quinta-feira, 7 de fevereiro de 2019

Teatro em 2018: O que vi e o que preferi!


Esse último ano foi completamente indescritível no que se refere a viver experiências no teatro. Consegui assistir de pequenas produções de peças brasileiras até os maiores musicais da Broadway. E por ter tido todo esse mistura na minha lista, resolvi fazer um top 20 dos melhores, mas calma que detalhar mesmo só irei fazer do top 10.

Segue o ranking:

20º - Agosto (Peça, Brasil)

(crédito: Caio Gallucci)

19º - Pacto (Musical, Brasil): André Loddi na melhor interpretação masculina em um musical brasileiro que vi esse ano (foto).

18º - The Book of Mormon (Musical, Broadway)

17º - Mean Girls (Musical, Broadway)

16º - Panorâmica Insana (Peça, Brasil)

(crédito: divulgação)

15º - Tick, Tick... Boom! (Musical, Brasil): E a arte de se apaixonar por Giulia Nadruz

14º - Natasha, Pierre e o Grande Cometa de 1812 (Musical, Brasil): Que o Brasil aposte cada vez mais em produções únicas como essa.

13º - Cargas D’Água, Um Musical de Bolso (Musical, Brasil)

12º - Pousada Refúgio (Peça, Brasil)


11º - The Waverly Gallery (Peça, Broadway): Elaine May é um MONSTRO.

Agora, meu TOP 10 com uma opinião mais difundida:

(crédito: Caio Gallucci)

10. Romeu e Julieta ao Som de Marisa Monte (Musical, Original, 2018, São Paulo)

Em uma das mais belas produções já vistas no Brasil, o texto (mesmo que diluído) de Shakespeare parecia que tinha encontrado uma parte de sua alma nas canções da excelente Marisa Monte. Thiago Machado e Bárbara Sut comandaram um elenco excelente e conseguiram personificar duas das mais interessantes personas do teatro com a ajuda de vocais cristalinos em cada uma das músicas.

Um dos grandes destaques da produção também eram seus figurinos belissimamente extravagantes, mas totalmente em coordenação com a identidade visual do musical. Ainda fico na dúvida entre um momento de auge quando temos a cena do balcão ao som de ''Amor, I Love You'' e o descer das estrelas ou a subida da parede na festa, mas acho que ainda fico com a finalização do primeiro ato, das mais belas e poderosas que já presenciei em um teatro.


9. Dear Evan Hansen (Musical, Original, 2016, Broadway)

Conseguir assistir a ''Evan'' era uma de minhas prioridades na viagem para New York, e ele foi um dos únicos shows que eu comprei antecipadamente. Admito que em nada o musical me decepcionou. Entrar naquele teatro não tão grande e poder presenciar toda aquela história já me fez começar a chorar logo em ''Waving'', mas foi durante o segundo ato com duas canções de acabar com qualquer coração, ''Words Fail'' e ''So Big/So Small'' que me vi totalmente entregue ao show.

E se Ben Platt fez história na Broadway com o papel, seu sucessor não entrega menos que 110% em cena. Aliás, considero Taylor Trensch ainda mais a cara de bobão/loser que Platt, mas comparações de lado, é um performance poderosa e muito sincera, marcando qualquer espectador que possa vê-la.



8. Waitress (Musical, Original, 2016, Broadway)

Já conhecia a trilha do musical feito por Sara Bareilles e amava cada pedacinho dela, mas nada me preparou para a deliciosa (rs) experiência que foi presenciar essa produção ao vivo. É um musical que eu considero, literalmente, lindo. Visualmente ele tem das escolhas mais fofas e queridas do teatro moderno e o elenco é composto de personagens extremamente cativantes (tirando, óbvio, o marido da protagonista) que ganham seus merecidos momentos para brilhar.

Porém, é Jenna, e a minha foi a estreante e maravilhosa Nicolette Robinson, que consegue ser a mais estranhamente interessante peça em meio a todas aquelas personas. E mesmo passando por momentos realmente difíceis, a personagem cativa o público e entrega um dos melhores números de encerramento do teatro musical moderno, presenciar alguém cantar ''She Used to be Mine'' foi dos auges da minha viagem.


