa não tem competição, Kendrick dominou e não parece que vai parar nem tão cedo. Quando falamos em rap, logo pensamos em rimas e pessoas que falam sobre a vida na rua, nesse álbum as duas coisas chegam em um ápice sem igual. Lamar dialoga sobre todas as mazelas sociais que ele teve vivência com a pungência que só mesmo o rap consegue entregar. Melhor Faixa: King Kunta.

8. Ashley Monroe - Like a Rose (2013): Sempre sofro um pouco entre meus amigos por gostar de country, mas não posso fazer nada se um bom banjo e uma voz caipira já me deixa animado. E me enganei quando disse anteriormente sobre o álbum da Nicola ser a minha escolha mais estranha, acho que Monroe ganha, só isso já prova como ela é estupidamente subestimada. É um trabalho de country raiz que faz com que você queira sentar numa cadeira de balanço e só parar e ver o mundo e pensar em como ele é agridoce no fim das contas. Melhor Faixa: Two Weeks Late.

7. Arcade Fire - The Suburbs (2010): Minha banda favorita da década, quando esse álbum saiu eu estava entrando na minha maioridade e tudo que ele falava parecia exagerado, mas hoje aos 26 anos de idade eu percebo que essa grande sinfonia alternativa dialogava sobre os problemas de ser um adulto que viu sua vida passar ou que mesmo vendo isso não consegue mudar seu cenário atual, é um álbum mais ''micro'' nas questões que levanta do que os anteriores, mas até por isso funciona melhor como discurso. Melhor Faixa: We Used to Wait.

6. Carly Rae Jepsen - E•MO•TION (2015): Em essência esse trabalho termina a década como o melhor álbum pop da mesma, é até engraçado que em uma era que buscamos cada vez mais nostalgia, o melhor trabalho da mesma tenha bebido diretamente da fonte das músicas dos anos 80. Liricamente ela ainda fala muito sobre sofrer de amor? Fato, mas isso não impede que o faça com um jeito bem particular e gostoso de se ouvir, buscando uma identidade sonora de tirar o chapéu. Melhor Faixa: Run Away With Me.


5. Janelle Monáe - Dirty Computer (2018): Os 5 álbuns do meu top são projetos que dialogam sobre a vida de cada uma dessas mulheres. Vamos começar com Monáe, uma artista que já tinha feito trabalhos excelentes, mas nada que antecipasse a potência que ela entregaria aqui. Com elementos de diversos gêneros musicais, Janelle nadou por raça, sexo e social como nenhuma outra fez na década, esplêndido em todos os aspectos, é um trabalho definitivo para a artista. Melhor Faixa: Django Jane.

4. Beyoncé - Lemonade (2016): Nesse relato gritado de uma traição inacreditável que ela precisou encarar, Beyoncé vaga por gêneros pouco explorados anteriormente como rock e country, sempre com a maestria de uma artista em seu auge. A cantora também dialoga sobre a problemática de ser uma mulher nesse meio radioativo e ser negra em um mundo racista, e sempre acerta quando se coloca nesses lugares. ''Lemonade'', que também é um álbum visual e conceitual, acaba sendo uma jogada de merda no ventilador irretocável da maior artista musical dessa década.  Melhor Faixa: Freedom (feat. Kendrick Lamar).

3. Lorde - Melodrama (2017): Dois dos meu três álbuns favoritos da década falam sobre a solidão pós relacionamento (engraçado que um deles fala exatamente sobre ser feliz em um relacionamento rs), o primeiro deles é essa preciosidade pop/eletro da neozelandesa mais perfeita do mundo. O álbum serve como um depoimento dos efeitos colaterais que um relacionamento pode deixar na gente. É bastante cru em certos momentos, mas bastante direto e preciso, com uma força que você só consegue perceber quando analisa ele como um todo. Melhor Faixa: Supercut. 

2. Kacey Musgraves - Golden Hour (2018): Esse é o álbum feliz mais feliz dentre os álbuns felizes do mundo. Sabe quando você está em completo e total êxtase? Deve ter sido assim todo o processo de gravação desse projeto. Kacey é o nome mais interessante do country atual e seus trabalhos anteriores já são estupendos, mas esse álbum deve se concretizar como sua magnum opus, é um tipo de reverberação da alegria de ser e estar como há muito eu não ouvia. Brilhante do início ao fim. Melhor Faixa: Velvet Elvis.

1. Fiona Apple - The Idler Wheel... (2012): Fiona é uma pessoa que sempre sofreu, antes e depois do estrelado, e nunca deixou de explicitar isso em seus trabalhos. ''Idler'' é um projeto que sumariza bem sua dor, seja em suas letras, na produção artística arrojada ou na interpretação sufocante que Apple entrega em cada música. E não tem como não se sentir tocado por essa situação quando se vai permeando cada uma das faixas desse álbum. A cantora lançou, basicamente, um cd por década e é compreensível, não é todo dia que conseguimos lidar com nossas dores mais intrínsecas, mas quando conseguimos expurgar as mesmas, não tem sensação melhor. E Fiona me deu a melhor sensação possível com o Idler Wheel, e por isso eu sempre serei grato. Melhor Faixa: Valentine.

Que a nova década traga muitas coisas novas, mas também esses artistas incríveis entregando mais coisas maravilhosas! Quem será que volta aqui em 2030? hahaha ficamos na curiosidade!

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