segunda-feira, 11 de junho de 2018

Melhor Atriz 1977 - Oscar Certo, Atriz Errada


A corrida do Oscar de 1977 é muito interessante por N fatores. O principal deles é que todas as indicadas na categoria tiveram seus filmes também indicados em Melhor Filme, um fato raro de se acontecer devido a Hollywood sempre ignorar ou não dar grandes projetos pra atrizes liderarem, interessante que dois desses projetos foram dirigidos pelo mesmo diretor, Herbert Ross. Ross dirigiu Marsha Mason em The Goodbye Girl e também foi o diretor de The Turning Point, um dos poucos filmes a ter duas protagonistas indicadas na história da categoria, nesse caso Anne Bancroft e Shirley MacLaine.

Jane Fonda, uma das mais indicadas da década, estava na lista pelo seu papel em Julia, e Diane Keaton completava a categoria, por uma das muitas parcerias que fez com Woody Allen, com sua performance em Annie Hall. Bancroft até começou o ano com força, criando uma forte ligação com a crítica e ofuscando totalmente sua colega de cena (MacLaine), mas sua derrota nos Globos para Jane Fonda e o fato de que MacLaine acabou aparecendo, totalmente de surpresa, no Oscar tirou qualquer chance de uma possível vitória sua.

Ao contrário do que era comum, as duas favoritas da noite eram as protagonistas das comédias românticas do ano (Keaton e Mason), dois filmes muito populares na época. Ambas eram as musas de seus roteiristas e tinham papéis feito especialmente para elas. Keaton chegou a vencer prêmios da crítica em coadjuvante, mas logo a campanha foi direcionada para protagonista. O empate entre ela e Mason nos Globos não ajudou em nada para prever quem seria a vitoriosa dentre as duas. Na noite da premiação Keaton se beneficiava de já ter um currículo estelar (O Poderoso Chefão), e muitos afirmam que sua performance totalmente dramática em ''Looking for Mr. Goodbar'' foi o beijo da vitória que ela precisava para tripudiar sobre Mason, que viu seu colega de elenco (Richard Dreyfuss) sair com a vitória de Melhor Ator.

A seleção em si é realmente muito boa, mas duas grandes atuações altamente incensadas pela crítica americana foram esnobadas por estarem em projetos menos convencionais, por assim dizer. Porém, tenho que destacá-las e afirmo, sem dúvidas, que elas deveriam ter entrado e poderiam ter vencido sem qualquer problema. São elas:



 Gena Rowlands, Opening Night (''Noite de Estréia'')

Rowlands que já tinha sido indicada previamente por uma performance também dirigida pelo seu marido John Cassavetes em ''Uma Mulher Sob Influência'', voltava a estarrecer os olhares de qualquer pessoa com essa incrível atuação.

É interessante notar que na época a recepção da crítica para com o filme foi pavorosa, muita gente chamando de indulgente, errôneo e o que mais você pensar, mas até quem odiou com força, não teve como não se ajoelhar perante a atuação de Rowlands. Como uma atriz que sofre com uma estreia cada vez mais próxima de sua próxima peça, Rowlands faz um belíssimo, natural e crível trabalho que consegue fazer com cada espectador penetre na superfície daquela mulher e consiga ver toda a problemática que ela enfrenta devido as rachaduras que vão sendo expostas ao longo da trama.

É uma atuação tão inteligente, mas que consegue fluir tão naturalmente que fica simplesmente impossível de tirar o olhar de Rowlands quando a mesma está em cena.


Shelley Duvall, 3 Women (3 Mulheres)

Duvall é altamente conhecida por sua criticadérrima performance em ''O Iluminado'', mas se engana quem acha que ela é uma má atriz por causa de um momento ruim na carreira.

Nesse filme de Robert Altman, Duvall tem uma personagem absurdamente insuportável, mas que ao mesmo tempo gera uma certa empatia, sua Millie é um produto do meio altamente bem desenvolvido e que nas mãos de Duvall se torna a peça necessária para que o roteiro funcione perfeitamente.

A atriz consegue percorrer cada uma das camadas e transições que a personagem sofre de forma irretocável, e ao final do longa temos um momento estarrecedor que exemplifica bem o quão perfeitamente Duvall compreendeu a personagem e tomou a mesma para si. Bravíssima!

Abaixo, meu ranking das indicadas:


5º Lugar: Shirley MacLaine, The Turning Point (''Momento de Decisão'')


É fácil de entender porque MacLaine foi esnobada de todos os prêmios prévios e apenas entrou no Oscar: Embora sua performance passe longe de ser ruim, é aquele tipo de atuação que Shirley faz dormindo, e que a mesma faria melhor uns anos depois em ''Laços de Ternura''.