7. The Ferryman (Peça, Original, 2018, Broadway)

Quais as chances de uma peça sobre o interior da Irlanda ser interessante? E se ela tiver quase três horas? Pois é, essa era a minha indagação ao ficar na fila para comprar o ingresso para a nova produção dirigida por Sam Mendes na Broadway, mas em uma pungente surpresa, essa produção é um, quase literal, soco no estômago.

Paddy Considine e Laura Donnelly lideram um elenco enorme, ao menos para uma peça, que é igualmente talentoso em cena. Em um texto que fala de família, geração e, acima de tudo, escolhas, podemos ver o quanto o arrependimento e as decisões que tomamos podem gerar consequências fatais. E o que falar da cena final? Me deixou totalmente de queixo caído e terminou a peça com um estrondoso BANG!


6. Torch Song (Peça, Original, 2018, Broadway)

Quando algo bate diretamente no seu coração é, as vezes, até difícil avaliar corretamente uma obra. E foi assim que essa peça de Harvey Fierstein me deixou após, também, quase três horas no teatro. Arnold é um jovem gay consideravelmente estranho vivendo nos anos 80 na cidade de New York. Ele tem sérios problemas com si mesmo e parece que quase todos em volta pontuam isso diretamente em seu rosto, especialmente sua mãe.

Em uma peça que vai além do belíssimo e poderoso texto, cenário incrível e um elenco de coadjuvantes estupendo, o trabalho que fica é a incrível presença de Michael Urie. É uma mistura de trabalho de corpo com entrega emocional que deixa qualquer um em cacos, e quando você acha que tudo já foi jogado em cena, a participação de Mercedes Ruehl vem para dilacerar ainda mais todo aquele mundo. Verdadeira, cruel e com 100% de entretenimento, com certeza foi uma das melhores tardes que passei no teatro ano passado.

(créditos: divulgação/Porto Seguro)

5. Suassuna: O Auto do Reino do Sol (Musical, Original, 2017, São Paulo)

Uma das coisas que mais amei em 2018 foi perceber que as três produções brasileiras, uma peça e dois musicais, que mais amei não eram adaptações, mas criações 100% originais e que refletiam veementemente a cultura desse país. O primeiro deles foi ‘’Suassuna’’, uma produção ousada, brilhante e a cara do Brasil.

Acredito que a maior artimanha do musical é como tudo parece se integrar em uma única linguagem. Nada do que está em cena soa destoante, é como se eles tivessem feito do figurino até a última palavra falada em cena como uma propriedade da produção. E isso é parece ser muito reflexo da produtora, ‘’Barca dos Corações Partidos’’, que tem uma identidade visual muito forte e consegue transpor isso para o palco por completo.

O elenco, um destaque a parte, parece ser composto de pessoas dando 150% no palco e isso é a cereja no bolo para que você compre tudo que está sendo apresentado. Com destaque para Adrén Alves, iluminado em cena como a quase protagonista da trama.


4. My Fair Lady (Musical, Revival, 2018, Broadway)

Essa montagem de ‘’My Fair Lady’’ é a epítome de ‘’produção clássica’’ no imaginário popular, e vocês não tem noção do quão feliz eu fiquei de poder presenciar aquelas horas, tão mágicas, se desenrolarem aos meus olhos.
Um musical com o estilo e opulência dos anos 50, quando foi originalmente concebido, mas com um twist no libreto que elimina muito do sexismo do texto original. Essa produção do ‘’Lincoln Center’’ tem os figurinos mais deslumbrantes que eu já presenciei num palco, os da corrida de cavalo são embasbacantes, e um cenário bem a moda antiga tamanha a similaridade com o real na produção. Porém, nada disso serviria (brincadeira, talvez servisse) se não fosse um elenco estupendo em cena. Lauren Ambrose É a melhor definição de Eliza e o ator substituto de Mr. Higgins não estava menos que perfeito. Poder ver no palco um ator do nível de Nobert Leo Butz e uma lenda como Rosemary Harris apenas fecham o ciclo da melhor maneira em uma experiência única e inesquecível.


