domingo, 30 de maio de 2021

Melhor Atriz 1941 - Que vença a melhor Irmã!

 


É quase impossível falar de Joan Fontaine sem citar a sua irmã Olivia de Havilland. Com menos de dois anos de diferença entre o nascimento das duas, esse também foi o tempo que demorou para Fontaine entrar na indústria após a irmã. Para evitar ainda mais comparações, e aconselhada pela própria Olivia, Joan mudou seu sobrenome para Fontaine. Sempre com uma aparência frágil, Joan acabou se soterrando de papéis brandos que não a acrescentavam em nada, chegou a lançar cinco filmes em um mesmo ano.

Porém, foi se aproveitando dessas mesmas características que ela bateu Vivien Leigh, Susan Hayward e a própria irmã (entre outras!) para o cobiçado debut de Alfred Hitchcock no cinema americano, o clássico ''Rebecca'' (1940). O filme venceu a categoria máxima, mas Fontaine ficou apenas com a indicação. Mesmo após esse sucesso, Hitchock hesitou em escalar a atriz para seu novo filme, ''Suspicion'', o desejo dele era trazer a lendária atriz francesa Michèle Morgan para Hollywood, mas o hype de Fontaine estava alto demais, e ela acabou conseguindo o papel.

Na noite da premiação, poucos meses após o Japão (país que as duas irmãs nasceram) ter bombardeado Pearl Harbor, a atriz preferiu ficar em casa para se precaver. Olivia de Havilland, também indicada naquela noite por ''Hold Back the Dawn'', achou a atitude pavorosa, ligou para a irmã e insistiu que a mesma viesse para a cerimônia. Num ano que o dress code envolvia simplicidade por causa da guerra, Joan chegou num vestidinho preto que chamou bastante atenção. Na hora de sua vitória, ela afirma ter ficado paralisada ao vencer, que achou errado ganhar antes da irmã, que tinha muito mais garra na carreira que ela. Olivia teria gritado ''Nós vencemos!'', mas no discurso não houve qualquer sinal de agradecimento para a irmã da parte de Joan. O relacionamento das duas foi alvo de fofoca até o fim dos dias de ambas, muito se sabe que por décadas elas ainda se falaram, mas após os anos 70, com o falecimento da mãe, elas pouco devem ter se visto. Na história do Oscar, elas permanecem como as únicas irmãs a ganharem a categoria de Melhor Atriz.

É altamente aceito que essa vitória de Fontaine veio como um prêmio de consolação após perder por ''Rebecca'' no ano anterior. A outra ''favorita'' da noite era Bette Davis por seu papel em ''The Little Foxes'', a atriz tinha sido presidente da Academia uns meses antes e fez um bom lobby pela vitória, mas tendo vencido duas vezes bem recente, a atriz saiu sem nada. Aliás, não só ela, o próprio filme teve o recorde da época de mais derrota, nove. As outras indicadas: Greer Garson em ''Blossoms in the Dust'' e Barbara Stanwyck em ''Ball of Fire'', nenhuma das duas teve muita chance, e em um ano bem fechadinho, não existiu uma grande esnobada. A mais próxima disso? Vivien Leigh em ''That Hamilton Woman'' em uma atuação elogiada num filme que conseguiu 4 indicações ao Oscar.

Agora ao que importa, segue o meu ranking:


5º Lugar: Olivia de Havilland, Hold Back the Dawn (''A Porta de Ouro'')

Tendo visto todas as indicações de Mrs. de Havilland, essa é, facilmente, a sua indicação mais fraca. A trama envolve um gigolô romeno tentando um green card para morar no US através de um casamento com uma professora que não faz ideia do golpe. Embora bem intencionada, as limitações do roteiro acabam minando Olivia enquanto atriz.

É um trabalho bem feito, afinal a atriz sempre foi muito profissional, mas mantendo a personagem no escuro por tempo demais e focando bastante no personagem de Charles Boyer, fica dificil para Olivia realmente brilhar. No fim do filme existe um lapso do que poderia ser a atuação de Olivia se tivessem feito outras escolhas para o roteiro, mas ai é tarde demais.


4º Lugar: Greer Garson, Blossoms in the Dust (''Flores do Pó'')

Garson deve ser a atriz mais indicada com menos legado da história da Academia. São sete indicações durante a carreira, com direito a uma vitória, mas pouco se fala da atriz nos dias atuais. Acredito que um dos motivos é o excesso de boas samaritanas feitas pela mulher ao longo da vida. São papéis bem intencionados, com direito a um grande momento, mas que acabam por serem desinteressantes vistos décadas depois. 

Aqui, advogando pelas crianças órfãs não serem marginalizadas pela sociedade, a atriz encarna com muita sobriedade a situação de Edna Gladney. É fácil acreditar que na moral que a personagem possuí através de Garson, mas durante quase toda a projeção, isso nunca se altera. A coloquei acima de Olivia por possuir uma cena no tribunal com muita entrega e verdade sobre o caso como um todo.