MacLaine sempre aponta para a ''raiva'', sua face sempre ameaça explodir e sua voz é sempre alta. Sabemos que isso vem da interiorização de uma personagem que por muito tempo sofreu calada, mas a performance acaba sendo nada marcante, mesmo que finde sendo algo bem feito.



4º Lugar: Diane Keaton, Annie Hall (''Noivo Neurótico, Noiva Nervosa'')


Eu até entendo quem afirma que Keaton é coadjuvante em sua performance na comédia de Woody Allen, em quase nenhum momento a personagem está por si só em cena, ela sempre precisa estar atrelada ao personagem de Allen. Porém, se isso por si só fosse um demérito, muitas vencedoras da categorias precisariam ser contestadas, né verdade?

Eu quase coloquei Keaton no meu top 3, mas mesmo que eu reconheça que essa performance é o standart do que Keaton viria a produzir como sua ''marca'' no cinema, eu não consigo me animar por completo pelo que Diane apresenta em tela. Que o nome dela seja Diane Hall na vida real e que a mesma usasse suas próprias roupas para compor a personagem demonstram bem que ela estava totalmente confortável com a personagem, que é basicamente ela. Porém, não o suficiente para eu afirmar que ela merecia mais que uma indicação.




3º Lugar: Jane Fonda, Julia (idem)


No começo do longa as ''Fondices'' da atriz já se sobressaem com facilidade. É algo que a mesma impregna em ''The Morning After'' e que também condiz muito com sua forma de atuar. Fonda é ''over'' em muitos momentos, mas ela está totalmente consciente dessa escolha para com a personagem, cabe a você (espectador) decidir se compra ou não a situação.

No entanto, em um determinado momento do filme, a sua personagem tem uma cena belíssima com Julia (Vanessa Redgrave) no hospital, e sem dizer uma única palavra, bingo, Fonda me ganha totalmente.

A forma como ela expressa todo o sentimento que tem pela amiga, que é a força motriz de todo o longa, transforma tudo aquilo em um momento tão sublime, tão bonito, que não pude deixar de notar a sutileza com que Fonda fez aquela cena. E assim, ganhando uma posição a mais no ranking.



2º Lugar: Anne Bancroft, The Turning Point (''Momento de Decisão'')


Eu admito que a personagem de Bancroft é bem mais interessante que a de MacLaine, mas também preciso afirmar que Bancroft foi uma das grandes atrizes de Hollywood e esse filme é um dos motivos pelo qual dá para afirmar isso.

Em uma atuação que poderia, facilmente, ter se tornado uma vitória digna, Bancroft concebe e consegue entender e exprimir da forma mais poderosa possível uma pessoa que lidou com tantos obstáculos na vida, mesmo quando ela deveria não ter isso mais em mente. Emma é uma muito bem sucedida bailarina, mas na trama ela precisa encarar o fim necessário de sua carreira, as escolhas que ela fez para ser quem é, assim como perceber que seu futuro pode ser bem solitário.

Bancroft mistura angustia, frustração e altivez de uma forma que nós conseguimos comprar que a personagem não quer deixar isso tudo diante de todos, mas percebe a cada novo momento que a vida passa longe de ficar fácil só pelo que ela conquistou.

Em seu argumento final com MacLaine, a pose de Bancroft sintetiza o nível da atriz em cena, estupenda.



1º Lugar: Marsha Mason, The Goodbye Girl (''A Garota do Adeus'')


Em minha outra review sobre uma atuação de Mason com um texto trazido do teatro eu expliquei que Mason faz muito bem o uso do ''melhor dos dois mundos'', certo?

Pois em ''A Garota do Adeus'', ela pega esse sentimento e eleva a última potência, conseguindo traduzir tudo isso em uma atuação que é exagerada e comedida quase que no mesmo tom, uma verdadeira aula de carisma, talento e inteligência sobre o que é atuar em câmera com um personagem concebido em palco.

Mason brilha na química com Richard Dreyfuss e é a melhor mãe que Quinn Cummings podia pedir, ela nunca sai de cena e não há um só momento que você não torça por Paula. Claro que o roteiro de Neil Simon é muito esperto e sabe delinear a personagem, mas é a vivacidade de Mason em trazê-la a vida que torna a personagem tão cativante e memorável.

''It'll come back to you, trust me.'' <3

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