segunda-feira, 10 de setembro de 2018

Melhor Atriz 2011 - Atriz mole em Oscar duro, tanto bate até que ganha!


Essa ainda é uma das corridas que mais me recordo dentre os anos que sigo a cerimônia do Oscar. O principal motivo é o fato de que as concorrentes estavam, em sua maioria, certas basicamente um ano antes da cerimônia. As apostas, inclusive minhas, em Meryl Streep, Glenn Close, Michelle Williams e Tilda Swinton pouco tempo depois que Natalie Portman venceu eram tremendas. E não fosse pela queda inesperada de Swinton, a única surpresa na corrida teria sido a inclusão de Viola Davis.

Meryl Streep em The Iron Lady fazia Margaret Thatcher, já Michelle Williams era Marilyn Monroe em My Week with Marilyn, duas biopics distribuidas pelos Weinstein. Glenn Close fazia um papel que ela viveu no teatro, era completamente apaixonada e era nada menos que um... homem em Albert Nobbs. Tilda Swinton fazia uma mãe que via seu filho se transformar em um monstro em We Need to talk About Kevin. Impossível ser mais Oscar do que isso né?

Pois bem, mas eis que em agosto o lançamento de um filme não tão hypado chamado The Help chacoalhou a corrida de Melhor Atriz. A prévia indicada por Dúvida, Viola Davis recebeu as críticas de uma vida e era uma vitória certa em coadjuvante, mas uma vitória na categoria não era o foco, ela e o estúdio queriam mais, eles queriam um prêmio de protagonista, mesmo que Davis não fosse em seu próprio filme.

Entre as indicadas muitos se perguntaram quem seria a ''Jennifer Lawrence do ano'', uma forma de se questionar qual atriz jovem em filme indie seria indicada na categoria. Sundance proveu alternativas como Felicity Jones em Like Crazy, Elizabeth Olsen em Martha Marcy May Marlene e Adepero Oduye em Pariah. Todas cairam. Falando em cair, Tilda Swinton criou um ''trend'' que se seguiu em alguns anos a seguir: foi indicada aos 4 prêmios prévios (Critics Choice, Globo de Ouro, SAG e BAFTA) e por ser uma indicação ''filler'' acabou caindo pra uma sensação do momento, Rooney Mara em The Girl with the Dragon Tattoo.

A queridinha da crítica acabou sendo Michelle Williams, que também venceu o Globo de Comédia. Porém, a briga que dividiu cada predictor até o último momento e que foi a primeira corrida, desde Kidman vs Zellweger em 2002, a ser disputada diretamente entre duas contenders acabou sendo entre as amigas Meryl Streep e Viola Davis. Viola tinha 170 milhões de bilheteria ao seu lado, um filme indicado na maior categoria da noite, a narrativa de ser apenas a segunda negra a vencer o Oscar como protagonista e as vitórias no Critics Choice e no SAG. Streep tinha Weinstein por trás, uma campanha ferrenha que lembrou a todos que ''a maior atriz viva'' não ganhava um Oscar tinha ''29 anos'', o fato de estar interpretando uma personagem baseada em alguém real e vitórias no Globo de Ouro e BAFTA. E no grande dia quando Colin Firth abriu aquele envelope e disse o nome de Streep, uma parte do mundo chorou, mas muita gente sorriu. E assim, Streep entrava num seleto grupo de atores com 3 ou mais Oscars.

Agora, meu ranking da corrida:



5º Lugar: Glenn Close, Albert Nobbs (''idem'')

O filme de Close é um saco, simples assim. É um longa sem ritmo, sem vida e que por mais que a atriz tente sempre injetar dignidade, e até vida, nunca consegue ir muito além do superficial. É uma pena que uma atriz tão sensacional tenha voltado ao Oscar em uma sexta indicação, mais de 20 anos após a sua última, por um filme tão absurdamente nada.

É lanterninha, mais pela produção do que pela atriz, sem dúvida alguma.


