sábado, 23 de junho de 2018

Melhor Atriz 2003 - A Bela e a Fera (e o Oscar!)


A vitória de Charlize Theron em ''Monster'' se tornou um consenso em vários círculos da blogosfera de cinema, assim como na indústria americana em si. Na época, no entanto, ela não era tão certa assim. Theron dividiu a crítica junto de Naomi Watts em ''21 Gramas'' e nos televisados ainda existia a dúvida se ela ou Diane Keaton em ''Alguém tem Que Ceder'' que iria se sagrar nos televisados. Felizmente, essa grande atriz saiu vitoriosa e hoje está melhor do que nunca no status da atual Hollywood. No fim das contas, uma escolha bem acertada da Academia.

Quando ''Alguém tem que Ceder'' foi lançado no fim de novembro/começo de dezembro de 2003, Keaton foi laureada com as melhores reviews de sua carreira em décadas, muito previram que ela iria repetir o impensável: vencer outro Oscar por uma performance cômica. Alguns não gostaram da comédia de Nancy Meyers, mas ninguém negou o quão perfeita era a atuação que Keaton impregnava no filme. Já Theron e Watts estavam em situações quase parecidas: ambas eram atrizes novas (Theron estourou em 98/99 e Watts uns 2 anos depois), em completa ascenção e em filmes pequenos sem tanto apoio da indústria.

Porém, Theron contava com o ''Robert DeNiro effect'', e o que seria isso? Essa expressão era um exemplar clássico da mudança física que Hollywood, e o público em geral, viria a associar com ''atuação de verdade'' que meio que começou com DeNiro em ''Touro Indomável''. Ou seja, se ''enfeiar'', engordar ou emagrecer demais ainda são coisas vistas como uma ação muito incrível quando se quer mostrar que sua atuação precisa ser respeitada. Nesse aspecto, e também por viver alguém real, Theron acabou se sobressaindo as duas colegas que ousaram brigar com ela pelo careca dourado.

Com as 3 atrizes acima certas nas primeiras vagas da categoria, sobrou pra muitas queridas brigarem pelas 2 últimas vagas. Na pole position estavam Evan Rachel Wood por ''Aos Treze'' e Nicole Kidman por ''Cold Mountain''. Rachel Wood tinha sido aclamada pela crítica e a Fox Searchlight tinha gasto até o que não podia na campanha da mesma, mas mesmo com indicações ao Globo de Ouro e SAG, muitos não acreditavam que ela entraria por ser jovem demais, ela teria sido a indicada mais nova da categoria caso tivesse entrado. Kidman, no entanto, assim como o filme não empolgou ninguém, mas naquela época a Miramax (ou Harvey Weinstein, como preferir) eram os reis de Hollywood e a maioria achava que ela entraria pela força dele em suas campanhas ferrenhas.

Scarlett Johansson também não estava em muitos bolões porque, embora tenha conseguido indicação dupla como protagonista ao Globo de Ouro e BAFTA por suas performances em ''Garota com Brinco de Pérola'' e ''Encontros e Desencontros'', seu maior filme (o de Coppola) fez uma campanha para a mesma em coadjuvante, fazendo com que ela não só dividisse votos entre duas performances, mas também dividisse mais votos ainda entre duas categorias. Uma Thurman em ''Kill Bill Vol. 1'' e Jennifer Connelly em ''Casa de Areia e Nevóa'' até receberam atenção, mas acabaram nem chegando na praia.

E sendo até hoje uma das grandes surpresas da categoria, ao menos nos anos 2000, duas das indicadas vieram quase que do nada. Ainda tinham algumas pessoas que apostavam em Samantha Morton porque ''In America'' estava começando a pegar na indústria (especialmente com a indicação a elenco no SAG) e a mesma já tinha uma indicação prévia com a Academia, mas a indicação da criança neozelandesa de apenas 13 anos de idade que atende pelo nome de Keisha Castle-Hughes foi, literalmente de cair o queixo. Keisha teve uma aleatória indicação ao SAG em coadjuvante, mas jamais passou pela cabeça de ninguém que uma atriz tão nova em um filme tão pequeno e que nem sequer era americano fosse ter a chance de bater tantos nomes e projetos fortes. Castle-Hughes fez história e por quase uma década manteve um recorde incrível de atriz mais jovem indicada na categoria.

Abaixo, meu ranking:


5º Lugar: Samantha Morton, In America (Terra de Sonhos)


A única razão pela qual eu coloco Samantha Morton atrás da criança neozelandesa é pela questão que seu roteiro apresenta para a personagem na concepção entre ser protagonista ou coadjuvante. Acho que ela é uma protagonista quase coadjuvante e por tantos momentos outros personagens tomam as rédeas da trama, assim como a força emocional da mesma, fazendo com que nem sempre Morton esteja ali no centro e comandando a história. De uma certa forma, isso acaba impedindo que Morton se firme mais acima no ranking.

Independente disso, Samantha Morton é uma de minhas atrizes favoritas e mesmo tendo uma carreira bem menos famosa atualmente, ela dá força, vida e muito amor a uma mãe tendo que lidar com a pior das adversidades do mundo, a perda de um filho.


4º Lugar: Keisha Castle-Hughes, Whale Rider (Encantadora de Baleias)


As vezes acho que pego muito pesado com Keisha quando se trata de sua indicação. É óbvio que não é fácil ser uma criança e carregar totalmente um filme em suas costas, mas também não concordo que você deva receber uma indicação ao Oscar somente por isso. E querendo ou não, é assim que me sinto com relação a atual da mesma.

