terça-feira, 1 de maio de 2018

Melhor Atriz - 1986: Representatividade que vale ouro!


Marlee Matlin continua sendo a ganhadora mais jovem (21 anos e alguns dias) da categoria de Melhor Atriz, assim como também ainda é a única pessoa surda a vencer um Oscar de atuação por sua performance em ''Children of a Lesser God''. Matlin já afirmou que se orgulha muito do primeiro fato, mas fica muito triste pela segunda. E é por isso que fica fácil entender o motivo pelo qual Matlin nunca retornou ao Oscar, é só lembrar da frase que Viola Davis quotou em seu discurso no Emmy: ''Você não pode vencer prêmios por papéis que não existem''. Triste, mas muito verdade.

No entanto, na corrida de 86 a jovem Matlin não era uma barbada e nem de longe a favorita prévia. As favoritas da crítica, que nós sabemos que é onde começa a se moldar a corrida, eram Sissy Spacek em ''Crimes of the Heart'' e Chloe Webb em ''Sid and Nancy''. Webb, junto de Gary Oldman em seu debut no cinema, foram os queridinhos da crítica especializada, mas o filme se mostrou muito diferente, pequeno e ''adverso'' ao que Hollywood normalmente espera, fazendo com que ambos não conseguissem chegar aos grandes prêmios. O filme de Spacek foi meio que visto como uma ''decepção'' e isso a impediu de seguir a frente, junto do fato de que sua vitória ainda era algo recente. E vencer Oscar #2 sem estar em um dos grandes filmes do ano é algo muito difícil.

Uma das indicações mais populares e revolucionárias da categoria ocorreu nesse ano: Sigourney Weaver entrou na seleção final por seu trabalho em ''Aliens'', a primeira vez que uma mulher era indicada por um papel totalmente voltado para o gênero de ação. Na única indicação de sua vida, Kathleen Turner não só, finalmente, conseguiu chegar ao Oscar por ''Peggy Sue Got Married'', como era uma favorita forte ao prêmio. Turner tinha surgido no começo da década de 80 e fez projetos bem sucedidos quase que em seguida, mas sempre era incapaz de ganhar tração para chegar ao prêmio da Academia. Porém, ela viu sua sorte mudar ao protagonizar essa dramédia de Francis Ford Coppola. A última indicada foi ninguém menos que Jane Fonda em ''The Morning After'', sua última indicação na carreira, até hoje. O filme de Fonda era muito pequeno e o de Weaver era muito de ''gênero'', as duas provavelmente foram as últimas colocadas daquele ano.

Turner perdeu o Globo de Ouro de Comédia/Musical simplesmente por já ter vencido nos dois anos seguintes, fora que ela estava de frente com uma das estrelas favoritas da premiação (Spacek) em um filme bem água com açúcar. Porém, o sucesso de ''Peggy'' e a campanha de Coppola para com ela posicionaram a atriz como a favorita pouco antes das indicações saírem. O que Turner não contava era com o machismo da Academia interferindo em sua vitória. No momento que saíram as indicações, a felicidade do time de ''Children of a Lesser God'' foi enorme, era o primeiro longa indicado a Melhor Filme dirigido por uma mulher.... mesmo que a diretora tenha sido a única esnobada da categoria diante dos 4 demais homens que tiveram seus filmes também indicados a Melhor Filme. No lugar de Randa Haines, eles indicaram David Lynch por ''Blue Velvet''.

Isso causou um burburinho tão grande que a narrativa para premiar Matlin foi simplesmente inevitável. Se ela já tinha uma vitória nos Globos, mesmo que não tão relevante, utilizar a mulher que dá a cara ao filme esnobado por um ato de misoginia clara foi a melhor resposta que puderam fazer para tentar reparar o erro corrigido. E quando Willam Hurt, então namorado de Matlin, leu seu nome do envelope, nasceu ali dois fatos até hoje inquebráveis da história do Oscar. E se mesmo que o cinema não tenha dado tantas oportunidades para a jovem Marlee, ela soube tirar o proveito de seu prestígio fazendo inúmeras aparições em tv (A atriz tem 4 indicações ao Emmy), teatro e sendo uma das maiores ativistas para os surdos na indústria. Exemplo a ser seguido que chama, né?

Abaixo, meu ranking:


5º Lugar: Sissy Spacek, Crimes of the Heart (''Crimes do Coração'')

O filme de Sissy Spacek segue uma vibe ''As Horas'' no sentido que existem três protagonistas femininas (as outras duas irmãs são feitas por Diane Keaton e Jessica Lange). Por esse fato ela já sai em desvantagem em relação as demais indicadas, mas a verdade é que ''Crimes of the Heart'' é um longo capítulo de uma novela das seis sem muito a dizer e que até entretém, mas não vai muito além disso.

Spacek é realmente o destaque do elenco, Keaton está histriônica e Lange só as vezes está acima da média, mas mesmo assim é uma atuação que a mesma consegue fazer sem qualquer dificuldade. Porém, a sua grande cena, muito bem executada, no final do filme é brilhante e mostra o que essa gigante é capaz de fazer com o material certo. Pena que aqui, esse material é bem pouco e ela acaba sobrando na lista.