4º Lugar: Rooney Mara, The Girl with the Dragon Tattoo (''Os Homens que não Amavam as Mulheres'')

Para ser muito sincero essa performance de Mara é muito colocada para cima por dois motivos: 1) seu filme é excelente, o melhor dentre as indicadas com muita facilidade; 2) A caracterização de Lisbeth Salander é tão milimetricamente bem feita que é impossível não chamar a atenção por si só. Porém, meio que para por ai. É uma construção bem econômica, não lembro de muitos rompantes, mas também pouco me lembro da mesma.

É o tipo de performance que é boa, mas não marca, não se sustenta. Mara cresceu muito após o filme, hoje é bem melhor, mas pelo thriller de Fincher esse quarto lugar está mais que ótimo.


3º Lugar: Meryl Streep, The Iron Lady (''A Dama de Ferro'')

Existem duas performances de Streep nesse filme, uma eu amo e a outra eu quase não suporto. Em todas as cenas do momento ''jovem'' de Thatcher, Streep utiliza dos piores maneirismos, que ela é normalmente tão boa, para impressionar. É sotaque, trejeito, empinada de nariz, é tudo muito estridente e sem alma. Porém, como podemos perceber pelo próprio desastroso roteiro, isso talvez seja mais uma decisão de direção, que uma pura e óbvia escolha da atriz. Aliás, esses toques acabam por realmente ofender devido ao nível do próprio longa. 

Porém, quando a atriz se volta para a Thatcher velha, é quase como se tudo tivesse um real sentido e nós conseguíssemos conceber não só a força daquela mulher e tudo que ela passou, mas realmente entender que por trás daquele boneco moldado anteriormente, realmente vivia uma pessoa ali. Naquele estado, quase de total luminosidade, a grande atriz que Streep é, consegue demonstrar o nível de seu talento, tão fortemente ceifado nos demais fragmentos do filme.


2º Viola Davis, The Help (''Histórias Cruzadas'')

Davis não é protagonista do filme, vamos deixar isso claro. A montagem utiliza umas artimanhas mequetrefes para fazer você acreditar que ela é (ela narra o longa, abre e fecha o filme), mas ela é no mínimo uma coadjuvante e no máximo um destaque em um filme ''mosaico''.

Com isso de lado, é preciso deixar claro o quanto Davis faz miséria com uma personagem tão claramente esforçada em ser o exemplo do mais puro maniqueísmo. A atriz, talentosa como poucas, no entanto, consegue conceber uma força, verdade e vulnerabilidade tão latentes e fervorosas em todas as suas cenas que é impossível não entender completamente essa mulher. Também fica impossível olhar para qualquer outra pessoa de um elenco feminino tão incrível por si só, totalmente compreensível que o mundo tenha realmente ficado de quatro por Davis exatamente aqui.

Existem várias e várias cenas da mesma que ainda permeiam minhas memórias e esse tipo de poder é para poucas. Davis é realmente um achado, e ah, claro que ela merecia muito ter vencido aqui.


1º Michelle Williams, My Week with Marilyn (''Sete Dias com Marilyn'')

Michelle está simplesmente fabulosa nesse filme, que é bem água com açúcar, mas nunca ofende. A coisa mais inteligente que Williams faz no longa é jamais tentar imitar os trejeitos de uma figura tão canônica na mente de todos, mas sim entender quem ela é, e criar uma atuação/personagem que dinamize e faça com que todos nós sejamos capazes de ver quem foi Norma Jean, a pessoa por baixo do mito.

Williams canta e encanta todas as cenas que aparece de uma forma como a mesma nunca fez no antes no cinema. É necessário muito carisma para ser Monroe, mas aquela sempre sisuda Williams se deixa levar e acaba se transformando em um poço de carisma, um tipo ela realmente não tinha tanta afinidade assim em fazer.

