terça-feira, 7 de janeiro de 2020

2019 na Música


Sigo tentando acompanhar o mundo da música com a mesma avidez que uma vez o fiz no passado, nem sempre consigo, mas ainda sou capaz de ouvir pérolas incríveis do meio. Algumas delas em suas épocas de lançamentos (Ariana, James Blake), outras tipo na última semana de dezembro (MC Thá), mas nunca desistindo.

O ano trouxe alguns álbuns excelentes que quase entraram no top, especialmente IGOR, o excelente novo trabalho do rapper Tyler, the Creator. A volta de alguns artistas como a ótima Maren Morris não foi tão incrível como seu álbum debut, mas mostra que ela pode se firmar no gênero country. As paradas do ano foram dominadas por duas artistas bem díspares, Lizzo e Billie Eilish, ambas são muito boas e fico feliz de personas tão singulares estarem na boca do povo.

Na cena nacional vimos o álbum de Djonga, que é excelente, dominar o primeiro semestre a nível de qualidade, mas a segunda parte do ano trouxe coisas excelentes. A nível de canções individuais, não ouvi nenhuma outra mais que Chega, uma parceria entre Duda Beat e os cantores Mateus Carrilho e Jaloo, um chiclete gostoso com sabor de Brasil. Porém, VSF, do Jão foi uma forte concorrente, assim como Fake Smile da Ariana Grande.

Sem mais delongas, meu top 10 álbuns do ano:


10. Emicida - AmarElo

O rapper paulistano de 34 anos de idade foi o maior nome do gênero do país nessa década, e ele finaliza a mesma com um álbum que prometia e cumpriu bem demais. O novo produto de Emicida é muito mais pop do que se esperava, mas tão consciente e, liricamente, poderoso quanto a gente precisava. A canção título, com sample de Belchior, ficou bem famosa, mas a melhor do álbum é Ismália, que conta até com Fernanda Montenegro recitando frases poderosas como o trabalho exibe em sua totalidade.


9. James Blake - Assume Form

Coisas que eu nunca esperei de James Blake: que ele fosse fazer canção de hip-hop, que fosse casado com a Jameela Jamil e que, em 2019, fosse me entregar um álbum tão ''diferente'' do que a gente está acostumado. Engraçado que ele fez tudo isso, e com maestria.

''Assume Form'' é um Blake bem diferente, ousado e que traz uma alegria em meio a melancolia esperada do mesmo, saiu quase 1 ano atrás e quando fui fazer essa lista, foi o primeiro álbum que me veio a mente, bom demais.


8. Carly Rae Jepsen - Dedicated

Como fazer um sucessor a um dos grandes álbuns da década? Carly deve ter se perguntado isso quando percebeu que seu álbum anterior tinha se tornado um clássico cult entre uma generosa parcela do público. Foi necessário quatro longos anos, mas seu novo álbum de estúdio não decepcionou em nada.

Tem a mesma pegada do anterior? Em partes sim, mas vai além, e nesse ponto pode ter deixado muita gente pra baixo, mas o resultado final é um produto muito mais coeso do que a grande maioria das cantoras pop consegue produzir hoje em dia. Recomendo ''Want You in My Room'' pra qualquer pessoa ouvir e perceber a joia que essa mulher não cansa de entregar a música pop.



7. Miranda Lambert - Wildcard

Houve uma época que Miranda era a grande expoente do country quando se falava de qualidade, especialmente entre as cantoras. Hoje o cenário não é mais esse, entre Kacey Musgraves e Maren Morris há muitas pessoas fazendo música country com muita qualidade.

Porém, a presença de Lambert sempre é muito bem vinda e após alguns anos afastadas, a cantora volta com produtor novo, mas com o nível de sempre. O álbum já começa impecável com ''White Trash'' e se mantém assim até o final. Miranda é sempre confiável, aliás, é sempre impecável. 


6. Anderson .Paak - Ventura

O último álbum de Paak (Oxnard) ainda era bem bom, mas um nível a menos que o anterior, que levou o cantor ao estrelato. Acredito que Anderson também percebeu isso e em um período de, praticamente, seis meses lançou um novo cd.

