quinta-feira, 17 de janeiro de 2019

O melhor da televisão (ou seria do streaming?) de 2018


Difícil falar que o título daqui seria ‘’televisão’’ quando, basicamente, nenhum canal comum teve uma série no meu ranking. Querendo ou não, o conceito de conteúdo feito pra ‘’telinha’’ envolve hoje muito mais streaming do que qualquer outra coisa, e os melhores deles estão logo abaixo. Ah, e para mostrar que eu sou muito cria da minha geração, quase metade do meu top 10 veio da Netflix, e esse ano não teve como, a televisão brasileira falhou feio comigo. A seguir, o ranking:


10. The Kominsky Method (1ª Temporada) (Netflix)

Quase inacreditável que em 2018 uma série de Chuck Lorre (''The Big Bang Theory'', ''Two and a Half Men'') esteja em uma lista de melhores, mas essa foi uma grata surpresa.

O produto, protagonizado por um ótimo Michael Douglas, é uma feliz interpretação do que é envelhecer, mas de uma forma muito bem humorada. Existem momentos bem ‘’Chuck Lorre/hetero’’? Claro que sim! Porém, isso não ofusca todos os temas tratados aqui de forma tão natural e sem tabus. E se Douglas está ótimo em cena, é Alan Arkin que brilha como um famoso agente de atores que perdeu a mulher recentemente, ele me fez rir e chorar em uma atuação como jamais o vi fazendo antes.


9. Killing Eve (1ª Temporada) (BBC America)

Phoebe Waller-Bridge é uma das roteiristas mais populares do Reino Unido, e a sua última série varreu a crítica americana como poucas vezes vi acontecer. Eu acredito que não amo tanto a série como a maioria, mas eu gosto bastante e respeito muito a mesma pela singularidade como ela trata assuntos que são extremamente batidos.

Essa versão moderna de uma perseguição bem ‘’gato e rato’’ de ser consegue ser irreverente, imprevisível e deliciosa para assistir em maratona. E vimos Sandra Oh, que está não menos que ótima em cena, colher todos os louros, mas é Jodie Comer que, para mim, dá o nome da série. Interpretando com a mesma singularidade que a autora escreve uma personagem maravilhosa de se ver em tela.

Ah, e não tem como não falar daquela cena final? Estupenda do inicio ao fim.


8. Homecoming (1ª temporada) (Amazon)

Embora a série não seja criação direta dele, a vibe da trama e o fato de todos os episódios serem dirigidos por ele, essa nova criação da Amazon é totalmente associada ao Sam Esmail, criador de uma série que também fez muito sucesso de cara, Mr. Robot.

A trama da série, uma psicóloga que acompanha soldados em uma reabilitação ao mundo civil, poderia ser a mesma de várias anteriores, bem no estilo dramalhão de consultório mesmo. Porém, a forma quase ‘’Hitchcockiana’’ com Esmail conduz a trama e as decisões que o roteiro também segue, fazem da série uma sucessão de estranhezas que vão pegando seu interesse a cada novo episódio.

E se elenco é feito de atores conhecidos, e todos muito bons, tendo um Stephan James ótimo se destacando em um excelente ano para ele, fica com Julia freakin’ Roberts a tarefa de arrasar em uma produção que não tem nada a ver com o que ela normalmente fez em sua carreira até então. Roberts trabalha com uma sutileza incrível para revelar, camada por camada, tudo que a personagem passou, com destaque a sua cena final no episódio 8, um verdadeiro show de atuação.

A primeira temporada termina quase que como uma minissérie, ai fica meu medo numa continuação, mas veremos o que uma nova temporada pode trazer.


7. American Crime Story: The Assassination of Gianni Versace (2ª temporada) (FX)

Ser tão boa quanto a quase irretocável temporada de O.J. Simpson era uma tarefa quase impossível para essa antologia do Ryan Murphy, mas a trancos e barrancos e sentindo que minha opinião é bem particular, o produto final dessa temporada foi extremamente positivo, mesmo sem alcançar a consistência e excelência da temporada anterior.

Com um marketing bem sem vergonha focando nos Versace, parecia que a série iria focar muito no glamour, barracos e consequências da morte de um dos maiores nomes da moda. Escalar Edgar Ramirez, Ricky Martin e a vencedora do Oscar, Penélope Cruz, só ajudou a aumentar a expectativa. Porém, findou que para fazer jus a série em questão, os roteiristas resolveram focar em Andrew Cunanan (Darren Criss) e os demais assassinatos que ele cometeu antes de chegar no Versace. Acho que isso é uma decisão muito sábia, e se em OJ se falava em racismo, aqui discutimos descasos a crimes contra LGBTQ+. E se estamos falando de crime, por tudo que se é construído para entendermos os meios que levaram a um fim tão trágico, essa escolha narrativa faz todo o sentido.

Darren Criss se mostrou bem esforçado e quase sempre acerta no tom e na presença requerida para carregar a série, os demais do elenco são meros coadjuvantes de luxo, mas mesmo com apenas uma participação especial, meu destaque é mesmo a excelente Judith Light, que arregaça durante o terceiro episódio e tem uma última cena olhando para a câmera que é de ficar estarrecido.


6. Barry (1ª temporada) (HBO)

A comédia criada, produzida, escrita, dirigida e estrelada (ufa!) por Bill Hader é uma das melhores dos últimos anos. Claro que hoje em dia algo puramente cômico é difícil de ver a luz do dia, e o estilo de sitcom tão popular até a década passada vem decaindo cada vez mais, mas a série se beneficia de conseguir dosar muito bem seu humor com seu lado mais sério, é uma projeto que define, em sua melhor essência, o sentido de dark humor.