Porém, muito além de conseguir colocar um sorriso em nossos rostos, é a capacidade de quebrar nosso coração quase que na mesma proporção que torna essa atuação tão especial. É uma performance muito bem concebida e finalizada, um real show digno do nome e poder que vem, rapidamente, associado a Marilyn Monroe.

MAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAS...

O que eu acabei não falando no texto da corrida é quanto eu acho essa categoria, e todas as de atuação desse ano, bem fraca. Duas das atrizes tem performances abaixo da média, uma delas é altamente sabotada pelo roteiro e a outra nem protagonista per si acaba sendo. Logo, como sei que posso (porque o blog é meu! lol), resolvi fazer a minha própria seleção daquele ano independente da chance dessas mulheres de entrarem na corrida.

Antes de mais nada, queria deixar minha menção honrosa para Anna Paquin em ''Margaret'', uma atuação que expressa uma grande capacidade dramática, de uma atriz que nunca se encontrou em sua própria filmografia, digna do Oscar que essa mulher tem em casa. Também gostaria de citar que até hoje nunca vi ''Melancolia'' e por isso não coloquei Kirsten Dunst ou Charlotte Gainsbourgh, mas ambas estavam inelegíveis pois a Magnolia Pictures lançou o filme primeiro em streaming, então elas não poderiam concorrer mesmo que os votantes quisessem.

Abaixo, segue o melhor ''ballot'' que o Oscar jamais seria capaz de fazer:


5º Lugar: Adepero Oduye, Pariah (''idem'')

Oduye é uma das duas grandes revelações do ano nesse raro ''coming of age''. O debut de Dee Rees (''Mudbound'') fala sobre o despertar de uma jovem lésbica e negra. Seja por ser um exemplar quase raro do meio LGBTQ+ ou por ser realmente um filme bem real e sincero, o longa consegue cativar facilmente o espectador.

A verdade é que, como esperado, a performance de Adepero é que permite essa ligação entre o espectador e a trama. A atriz é muito esperta em ser sensível, mas não tanto, na forma como ela vai dando vida a personagem. A atriz, mesmo jovem, e talvez até por isso, nunca se deixa ser pega por trejeitos ou maneirismos muito fáceis para representar não só uma personagem, mas toda uma classe.

Fora todo e qualquer trabalho de construção física para identificar quem a protagonista é, a maneira como Oduye vai aprendendo e passando por cada etapa de seu ''despertar'' dialoga bem com o quanto nós vamos aprendendo a gostar mais e mais da própria atriz. Em um dos meus momentos favoritos, lá pelo fim do filme, a personagem solta uma frase que ressoa muito forte comigo até hoje, e Oduye faz isso com a inteligência de quem é realmente bom no que faz.


4º Lugar: Elizabeth Olsen, Martha Marcy May Marlene (''idem'')

A irmã mais nova das gêmeas mais populares do showbiz estreou em um thriller psicológico estupendo. Nesse drama de Sean Durkin, que até hoje não dirigiu mais nada, a atriz faz um belíssimo trabalho corporal, quase que de forma sensorial, para poder expressar quem é aquela mulher e tudo pelo qual ela está passando. Palavras nem sempre são opções, então Olsen utiliza de seus tão belos e expressivos olhos para nos contar o que está atormentando a cabeça desse ser.

É muito inteligente como ela consegue transpor essa ''internalização'' da personagem em sua performance, porque parece que não é algo complicado, dada a naturalidade com que Elizabeth o faz. Ainda gostaria de ressaltar a belíssima forma como a atriz jamais se deixa ir pelos caminhos fáceis para a ''psique'' de Martha. Acaba sendo um reflexo de sua performance como um todo. Sútil, natural e muito poderosa.


3º Lugar: Juliette Binoche, Copie Conforme (''Cópial Fiél'')

Em mais uma atuação contida, com certeza a menos explosiva das 5 que citarei, no top, essa performance deu a tão esperada Palma de Ouro em Cannes para Binoche. A atriz que demorou décadas e mais décadas se viu premiada em 2010 pelo filme de Abbas Kiarostami, mas ao assistir o filme é fácil entender porque desse mato saiu coelho.