Em boa parte do longa é como se Keisha apenas ''estivesse lá'', ela jamais compromete, mas não considero uma atuação cativante ou que instiga, é algo bem feito, mas que qualquer criança bem treinada faria. O que acaba me ganhando em sua performance é que quando a personagem mais necessita de poder e emoção, Castle-Hughes não decepciona. E ela tem uma cena bela e extremamente poderosa que por isso acabo deixando a menina em #4.


3º Lugar: Diane Keaton, Something's Gotta Give (Alguém Tem Que Ceder)

Keaton é uma completa gênia na arte da comicidade, e nessa trama de Nancy Meyers ela demonstra que quanto mais experiente ficou, melhor se torna seu resultado final. Em um embate direto com Jack Nicholson, Keaton comanda cada cena com maestria e sempre tirando altíssimas risadas do espectador. Ela consegue fazer isso de forma que soa como se ela não se esforçasse, é algo natural de alguém muito ciente de suas capacidades enquanto atriz. Especialmente de uma atriz que domina como ninguém um gênero tão difícil e subestimado.

É muito incrível que uma performance como essa tenha conseguido chegar ao Oscar, visto que raras são as atuações cômicas que tem essa força, mas talvez seja uma resposta ao tamanho do brilhantismo que Keaton impregna em sua personagem, fazendo até com que seu filme seja elevado a um grau que ele talvez não teria sem a atriz em cena.


2º Lugar: Charlize Theron, Monster (idem)

Talvez eu vá ser muito criticado pelo Brasil inteiro, mas a vencedora do ano é um #2 pra mim. Não, eu não acho que Theron esteja menos que fantástica em seu filme, é apenas uma questão totalmente subjetiva com relação ao que Theron faz no debut de Patty Jenkins.

Eu admito que nunca esqueci sua primeira cena, o filme abre em uma espécie de mata onde Aileen está sentada, na chuva e a câmera resolve dar um close-up na personagem. Theron está irreconhecível, mas não só externamente, por dentro o olhar da mesma exprime um vazio existencial que ao decorrer da trama toma uma proporção que sintetiza totalmente o estado mental da personagem.

Eu sempre falei que Aileen não era inerentemente um monstro, mas sim que a vida transformou ela nisso. Porém, eu tenho certeza que a principal razão para eu falar essa frase está na forma como Charlize Theron a incorporou e a trouxe para a telona.


1º Lugar: Naomi Watts, 21 Grams (21 Gramas)

Não acredito que vou falar isso, mas Iñárritu extraiu três impressionantes performances dos protagonistas de seu segundo longa, mas como Naomi Watts não tem concorrência interna, fica ainda mais fácil explicitar meu amor a essa australiana maravilhosa. Watts tem uma personagem estupenda em mãos, ela é uma ex-drogada que agora vive tranquilamente, mas se vê diante de uma reviravolta absurda da vida e nisso ela passa por um inferno impossível de se imaginar.

Eu diria que Naomi é um dos melhores exemplares de ''naturalidade'' em cena de sua geração. Ela precisa ser absurdamente crível em cena devido a sua personagem ser uma mulher comum, e é a partir da forma como Watts entende aquela mulher que ela cria um vínculo tão forte com o espectador, que acompanha a espiral que a mesma precisa enfrentar ao longo da trama.

Para mim, existe uma cena que por si só acaba completamente comigo: o momento que Watts recebe a notícia tão cruel. A australiana utiliza somente seu rosto pra te desmoronar e explicitar o baque que sua personagem irá começar a enfrentar, e ela o faz de um jeito que indagamos ''meu deus, como ela consegue?''. É absurdamente forte, mas Naomi está brilhante e assim o segue por todo o filme. É uma atuação sem uma falhar sequer, bravíssima!

                                                              P O R É M,

Pessoalmente, não indicaria Samantha Morton e nem Keisha Castle-Hughes. Sendo assim, no lugar delas entrariam...


Evan Rachel Wood, Thirteen (Aos Treze)


Você quer atuação de uma pessoa jovem que dá escopo e te deixa maravilhado, @? Gente, eu devia ser melhor enquanto pessoa, mas se o Oscar queria tanto indicar uma novinha porque ele não escolheu esse excelente trabalho da Rachel Wood? Ou até mesmo Johansson em Encontros e Desencontros? Não entendo!

Rachel Wood aqui é muito a definição de estrela em ascensão. Sua personagem é uma aborrecente digna das filhas mais chatas escritas por Manoel Carlos (em uma versão hardcore), mas pelos olhos de Evan nós conseguimos abraçar e entender todas as frustrações pelo qual ela está passando.

E aliás, melhor que isso, Rachel Wood se torna tão palpável que sua atuação quase nos leva para aquele momento de nossas vidas onde fomos exatamente iguais a sua personagem. É uma performance crua, mas muito bem realizada. 


Jennifer Connelly, House of Sand and Fog (Casa de Areia e Névoa)


Um filme que claramente merecia muito mais amor do que recebeu, esse drama que até hoje continua absurdamente atual contém uma performance magnífica de Jennifer Connelly, ouso dizer que a melhor de sua carreira. Connelly está um caco, sua personagem está completamente perdida e a forma como a atriz decide transparecer isso em cena nos causa uma exaustão quase que efetiva. Ela tenta, de toda forma, reaver o que ela acha que é sua por direito. E para isso ela vai passar pelo inferno necessário.

É excruciante, mas do ponto de vista de atuação é muito bem feito. Em um determinado momento a face de Connelly se desintegra e somente o que fica é aquele soco na alma depois de passar por tanta coisa .

''No, it's not my house.'' </3

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