sexta-feira, 17 de agosto de 2018

Melhor Atriz 1991 - Quem come quieto, come por 2 (Oscars).


A corrida de 1991 é interessante de se acompanhar não só pela categoria de Melhor Atriz, mas pelo todo. Foi o ano que ''Silêncio dos Inocentes'' subverteu tudo e mesmo tendo sido lançado um ano antes da premiação, venceu todas as principais categorias. Foi nesse mesmo ano que Barbra Streisand foi roubada de uma indicação como diretora por ''Príncipe das Marés'' e que ''A Bela e a Fera'' fez história como a primeira animação a ser indicada a Melhor Filme. Nesse ano, a vitoriosa da categoria ninguém menos que Jodie Foster.

A atriz tinha vencido previamente por ''Acusados'' três anos antes, mas mesmo sendo jovem, a força de ''Silêncio'' junto do par icônico que ela formou com Anthony Hopkins tornaram sua segunda vitória um fato inegável. Sua maior competição eram as mulheres do estupendo ''Thelma e Louise'', o filme foi uma absurda sensação da época e tanto Susan Sarandon quanto Geena Davis estavam em todos os holofotes possíveis graças ao longa. Porém, para todo o bônus também existia um ônus. Justamente por ser um filme tão ligado a imagem das DUAS, a única vitória possível seria de ambas, mas um empate em atuação não é algo que acontece normalmente e não iria acontecer mesmo naquele ano. Os votos de ambas se dividiram e uma acabou anulando a chance da outra de vencer naquela corrida.

As outras duas indicadas nunca tiveram chances na corrida. Laura Dern foi indicada, sua única como protagonista e tendo pouco mais de 24 anos, por Rambling Rose. Um filme que até hoje faz dela e Diane Ladd as únicas mãe-filha a serem indicadas no mesmo ano e pelo mesmo longa. Já Bette Midler que foi nomeada pelo seu trabalho em ''For the Boys'' tem a típica indicação pela carreira/nome, mas totalmente ''filler'' que pegou até algumas pessoas de surpresas. Um ano relativamente fraco, mas Annette Bening se viu esnobadérrima por sua performance em Bugsy, um filme muito hypado da época que entrou em tudo, menos em Melhor Atriz. Houve um burburinho de Anjelica Huston por ''Família Addams'', mas sabemos que isso nunca aconteceria. Atrizes em filmes independentes como Lili Taylor em ''Dogfight'' e ''Bright Angel'', Alison Steadman em ''Life is Sweet'' e Mimi Rogers em ''The Rapture'' até queriam acontecer, mas nunca tiveram chance.

Abaixo, meu ranking dessa seleção bem boa:


5º Lugar: Bette Midler, For the Boys (''Para Eles, com muito Amor'')

O filme é longo, mas a parceria entre Midler e Caan sempre funciona para nunca fazer o mesmo perder o ritmo. Embora, como eu disse, Midler nunca tenha tido chance na corrida e ela esteja fazendo um papel que representa bem o seu tipo mais conhecido nas telonas, é preciso admitir que ela o faz com muita esperteza e muito esmero.

A performance é sempre muito viva, Midler está completamente confortável no papel e mesmo sendo muito mais cômico, a atriz não deixa de também brilhar quando é exigido uma performance mais dramática da mesma. E a presença da atriz é tão grande que ela consegue arrasar até em alguns momentos que está embaixo de uma maquiagem que mais parece que ela estava no set de ''Abracadabra''.


4º Lugar: Laura Dern, Rambling Rose (''As Noites de Rose'')

É bem incrível ver Dern tão novinha, afinal a atriz atualmente está na casa dos 50 e muito ativa em diversos projetos, desse jeito acabamos absorvendo muito mais a imagem madura de Laura. Porém, se tem uma característica que remete até os dias atuais da atriz e que rapidamente salta aos olhos é a forma espevitada que Laura injeta na personagem quando a mesma precisa soltar suas asinhas.

É uma performance que se encaixa perfeitamente com o mundo tão estranhamente criado no longa. Dern encanta, diverte, sofre e emociona por todo o filme de uma forma que fica claro que talento é algo que, realmente, estava com a atriz desde o começo.


2º/3º Lugar (empate): Susan Sarandon e Geena Davis, Thelma & Louise (idem)

Essa é a primeira vez que utilizo o recurso de empate nesse projeto, mas nesse filme, não tem como. É quase criminoso tentar definir qual dessas duas incríveis atrizes está melhor em cena. O mais engraçado é que a maioria que tenta isso fazer, acaba indo pro lado de Susan Sarandon, talvez por ela ser mais série, dura e etc, mas nas críticas que ousaram decidir entre uma delas e até em prêmios (Los Angeles, por exemplo) a escolhida acabava sendo Geena Davis.

Eu não irei fazer isso, e por pouco não coloco ambas empatadas em primeiro lugar, porque eu vejo muito as duas como a sintetização mais simples e perfeita de ''complemento''. É como se o lado aventureiro, doce e livre de Thelma se encaixasse perfeitamente com a seriedade, foco e determinação de Louise. São duas atuações que casam perfeitamente com suas personagens formando um ''yin-yang'' irrepreensível.

E é importante lembrar que não somente essas são atuações superlativas, mas acabaram se tornando absurdamente memoráveis para a história do cinema. É daquele tipo de filme/performance/atriz que quando a gente termina de ver só quer guardar no coração. E com certeza todos nós fizemos isso até hoje com essa dupla inacreditável.


1º Lugar: Jodie Foster, The Silence of the Lambs (''O Silêncio dos Inocentes'')

Confesso que fiquei muito tentado em colocar Foster em segundo, mas no fim das contas e muito por subjetivismo, não deu. Tem algo de muito forte e vivo na forma como a atriz absorve não somente o mundo que Clarice está inserida, mas em como ela duela de forma tão subversiva todas as cenas que ela divide com Anthony Hopkins.

É uma performance muito econômica, mas que consegue também ser altamente atraente aos olhos do espectador. Eu nunca vou esquecer todas as emoções que passam pelas expressões de Clarice, quase que de forma micro, sem qualquer exaltação (porque ela não pode isso transparecer) nas duas grandes cenas de atuação do filme.

O primeiro encontro entre os 2 e a cena que Lecter está na jaula. É simplesmente uma aula de ''dar e receber'' entre dois atores. E por mais que Hopkins seja realmente a grande estrela para o público maior, Foster não fica devendo em nada no que se trata de destreza e brilhantismo na forma que ela faz Clarice vir a tona.

Estupenda, fenomenal, simplesmente genial. É tipo assim que eu normalmente defino essa atuação da grandiosa Jodie Foster.

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