Binoche está hipnotizante em cena, ela consegue manter os olhares de qualquer espectador apenas focado nela em toda e qualquer que seja a cena do longa. A atuação é realmente livre de qualquer dramaticidade, mas compensa isso muito bem na construção de uma mulher real e muito palpável que entrega os dramas da vida da melhor forma possível, absolutamente crua.

A construção é tão bem feita que a sua cena na cama, lá perto do final e que se torna uma das melhores ''catarses'' vistas no cinema recente, chega que você nem consegue ver, apenas sentir. Estupenda em todos os níveis possíveis.


2º Lugar: Charlize Theron, Young Adult (''Jovens Adultos'')

Theron tem uma filmografia muito meia boca, mas quando a mesma escolhe os personagens certos, ela simplesmente destrói. E é exatamente isso que a atriz faz nesse drama quase satírico de Jason Reitman.

Charlize é Mavis, mas eu estou falando sério, Charlize Theron é Mavis Gary! É a grande e mais subestimada performance da carreira dessa mulher. Enquanto atriz, ela é incapaz de imprimir uma nota falsa sequer em sua atuação. Ela incorpora a personagem a um nível que fica difícil dissociar a imagem de Theron de Mavis toda vez que vejo essa mulher no cinema. É uma luva muito bem encaixada, mas que funciona muito porque Theron saber atingir os pontos certeiros na composição da mesma. Nunca é muito pesado, jamais é caricato. É sempre perfeito.

Charlize utiliza do melhor que o roteiro de Diablo Cody tem a oferecer, conseguindo convergir todo a aura de perdida, derrotada e o que mais possa vir de Mavis de forma esplêndida.


1º Lugar: Olivia Colman, Tyranossaur (''Tiranossauro'')

A futura vencedora do Oscar de coadjuvante, a britânica Olivia Colman simplesmente me dilacerou nesse pequeno, mas poderosíssimo drama. Um paralelo muito legal que fica para quem viu a série de tv ''Broadchurch'' é a forma como o choro de Colman é tão natural quanto excruciante. Quando ela chora, não parece que vem do lugar de sempre, é algo que vem da alma. E aqui, com essa personagem, quando a atriz cospe tudo que precisou passar... é para destruir e deixar perplexo qualquer pessoa que tenha um coração batendo dentro do peito.

A personagem vai demonstrando diversas ''camadas'', e cada vez que uma nova situação é imposta a Olivia, ela responde fortemente e a altura. É um desempenho que evoca algo bem natural, mas que nem sempre é sútil, mesmo que os arroubos dramáticos só surjam nos momentos mais necessários do filme. É o tipo de performance que facilmente te pega pelo braço e não te larga mesmo após o final da projeção. É tão tocante e palpável que você realmente sente por tudo que aquela personagem, infelizmente, passou e ainda precisa passar.

É o tipo de realização que demonstra muito talento, mas também exprime muita paixão de quem vê. Você se sente até honrado, mas como não ficar, não é verdade? Afinal, Olivia Colman é uma rainha, e esse filme tá ai para isso provar. ALL HAIL TO THE QUEEN!

Um comentário:

  1. Nunca vou esquecer da esnobada de Tilda e, especialmente, de Charlize. Pra mim, sua melhor atuação é em Jovens Adultos. São muitas questões em xeque que mexem comigo e ela está soberda. Dessa lista utópica, só vi Charlize. Da oficial, só não vi Glenn Close. Lembro que quando a Meryl venceu o Oscar eu chorei horrores e me embriaguei. Tinha visto o filme, não tinha gostado, mas tinha amado a sua performance. Depois de um tempo, vi Sete Dias e The Help e, para minha surpresa, elas estavam melhores que Meryl (não por culpa da atriz, mas do roteiro em si). Fiquei em choque. Adoro a Michelle. Mas a minha favorita daquele ano é Viola. Seja coadjuvante ou não.

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