(crédito: divulgação)

3. Elza (Musical, Original, 2018, São Paulo)

Se eu pudesse definir ‘’Elza’’ em uma palavra seria ‘’poderoso’’. É assim que eu me senti vendo a história de uma das mais incríveis brasileiras da história sendo contada no palco por mulheres extraordinariamente talentosas. Sem a necessidade de nada mais que alguns baldes e dois ‘’carrinhos’’, o musical aposta numa banda feita por mulheres e por mais mulheres interpretando várias Elzas com um repertório irretocável para causar impacto na plateia, e ele consegue fazer isso e muito mais.
Elza Soares foi uma mulher essencialmente brasileira, sempre precisou batalhar para conseguir seus objetivos, se reinventar para não sumir, mas resistir para não sucumbir. Em um determinado momento quando cantam ‘’A Carne’’, as mulheres levantam seus punhos em uma ode ao movimento ‘’Black Panther’’ e bradam ‘’Marielle presente’’. É de uma pungência dramática que eu jamais conseguiria descrever, é necessário sentir. Amém teatro musical brasileiro.



2. Hamilton (Musical, Original, 2015, Broadway)
Não existe um ‘a’ sequer que pode ser dito sobre ‘’Hamilton’’, o musical é tudo aquilo que falam e mais um pouco. Acho que o que mais admiro na produção é o quão bem pensada e finalizada ela é. É um projeto que trata da fundação dos EUA como conhecemos e parece que cada parte do libreto e da trilha, maior parte em forma de rap, foi milimetricamente feita para se enquadrar na história.
O elenco, absurdamente diverso, me deu uma incrível surpresa que preciso destacar: Michael Luwoye. Ele foi o meu Hamilton e posso dizer, com tranquilidade, que nunca vi uma performance em musical ter tanta profundidade no que falamos de atuação, mas também de voz. É, literalmente, o resultado perfeito de um ator que atinge as notas corretas, mas também entrega (em sei lá qual era a vez que ele estava fazendo o papel) uma carga dramática e poderosa também em suas cenas dramáticas.
A coreografia é um deslumbre, indo do hip-hop ao vogue, mas quando juntamos ela a direção meticulosa de Thomas Kail em uma cena fatídica, a da bala, vemos aquele momento mágico que faz com que a nossa cabeça faça um ‘’click’’ e consigamos perceber o poder que tem ‘’Hamilton’’.


1. Once on this Island (Musical, Revival, 2017, Broadway)

Fiquei bem relutante sobre qual seria a minha experiência número um de 2018, tive ótimos candidatos, mas assim como escolhi ‘’Angels in America’’ pelo fator catártico de uma produção que tem muito a falar, esse ano minha decisão foi ir com ‘’Once on this Island’’, um musical que grita ‘’TEATRO’’ em cada um de seus aspectos.
Tendo ouvido a trilha com frequência, eu já sabia que gostaria da montagem, mas o que eu não imaginava era o poder imersivo que esse musical em si teria. Já na entrada do teatro, que fica no subsolo, você vê uma parede coberta de varais com roupas, ao olhar mais para baixo é possível notar o palco, que tem formato redondo, em sua plena amplitude. Lago, areia, cabras, tudo soava tão singular que era difícil até assimilar o todo. Porém, basta os atores começarem a cantar que tudo vai se encaixando em uma história simples, mas encantadora.
A direção, meticulosa, de Michael Arden vai fazendo a transição dos figurinos e disposição do cenário em uma ‘’melhoria contínua’’ de deixar os olhos brilhando, mas é a presença de um elenco estarrecedor em completa sintonia que te joga diretamente na força do musical. Seja por ver Hailey Kilgore abraçando uma coreografia que evoca diretos ancestrais africanos ou ouvir ‘’The Human Heart’’ ao vivo, tudo ali te coloca em um mundo particular e, por incrível que pareça, muito real.
O auge, no entanto, não só do musical, mas do meu desbravamento da Broadway fica com o solo de Alex Newell como a deusa Aska, em ‘’Mama Will Provide’’ foi impossível não arrepiar até o último fio de cabelo do corpo em uma rendição destruidora de Alex. E a sensação foi assim por toda a produção, daquelas que realmente só existe na Broadway.








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