4º Lugar: Jane Fonda, The Morning After (''A Manhã Seguinte'')

Esse é um dos filmes menos badalados do famoso Sidney Lumet. Infelizmente, ao assistir é compreensível entender o porque desse fato. Embora Fonda dê tudo de si, e ela se entrega totalmente em cena, o filme nem sempre engaja e a dupla principal não é o que eu chamaria de par perfeito, ok? Fonda acorda do lado de um cadáver, mas ela afirma que não o matou. Esse ponto de partido, e o fato da personagem ser uma alcoólatra é essencial para que a atuação ligada em 220v de Fonda seja compreensível. É se entender que Fonda esteja quase sempre a beira de um completo ''breakdown'', mas em alguns momentos soa sim como se a atriz estivesse com um pezinho no ''over''.

Eu jamais que vou reclamar de um exagero bem feito e ver uma atriz como Fonda com um cabelo platinado, maquiagem derretendo e gritando para os quatro cantos é muito interessante, mas dependendo do momento, é como se a atriz escorregasse e escolhesse um caminho mais fácil. Isso também é um pouco responsabilidade de um roteiro que não tem metade da força da direção do filme. Fonda tem momentos incríveis que justificam a sua indicação, mas ela precisaria de um pouco menos de ''over'' e um filme um pouco melhor para ir além no ranking.


3º Lugar: Kathleen Turner, Peggy Sue Got Married (''Peggy Sue, Seu Passado a Espera'')

Em uma produção diferente, e porque não dizer estranha, do que Francis Ford Coppola ficou conhecido no cinema, ''Peggy Sue Got Married'' é uma comédia de humor negro amparada fortemente em uma atriz com total consciência do trabalho que está sendo entregue em tela. Turner ficou fortemente marcada pelo papel, e é só assistir ao longa para perceber o motivo.

A atuação de Turner requer uma autoconsciência muito forte devido aos rumos que a trama vai escolhendo, e em cada uma dessas viradas a vitalidade e carisma de Kathleen estão sempre nas alturas. É uma performance contagiante que entende e penetra por completo o tom do próprio filme. Turner configura tão bem o que tirar de Peggy Sue que é como se você não conseguisse visualizar ninguém mais no papel. Ao menos, ninguém com mais prazer em viver todas as loucuras que ela precisa para seguir em frente durante toda a jornada que o filme nos leva.



2º Lugar: Marlee Matlin, Children of a Lesser God (''Filhos do Silêncio'')

Eu quase coloquei Matlin em terceiro lugar. E isso advém da incessante necessidade do roteiro em sempre colocar Sarah pelos olhos James e nunca ela por si mesma. Porém, eu tenho que admitir que eu sempre vou ter uma maior admiração por atores que não tem nada além de seu rosto para expressar toda uma gama de emoções que um personagem pede. E é exatamente isso que Matlin faz tão bem aqui.

Durante muito tempo da projeção é como se Sarah fosse apenas uma escada para James, ela nunca tem sua própria história sem ele, isso é algo que incomoda bastante. Porém, em todas as cenas que ela precisa bater de frente com um excelente William Hurt, Matlin nunca se deixa ofuscar. Sempre com um olhar misterioso, mas absurdamente penetrante, a atriz consegue fazer com que sejamos capazes de decifrar sua personagem junto com ela de uma forma bem natural e convincente.

E quando o filme, já no final, dá uma virada e coloca Sarah no centro da trama, é ai que Marlee Matlin vem e coloca toda as cartas na mesa, finalizando uma performance tão singular de um jeito totalmente poderoso.




1º Lugar: Sigourney Weaver, Aliens (''Aliens: O Resgate'')

Muitos fãs da franquia não são chegados em ''Aliens'' por achar que desvia muito do que Scott estabeleceu com o primeiro filme da franquia no fim dos anos 70. Eu, pessoalmente, acho o filme muito bom e entretém como poucos criando uma atmosfera muito palpável daquele mundo ali. E Weaver aqui faz uma missão dupla de forma basicamente perfeita: ela apresenta uma total estamina em cena a medida que também desenvolve o drama necessário pelo longa.

Weaver precisa ser uma heroína no melhor molde dos filmes de ação da época, mas ela também tem que desenvolver sua ligação maternal com uma criança que se conecta diretamente com a filha que ela nunca mais poderá ver. A atriz flui por essas duas, tão diferentes, ''formas'' de atuar como se fosse algo muito simples. A medida que ela precisa tocar fogo em um monstrengo alienígena, ela também acalenta e fornece amor para uma pessoa que ela mal conheceu, mas sabe que precisa de sua presença ali.

Claro que tudo isso também é fortemente integrado a um longa que jamais subestima Ripley e faz com que todo o carisma e ''star quality'' de Sigourney seja colocado a prova. Ela aceita o teste e termina o filme não só como uma poderosa estrela, mas como uma magnífica atriz. Brava!



Nenhum comentário:

Postar um comentário