Hader é um assassino de aluguel perdido na vida que resolve ter aulas de atuação para se encontrar enquanto ser humano. A partir daí, a gama de personagens secundários (com grande destaque ao Henry Winkler), junto de Barry facilmente engajam o espectador e cada loucura fica pior que a outra. Porém, nem só de careta vive o homem e na cena do episódio 7 da peça de teatro, vimos uma verdadeira aula de atuação do Hader.

É estranha e talvez nem todos gostem? Fato, mas vale a pena checar se talvez não seja sua nova obsessão.


5. The Haunting of Hill House (Netflix)

Eu não sou muito fã do gênero, mas como todos os grandes produtos do mesmo, ‘’Casa Hill’’ utiliza todo seu lado aterrorizante como uma alegoria para um discurso maior. E aqui, falando sobre família, escolhas e laços que temos que aguentar, a produção consegue acertar no desenvolvimento de cada um dos personagens, a ponto que nós sejamos capazes de nos importar até mesmo com os mais insuportáveis deles.

O elenco, não tão conhecido, arrasa demais e existe uma direção absurdamente incrível por trás disso tudo, ambientando toda a trama e nos deixando querendo mais a cada episódio finalizado. E claro, é preciso destacar o final do episódio 5, um show de estudo de personagem com um ‘’twist’’ de virar a cabeça de qualquer espectador.


4. Unbreakable Kimmy Schmidt (4ª temporada, parte I) (Netflix)

Acho que um dos motivos pelo que amo tanto ‘’Kimmy’’ é porque a série é bem única em sua forma de comédia,  sempre escatológica, altamente referencial e sem medo de ir sempre um passo a frente em sua própria insanidade. 

Essa primeira parte da última temporada não teve um episódio menos que excelente, assim como todos pareciam elevados a enésima potência da loucura que a série tanto emana, não só em trama, mas em cada um dos personagens. Entre as aventuras da mochila de Kimmy ou Tituss (sempre um grande destaque) tentando colocar a melhor série que não existiu no ar, não sobrou espaço para ser ainda mais estranha, assim como ser mais engraçada do que nunca.

Torço para que nessa última temporada ela consiga manter o nível e já sinto que vou sentir muitas saudades desse hospício maravilhoso que a Netflix nos deus.


3. Atlanta (2ª temporada) (FX)

Se a primeira temporada de Atlanta trazia um aspecto ‘’realista’’ sensacional, acho que a melhor coisa que a série fez nessa temporada foi enfiar o pé na jaca e trazer alguns dos momentos mais sensacionais da televisão através de atitudes malucas e bem lúdicas.

Ao expandir o foco da série para várias protagonistas, ‘’Atlanta’’ ganhou dinamização e conseguiu desenvolver bem todos os coadjuvantes da série, apoiados em atores não menos que sensacionais em cena. Difícil escolher um destaque para o elenco, mas é impossível não dar um salve pro Donald Glover após saber que ele era a pessoa por trás de Teddy Perkins, um daqueles episódios que já nasce icônico na história da TV, mas também por ele ser o grande responsável por um dos projetos mais ousados dos últimos anos estar no ar hoje em dia.


2. Pose (1ª temporada) (FX)

Um dos projetos mais arriscados dos últimos tempos, essa nova série do Ryan Murphy conseguiu acertar em, basicamente, tudo que mirou. A trama sobre a comunidade LGBTQ+ nas periferias de New York nos anos 80, especialmente na cena dos ‘’ballrooms’’ é algo extremamente de nicho, mas Murphy foi lá, fez e o resultado final foi 100% incrível.

A pungência de ter pessoas transexuais, o foco da série por já serem tão silenciadas em todos os demais lugares, contando suas histórias (seja atuando ou escrevendo) é singelo, natural e incrivelmente forte. Cada um dos momentos de Blanca, Angel e Elektra, sejam eles de puro ‘’shade’’ ou de extrema emoção, causam um impacto muito grande no espectador, especialmente se o mesmo tiver qualquer tipo de conexão com as histórias ali contadas. Chorar com ‘’Pose’’ é fácil, mas até aí não seria um mérito para qualquer série, mas sentir que você realmente está entendendo um pouco mais com tanto detalhe de algo que você faz parte, realmente não tem preço.


1. Dear White People (2ª temporada) (Netflix)

Se a primeira temporada de ‘’DWP’’ já foi um soco no estômago, essa deu um passo a frente e agora resolveu bater na nossa cara. Não há absolutamente nenhuma palavra capaz de mensurar o impacto que as narrativas, tão absurdamente modernas e tópicas, de cada um dos personagens em cena foi capaz de atingir em uma temporada que passa voando de tão absurdamente incrível que é.

A série consegue unir uma visão mais cômica para cada uma das principais lacunas ao qual pretende debater sem nunca soar chata ou superficial, é entretenimento de qualidade em seu melhor momento. Todo novo episódio focando em outro personagem ia ainda mais profundo e culminava em algo que sempre te deixa num mix de embasbacado e com a pulga atrás da orelha. Sério, tem como terminar o episódio da Coco sem achar ela uma das melhores personagens da atualidade? Eu te respondo: Impossível.

Sei que será difícil, mas espero que a próxima temporada seja ainda mais estupenda do que essa já foi, uma verdadeira joia rara do ano de 2018.

 
 


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