Existe um ditado muito popular que diz que ‘’o pop está
morto’’. Essa afirmativa não é de toda errada, o gênero musical mais
‘’pop-ular’’ de todos se viu em considerável declínio nos últimos anos, devido
a suas principais interpretes entrarem em uma espiral de fracassos ou mudanças
de gênero. De Beyoncé a Kylie Minogue, passando por Christina Aguilera e até
Madonna, todas se viram em momentos de mudança, por vontade própria ou não, e acabaram
mergulhando em outros mares para se manter no auge, algumas com êxito,
outras nem tanto. Dentre as grandes artistas, vale ressaltar que Taylor Swift
foi uma das poucas que se ateve, puramente, ao gênero, mas entregando trabalhos
tão fracos como, por exemplo, ‘’Reputation’’ (2017), fica difícil torcer pela
cantora.
Eis que surge Dua Lipa, inglesa de pouco mais de 20 anos,
ainda em 2017 com um álbum debut totalmente voltado ao pop. Seu nome cresceu
aos poucos, obteve um dos maiores hits do ano com ‘’New Rules’’ e emplacou,
posteriormente, hits com artistas de grande nome nas pistas de dança como
Martin Garrix, Calvin Harris e Diplo. Para coroar tudo isso, em seu auge no
Grammy 2019, venceu o prêmio de ‘’Artista Revelação’’.
O que ninguém esperava é que essa mesma mulher entregaria a
mais preciosa joia do gênero em anos num começo de ano tão conturbado
como 2020. ‘’Future Nostalgia’’ é o exemplo mais notório do que um álbum pop,
com pitadas de dance/euro/disco, representa para o grande público.
O álbum possui excelentes produtores, mas é preciso destacar
que a presença do sempre ótimo Stuart Price é uma peça fundamental para a
integridade e coesão do disco, especialmente por torná-lo tão, essencialmente,
pop. Price foi o principal produtor de ‘’Confessions on a Dancefloor’’,
‘’Aphrodite’’ e ‘’Night Work’’, grandes projetos de, respectivamente, Madonna,
Kylie Minogue e Scissor Sisters. A fortíssima influência do ‘’europop’’, gênero
que tem seu nascimento com o ABBA, no novo álbum de Dua Lipa é o que faz o
mesmo ser tão especial mesmo em 2020.
O gênero absorve muito dos anos 70 e, especialmente, dos
anos 80, berço do nascimento da música pop. Recentemente, tivemos o ‘’E-MO-TION’’
(2015) de Carly Rae Jepsen, e anteriormente ‘’Love.Angel.Music.Baby’’ (2004),
debut solo da cantora Gwen Stefani e um dos mais influentes álbuns do gênero
nesse século. Não por acaso, Lipa cita Stefani como uma das principais
inspirações do álbum. Madonna também é citada como inspiração e não choca,
canções como ‘’Don’t Start Now’’ caberiam perfeitamente em álbum de Madonna
mesmo nos dias de hoje.
Dua, que assina todas as canções como compositora, dialoga
aqui sobre o que podemos esperar de uma jovem em sua idade: amor, sexo e
relacionamento, e tudo que vem junto disso. Nem tudo são flores em teu
tratamento lírico do assunto e a mesma chega a falar ‘’If you're offended by this song, you're clearly doing something
wrong’’, algo muito literal e não-imaginativo para um produto do nível que
ela entrega. Porém, um mero detalhe dentro de uma seara de ótimas rimas e
metáforas.
A cantora sempre apostou, e acredito ser inerente a mesma,
em uma imagem ‘’blasé’’ em seus videoclipes, apresentações e projeção da
própria imagem. Aqui isso acaba se transparecendo até mesmo em suas canções,
com exceção de ‘’Physical’’, que é extremamente agitada, as demais produções
parecem soar até meio ''lounge'', mas sem nunca perder a percepção do que é ouvir uma
canção pop na balada. Nisso se destacam ‘’Hallucinate’’ e ‘’Levitating’’,
faixas que deixam claro a essência de Dua enquanto artista.
Porém, eu poderia falar das onze faixas apresentadas pela
cantora, todas excelentes no fim das contas. Só que sim, será essa essência que
permitiu que em pleno 2020 a cantora tenha se afirmado tão forte em não
preferir seguir qualquer ‘’moda musical’’, mas sim se expressar com o que
realmente gosta que deverá ser o fio condutor de uma carreira cada vez mais
criativa, cativante e exuberante, como vem sendo a artista Dua Lipa nesses
últimos anos, um dos melhores sopros de ar fresco que a música pop poderia ter recebido.
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