Com parcerias do nível de Smokey Robinson, André 3000 e Lalah Hathaway, Ventura veio como o vento em uma tarde no parque: rápido e delicioso. O projeto tem menos de 40 minutos, é absurdamente animado e Reachin' 2 Much tem muita chance de ser a melhor faixa que ele já lançou.


5. Angel Olsen - All Mirrors

Angel foi a última a compor a lista, é uma artista que eu fico esgueirando por anos, sei o quanto é camaleoa e foi muito aclamada pelo seu novo álbum. Fui conferir e entendi totalmente o buzz que essa mulher causa.

Uma carta aberta sobre seus maiores problemas, mas feito como uma grande orquestra de altíssima qualidade. Uma grata surpresa que evoca música clássica e clara utilização de instrumentos ao vivo, o trabalho de Angel convida você a tomar um vinho e chorar um pouco numa tarde de sábado, te garanto que após uma ouvida em ''Summer'', tudo vai fazer sentido.


4. MC Tha - Rito de Passá

Comecei essa lista com MC Tha quase fora dela, terminei com ela em quarto lugar. Como isso aconteceu? Coloquei Clima Quente para tocar para lembrar um pouco desse álbum, ai acabei ouvindo o álbum todo umas três vezes (é curtinho, menos de 30 minutos) e percebi que música brasileira cantada por mulher sempre pisa muito.

E quando esse som vai do funk ao forró? Ai não tem como não ficar apaixonado, a jovem tem apenas 26 anos, mas promete muito, e se continuar no nível apresentado aqui, certeza que irá arrasar demais na década que está por vir.


3. Lana Del Rey - Norman Fucking Rockwell!

Nunca fui um ávido ouvinte de Lana Del Rey, mas curto o Born to Die e sou apaixonado pelo Ultraviolence, mas ao ouvir o Honeymoon acabei a deixando de lado, de modo que nunca ouvi o Lust for Life. Felizmente, ouvir NFR! foi uma experiência quase reveladora, é impressionante que a cantora que começou tantos anos atrás chegou ao apuro que apresenta agora.

Um álbum tão refinado que consegue dialogar forte com a Lana de 2012, mas traz a perspectiva de uma artista que buscou sempre se aprimorar em seu ofício. Com uma produção esmerada e canções do nível de Mariners e The Greatest, Lana entrega seu melhor álbum, mas de muito longe.


2. Ariana Grande - thank u, next

Desde o Dangerous Woman a cantora vem demonstrando sinais que é uma das artistas pop mais interessantes em atividade, mas o que eu não imaginava é que seria necessário um momento tão triste na carreira para que a mesma se trancasse em um estúdio, aproveitasse de montão e depois lançar um álbum que, literalmente, é a definição de pop perfection.

''thank u, next'' tem dois elementos essenciais em grande gravações: coesão lírica e melódica, com algo a ser dito. Basicamente, Ariana utilizando o pop contemporâneo vai expurgando seus demônios de forma upbeat, mas sempre uniforme em um projeto que saiu muito melhor do que encomenda. Ouçam fake smile, delícia pop como poucas coisas lançadas em 2019.


1. Vampire Weekend - Father of the Bride

Pela primeira vez em três ou quatro anos o meu #1 lugar não é de uma cantora, mas o novo trabalho do Vampire não dá para ser ignorado. Seis anos depois e com uma cara absurdamente diferente, o álbum traz o tipo de pop que só mesmo uma banda do calibre do Vampire é capaz de fazer, liderado pelo sempre ótimo Ezra Koening, vocalista e produtor de grande parte do álbum.

Em ''Father'', a banda dialoga sobre todos os problemas de um mundo claramente em decadência com uma sonoridade diversa, mas ainda bastante particular e, intrigantemente, alegre. O álbum é ''pra cima'', mas fala de assuntos down, uma especialidade que o Vampire Weekend faz como poucos.

Ah, não preciso nem dizer pra quem eu estou torcendo no Grammy desse ano, né? Vence essa, Ezra!

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