quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

REVIEW: Cinquenta Tons de Cinza - Afinal, um tapinha não dói.



É de um desafio absurdo fazer com que um filme seja melhor que o livro do qual ele foi adaptado, mas e quando esse livro é uma ''fan fic'' que surgiu por causa de ''Crepúsculo'', fica mais fácil'? Provavelmente não, mas na adaptação pros cinemas do fenômeno de E.L. James, a diretora Sam Taylor-Johnson consegue fazer um milagre ao extrair o que de melhor (ou seria menos pior?) tem o livro, e transforma Cinquenta Tons de Cinza (Fifty Shades of Grey, 2015) numa experiência agradável, que engaja o espectador nessa louca história entre Anastasia Steele e Mr. Grey.

A introdução do filme a protagonista Anastasia (Dakota Johnson) é uma tentativa quase ridícula de tornar ela o mais associável possível ao público alvo do filme. Afinal, ela dirige um fusca, veste roupas que minha avó ficaria orgulhosa e age como se fosse invisível. Quando isso entra em colisão com a beleza, fortuna, autoconfiança e estilo apresentado por Christian Grey (Jamie Dornan), fica claro que ela irá se deslumbrar por ele, como iria qualquer mulher que se visse como ela e estive vendo um cara como ele. 

O filme basicamente irá mostrar o desenrolar do relacionamento dos dois, e é ai que fica estampado onde está o erro principal do filme: seu roteiro. Poucas são as vezes em que as palavras ditas pelos protagonistas não tentam sabotar toda aquela atmosfera tão bem criada pela diretora, parece até piada (e talvez seja) que aquelas frases tão didáticas e repetitivas estejam em tela, enquanto que todo o resto destoa devido a qualidade que o filme apresenta em todos os outros departamentos necessários para se fazer um bom filme. 

É justamente por pecar tanto no roteiro que não quero afirmar que o filme irá agradar a todos, já que uma parte tão importante de um longa ser quase patética dificulta qualquer elogio completo que eu possa fazer por ele. Um exemplo disso é a cena que gera o ''clímax'' desse primeiro filme: enquanto que a ação que deflagra tudo é ruim porque a trama do livro está altamente impregnada ali, a cena que realmente fecha o filme é linda e emocionante porque os demais elementos se sobressaem, como a atuação da protagonista e a escolha de como criar o gancho pro segundo filme.


A direção de Sam é tão segura e envolvente que dá até pena dela, já que é visível que ela está tentando transformar em algo de classe, algo que é claramente vagabundo. Seria como querer que uma Kardashian tivesse o estilo de Kate Middleton. A cena da discussão do contrato talvez seja a melhor do filme, porque é a única vez que a natureza do roteiro realmente se condensa com o estilo da diretora de forma quase uníssona. É bem latente o quanto a diretora está interessada em contar a história do casal, ela consegue criar um laço de tensão desde o primeiro encontro, e isso se estende ao longo do filme, da cena do helicóptero até as de sexo que exploram o lado ''selvagem'' de Christian.

É bom ressaltar que o filme é sobre Anastasia e Christian, e de nada adiantaria um bom roteiro ou uma boa direção se a dupla protagonista fosse insípida ou sem química, o que graças ao meu bom deus do cinema não acontece aqui. Muitas críticas foram feitas a forma sisuda que o Jamie Dornan aborda seu personagem, falaram que como ator ele é um ótimo modelo, que só tem rostinho bonito e blá, blá, blá, mas eu discordo, acho que ele é extremamente bem escalado pro papel em questão, e deixa transparecer tudo que o mesmo pede. Ele é misterioso, visivelmente problemático, mas ao mesmo tempo não deixa de ter presença forte e jeito sedutor, fora que sua cena de introdução é totalmente certeira.

Sobre a Dakota Johnson irei até reservar um espaço maior para falar dela, por motivos de: ela está excelente em cena. A única informação que eu tinha dela, era o fato de ser filha da atriz Melanie Griffith, ai vi um filme que ela até bem em cena, mas nada que me preparasse para o que ela faz nesse filme. Devo, quase que, totalmente a ela a empatia que eu criei por Anastasia, foi ela que me guiou por aquele novo mundo do Christian, que soube pontuar todas as suas emoções, cena por cena eu acabava por me sentir tragado a trama graças a genuinidade e sutileza com que Johnson tratava Ana, ela se desabrochava de forma tão natural, que ficava impossível de não se conectar com a personagem. E é preciso ser um ator muito bom para fazer com que uma personagem tão branda realmente crie um laço com o espectador, palmas pra ela por ser capaz de fazer isso.


Visualmente o filme é muito difícil de ser criticado, especialmente porque a cidade escolhida para ser palco de basicamente todo o longa, que é Seattle, ajuda a perpetuar aquele clima austero e cinzento (duh!) que ele prega. Todo o trabalho técnico tem uma sobriedade absurda, temos uma trilha muito linda de Danny Elfman, figurinos excelentes de Mark Bridges, uma fotografia certeira do Seamus McGarvey e uma montagem que deixa o filme fluir muito bem, um ponto para Anna V. Coates. 

Quando se associa todo esse aparato técnico a uma direção tão inteligente, e uma dupla de protagonistas tão boa, fica difícil não se decepcionar ao lembrar do roteiro tão meia-boca que é apresentado em tela. Porém, com um pouco de mente aberta não é difícil aproveitar a sessão do filme, então como bem diz a frase de divulgação do longa, ''perca o controle'', não vai fazer mal algum.

Uma sequência: A cena de sexo ao som de ''Haunted'' da Beyoncé, muito bem filmada e editada, é uma delícia para ver na telona.

Cotação:

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