3º Lugar: Joan Fontaine, Suspicion (''Suspeita'')

Embora nunca no nível de sua performance anterior, acho de muita injustiça taxar Fontaine como uma má vencedora da categoria. Ela poderia, facilmente, ser a segunda colocada desse ranking, para falar a verdade. 

O mais interessante de Fontaine é que você consegue traçar um paralelo com a performance da irmã. Enquanto Olivia fica presa em uma só ''nuance'' durante todo o filme, Fontaine pode ter uma crescente em sua atuação. Quanto mais a personagem vai desconfiando de tudo, mais a atriz pode se mostrar em pequenos temores. A face de Joan começa a ser um tipo de compasso para o espectador, se ela sente medo, você também sente, se ela duvida, você também. É uma atuação muito bem calculada, executada e, mesmo após anos, ainda causa impacto.


2º Lugar: Barbara Stanwyck, Ball of Fire (''Bola de Fogo'')

Stanwyck é a prova moral que Oscar não mantém ninguém na posteridade, mas sim as escolhas que você faz na carreira. Uma das atrizes mais versáteis da velha Hollywood, aqui ela entrega carisma, alegria e verdade para toda a plateia.

A verdade é que o faz ela se destacar é estar em uma comédia em meio a tantos dramas. Não tem um momento sequer do filme que Stanwyck não esteja se divertindo em cena, é um tipo de presença magnética com a câmera que não se aprende, apenas se nasce. A personagem tem suas questões e enfrente um dilema muito legal no último ato do filme, conferindo ainda mais dimensionalidade para Barbara brincar. É uma atuação tão, fortemente, efusiva que é difícil de se ignorar. Um acerto do inicio ao fim. 

E, no mesmo ano, em uma atuação ainda melhor. Stanwyck entrega mais uma desempenho cômico de altíssimo nível em The Lady Eve. Sensacional, não é mesmo?


1º Lugar: Bette Davis, The Little Foxes (''Pérfida'')

Finalmente tenho a lendária Bette Davis em meu primeiro lugar, já não era sem tempo e com essa atuação era impossível escolher qualquer outra. É quase impossível imaginar que foi Tallulah Bankhead que originou o papel de Regina na Broadway, tamanho é a assimilação entre Davis e a matriarca da família Giddens. Tendo que lidar com um mundo machista, que inclui um marido incompetente, a personagem tem todos os aspectos que fizeram de Davis a lenda que ela é hoje.

Existe uma mistura de sordidez e rancor na forma como Regina é concebida por Davis que é, no mínimo, cativante demais. É muito diferente dos arquétipos de época, é um tipo de construção no detalhe. De uma certa forma existe um ressentimento pela situação que a personagem se encontra no filme, e tudo isso se traduz em Bette a medida que vamos vendo até que ponto ela consegue ir em busca de seus objetivos. E é nisso que temos a cena da escada, onde Bette Davis está, basicamente, imóvel e mesmo assim transmite todo o mundo que percorre a cabeça de Regina naquele momento. É brilhante, como tudo que diz respeito a performance.

PORÉM, se eu fosse fazer um top daquele ano, incluiria também essas atuações:


Joan Crawford, A Woman's Face (''Um Rosto de Mulher'')

Numa das atuações mais reveladoras de Crawford, a atriz resolve fazer uma mulher desfigurada e mergulha numa belíssima espiral de emoções, que acompanham o espectador e fazem o mesmo torcer por ela, mesmo ela tendo desejos dúbios.

É, acima de tudo, uma atuação que difere das mulheres decentes que tanto fincaram a persona de Crawford para o grande público. Mas é a grande gama de facetas (sem intenção de fazer piada) que Anna possuem que ajudam a atriz no caminhar do filme. Raiva, dor, desejo, paixão, tudo passa por Anna e tudo sai de forma sublime por Crawford. É até paradoxo que tenha sido uma mulher diferente dos padrões de beleza que revelou um dos melhores lados de uma das mulheres mais lindas do cinema.


Vivien Leigh, That Hamilton Woman (''Lady Hamilton, a Divina Dama'')

Existe vida (e performances!) para além de Scarlett O'Hara e Blanche DuBois no que toca Mrs. Leigh. Mesmo que o filme não seja um primor do inicio ao fim, a entrega de Leigh é invejável. Ela consegue trabalhar todas as nuances que sua personagem requer. Desde sua primeira cena, maquiada em exaustão!, até os momentos mais românticos do filme, Leigh nunca deixa a peteca cair.

É uma atuação bem a cara daquela década, grande, pomposa e com muita teatralidade. Isso poderia ser algo negativo para atrizes menos versadas e profissionais, mas aos olhos (e mãos, e corpo e tudo mais) de Vivien Leigh, tudo se transforma em um puro deleite cênico. É tão latente a sua força no filme que até mesmo seu marido, o grande Sir Laurence Olivier, some perante ela.

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